terça-feira, 10 de setembro de 2013

Estudando o Evangelho


Nos áureos tempos do ensino médio, nas aulas de história militar, estudávamos preocupados com a prova que cobrava as batalhas do Brasil Império, seus detalhes e seus comandantes, com nomes, dados e números. Muita decoreba, pouca reflexão e um aprendizado que ficou dos momentos cômicos de sala de aula, mas pouco do que podemos aproveitar no presente com a história e o com o sacrifício dos que nos antecederam.
Essa visão da história, dos dados, predominou no Brasil no segundo quinquênio do século passado, demorando a surgir uma visão da história que priorizasse o entendimento das relações, das forças sociais e de que forma isso tudo nos ajuda a explicar o mundo como ele é hoje.  Penamos, nos bancos escolares, com a memorização de dados e fatos estranhos a nossa realidade, achando que isso seria aprender história. E nos gabávamos desse saber! No máximo, nos preparávamos para um programa televisivo de perguntas e respostas.
Em uma época que exaltamos o estudo da “Bíblia” in natura, relançado o Novo Testamento pela Federação Espírita Brasileira; tempos no qual pensamos em fazer um filme espírita com a história de Jesus; em que se tem a descoberta recente do Evangelho de Barnabé, mais um texto que com suas polêmicas recebe alcunhas de apócrifo e abala as estruturas calcadas em textos evangélicos; ou seja, momentos em que os acontecimentos da passagem de Jesus pela Terra (encarnado) voltam com força pela sua verdade histórica às prateleiras e discussões, penso que merece uma singela reflexão a nossa postura diante do estudo do evangelho, sob pena de cair na armadilha dos números e detalhes, do saber por saber.
O que queremos nós, espíritas, do estudo do texto evangélico? Vemos ali um livro sagrado, imutável, valorizado pela letra que mata e que deve ser estudado e repetido, como o terço e o rosário de outros tempos? Vemos neste uma fonte de estudos dos hábitos e a cultura de uma época, estranha a nós em um mundo moderno, esquecendo-nos da “parte boa” contida nas lições da moral? Ouço as pessoas dizerem que é importante estudar a Bíblia... Mas, por quê? Somente ela, com essa abordagem, dará conta de nossas questões como Espírito encarnado no planetinha azul?
Completamos este ano, 2013, os 150 anos de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, obra magistral na qual Kardec trata da questão religiosa do Espiritismo, da sua relação com o Cristianismo, tendo em suas páginas iniciais estampado que a referida obra trata da “explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida”, apontando que o foco é o Espiritismo e como ele nos ajuda a entender as máximas morais de Jesus, de forma a nos tornar o ambicionado Homem de Bem, propósito maior.
Nesse sentido, a porta estreita de nos determos em tertúlias sobre detalhes ocorridos da vida de Jesus e dos discípulos que os seguiram, em que pese seu valor histórico, pode ter um baixo potencial de nos auxiliar na transposição do Reino de Deus para os dias atuais. E ainda, necessitamos, como já advertido pelo próprio Kardec, filtrar a Bíblia, em suas múltiplas traduções, permeadas de guerras e lutas políticas, oriunda de uma história oral e carregada, em especial no velho testamento, de passagens sexistas e contrárias à ciência, que podem e nos levam a adotar uma visão restrita disso tudo. Filtrar a Bíblia não é interpretá-la a nossa maneira, mas sim entender que o texto, como base de nossas reflexões, padece de interferências históricas e culturais. No Espiritismo, não existe livro sagrado...
No estudo do evangelho, do livro que fundamenta o Cristianismo no mundo todo, é preciso mergulhar no espírito daquelas passagens, entender a mensagem em cada situação, na qual o Cristo se usa de parábolas ou de situações reais para exemplificar o que nos servirá para a eternidade. Kardec propôs isso... Interessa-nos essa história vista do alto, no contexto da época e trazido para a nossa realidade. É preciso superar os 500 anos de Catolicismo arraigados em nossa alma e entender que o paradigma é diferente, é o da fé raciocinada, do livro que fala mais do que seu texto e de uma religião que rompa mitos e formalismo, como nos deixou o legado Kardequiano.
Na nossa jornada reencarnatória, necessitamos da mensagem do evangelho a iluminar nossa rota, como um farol a nos guiar. Mas precisamos ter “olhos de ver” para enxergar essa luz, relembrando as guerras que a história da humanidade viveu com base em interpretações desses mesmos livros e de que a religião, como forma de relação com a nossa espiritualidade, pode redundar em absurdos, onde a razão precisa nos orientar. Quem não lembra o clássico filme da década de 80, “Footloose”, onde o texto evangélico serviu como proibição da dança, mas também argumentou para a sua liberação naquela pequena comunidade.  Jogos de palavras no qual a fé cega pode se servir... Interpretações literais sobre o que não temos certeza.
 Estudos históricos, detalhes da época, nomes de personagens, com todo respeito a essas figuras históricas e seus sacrifícios, devem nos servir para algo mais do que decorar a nossa cultura sobre o povo judeu de 2000 anos atrás e o modo de vida no Oriente Médio, como se falássemos de seres supra-humanos. Kardec, ao falar do objetivo de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, reforça que ele trata da questão moral, daquela que se afasta da controvérsia e dos sectarismos e permanece para além dos séculos, e, apesar dessa supremacia, demanda estudo e reflexão. 
Quando vejo os textos do novo e velho testamento carregados de pronomes pessoais em desuso na língua coloquial, como o “Vós”, fica claro que isso se deve a uma fossilização do texto, que não pôde ser mudado pelo seu caráter sagrado. Resquícios de uma cultura do texto sagrado, na qual o próprio livro, fisicamente, é cultuado em um altar. Mas e a ideia... Esse é o cerne dessa discussão, abandonar o formalismo do texto, do fato e avançar sobre a essência, ainda que o primeiro caminho seja mais fácil. Lembremos que a queima dos livros em Barcelona, na época de Kardec, foi visto como uma questão benéfica para a difusão das ideias espíritas.
Leonardo Da Vinci dizia que “(...) a simplicidade é o último degrau da sofisticação”. Gandhi, em sua sabedoria, nos asseverou no século passado que “(...) se toda a literatura ocidental se perdesse e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada se teria perdido", apontando que as coisas simples do evangelho são as mais necessárias a nossa evolução. Lembremo-nos de André Luiz no livro “Agenda Cristã”, quando diz “(...) não viva pedindo orientação espiritual, indefinidamente. Se você já possui duas semanas de conhecimento cristão, sabe, à saciedade, o que fazer”. Isso não é um abandono do estudo e sim uma orientação da abordagem que ele deve adotar.
Nessa época de valorização da informação nua e crua, do grande acúmulo de dados pelas pessoas em seus equipamentos portáteis, ficamos extasiados com minúcias históricas e suas nuanças e esquecemo-nos da vida real, da aplicação daquele conhecimento em um contexto mais amplo. Hoje, posto que com a internet tenhamos uma infinidade de dados ao alcance de nossas mãos, nos detemos em saber muito, sobre coisas e suas superficialidades, e estamos perdendo a competência de discutir e refletir. Navegamos na superfície, nos seus detalhes exteriores e esquecemos a essência.
Da mesma forma, a nossa sociedade valoriza o espetáculo, o bom produto a ser consumido e buscamos mergulhar nas histórias e nos tornamos aficionados pelos nossos personagens, com bonecos nas mesas do trabalho e posts  nas redes sociais. Fazemos assim com nossos heróis evangélicos, endeusados pelos seus superpoderes, na releitura dos fenômenos de canonização, distantes em um mundo inatingível de fantasia a divertir nossas tardes de domingo.
Não se trata de uma redução do papel de Jesus, para o qual endereçamos, contritos, nossas preces antes de dormir. Citado na pergunta n° 625 de “O Livro dos Espíritos” como o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo; entendido pelas obras psicografadas por Chico Xavier como governador espiritual do planeta, Ele merece ser resgatado desse míope papel de Deus encarnado e salvador propagado pelas religiões, para uma visão na qual seja forte pelo seu legado, pela sua mensagem a se perpetuar na orientação de nossas questões mais intimas.
Trata-se de fugir do atavismo, de uma divinização de Jesus na busca de cada detalhe de sua vida, como um fã incondicional que coleciona palhetas de guitarras, em posturas que redundam em outros conceitos no plano teórico, como o corpo fluídico e a evolução em linha reta do Cristo, como negações da grandeza do universo e da nossa pequenez nesse contexto. A adoração, como dito no mesmo “O Livro dos Espíritos”, agrada a Deus quando do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal. E isso se dá com estudo e reflexão, com pensamento e ação, no diferencial teológico do Espiritismo, uma herança grandiosa do nosso codificador.
A discussão do evangelho deve ser libertadora, como deve ser o ensino de história nos bancos escolares. Para além de fatos, hábitos e nomes, importa extrair dali o conteúdo para a nossa vivência. Na história, em suas discussões modernas, nos interessa a investigação complexa, atenta à estrutura profunda dos diversos fenômenos sociais, se debruçando sobre os conflitos, as hegemonias e as contradições, em uma visão de totalidade do evento histórico.
Assim, enriquece-se o estudo do evangelho quando transcende a questão narrativo-explicativa do fato e seus detalhes e se prende aos valores, a postura das pessoas e aos seus desafios, tudo isso como fonte de educação ao Espírito. Para isso, não importa-nos manusear o texto original simplesmente, e sim buscar em cada obra no manancial espírita essa sabedoria, em discussões e reflexões.
Por fim, recordo-me dos mercadores da Idade Média, que comercializavam falsas relíquias sagradas, lascas do madeiro de Jesus, e as pessoas, que sem ter a certeza da origem daquele artefato, se apegavam a ele na sua fé cega. Kardec nos oferta, em um mundo novo, a fé raciocinada, não no sentido de amplitude da superfície, conhecendo de forma extensa apenas a aparência, mas no mergulho da essência que relaciona o posto, o contexto e as outras realidades, passadas e presentes. Nas palavras de Kardec: “(...) A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.
Queremos ao fim da vida, retornando ao Plano Espiritual, trazer algo mais do que eu trouxe das aulas de história e seus detalhes exaltadores de personalidades. Queremos trazer aquele evangelho vivo, refletido em conduta e pensamento. O “amai-vos” e o “Instruí-vos” não figuram isolados e sim como elementos integrados, no qual estudamos para amar com mais qualidade e amamos impulsionados pelo entendimento da vida e de seus objetivos. Para isso, incumbe-nos saber amar, mas também saber a melhor forma de estudar...

