segunda-feira, 12 de março de 2012

Se for a morte de Jesus que nos salva, louvemos seus carrascos


Devemos condenar ou aplaudir o grande pecado da morte de Jesus na cruz?
Eu não vejo a Bíblia como um livro só de mensagens de verdades do mundo espiritual para nós, pois há espíritos maus (atrasados) no mundo espiritual, que também se manifestam nela. E não podemos atribuir a Deus de forma alguma os erros bíblicos.
Portanto, saibamos separar o joio do trigo, com relação aos espíritos na Bíblia.
E quando uma mensagem bíblica é boa, só podemos dizer que ela é de Deus, no sentido de que ela é do bem, mas não diretamente de Deus, pois Ele mesmo não se manifesta jamais diretamente, mas apenas através de um espírito evoluído enviado (anjo) imantado num profeta ou médium. Mas não devemos esquecer que anjo (“malak” em hebraico, “aggelos” em grego, e “angelus” em latim) significa mensageiro, enviado, “office-boy”. Todo anjo é espírito, mas nem todo espírito é anjo.
E os espíritos desencanados são enviados ao nosso mundo por meio de médiuns especiais ou profetas, os quais trazem mensagens para nós por escrito (psicografia) ou oralmente (psicofonia). Porém eles devem ser examinados por nós, para sabermos se são espíritos bons ou maus. (1 João 4:1; e 1 Coríntios 12:10). Lembremo-nos da expressão “anjos maus”, ou seja, enviados maus. E, se eles se manifestaram na Bíblia por meio de médiuns especiais ou profetas durante séculos e séculos, por que eles não poderiam continuar se manifestando a nós, se eles são espíritos humanos desencarnados que continuam vivos – “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos” – , e quando sabemos que Deus não faz acepção de pessoas? Não se trata, pois, de manifestação do Espírito Santo trinitário, tido por uma parte dos cristãos como sendo o próprio Deus. Se fosse assim, não precisaríamos examinar os espíritos e distingui-los.
Sempre que o mundo é mundo, espíritos humanos desencarnados e até encarnados se manifestam através de médiuns especiais. Todas as religiões do mundo conhecem e têm fenômenos mediúnicos, e deles surgiram. O cristianismo é rico desses fenômenos. Até quando, pois, ele vai conseguir esconder oficialmente essa verdade? Só falta aos seus líderes religiosos humildade bastante para a reconhecerem. O Nazareno disse que nada ficará oculto. E a realidade a respeito desses fenômenos mediúnicos (espirituais para são Paulo) já veio à tona para a grande maioria dos espiritualistas do mundo, e isso com o respaldo da ciência.
E é lamentável que os próprios espíritos maus sejam confundidos, desde épocas remotas, com o próprio Deus. Daí que as religiões antigas, entre elas o judaísmo, concluíram que Deus gosta de sangue, o que através de são Paulo entrou no cristianismo. De fato, o apóstolo Paulo, influenciado por religiões antigas da Palestina e de nações circunvizinhas, exaltou os sacrifícios de sangue, mas temos Jesus que disse: “Misericórdia quero e não holocaustos” (Mateus 9:13).
Aos afeiçoados ao que eu denomino de teologia do sangue, eu digo que espíritos atrasados apreciam muito o sangue derramado de animais e seres humanos. Pergunto a esses teólogos do sangue: Que Deus é esse que se deleitaria com sangue?
Repudiemos e condenemos, pois, as torturas e a morte ignominiosa de Jesus na cruz, que podem ser deleitosas para espíritos atrasados, mas jamais para Deus!

PS:
A Revista “Espiritismo & Ciência” No 91, nas bancas do Brasil e Europa, traz uma entrevista com este colunista e mais duas matérias dele.

