segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Inácio Ferreira de Oliveira foi um grande trabalhador espírita. (Médico psiquiatra dirigiu por muito tempo o Sanatório Espírita de Uberaba)
Desencarnado em 1988 vem, através da psicografia, nos dar esse importante alerta.

Irmãos e irmãs, o que vale no Espiritismo é o que você faça dos conhecimentos que for adquirindo nele. O resto – acredite –, não conta muito.
Quando desencarnei, ninguém queria saber qual era o meu nome, endereço, tampouco os títulos que eu possuía – aliás, ninguém queria saber nada de mim, nem me perguntava coisa alguma.
A minha consciência é que, insistentemente, me pedia contas.
A bem dizer, a minha condição de espírita nada significava, e nem significa até hoje.
Sem a intenção de ser redundante, o que vale é o valor – o seu valor pessoal, sem rótulos, ou faixas, de qualquer espécie.
Deste Outro Lado, a única coisa capaz de lhe valer é o seu currículo – o seu currículo de bondade! Porque, no fundo, é isto que irá proporcionar a você alguma réstea de luz, para que, mesmo caminhando na escuridão, consiga evitar o abismo...
Não cometa a tolice de imaginar que, na Vida de além-túmulo, o espírita possa ser tratado com deferência. Privilégio, ou o famoso “jeitinho” brasileiro, é algo que por aqui não existe!
Chico Xavier dizia, e com razão, que os espíritas estavam desencarnando mal – estavam, e, em geral, ainda estão!
Sinceramente, o único predicado que eu invejo numa pessoa, seja ela qual for, é a bondade! Depois que a gente larga a carcaça, para quem  é realmente bom, aqui todas as portas se abrem, e todos os caminhos se desimpedem! Em vez de ele pedir audiência com os anjos, são os anjos que pedem audiência com ele!...
Por isto, eis o conselho que lhe dou: teorize menos, e procure servir mais!
O mundo é um caldeirão que ainda vai continuar fervendo durante muito tempo... É possível que você vá desencarnar e tornar a reencarnar nele, encontrando amanhã quase tudo como está agora.
De uma encarnação a outra, o espírito melhora muito pouco... A evolução, para quem não se conscientiza, acontece quase que a passo de lesma – dessas que deixam o seu rastro gosmento no chão!
Não creia ser diferente.
Não estou querendo desanimar a quem seja, mas, se você se interessa pela Verdade, ei-la aqui de maneira nua e crua.
“Nosso Lar”, a colônia espiritual que muita gente na Terra almeja habitar, tem muito mais católicos, protestantes, umbandistas, e até mais ateus, do que espíritas...
Não, não se creia o suprassumo, porque você não o é!
Como é que eu posso dizer isto?! Ser espírita é só acréscimo de responsabilidade espiritual – nada mais do que isto. O que nós já sabemos é mais que suficiente para que, pelos nossos erros, a nossa consciência nos penitencie por muitas e muitas encarnações.
Conheço muita gente que não quer saber o que a gente sabe só para não ter que responder pelo que respondemos, ou responderemos.
Deixe, pois, de professar o Espiritismo como quem toca um clube de futebol, ou um partido político.
Enquanto é tempo, pare de fazer “guerra santa” – contra os outros, e contra os próprios companheiros que você considera equivocados!
Guardião da Doutrina, você?! Ora! Aceite os meus pêsames...
Cuide-se, porque a morte lá vem chegando, e ela é uma locomotiva, que, para atropelá-lo, não pedirá licença!...

Inácio Ferreira
Uberaba – MG, 22 de julho de 2013.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Abnegação


Onde a obrigação termina, começa a abnegação
“Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.”
Jesus (Lucas, 17:10.)


O verdadeiro discípulo do Cristo não conhece a acomodação e tampouco a preguiça...  Tem sempre “ligeiros os pés” e disposição constante para as tarefas do Bem.  Não se contenta tão-somente em cumprir suas obrigações e deveres rotineiros, mas vai além, dá sempre um tanto mais de seu tempo e de seus talentos...