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil) 

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Energia Ambiental - Matéria do futuro nas universidades da vida


É possível perceber e modificar a qualidade da energia presente nos ambientes onde passamos a maior parte do tempo.
Com treino dá para distinguir os vários tipos de vibração e verificar nossa sintonia com as mesmas.
Experimentemos ir a uma delegacia de polícia, a um pronto-socorro, a um velório ou a uma fila qualquer de reclamações e observemos as sensações, e, depois vamos a uma igreja, um templo ou um parque e analisemos a diferenças; para depois compará-las com as do lar e dos locais que costumamos freqüentar.

Onde há desarmonia cria-se um ambiente onde predominam energias nocivas que, dependendo da intensidade e duração ajuda a adoecer e a matar.
A faxina ambiental é feita pelas vibrações positivas e pelo sentimento do amor, que alimenta o circuito energético ambiental de energias salutares, o que resulta em paz e harmonia.
Na nossa condição atual é mais fácil entrar em sintonia com frequências nocivas do que espalhar harmonia.
Freqüentemente interagimos com pessoas que nos transmitem antipatia, e sintonizados com elas passamos a emitir na mesma freqüência trocando energias em desalinho; dependendo da duração e da intensidade dessa sintonia instala-se a “obsessão entre encarnados” causadora de tantas doenças mentais e físicas.
Exemplo: a emissão de onda mental invejosa prende o emitente ao receptor transformando-se numa forma de obsessão, onde o agente invejoso não consegue desvincular-se da vítima, e esta aturdida ou doente não consegue bem-estar e saúde.
Muitos permanecem dessa forma vinculados uns aos outros em deplorável parasitose psíquica por muito tempo.
Sempre que percebemos uma relação desse tipo é hora de mudar o padrão vibratório ativando a produção de amor vigiando e orando.

Cada ambiente está impregnado pelas vibrações energéticas dos que o ocupam:

Pensamentos continuados modelam o ectoplasma criando *formas/pensamento que atuam naqueles que estão em sintonia, isso é comum no terror noturno das crianças criando o pânico de adormecer e no adulto o medo de dormir no escuro.
* “... Vós sois deuses!...; disse Jesus. Pensar é criar; quando pensamos com insistência em algo, conseguimos até materializar nossas idéias. Formas/pensamento são construções mentais que ainda não se materializaram; mas que podem tornar-se realidade palpável.
Crianças e médiuns enxergam essas imagens como se estivessem assistindo a um filme.
A energia gerada por pensamentos e palavras, continuamente repetidas, impregna o ambiente, é bom que observemos o teor vibratório de cada palavra antes de proferi-la, que prestemos atenção ao nosso vocabulário e à vibração que o mesmo transmite ao ambiente e às outras criaturas.
A Natureza oferece recursos auxiliares para drenar energias nocivas: música, plantas, animais, cristais, sal, aromas etc., mas vejamos bem, auxiliares; pois não adianta limpar o ambiente se logo a seguir o sujamos de novo. Nesse caso agimos como alguém que acaba de rezar um Pai Nosso onde pede para Deus livrá-lo das tentações, e daí a minutos está jogando na loteria, pensando em cirurgia plástica, cobiçando a mulher do vizinho ou correndo atrás de tentações...

(Saúde ou doença: a escolha é sua. Ed. Petit.).

Boa faxina.

Américo Canhoto
http://americocanhoto.blogspot.com/
americocanhoto@yahoo.com.br

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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Armadilhas da fé


