sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Desceu do animal


A primeira atitude daquele homem foi descer do animal, um cavalo ou um camelo. Em sua caminhada encontrou aquele homem ferido, que havia sido desprezado por dois outros que ali passaram, conforme narra a conhecida Parábola do Bom Samaritano. Todo mundo conhece a parábola, nem é preciso narrar novamente. Seus personagens e desdobramentos são muito conhecidos e as lições morais daí decorrentes igualmente tocam o coração humano com lições incomparáveis.      
Deixemos, todavia, aquelas lições já conhecidas, divulgadas e disponíveis para quem deseja ampliar o assunto e conhecer mais.  Fixemo-nos na ocorrência da decisão do terceiro personagem, o bom samaritano, que encontrou o homem caído e ferido.              
Sua primeira atitude foi descer do animal que o transportava. Isso não se deve apenas ao fato da comodidade de estar mais próximo, mas mostra a postura de decisão, de humildade principalmente, ao aproximar-se do enfermo caído. Antes de qualquer outra iniciativa de apoio que se sucedeu, como conhecida, ele antes desce do animal, aproxima-se, verifica a necessidade, para depois, então, agir como exigia o momento.               
A ocorrência é repleta de ensinos. Ele sentiu a dor alheia, preocupou-se com a dificuldade, não se manteve no pedestal da facilidade de locomoção que se encontrava – o que naturalmente pode ser comparado com as facilidades do nome, do cargo, da posição social, entre outras circunstâncias –, que todos normalmente desfrutamos.               
Ao aproximar-se, providenciou o que era necessário, como conhecido. Antes, a indiferença dos outros dois personagens. Sua aproximação, contudo, mudou todo o quadro da história. Desceu do animal com a disposição de ajudar, de fazer-se presente no que era necessário, de levar adiante as providências que o momento exigia.               
As lições preciosas da citada parábola estão em todo o trecho. Desde o orgulho e a indiferença dos outros dois personagens e ganha destaque já a partir da decisão de socorrer o infeliz, quando, então, desce do animal.               
Sim! Precisamos observar atentamente este dado inicial da parábola. Também precisamos descer dos pedestais do orgulho, do egoísmo, da prepotência, da vaidade, da indiferença. Na verdade, trazemos conosco o dever de atenuar as agruras alheias. Fácil? Nem sempre! Muitos desafios se apresentam nessa decisão de auxiliar a quem precisa, mas é importante que não permaneçamos indiferentes, que façamos o que esteja ao nosso alcance.               
E esta decisão não se resume apenas no socorro à dificuldade alheia. Ela pode ser ampliada por meio da boa vontade e da disposição em ser útil. Também se encaixa perfeitamente em facilitarmos o andamento das providências e ocorrências do cotidiano. Seja no trato com um animal doméstico, com uma criança, com idosos, com outros adultos de nosso relacionamento, perante as providências diárias, na vida social, familiar ou profissional.               
Desçamos, pois, de nossas pretensões. Aproveitemos a bela lição para revermos nossos próprios comportamentos perante perspectivas da própria vida e principalmente perante as dificuldades alheias...