No livro de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, intitulado “Pensamento e Vida”, no capítulo 17, “o nobre Mentor define a palavra abnegação como aquela cota de serviço que se faz além da obrigação, visto que onde termina o dever, aí começa a abnegação”.
O Espírito de Verdade ensina: “(...) A abnegação e o devotamento são uma prece contínua e encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas palavras. Tomai-as, pois, por divisa: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem”.
Sobre o auxílio espontâneo, a doce Meimei conta que “(...) Um homem, desejando aprender como colaborar na construção do Reino de Deus, pediu ao Senhor o discernimento para compreender os Propósitos Divinos, e saiu para o campo...   
De início, encontrou-se com o Vento que cantava e o Vento lhe disse: Deus mandou que eu ajudasse as sementeiras e varresse os caminhos, mas eu gosto também de cantar, embalando os doentes e as criancinhas.
Em seguida, o homem surpreendeu uma Flor que embalsamava o ar com seu inebriante perfume, e a Flor lhe contou: Minha missão é preparar o fruto; entretanto, produzo também o aroma que perfuma até mesmo os lugares mais impuros.
Logo após, o homem estacou ao pé de grande Árvore, que protegia um poço d`água, cheio de rãs, e a Árvore lhe falou: Confiou-me o Senhor a tarefa de auxiliar o homem; contudo, creio que devo amparar igualmente as fontes, os pássaros e os animais.
O visitante fixou os feios batráquios e fez um gesto de repulsa, mas a Árvore continuou: Estas rãs são boas amigas. Hoje posso ajudá-las, mas depois serei ajudada por elas, na defesa de minhas raízes, contra os vermes destruidores.
O homem compreendeu o ensinamento e seguiu adiante, deparando com uma grande cerâmica.  Acariciou o Barro que estava sobre a mesa e o Barro lhe disse: Meu trabalho é o de garantir o solo firme, mas obedeço ao oleiro e procuro ajudar na residência do homem, dando forma a tijolos, telhas e vasos.
Então, regressando ao lar, o homem compreendeu que, para servir na edificação do Reino de Deus, é preciso ajudar os outros, sempre mais, e realizar, cada dia, algo mais do que seja justo fazer”.
Se conforme o ensino dos Espíritos Superiores receberemos, pelo cêntuplo, tudo que fizermos, quão afortunado não será aquele que, não se restringindo apenas ao âmbito do dever, o extrapola, percorrendo, a largos passos, o terreno fértil da abnegação!...


Rogério Coelho
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil) 

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domingo, 15 de dezembro de 2013

Marcante presença


Modificam-se os ares e o mês de dezembro traz novamente um encantamento no ar. Mais do que os apelos comerciais próprios do mês e das luzes externas que brilham nas casas, é marcante a presença do Cristo diante das lembranças e evocações mentais em torno de seu nome. Todavia, estes não são tempos diferentes daqueles de sua vinda.  
A violência e a crueldade assolam as vidas humanas, nos grandes centros e pequenas cidades. Sua presença permanente e vivo amor inspiram, contudo, o surgimento de sentimentos novos. Venceu-se a descrença, a crueldade, a indiferença. Mas não em todos. Muitos ainda não O conhecem e isto tem gerado esses quadros que atormentam e preocupam...  
Surge, então, o único caminho para contagiar aqueles que desconhecem as brisas do amor verdadeiro: o exemplo da confiança irrestrita. Naqueles tempos em que esteve conosco, totalmente incompreendido, seus seguidores eram barbaramente assassinados, sacrificados em espetáculos dolorosos, atados a postes onde recebiam azeite fervente; jogados para serem devorados por feras famintas; esquartejados ou atirados em celas úmidas, escuras, imundas... Perseguidos e espezinhados, se fortaleceram na fé. 
Hoje não é diferente. As sombras da insensatez ainda dominam, desesperadas, porém, por verem a perda de domínio. Amadurecidos, já conseguimos perceber que a fé raciocinada, a confiança em Deus, o amor ao próximo (aí incluídos o respeito à diversidade, aos limites individuais e à solidariedade que socorre), ao lado de uma conduta ética e solidária nos leva a vencer os tremendos e inesperados desafios que surgem todo dia. A adesão individual a estes nobres princípios farão o contágio que conquistará os que ainda se perdem nos tormentos e desequilíbrios que os afligem... , pois são enfermos os algozes, os causadores de sofrimentos.
Recordando a força moral do apóstolo Paulo e por amor a Ele, Jesus, o Mestre da Humanidade, ergamos a cabeça nesses momentos de tantas dificuldades morais. Na ocorrência repetida do Natal, ao invés das luzes externas que enfeitam as casas e o comércio, deixemos brilhar a luz do amor internamente, nas atitudes solidárias, tolerantes, compreensivas e especialmente naquelas que respeitam as diferenças ou a liberdade de opção pelo estilo de vida. 
O melhor presente para o aniversariante é pensar Nele com gratidão. É principalmente atender seu eterno convite de melhoria individual e de auxílio ao próximo. Jesus não permanece na cruz. Ele está presente, atuante, amparando. Sua missão é conduzir a humanidade. E seu amor é abundante. Seus ensinos, conduta e exemplos marcantes personificam o verdadeiro amor, o amor harmonia, o amor equilíbrio, o amor sintonia, o amor que educa, ensina, encaminha, que não escraviza, nem exige. É o fardo leve, o jugo suave, o caminho, a verdade e a vida... Sua doce influência contagia a vida de alegrias verdadeiras, indicando-nos os caminhos do perdão, da tolerância e da solidariedade. 
Podemos oferecer-lhe três presentes, neste aniversário: a) o bom ânimo (sejamos animados com a vida); b) o bom humor (vamos enfrentar as dificuldades com sorrisos e bom humor) e c) a boa vontade (como ele demonstra para conosco). Jesus, modelo e guia para a humanidade. Mestre e educador, exemplo e roteiro. Que estejamos todos com Ele.