Fiz nesses dias um breve passeio pela rede, em algumas línguas, para colher pessoas, idéias e informações sobre o tema Educação e Espiritualidade, de que faremos um congresso internacional no ano que vem. E depois de medir um pouco a temperatura do que anda acontecendo nesse campo na prática, nas universidades, no mundo editorial, inspirei-me a escrever algumas reflexões sobre a espiritualidade nesse nebuloso, mas estimulante início de milênio. Considere-se aqui espiritualidade qualquer ligação com o divino, com a dimensão espiritual do ser. A espiritualidade pode ou não estar vinculada a uma religião específica. Pode-se viver a espiritualidade dentro ou fora de uma determinada corrente religiosa.
A notícia animadora é que há muita gente no mundo trabalhando pelo diálogo, pelo encontro, pela convivência respeitosa e pacífica entre as pessoas de diferentes credos, etnias, origens… Há muita gente se propondo a uma espiritualidade aberta, questionadora, crítica, que permita a busca pessoal e o respeito à consciência de cada um. Há igualmente muitos estudos sérios, acadêmicos, que demonstram que a espiritualidade pode fazer bem à saúde, trazer resiliência, aumentar a qualidade de vida, melhorar a imunidade, produzir efeitos benéficos nas relações, promover valores solidários e pacificadores. Há pessoas
propondo práticas educacionais que levem em conta a diversidade de crenças e cultivem a espiritualidade das novas gerações dentro de um pluralismo saudável.
Há também uma possibilidade, antes nunca experimentada em nenhuma época histórica, do ser humano ter acesso facilmente, rapidamente, às mais antigas ou mais recentes religiões, movimentos, tradições. Está tudo on-line, em todas as línguas. Está tudo publicado, em livro impresso ou eletrônico. Em poucos segundos, podemos achar uma maravilha da poesia sufi, diversas traduções do Baghavad Gita, salmos bíblicos, preceitos da Torá, ensinamentos das mais diferentes linhas do Budismo, vídeos de líderes das mais diversas correntes… Ou seja, há fartos alimentos espirituais em toda parte, disponíveis, acessíveis.
O problema começa no fato de que no meio de toda essa oferta há muita coisa misturada, de baixa qualidade e as pessoas não têm referência e ignoram como escolher as fontes confiáveis, o alimento mais saudável para a alma, assim como não sabem muitas vezes escolher o alimento mais saudável para o corpo. Da mesma forma que temos fast foods a cada esquina, que intoxicam e provocam câncer de cólo – temos espiritualidades enganosas, que induzem à alienação e ao anestesiamento do espírito.
O que há de preocupante no cenário religioso e espiritual em praticamente todas as nações? Em primeiro lugar, o fundamentalismo cada vez mais eloquente, retrógrado e agressivo que se manifesta como um câncer dentro de todas as religiões. Em todas elas, há pessoas e movimentos abertos e progressistas e há setores que se apegam à letra, que manifestam um fanatismo perigoso e que se fecham ao diálogo e à tolerância. Essa é uma ameaça que nunca será demais denunciar – mesmo porque ela está se fazendo cada vez mais forte no Brasil com os evangélicos mais radicais – e porque está instalada em vários pontos do mundo.
Mas o outro fenômeno, talvez não tão claro para muitos, é o esgarçamento, a diluição da espiritualidade num aluvião de livrinhos, pregações, símbolos que não têm nada de espiritual, mas apenas de comercial. Idéias, apelos, movimentos inteiros que são atrativos para os olhos, sedutores para as mentes superficiais da atualidade, mas sem nenhuma consistência. Isso que eu chamo de espiritualidade light, que mistura cristais com autoajuda, que faz de padres pop stars que vendem milhões de CDs, que torna monges budistas instrutores de executivos bem-sucedidos, que promove médiuns medíocres e espalhafatosos em produtores de best-sellers… essa espiritualidade é que nas prateleiras das livrarias está misturada com livros sérios de um Leonardo Boff, com belezas de uma poesia sufi, com a profundidade de uma obra de Teresa d’Ávila!
Num mundo em que a moeda mais valiosa é a própria moeda, a lógica da oferta da fé é uma lógica comercial. E os consumidores, como estão acostumados a consumir lixo como comida, lixo como arte, também consomem lixo como fé… A maior parte da população perdeu, ou nunca chegou a ter, por falta de uma educação que proporcione isso, a sensibilidade e o discernimento para enxergar os falsos gurus, para distinguir as tradições genuinamente enraizadas dos modismos comerciais…
Mas assim como a rede, o mercado, os livros, os vídeos oferecem todo esse alimento espiritual verdadeiramente rico, misturado a grãos apodrecidos, também nela podemos achar polêmicas, denúncias, discussões históricas sobre todas as grandes tradições. Ao mesmo tempo em que podemos nos alimentar espiritualmente de várias origens ou escolher com mais conhecimento de causa o que mais fala ao nosso coração, podemos encontrar antídotos bastante relevantes contra mistificações, charlatanismos, falsidades históricas e assim por diante. Está tudo aí, o verdadeiro e o falso, o elevado e o abusivo, o sincero e o hipócrita, o que é fruto de pesquisa séria e o que é enganação deslavada.

Como viver de fato a espiritualidade

Mas como nos conduzirmos nesse emaranhado de idéias, ofertas e caminhos? É possível não sermos enganados? Esses enganos podem ser mais inofensivos – como achar que um livro como Código da Vinci têm respaldo histórico – ou mais graves, como entrar para alguma seita que nos faça lavagem cerebral e nos aliene da própria razão!
Aqui, algumas dicas, que considero essenciais para podermos viver uma espiritualidade construtiva, autônoma e saudável!

1) Ouçamos os ateus e os antirreligiosos: eles têm críticas que podem ser úteis para nos imunizarmos contra os que abusam da religião para explorar o próximo e para ganhar poder e dinheiro. Um pouco de ceticismo faz bem à nossa espiritualidade.
2) Desconfiemos de líderes e gurus que aceitam ser reverenciados, que ditam regras de cima, que vivem muito distanciados das pessoas comuns. As pessoas que realmente vivem numa dimensão espiritual elevada são simples, despojadas, não permitem que ninguém se humilhe diante delas…vivem próximas às outras pessoas.
3) Desconfiemos de movimentos, instituições, líderes que têm muito dinheiro. Em nosso mundo, quem luta por idéais nobres e se alinha no bem, pode usar o dinheiro de maneira saudável e construtiva, mas encontra dificuldades sempre, porque no sistema capitalista, só faz fortuna quem age dentro da lógica do sistema – ora fazer fortuna com a espiritualidade é trata-la como mercadoria.
4) Acima de tudo, enraizemos nossa espiritualidade em nós mesmos e não no outro. Para isso, é preciso ter tempo para vivenciá-la: tempo para orar, tempo para sentir a natureza, tempo para amar ao próximo e estar junto de quem precisa… ou seja, a vida contemporânea se opõe a esse vagar, a esse respirar da alma e justamente por isso, pretende vender espiritualidade em pastilhas, para serem tomadas entre um programa e outro de televisão! Quem tem experiências espirituais profundas, verdadeiras e legítimas não vai se iludir com falsos gurus!
A experiência espiritual pressupõe silêncio – dos ouvidos físicos e da alma. Um silêncio que permita o aflorar do divino em nós, que nos faça sentir a conexão com todas as coisas e nos permita saborear a paz. Por isso, a espiritualidade requer uma mudança de atitude de vida – sem excessos de trabalho, prazeres, informações, correrias. Uma vida de equilíbrio, em que nos permitamos a pausa para um respiro da alma, para nos sustentarmos com o alimento do céu, que sacia muito mais dos que os alimentos perecíveis do comércio da fé.

Dora Incontri
http://doraincontri.com/2013/08/11/armadilhas-da-fe/

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sábado, 10 de agosto de 2013