Obs.: Esta coluna, de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo email: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

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quarta-feira, 7 de março de 2012

Jesus te ama

Caminho pela rua distraído e vejo no muro de uma empresa, em letras garrafais, pichado, o dístico “Jesus te ama”. Recordo-me então de que já vi a singela expressão diversas vezes, em placas pregadas em árvores, em portas de banheiro e em um sem-número de lugares onde a tentativa de passar a mensagem desconsidera o patrimônio, a natureza e o bom senso.
A questão de se passar a mensagem, por qualquer meio, nos faz lembrar a grande questão ética de que os fins não justificam os meios e que os processos têm consequências que afetam os seus resultados. De que vale dizermos que Jesus ama a todos, quando desrespeitamos o patrimônio do nosso irmão, ou o caule de um ser vivo? Ainda que repletos de boas intenções, contrariar a mensagem do Cristo na sua divulgação é trocar a profundidade da renovação pela superfície das palavras, nas urnas caiadas que já nos advertia o meigo nazareno.
Uma reflexão profunda, pois o espírito messiânico no Espiritismo é suplantado pelo espírito do bem, sem olhar a quem, na construção do Reino de Deus na Terra. Não temos interesse de divulgar “leia Kardec” em proporção maior do que “ame seu próximo”, pois a nós interessa o resultado – o homem de bem –  considerando as implicações éticas de como se chega a esse estágio. Aliás, “leia Kardec” para nós tem que significar “ame seu próximo”... 
A questão do homem de bem é um desafio íntimo, construído no convívio com nossos irmãos encarnados. Às vezes nos preocupamos com a divulgação, com a pregação, mirando no outro para tirá-lo da pretensa ignorância, quando nos esquecemos de que o outro é nossa ferramenta de evolução. Se conhecer a doutrina espírita fosse o caminho único de crescimento espiritual, o que dizer dos outros 99% de habitantes do globo que desconhecem nossos postulados, pelo menos da forma como fora sistematizado por Kardec? Sairemos então em cruzadas de divulgação para levar a mensagem de Kardec? O que sacrificamos com esse investimento: a prática do bem e o estudo edificante?
Já vi afirmações de que o objetivo da casa espírita é a divulgação da Doutrina Espírita e que isso se estenderia para federativas, no seu âmbito. Seria muito pouco para a casa espírita ser apenas um propagador de idéias. A casa espírita é oficina de estudo e trabalho na forja do homem de bem em cada um de seus frequentadores e as tarefas de divulgação servem para enlaçar essa missão entre todos. Mas não pode ser a divulgação um fim ensimesmado, sob pena de nós trocarmos a ação pelo discurso. Empenhados por levar o nome de Jesus a outros rincões, já se matou e se roubou muito, como nos mostra a história.
Embalados pela clássica máxima do Livro "Estude e Viva", ditado pelos Espíritos: Emmanuel e André Luiz; psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira: "(...) Para isso, estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação", nos arvoramos a empreender uma campanha desenfreada de divulgação da nossa crença, esquecendo o “letreiro vivo” que o nosso “exemplo e atitude” constitui na divulgação da nossa doutrina, como ação renovadora e construtora de homens de bem e não pela divulgação fria dos meios publicitários, sob o discurso da nossa benevolência com a causa.
Assim, na prática da divulgação doutrinária, seja por meios impressos, pela fala, ou ainda por canais publicitários típicos – Rádio, Televisão, Internet, Cartazes –, importa-nos considerar os meios utilizados, ainda que os fins-divulgação para o grande número de pessoas pareça justificável, pois embora não sejamos salvacionistas, o codificador nos apontou em “O Evangelho segundo o Espiritismo” que o caminho para a evolução se faz na prática do bem, que nos faz bons, e não pelas palavras que dizem “Santo, santo, santo”.
Em uma época de revolução tecnológica pelo acesso fácil a meios de comunicação que nos inundam de informações diversas, não confundamos a grandeza das coisas pelo seu potencial de divulgação de nossos conceitos, mas sim pela força de renovação, de olhar o irmão mais desfavorecido, pois toda essa tecnologia que une países em segundos não foi o suficiente para banir a miséria material e moral de nosso planeta. Mas o amor possui esse dom. E Jesus te ama.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)