Orson Peter Carrara

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Benefícios do sacrifício


O Evangelho segundo o Espiritismo, no seu capítulo V, fala-nos, entre outros assuntos, do verdadeiro sacrifício aos olhos de Deus. Capítulo interessante e atual, dado que a vida nos exige sacrifícios e por vezes buscamos estes, sem saber bem o porquê.
Em um primeiro momento, apresenta-se a questão de se é possível reduzir o rigor das provas, dado que estas são instrumentos de nossa evolução. A conclusão é simples, dados que a Lei é de amor e, sim, podemos e devemos abreviar a dor de nosso próximo, abreviar as suas provas voluntariamente, pois esse amor nos impulsiona a ser melhores e a evolução se faz em conjunto, nesse nosso planetinha azul.
Ao contrário da visão do Carma adotada em algumas religiões, não devemos deixar nossos irmãos sofrerem para “pagar”, pois a divindade quer que nós aprendamos a amar e não que soframos indistintamente, como um Deus sádico, a exemplo do Olimpo greco-romano.
A dor deve nos empurrar para o amor, e o amor pode sim colaborar para reduzir a dor, na busca da luz, em um contexto de interdependência, de Espíritos encarnados em um planeta de provas e expiações, na luta da evolução.
De forma simétrica, apresenta-se a questão: é possível então aumentar as suas provas voluntariamente? Ou seja, posso aumentar a minha dor e assim evoluir mais rápido?
O evangelho é claro nesse ponto... e o bom senso também! Produzir dor por produzir pouco contribui com a instauração do reino dos céus em nossos corações. Em muitas facetas se apresenta esse sacrifício voluntário, em roupagens modernas que escondem sentimentos adversos.
As práticas de se prometer coisas para a divindade em troca de bênçãos, como nos sacrifícios muito famosos em festas religiosas, nas famosas promessas, ilustram bem esse sentimento de imolação, como passagem para a felicidade. São os terroristas que esperam o reino de cachoeiras de mel... Uma forma de sacrifício egoísta e de barganha!
Têm-se ainda, de forma reprovável, práticas nesse sentido, adotadas por vezes por celebridades, no campo da automutilação. Com cortes e marcas, as dores corporais buscam substituir sofrimentos emocionais, em uma punição de si mesmo, prima da comiseração, em uma mescla de carência, culpa e remorso. Uma forma de sacrifício focado em si, na troca de suas dores sentimentais por dores corporais.
Esses exemplos atuais nos mostram que o nosso sacrifício ainda está atrelado a uma ideia de egoísmo. O disposto n’O Evangelho segundo o Espiritismo indica que o aumento da dor sem reverter para o benefício coletivo é sim egoísmo, e que as provações voluntárias somente têm valor quando agregarem bem ao próximo.
O sacrifício, o acréscimo de sofrimento por escolha, só têm valor aos olhos de Deus quando significam doação para o bem geral. E, para isso, na maioria das vezes, necessitamos de dores muito menores do que imaginamos!
Devemos ficar atentos às motivações que se escondem por detrás dos grandes espetáculos de dor e sofrimento, enxergando o valor do pequeno esforço cotidiano que produz o bem, sem pompa e cerimônia, sem heróis de papel.
Deus nos criou para aprendermos a amar... Para rompermos as nossas imperfeições, por vezes somos impulsionados pelo aguilhão da dor, para a senda da evolução. Mas o grande sacrifício se impõe na conduta reta no cotidiano, por vezes longe de holofotes e luzes...
O fim da evolução é o amor, força divina por excelência, que nos faz mais próximos do homem que queremos ser, nos faz melhores nas batalhas de cada dia e, para isso, precisamos entender a função da dor no contexto da justiça divina e do aperfeiçoamento do Espírito.
Sacrifícios só trazem benefícios se forem direcionados ao nosso próximo... A doutrina dos Espíritos é clara em nos explicar esse mecanismo, do primado do amor! Não busquemos evolução onde pode morar a estagnação! 

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Um minuto com Chico Xavier


Por intermédio da psicografia de Divaldo Franco, o Espírito do célebre escritor francês Vitor Hugo escreveu emocionante história contada pelo próprio Chico, sobre a presença do iluminado Espírito de São Luiz Gonzaga. Esse caso está registrado no livro “Árdua Ascensão” (Editora Leal).
Narra Chico, que ali recebe o pseudônimo de Armindo: “Quatro meses depois da desencarnação de José Xavier (irmão de Chico), o nosso mentor (Emmanuel) convidou-me a assistir, em parcial desdobramento pelo sono, a visita que São Luiz Gonzaga faz à Terra, no dia 21 de junho, data que lhe é carinhosamente reservada pelo calendário católico. Pois bem, José (que recebe o pseudônimo de Julião) disse-me que deveria estar presente ao ato, porquanto, desde a desencarnação, ainda permanecia com dor de cabeça, que o afligia de certo modo, sequela do derrame cerebral que o vitimara. Quando eu recobrei a lucidez, além do corpo físico, fui conduzido a uma região de incomparável beleza, onde se reunia expressivo número de Entidades em indisfarçável expectativa, aguardando a passagem do venerável Benfeitor. José ali se encontrava também. Não houve tempo, no entanto, para qualquer conversação, porque uma incomparável melodia coral invadiu o ambiente que irradiava indefiníveis claridades. 
“– É o Benfeitor que se aproxima – informou-me o Guia, levando-nos, a mim e ao José, a tomar posição numa das aleias floridas... A emoção agitava-me interiormente e, à medida que o grupo se acercava, podíamos distinguir um verdadeiro séquito de Espíritos Felizes que repartiam consolações. As vozes prosseguiam cantando. Ele deslizava tal a leveza dos seus passos e a harmonia do porte. Quando ia passando por nós, sem poder conter as lágrimas que me chegavam do coração aos olhos, vi-o, fixando-me docemente, com inesquecível expressão de bondade na face iluminada. José tremia, ao meu lado, e pensou na dor de cabeça que o afligia. Sem nenhuma palavra, o venerando apóstolo da fé tomou de um lírio e deu-lho. Instintivamente, meu irmão levou-o ao rosto e aspirou-lhe o perfume. A flor, porém, diluiu-se, absorvida naquele hausto e a cabeça de José iluminou-se, desaparecendo a dor. Ao desejarmos dizer algo, ele já se havia distanciado, repartindo bênçãos pelo caminho. Fui trazido de volta e, desde então, o amigo permanece recuperado, feliz.”

José Antônio Vieira de Paula
Cambé, Paraná (Brasil)  

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