A reunião de Desobsessão e a terapia do Evangelho


Nas lides espíritas, os “trabalhadores da última hora” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XX, item 02) têm conciliado, em suas atividades, duas das mais fascinantes ferramentas que Deus nos deu para possibilitar a nossa evolução: o Evangelho e a Mediunidade.
O primeiro, como sabemos, é o resumo da própria lei de Deus, lei universal ensinada por Jesus e interpretada, nos últimos dois milênios, por várias correntes religiosas. Todas as seitas cristãs propagam essa luz... Já o Espiritismo, sendo o Consolador prometido pelo próprio Cristo (João, XIV: 15 a 17) propõe a reinterpretação do Evangelho à luz dos seus princípios fundamentais (Deus, imortalidade, comunicabilidade, reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados), possibilitando o entendimento dos ensinamentos de Jesus e sua aplicação e consequência à nossa vida.
Já a mediunidade, ao contrário do que se imagina, não é “criação” espírita. A comunicação entre o plano dos “vivos” (físico) e o dos “mortos” (espiritual) sempre existiu, sendo, portanto natural ao gênero humano. Há relatos históricos de todos os povos antigos, quanto à comunicabilidade. Essa faculdade psíquica possibilita o intercâmbio entre os dois planos, que jamais estiveram ou estarão isolados, pois os habitantes dos mesmos são filhos do mesmo Pai de amor.
Nos núcleos espíritas, realiza-se o estudo metódico e sistemático de ambas as ferramentas citadas e após esse período de estudo e preparação (mais ou menos longo), o aprendiz estará apto para uma das mais fascinantes atividades espíritas: a reunião mediúnica. Esta é a sessão de intercâmbio com os desencarnados, onde os médiuns permitem que os mesmos se comuniquem, sob condições de controle rígidas e seguras.
Num grau mais avançado de teoria e de prática, o grupo mediúnico é convidado pelos seus orientadores desencarnados a enveredar-se por um tipo de prática mais profunda, que lhe exige mais responsabilidade e mais vigilância: a reunião de desobsessão. Nesse tipo de reunião, os desencarnados que se comunicam o fazem sem a própria concordância, sendo, não raro, capturados pelos espíritos ligados aos grupos, responsáveis por esse trabalho.
Os chamados obsessores apresentam tônus vibratório muito mais pesado que as entidades que se manifestam nos grupos mediúnicos de manifestações mais simples, exigindo de todo o grupo (membros encarnados e desencarnados) uma sintonia mais apurada. Costumam tentar agredir os membros, na hora da manifestação, “quebrar tudo”... Exigindo do médium equilíbrio e disciplina mental constante, e sustentação vibratória dos demais membros.
Havendo, por parte do médium esclarecedor (doutrinador) e de todo o grupo a ascendência moral necessária, a terapia do Evangelho mostra-se infalível no apaziguamento desses irmãos, pois nessas manifestações os mesmos acessam seus dramas, muitas vezes milenares. Assim, podemos auxilia-los a refazer seus conceitos, e mostrar-lhes (e a nós mesmos, muitas vezes...) que o perdão é o melhor caminho, e o único caminho para a paz.
A terapia do Evangelho é a terapia real, única capaz de curar em definitivo as nossas chagas morais, que são as causadoras das chagas físicas. Assim sendo, a mensagem da Boa Nova, deixada por Jesus há dois milênios, é a maior fonte de luz que a humanidade já recebeu em toda a história do orbe.
Estudemos essas duas ferramentas que a Doutrina Espírita nos oferece de forma tão clara (Evangelho e Mediunidade), e aprendamos a usá-las para o esclarecimento... Primeiramente, de nós mesmos, e depois, dos irmãos necessitados. Entendamos também que cada manifestação nas reuniões mediúnicas ou de desobsessão são fonte de aprendizado; é como se o manifestante dissesse: “eu cometi um erro, e em consequência colhi sementes nada agradáveis... Não façam o mesmo”!

André Sobreiro
http://www.portaldeluzseverinia.blogspot.com.br/ 

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terça-feira, 23 de julho de 2013

Aconchego familiar


Uma agradável festa de casamento trouxe reflexões importantes em data recente. Os vínculos familiares, as lembranças que saltam incontroláveis e mesmo o ambiente emotivo – próprio da ocasião –, levam às emoções.
Misturam-se as gerações, encontram-se e integram-se as famílias; os mais veteranos recordam, assustam-se com os novos que o tempo transformou em adultos. Curioso porque, ao mesmo tempo, os mais novatos (e aqui refiro-me às crianças mesmo) promovem o espetáculo da vida humana que se renova todo dia. Muitos estão ausentes, ou já se foram – gerando intensas saudades; outros trazem consigo os laços de futuras famílias que começam a se esboçar nos jovens casais de namorados.
Depois os abraços, as recordações, a visão de como o tempo passou. E, por mais paradoxal que possa parecer, também o futuro vivo mostrando-se com toda sua força e potencialidade. Que coisa linda é a vida! Que espetáculo de alegria e amor!
Nela concentram-se maturidade, a juventude, a inocência, a pureza. Nela também está a dificuldade, a esperança, o otimismo, a alegria, a tristeza. Igualmente mostram-se os quadros da diversidade de experiências que trazem a sabedoria, a prudência, o cuidado.
Por isso mesmo a vida familiar é das mais notáveis oportunidades que recebemos do Criador. É nesta permuta, neste intercâmbio, que crescemos. É justamente através das diferenças que um faz o que outro deixa de fazer; que um ajuda o outro; que um ensina, outro aprende. Estamos todos num grande processo de crescimento individual e coletivo.
Ora, pois é justamente através da família que surgem os filhos; que o afeto se estabelece, que a estrutura ética, moral e psicológica se forma com segurança.
Por isso, todo investimento em favor da serenidade familiar é o melhor uso que podemos fazer de nosso tempo, de nossa capacidade. Estruturada a família, nos princípios do amor e do bem, do respeito ao semelhante, da honestidade, enfim, estaremos sendo partícipes de uma sociedade humana mais equilibrada. Não é notável isso?
Importante, pois, valorizar a família. Mas com um detalhe: nunca de forma egoísta, mas igualmente fomentando noções de solidariedade e cidadania. Fechar-se em si mesmo um grupo familiar é sinal evidente de fracasso, de equívoco no entendimento de seu verdadeiro papel.
Pare para pensar comigo, amigo leitor. Pense em sua família (também penso em meu grupo familiar). Que tesouro! Quantas alegrias, quanto aprendizado, quantas recordações, perspectivas e esperanças!
Você poderá alegar as dificuldades de convivência, enfermidades, os apertos financeiros e demais obstáculos de nosso tempo. Mas considere: são desafios de crescimento, são testes de maturidade. No final, o que fica mesmo não é o patrimônio dos bens materiais. O que prevalece mesmo (analise bem) são as emoções vividas. Só os sentimentos é que permanecem. Tratemos, pois, de valorizá-los adequadamente.

Orson Peter Carrara 
orsonpeter@92gmail.com

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quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Espiritismo nada tem a ver com bruxaria e menos ainda com feitiçaria


Os dicionários registram bruxaria e feitiçaria como sendo palavras sinônimas. Preferimos dizer que elas são afins.
Bruxaria é a prática de rituais para com os chamados deuses, que nada mais são do que espíritos humanos desencarnados (deuses pagãos) e encarnados. “Vós sois deuses.” (Salmo 86: 6; e João 10: 34). Assim, pois, eu e você, que lê esta matéria, não somos espíritos ou deuses muito bons, santos, mas graças a Deus, não somos também diabólicos, como há muitos deles, neste nosso mundo físico e no mundo dos espíritos, os quais se comunicam entre si, pois todos estão vivos, os de cá e os de lá. “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos.” (São Mateus 22: 32). Por que, então, não se comunicariam?
Já a feitiçaria é uma espécie de simpatia ou ritual com o objetivo de beneficiar ou prejudicar uma pessoa, e também ainda para beneficiar a própria pessoa que a faz.
E, geralmente, por gracejo e gozação, os bruxos são chamados também de feiticeiros. Mas é igualmente por gracejo e ironia, que os bruxos e feiticeiros, por devoção ou feitiçaria, eles próprios se intitulam de bruxos. Isso acontece porque, no passado, os médiuns e os bruxos morriam nas fogueiras da Inquisição. E, hoje, essas pessoas gostam de fazer essa espécie de desabafo, por serem solidárias aos seus colegas vítimas do passado. É como se elas de hoje dissessem: Sou médium, sou bruxo, e daí? 
O Espiritismo não é nada de bruxaria, feitiçaria e magia, embora, falsamente, os pastores evangélicos fundamentalistas tachem frequentemente os espíritas de bruxos, feiticeiros e macumbeiros. E até a Igreja, por ter deixado de atacar o espiritismo, eles têm tachado também de bruxaria e feiticeira! 
 É comum encontrarem-se médiuns entre os bruxos e feiticeiros, pois a mediunidade não é dom só de espíritas, umbandistas e adeptos do Candomblé etc. Aliás, o mundo de hoje está cheio de médiuns de todas as religiões, e até de médiuns ateus, em cumprimento às profecias de Joel e de são Pedro. “Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e vossos velhos sonharão.” (Joel 2: 28; e Atos 2: 17-18).
 Lembrem-se, meus irmãos pastores fundamentalistas, de que os seus rebanhos e os de outras correntes religiosas seguidoras do Nazareno, inclusive a dos espíritas, têm como seu pastor maior o próprio Jesus, que detesta a mentira e a hipocrisia, e deseja um só rebanho e um só pastor de seres humanos unidos como irmãos, porque só assim seremos dignos de chamar Deus de Pai! E lembrem-se também desta frase do Mestre dos mestres: “Nada ficará oculto.” (São Marcos 4: 22).
Saiba você, que não conhece o espiritismo, que, de fato, ele não pratica rituais de veneração e de adoração nem para com o próprio Deus, quanto mais para com os diabos!
É que os adeptos da doutrina codificada por Kardec adoram a Deus somente em espírito e verdade, tal qual Jesus ensinou à samaritana, à beira do poço de Jacó (João 4: 23): “Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.”