Orson Peter Carrara 

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Um dia de Buda


Fruto de um acidente doméstico, Aristeu teve parte de seu corpo queimado. Foi grande a dor na hora e insuportável depois, entre bolhas e o medo da infecção e do estigma das cicatrizes.
Aristeu, que levava uma vida pacata e tranquila, se viu às voltas com os efeitos daquele acidente doméstico, que mobilizou família e amigos na assistência ao bom companheiro. Após o atendimento emergencial, restou a ele dar continuidade ao seu tratamento em um hospital especializado em queimados, onde, dia sim e dia não, ele seguia o rito de pomadas e de unguentos, na troca de curativos sob o olhar atento dos profissionais de saúde.
Na fila de espera, na antessala dos ambulatórios, Aristeu observava atentamente que havia casos piores que o seu. De cada dor, de cada caso narrado, descobria o sofrimento de seu irmão desconhecido, que ele ignorava no conforto do seu lar, vendo o mundo e suas agruras apenas pela tela da televisão.
Assim seguiu o tratamento de Aristeu, que tratou seu corpo e a sua alma, que foi se iluminando à medida que via, no olhar do seu irmão, dor maior do que ele jamais imaginava sentir. Nas queimaduras cicatrizadas nasceu uma nova pele. No seu espírito, regenerado, nasceram novas convicções e visões de mundo.
Assim, nos isolamos do mundo, longe de suas realidades, e quando o destino nos empurra para fora dos muros de nossos palácios, nos defrontamos com a doença, a morte, a pobreza e toda sorte de provações.
A ideia de nos pouparmos do mundo, de seus desafios, nos impede de crescer. Preferimos o paraíso da redoma, crer que o mundo seja uma propaganda de refrigerantes, com jovens sorridentes, para se debulhar em lágrimas nos dramas das telenovelas, concluídos com um apertar de botões.
O mundo não e só dor e sofrimento... O mundo não é só alegria esfuziante... O mundo é um mosaico de histórias e desafios, de sorrisos e lágrimas, que nos conduzem a um processo de amadurecimento como Espíritos, na bendita escola que chamamos de planeta Terra.
Negar a dor do próximo não nos isenta do compromisso com os nossos irmãos. A chaga mais proeminente nos dias de hoje, o individualismo, nos leva ao isolamento em castas econômicas, nas quais ignoramos os desafios alheios e deixamos de aprender com isso.
Essa discussão nos conduz a uma profunda reflexão, de como conduzimos nossos trabalhos assistenciais na seara espírita. Que indicadores estabelecemos para classificar esses trabalhos como satisfatórios? Seria a quantidade de bolsas distribuídas? O volume de recursos arrecadados? Será que esquecemos nesse sentido o valor da troca, do olhar, do abraço? A importância do trabalho no bem está no aprendizado profundo do abraço que damos no nosso irmão em dor!
Em hipótese alguma defendo aqui o turismo da caridade, emblemático na visita às comunidades cariocas pelos estrangeiros, como um safári da pobreza. Defendo a nossa interação interventiva e pessoal no trabalho do bem, de forma a falarmos e ouvirmos, nas visitas a hospitais, orfanatos, asilos e toda sorte de instituições que concentrem pessoas necessitadas, tanto quanto nós necessitamos de ouvir aquela palavra de resistência e luta, diante das provas mais agudas, que virão, ou que nos atormentam.
Sidarta Gautama, o Buda, criado no luxo e na opulência, teve a sua iluminação ao sair de suas suntuosas dependências para encontrar as dores humanas. Aristeu também nasceu de novo, reformulando a sua disposição diante da vida. De cada experiência, de cada dor, colhemos o aprendizado, mas ofertamos também a palavra amiga e o sorriso de esperança, em um exercício permanente de amor, na interação com o próximo.

A nossa iluminação se faz quando rompemos as paredes que nos isolam do mundo, no encontro do próximo. Às vezes, precisamos de dias de Buda para refletir sobre essa realidade. Precisamos trabalhar o nosso coração, torná-lo robusto no amor, um exercício que se faz no encontro com o outro, na alegria e na tristeza. 

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
Brasília, DF ( Brasil ) 

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