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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Avaliar para evoluir

Toda atividade concreta, anteriormente planejada e pensada, merece uma avaliação. Essa lógica se aplica também às atividades espíritas, em especial aos seminários, encontros e outras atividades pontuais e temáticas. Não que o fim de um ciclo, de um ano de atividades cotidianas não mereça uma avaliação, mas trataremos aqui, por uma questão de recorte, daquela avaliação rápida, ao fim do evento, como prática salutar e que merece discussão e enriquecimento.
A avaliação é um diagnóstico, uma medida, um momento em que sopesamos o que houve em termos objetivos, captando as percepções na busca de uma síntese.
É onde pontuamos o que houve, voltando a fase de planejamento de outras atividades, anotando os aprendizados da experiência, para próximas etapas.
A avaliação se alimenta basicamente de duas fontes de informação: as externas e as internas. As externas são obtidas por consultas verbais ou por escrito às pessoas que participaram do evento. A interna, que em parte depende dos dados da externa, é oriunda da avaliação da equipe que trabalhou no evento. São processos complementares e igualmente importantes.
A avaliação interna, ou autoavaliação, é um momento de confiança, franqueza e de caridade com os companheiros de trabalho. A avaliação não é um tribunal, é uma fonte de informação para a equipe e não para se sair chateado. Necessita-se sair resoluto, com metas de mudança. Mas, para isso, aqueles que conduzem a avaliação devem ter em mente que a indulgência e a franqueza devem ser indissociáveis.
Mais do que uma obsessão pela melhoria, onde metas podem atropelar as pessoas, a avaliação nos conduz a descobrir os caminhos para acertar, fortalecer as boas práticas e mitigar os entraves. É um momento de autoconhecimento e de empoderamento (1) do grupo, e que deve ser integrado à cultura das equipes de trabalho, como uma ação coletiva e não uma prática apenas de um grupo seleto.
Por seu turno, a avaliação externa é fundamental, pois nos dá o termômetro da realidade, da percepção das pessoas que participaram. Mas a avaliação externa, ainda que seja a soma de percepções, não se trata da verdade absoluta. Precisa ser pontuada com as percepções do grupo organizador, que detém outras visões e informações. É um processo construído, e que caminha com as visões internas e externas. Avaliamos o processo e não a conduta das pessoas.
Assim, dez minutinhos no final dessas atividades operam milagres. Para isso, basta seguir uma receita simples. Não basta o grupo dizer se foi boa, ruim ou regular a atividade. É preciso um certo grau de detalhamento, avançar sobre questões intrínsecas, saindo da superfície dos eventos, mergulhando nas suas contradições, de modo a fortalecer as análises.
Inicialmente, é preciso enumerar os pontos positivos e os negativos (oportunidades de melhoria). Depois, listar as inovações e estratégias que deram certo ou errado. Daí, basta identificar causas que conduziram a essas situações
positivas ou negativas. Aí, nessa relação de causa e efeito, a caridade não pode ser esquecida, pois é um momento delicado, que exige maestria da coordenação.
Situações desagradáveis são mais bem tratadas em particular. Após esse levantamento, pode-se então fechar uma opinião global do evento.
Agindo assim, a avaliação nos deixará uma herança do que deu certo, o que deve ser evitado e o porquê. E assim seguem os processos, na melhoria contínua, com as pessoas. Sem ressentimentos, sem meias palavras, na comunhão de um trabalho em equipe, que tem muita vontade de acertar!

(1) Dá-se o nome de empoderamento à ação coletiva desenvolvida pelas pessoas quando participam de espaços privilegiados de decisões, de consciência social dos direitos sociais. É a tradução da palavra inglesa empowerment.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)


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