Na TV Mundo Maior, por parabólica, a cabo e o site www.tvmundomaior.com.br o programa “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina e este colunista, nas quintas-feiras, às 20h, e nos domingos, às 23h. Para suas perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br - E, na Rede TV, o programa “Transição”, aos domingos, às 16h15 e em horários da madrugada.

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) –  www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

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domingo, 14 de julho de 2013

Sexualidade e responsabilidade andam de mãos dadas

O autor do livro “Alegria de Servir” fala sobre sexualidade e diz 
que a questão do sexo e suas implicações devem 
ser objeto de reflexão, estudo e diálogo

Marcus Vinicius de Azevedo Braga (foto) é pedagogo, Mestre em Educação e articulista em diversos veículos da imprensa espírita e colaborador da revista “O Consolador”. Orador espírita, atua na evangelização da Juventude do Grêmio Espírita Atualpa Barbosa Lima, de Brasília-DF, sendo autor do Livro “Alegria de Servir”, publicado pela Editora da FEB.

Como lidar com a força dos impulsos sexuais que afloram na fase juvenil?

Bem, de tudo que se discutiu até hoje sobre o assunto, a história da humanidade nos mostrou que a repressão pura, a negação, não é o caminho ideal. Essa postura leva a situações ligadas a mentiras, a problemas psicológicos e ainda, em alguns casos, ao crime e à perversão. Tudo deriva da maneira com que enxergamos as energias sexuais. Essas são energias criativas, ligadas à afetividade e não coisas sujas ou temidas. Como toda energia, causa medo e demanda educação, respeito ao próximo e a si mesmo. 
Na fase juvenil, além da questão hormonal e da maior liberdade e autonomia, somos bombardeados por impulsos externos dos meios de comunicação e dos grupos de amigos, que exercem grande influência, em especial na questão da conduta afetiva. Nesse caldo de forças, o jovem deve buscar no diálogo com pessoas que ele considere maduras, e na leitura de obras sérias, construir a sua opinião sobre essas questões, sabendo dosar teoria e prática. Nesse ponto, a atividade da juventude espírita é fundamental. Lembro-me dos meus tempos de mocidade, em que esse tema era recorrente e de forma palpitante chamava a atenção dos jovens. 
  
Por que o sexo sem compromisso tem tanto destaque, principalmente nas épocas festivas como o carnaval?

O sexo é ligado à ideia de prazer, algo muito valorizado atualmente, e funciona como apelativo para se vender programas, produtos, eventos. Não é só uma questão do carnaval, mas a sexualidade está na questão maior do turismo sexual, da prostituição infantil, dos produtos para crianças focados nos adultos, na visão do ser humano como objeto etc. Além disso, vivemos uma época de valorização da liberdade, do direito de escolher o que fazer e o que consumir, em que as aventuras sexuais despertam o sonho de jovens e adultos, em ideias de quantidade ao invés de qualidade e, ainda, de qualidade ligada estritamente a formas e fama. 
Nesse contexto de catalisador de consumo, vendido como uma corrida frenética de adquirir “alvos”, crescemos e vivemos, homens e mulheres, às vezes sem perceber esse processo, a sua transitoriedade e tudo de bom que o sexo realmente pode trazer a nossas vidas. Como disse anteriormente, a questão do conservadorismo extremo e da liberdade sem noção, ambas as posturas vêm da nossa visão das forças sexuais e de fugas da nossa dificuldade de construir relações com sentimento e maduras, o que creio ser o maior desafio posto nos dias atuais.

Quando seria o momento correto para o jovem ter relações sexuais? Deveria ser apenas após o casamento?

Essa é aquela pergunta em que, se o entrevistado responder: antes do casamento, o jovem a guardará em casa em uma moldura, dizendo à mãe: “Ó, fulano, que é espírita, me deu aval! Uh uh!”. E se disser: só depois, a menina que engravidar na juventude será queimada na fogueira sob a leitura da entrevista. Penso que o momento do início da vida sexual é uma questão íntima. Mais importante do que o quando, é o “com quem” e o porquê. Penso também que se deve refletir se quer iniciar a vida sexual para dizer aos amigos e não ser mais vítima de anedotas, ou, ainda, para segurar o namorado, ou se é fruto do amadurecimento de uma relação. Por fim, uma das consequências da vida sexual ativa é a possibilidade da gravidez, o que envolve questões financeiras e profissionais dos pais em relação ao novo Espírito. Não pensar nisso é irresponsabilidade “in natura”. Acho que aí cada jovem já tem seus elementos para pensar e começar a decidir coisas na vida, em um natural processo de crescimento, em que podemos ajudá-los e não substituí-los. 

Há “privacidade” na realização do ato sexual, em relação à presença de Espíritos desencarnados?

Bem, também nos perguntamos se existem Espíritos quando vamos ao sanitário, quando fazemos provas escolares, quando cortamos a unha. Penso que os Espíritos mais amadurecidos se ligam a questões de maior relevância e, no caso do ato sexual, creio que essa se dá em relação a questões da reencarnação de novos Espíritos. Obviamente, que se existe um Espírito com uma ligação de ódio muito grande entre os amantes, ele pode estar ali perto, esbravejar e até interferir. Mas, em minha opinião, isso não se prende ao ato ser sexual e sim às pessoas envolvidas. Lembremos: tudo reside na nossa visão das forças sexuais!

O que você tem a dizer com a relação à gravidez precoce, quando ela compromete a concretização dos planos de vida de ambos os envolvidos? Mesmo nesses casos, a gravidez é sempre uma dádiva?

Quem disse que a gravidez compromete a concretização dos planos de vida de ambos os envolvidos? Vai tornar mais difícil, mas comprometer? Não, a vida é repleta de desafios e a gravidez precoce (ou não planejada) é um deles, que nos traz grandes alegrias, na dádiva que é ter um filho(a). Logicamente, força um amadurecimento dos envolvidos, mas até hoje não soube de ninguém que desencarnou dessa causa. Aqueles que se veem diante de uma gravidez precoce e a enfrentam com maturidade e, dependendo da idade, contando com seguro apoio da família, são heróis e dignos de aplauso e não de reprimenda. Vivemos situações curiosas no mundo: a mãe solteira ou o jovem casal da gravidez precoce são massacrados pela comunidade e o casal que aborta silenciosamente vive no paraíso da inconsciência entre as pessoas. Devemos enxergar essa questão para mais além, percebendo a maturidade dos desafios. Como dito, sexualidade e responsabilidade andam de mãos dadas, literalmente...

Por que o ato sexual foi, e ainda é, por várias pessoas, entendido como sinônimo de pecado e promiscuidade?

Porque arrastamos dos anos de dominação católica no país uma visão muito estreita dessa questão e, apesar do dito pelos Espíritos em obras como “Vida e Sexo” (Emmanuel/Chico Xavier) ou em textos de autores encarnados como Jorge Andréa (Forças sexuais da alma), não mudamos a nossa forma de ver a vida e continuamos a enxergar a sexualidade como algo negativo, quase um mal necessário.  Com a AIDS ainda profusa na África, vemos ainda a Igreja proibir o uso do preservativo. Desse reino do proibido, surge essa gama de hipocrisias que o Espiritismo se dispôs a combater. Acrescentando: na casa espírita ainda vemos a jovem expulsa de nossas fileiras pela gravidez precoce, a mulher reprovada por ter se separado e iniciado nova relação e, ainda, negamos o tema nas nossas discussões na doce ilusão de que, se não falarmos nada, nada acontecerá, é só ficar quietinhos... Essa mentalidade do mundo bonitinho e dos problemas varridos para debaixo do tapete, a história nos provou que é inócua. 
A questão do sexo e suas discussões correlatas deve ser objeto de reflexão, de estudo, de diálogo e, ainda, de fortalecimento de corações e mentes, pois a juventude espírita deve preparar aquele Espírito para os desafios do mundo, e isso inclui o campo afetivo! Às vezes discutimos temas de menor relevância no currículo da juventude espírita e passamos ausentes dessa temática, nos dez anos que o jovem passa pela escola de evangelização, seja pelo medo, seja pela falta de pessoas interessadas.
Para concluir, gostaria de indicar três artigos que tratam de alguma forma dos temas aqui expostos e que publiquei na revista eletrônica “O Consolador”, e são eles:

Namoro Espírita: 
http://www.oconsolador.com.br/ano4/193/marcus_braga.html

O aborto, o abandono e a roda dos séculos:
http://www.oconsolador.com.br/ano6/263/marcus_braga.html

Reflexões sobre a vida a dois:
http://www.oconsolador.com.br/ano4/202/marcus_braga.html

Matheus Alexandre do Carmo
matheuslesh@hotmail.com
Guará, DF (Brasil)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Deus criador incriado e Deus criador criado e inferior


Li o livro do Jesuíta espanhol José Antônio Laburu: “Jesus Cristo é Deus?”, Edições Loyola e Ed. Cléofas.  Laburu considera que a grande importância e o grande triunfo do cristianismo se devem ao fato de Jesus ser outro Deus, quando o certo seria atribuí-los ao Deus único e verdadeiro, o Pai.
O autor baseou sua tese no dogma do Concílio Ecumênico de Nicéia (325). O líder contra a divinização de Jesus foi Ário, daí o arianismo. Para se ter uma ideia de quanto foi polêmico esse concílio, basta dizer que santo Atanásio, o chefe dos divinizadores, foi exilado cinco vezes, havendo suspeita de que ele tenha morrido envenenado, ao retornar de seu último exílio. E o imperador Constantino, defensor da divinização, depois ficou vacilando, ora a favor, ora contra. E ele dominou mais esse concílio do que o próprio bispo romano da época, Silvestre.
    
Deixemos a Bíblia falar:
  
“Filho Unigênito do Pai”. (São João 3:16). Essa frase é uma das mais usadas pelos divinizadores de Jesus. Seria ela uma interpolação? Para o teólogo e filólogo francês Etiènne, queimado em 1546, a tradução certa seria “Filho de Deus único.” E diz são Paulo: “O próprio espírito nos testifica que somos filhos de Deus” (Romanos 8, 16). E vejamos esta outra: “Eu e o Pai somos um”. (São João 10: 30). Eles são um na sintonia, e não nas identidades. E nós podemos ser também um com Deus e Jesus. “A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós.” (São João 17: 21). “Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós.” (São João 14: 20). Jesus e todos nós somos deuses, sim, mas relativos (São João 10,34-35; 1 Samuel 28,13;  e  Salmo 82,6). E Deus mesmo, absoluto e único, é só o Pai nosso e de Jesus. E é também o único ser incontingente de são Tomás de Aquino.
Outros textos bíblicos que dispensam comentários.  “O Pai é maior do que eu” (São João 14: 28). “Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.” (São João 20: 17).  “Deus é um só.” (Romanos 3: 30). “Há um só Deus verdadeiro, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem.” (1 Timóteo 2: 5).  “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um só, que é Deus.” (São Lucas 18: 19).
E Jesus não ressuscitou, foi ressuscitado por Deus, que nos ressuscitará também. (Romanos 8: 11).
A importância de Jesus é realmente o fato de Ele ser o enviado de Deus como portador do evangelho para nós. E, pois, essa importância para nós do homem Messias se torna tanto maior quanto maior é Deus Pai, o Criador incriado, o enviador do enviado Jesus, Filho de Deus, Criador também, mas criado, apesar de Primogênito das criaturas. (Colossenses 1:15). 
Atentemos para o fato de que o enviador é sempre mais importante do que o enviado, que é, portanto, inferior.
Como se vê, os teólogos fugiram muito da Bíblia, ao criarem a teologia cristã. Acredite neles quem quiser!

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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Estudo analisa cartas de Chico Xavier

Pesquisa detecta marcas que diferenciam supostos autores de textos psicografados [14/05/2013]

Cíntia Alves da Silva, em entrevista no lançamento de seu livro 'As Cartas  de Chico Xavier: uma análise semiótica

Uma investigação da área de linguística analisou um grupo de cartas psicografadas pelo médium brasileiro Francisco de Paula Cândido Xavier, o Chico Xavier (1910-2002). O resultado do estudo mostrou que há marcas que diferenciam os supostos autores entre si e essas distinções mantêm coerência para um mesmo autor em cartas escritas em épocas diferentes. A pesquisa identifica ainda o tom doutrinário do espiritismo permeando o discurso desses escritos, além de mostrar peculiaridades do processo de edição desse tipo de material para transformá-lo em livro.
A autora é Cíntia Alves da Silva, que fez o projeto durante seu mestrado na Unesp em Araraquara, de 2010 a 2012. Ela teve orientação de Jean Cristtus Portela, professor da Unesp em Bauru. Sua dissertação foi uma das obras selecionadas para se transformar em livro eletrônico na edição 2013 da Coleção Propg Digital, sob o selo Cultura Acadêmica da Editora Unesp. A obra, intitulada As cartas de Chico Xavier -- uma análise semiótica, pode ser baixada gratuitamente em http://migre.me/ekc6p .
Cíntia, que segue no doutorado na mesma unidade, comemora a receptividade que seu trabalho teve no meio acadêmico. 'Temia sofrer preconceito por lidar com um tema ligado à religião, embora meu recorte fosse marcadamente linguístico', explica a pesquisadora, cujo estudo foi o primeiro trabalho científico conhecido sobre cartas psicografadas.
Para realizar a análise, Cíntia teve que criar um acervo de cartas psicografadas porque muitos desses textos foram publicados apenas uma vez e com baixa tiragem. Após juntar o material - mais de 500 textos - a pesquisadora se limitou às 'cartas de conforto' aos parentes do suposto autor falecido. Em seguida, restringiu seu universo aos 20 autores mais recorrentes, e, dentre esses, os 6 que tinham histórias de vida parecidas. 'Queríamos autores que tivessem muita semelhança exatamente para sofisticar essa busca por marcas de autoria', afirma.
Dentro desse grupo, a linguista se ateve a três autores: Augusto César Netto, Jair Presente e Laurinho Basile. Os três viveram a mesma geração, em meados dos anos 1970. Todos morreram jovens, os dois primeiros por afogamento, e Basile de acidente de carro. Eles vinham de famílias estabilizadas, de classe média. Cíntia escolheu três cartas de cada autor, escritas em períodos que variam de 8 meses a 4 anos.
Noção de autoria
A metodologia empregada foi a semiótica, que é a ciência que estuda os fenômenos culturais como sistemas de significação. Mais precisamente, Cíntia utiliza a Escola Francesa, também chamada de Greimasiana por ter no linguista lituano Algirdas Julien Greimas seu principal propulsor. Esse olhar da semiótica permitiu à pesquisadora analisar os procedimentos de organização do texto e não apenas frases isoladas.
'Foi possível identificar claramente as marcas de cada autor e suas distintas personalidades', afirma a pesquisadora, que explica que o conceito da linguística chamado de 'noção de autoria' se dá pela repetição de marcas textuais, desde as mais profundas (visão de mundo, objetos de desejo e o que buscavam na vida) até as mais superficiais (como gírias e outros registros de oralidade).
'O Laurinho, por exemplo, era mais dependente da mãe, e se mostrava muito delicado nas cartas, ainda muito abalado por essa separação. Já o Jair, que em vida era mais independente, tinha uma carreira estabelecida como professor, se mostra mais despojado, mais bem resolvido com sua morte', descreve. A pesquisadora não se dedicou a entender como o médium conseguiu levar essas marcas de personalidades para o texto de cada carta, nem como ele conseguiu manter esses 'estilo' nas cartas seguintes dos mesmos supostos autores.
Essas produções foram feitas numa época em que as peregrinações à Uberaba se tornavam cada vez mais populares no Brasil - vinham pessoas de todos os estados em busca principalmente de conforto diante da morte inesperada de um familiar. A pesquisadora ressalta o fato de o Brasil, um país majoritariamente católico, ter um número relativamente pequeno de espíritas, mas, ao mesmo tempo, quase 20% de simpatizantes do espiritismo. 'A maior parte das famílias que iam buscar essas cartas era católica.'
Nos três casos, a pesquisadora afirma ter identificado a retórica religiosa, ou seja, a necessidade de propagar os conceitos espíritas. Ela exemplifica o que chama de 'tom doutrinário' das cartas por sentenças como 'é preciso evoluir', 'é preciso superar', devemos alcançar planos espirituais superiores?. Na doutrina espírita, essa marca, que denuncia a 'voz' do médium permeando o discurso, é considerada natural, conforme verificou a pesquisadora durante seu levantamento.
Cíntia escolheu ainda uma décima carta em que se dedica apenas a verificar o processo de criação do livro. 'Os relatos que temos indicam que esses manuscritos eram precisos quanto a detalhes familiares e intimidades dos autores. Então, a pessoa que recebia a carta sabia quem era o 'tio Nicolau', sabia detalhes de um determinado episódio', explica. Ao levar as cartas aos livros, o editor precisava fazer notas de rodapé para passar esse repertório ao leitor - explicar quem são as pessoas mencionadas nas cartas, por exemplo. Isso obrigou os editores a checar as informações das cartas junto aos familiares.
Um outro Chico Xavier
As cartas psicografadas marcam uma mudança drásticas no estilo das publicações do médium Chico Xavier. Antes delas, ele se dedicava a textos filosófico, que versavam sobre temas científicos, como Evolução em dois mundos, de 1958. A obra psicografada por ele em parceria com o médium Waldo Vieira, e cuja autoria é atribuída ao espírito André Luiz, trata da evolução das espécies. 'Esses livros tinham um nível de erudição temática que os distanciavam do público. Até o vocabulário era mais rebuscado', afirma Cíntia.
Após a participação do médium no programa Pinga-Fogo, da TV Tupi, a peregrinação por cartas psicografadas aumenta sensivelmente. A partir das primeiras publicações desse material, a literatura espírita passa a ter uma linguagem mais simples e experimenta um crescimento notável 'A identificação dos leitores é outro fator fundamental para explicar a ascensão desse mercado editorial', analisa a linguista. 'A perda de um ente querido é um tema de difícil superação para todos, por isso as cartas foram determinantes para que Chico Xavier caíssem no 'gosto popular'.'
Agora no doutorado, a pesquisadora analisa a psicografia como forma de escrita, o que, segundo Cíntia, representa um desafio em diferentes campos, como os da propriedade intelectual e do jurídico, por exemplo. 'Há casos de cartas psicografadas que foram usadas no Brasil e no exterior como provas em julgamentos, por exemplo, assim como já houve disputas judiciais por obras psicografadas atribuídas a escritores falecidos', destaca. 'É um assunto ainda pouco estudado e que provoca muita curiosidade e polêmica.'

Cínthia Leone
http://www.unesp.br/portal#!/noticia/10772/estudo-analisa-cartas-de-chico-xavier-/

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sexta-feira, 31 de maio de 2013

A fraca e estéril Fé da educação e a forte e fértil Fé da instrução


Instrução e educação são duas palavras dadas como sinônimas pelos dicionários, mas não é bem assim. Toda educação é instrução, mas nem toda instrução é educação.
Instrução é dar conhecimento de matemática, de português, química, religião etc. A educação está mais ligada à moral, ao bom comportamento, a atitudes de respeito, ao bom senso e também à própria religião etc. Para Huberto Rohden, o Ministério da Educação chama-se Ministério da Instrução.
A fé da educação é aquela de berço, que pode ser ensinada também pelos professores, principalmente pelos exemplos. Se a escola for católica, os alunos são geralmente católicos. Se for espírita, eles são geralmente espíritas, o que vale também para as outras religiões.
Mas a religião oriunda da educação nem sempre será igual àquela oriunda da instrução buscada e estudada pelo indivíduo.
Essa religião que ele descobre, pelo seu estudo e pesquisas, torna-se a sua religião preferida e estável, pois é baseada no seu estudo, na lógica e no bom senso, deixando para trás a sua religião de berço adquirida pela educação e não pelo seu próprio estudo. Uma parte dessas pessoas costuma tornar-se sem religião, mantendo apenas algumas tradições daquela de berço.
É o que, acontece muito no mundo de pós-modernidade, com os católicos, principalmente, com os intelectuais, pois eles têm dificuldades em aceitar alguns dogmas. O problema da Igreja é, pois, de fé.
Pela Bíblia, “a fé é a certeza das coisas que são esperadas, a convicção de fatos que se não veem.” (Hebreus 11: 1). Fé, pois, no futuro, ou seja, na vida do espírito imortal que não morre quando o corpo morre, mas apenas deixa o corpo. Não é, portanto a fé em qualquer doutrina “bolada” pelos teólogos e que são a causa do declínio, confusão e divisão do cristianismo.
O apóstolo Paulo ensina que convém reduzir a cativeiro todo o entendimento, para que obedeça a Cristo, mostrando que a fé é um ato da inteligência, do entendimento, e não da vontade. (2 Coríntios 10: 5). Mas Jesus diz que o ato de fé tem mérito, pois quem crê será salvo. (Marcos 16: 16). Para Jesus, pois, a fé é um
ato livre da vontade. Ficamos com Jesus. E como o sentido de “crer”, de acordo com a sua etimologia greco-latina equivale a “ter fé” e “ter fidelidade” (“pistis” do grego e fides do latim), a tradução mais racional deveria ser: “Quem tem fidelidade a Jesus, será salvo”, pois acreditar em Jesus, até os maus demônios acreditam, só não Lhe sendo fiéis.
Como ficou esclarecido, a fé da instrução, do estudo ou raciocinada, que é a fé espírita, sobrepuja a fé da educação, de berço, que, às vezes, é cega e inútil, pois não torna melhor o indivíduo. Parte dos adeptos do cristianismo está tendo uma fé cega e estéril, ou seja, a da educação e não a fé raciocinada da instrução, fértil e útil, pois nos leva a sermos melhores, mais realmente cristãos!

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Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) –  www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Novas atitudes


Observemos atentamente. A maioria dos desequilíbrios emocionais, psicológicos e mesmo morais são oriundos de desrespeitos que a pessoa recebeu de alguma forma. Violentada em sua liberdade, em sua dignidade, e não exclusivamente do ponto de vista físico, mas especialmente moral, é comum que a criatura humana não consiga vencer os efeitos danosos do desrespeito recebido.
Quando se cita desrespeito é importante que o conceito seja ampliado além da mera ofensa verbal ou agressão física de qualquer espécie. Amplie-se para a indiferença, a exclusão, a calúnia, o desprezo, a ironia em público, a desmoralização, enfim, tudo que desvalorize o esforço de alguém, que o menospreze...
Por essa ampliação de visão, já notamos a extensão do assunto.
Por isso, é preferível que optemos sempre pelo afeto, pelo respeito, pela valorização de qualquer pessoa de quem nos aproximemos. Há se visto no planeta, inúmeros casos de pessoas aprisionadas moralmente, “massacradas” psicologicamente, condicionadas à vontade de alguém, desprezadas, humilhadas em público, com consequências danosas de grande peso no equilíbrio e estabilidade emocional, muitas vezes pela vida toda. Isso pode se dar no matrimônio, na vida familiar, no relacionamento profissional, em qualquer ambiente, mesmo naqueles destinados à educação e, por incrível que possa parecer, inclusive nos ambientes religiosos.
É que o perfil humano existente, de dominação, de pressão psicológica, de imposição de idéias, de prepotência, vaidade, egoísmo e outros tantos característicos próprios de nossa condição humana, insiste em prevalecer.
Pessimismo? Não, absolutamente. Apenas a condição humana. Agressores fixados na perseguição, atormentados pelo remorso e sem conseguir libertar-se; agredidos paralisados, cegos de ódio...
Felizmente é condição temporária, pois somos seres humanos com grande potencial de felicidade, a desenvolver-se pelo conhecimento de si mesmo.
E a maioria de nós opta pelo aprendizado através da dor de rudes experiências.
É esta sensibilização para novas atitudes é que está faltando nos relacionamentos humanos. Sensibilizar para o afeto, para a valorização uns dos outros, do respeito às diferenças. Esta sensibilização aproximará os seres humanos e caracteriza o perfil do Homem de Bem, denominação para o conjunto de virtudes que dignificam a condição humana. É que o que mais estamos precisando, no trato uns com os outros, é de nos respeitarmos mutuamente. As tentativas de mudar pessoas, impor idéias, agredir, perseguir, viver intrigas de bastidores, manipular, etc, são atitudes de grande prejuízo nos relacionamentos, no presente, e com consequências no futuro, a depender da maturidade dos envolvidos.
Causar sofrimentos a quem quer que seja será sempre bagagem a recuperar no futuro. Adotemos, pois, atitudes de compreensão, pois que delas igualmente precisamos. É preciso amar. Aprendamos como...
E, por mais paradoxal que possa parecer, aprenderemos sensibilizando nosso próximo com atitudes renovadas. Nossa mudança de atitude sensibilizará o coração alheio, que, por sua vez, igualmente se sentirá tocado pela necessidade de mudança, face ao novo comportamento que ora lhe oferecemos.
Aí será uma troca. E todos saem ganhando, pois que se estabelece o equilíbrio.
Talvez seja nossa maior necessidade no estágio evolutivo que nos encontramos. Se pensarmos em profundidade, as atitudes de amor (que compreendem compreensão, tolerância, perdão, amor, benevolência, compaixão) são capazes de modificar o sofrido panorama do planeta.
Sensibilizar, eis a palavra. Primeiramente a nós mesmos, para que também as tenhamos. Os demais, por sua vez, serão sensibilizados pelas novas atitudes que adotamos. Eis o segredo, a chave. É o esforço pelo aprimoramento moral que buscamos...

Orson Peter Carrara
orsonpeter92@gmail.com

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domingo, 12 de maio de 2013

O mundo precisa de Mães!


Vou começar a minha reflexão do dia das mães, sobre maternidade e maternagem, relembrando a minha própria mãe. Quando ela se foi, eu tinha 34 anos. Ela era uma grande parceira intelectual, uma mãe presentíssima. Compartilhávamos conversas, idéias, ideais, livros lidos, projetos a realizar. Apesar dessa ligação muito “cabeça” que tínhamos, quero lembrar de um fato aqui que me introduz no tema de hoje. Até um mês antes de ir para o hospital, onde faleceu dois meses depois, com câncer de pâncreas, ela diariamente arrumava minha cama. Não que fosse uma mãe essencialmente doméstica: fazíamos os serviços de casa em parceria, tínhamos uma pessoa que nos ajudava, a Maria, que depois veio a se tornar para mim uma segunda mãe. Minha mãe estudava, trabalhava, mas sabia que eu detestava arrumar a cama (coisa de que até hoje não gosto) e ela nunca falhava em me oferecer esse gesto de carinho diário.
Hoje tenho ouvido relatos de educadores e diretores, de escolas públicas e particulares, de crianças pequenas que chegam pela manhã na creche ou jardim da infância de período integral, com a mesma fralda com que foram para casa, no dia anterior.
Um documentário, como Muito além do peso (http://www.youtube.com/watch?v=TsQDBSfgE6k) mostra mães (e pais) totalmente impotentes e perplexos diante de filhos pequenos com hipertensão, diabetes, triglicérides e colesterol alto, por uma alimentação de nuggets, salgadinhos, batatas fritas e toneladas de açúcar… Crianças que não sabem o nome de nenhum legume e nenhuma fruta, que são viciadas em coca-cola e bolachas recheadas.
Esses são apenas algumas citações (cada uma das quais mereceria um artigo específico) para demonstrar como a nossa sociedade está negligente, incompetente e omissa em relação às crianças. E depois querem puni-las por desrespeito, querem reduzir a maioridade penal, querem impor limites e castigos…
O que está faltando hoje em muitos lares (de todas as classes sociais) é o que Winnicott chamou de “maternagem”, aqueles cuidados básicos, essenciais, necessários, que toda criança tem que receber. A criança, principalmente nos seus primeiros anos de vida, tem necessidade de total devotamento, cuidados plenos, amor incondicional. Depois desse primeiro período, que vai até pelo menos 2 anos, ela ainda precisa continuar a receber cuidados, ternura, presença atenta, embora já inicie seu processo de separação da mãe, de autonomia e de construção de sua identidade.
Embora a Psicologia nos ensine que se a maternagem não ceder à independência da criança no momento certo, o amor materno pode se tornar opressivo e prejudicial ao desenvolvimento do ser humano, ela também nos mostra que a negligência, o abandono e o não-preenchimento desses cuidados básicos, que incluem afetividade e acolhimento, colo e carinho, podem gerar lacunas psíquicas, que mais tarde poderão gerar graves distúrbios mentais.
O termo maternagem – que são esses cuidados maternos que toda mãe deveria dar, mas nem sempre dá, e que outra pessoa, que não seja a mãe, também pode oferecer – na Psicanálise, refere-se também aos cuidados que o terapeuta pode prestar ao seu paciente, de certa forma resgatando a maternagem que o indivíduo deveria ter recebido na infância.
Podemos ampliar ainda mais essa palavra e afirmar que todos nós em alguns momentos na vida, precisaremos de maternagem, mesmo quando já nos sentimos adultos e maduros. A nossa criança interna, carente e frágil, pode vir à tona e precisar de um colo materno e fraterno, para nos acalentar. Por outro lado, todos podemos também oferecer maternagem aos que estão à nossa volta, preocupando-nos com o bem-estar físico, psíquico e emocional do outro.
Quando a sociedade desnatura a mãe A maternidade é um dado biológico, uma vinculação dada pela gestação, que pode continuar a se manifestar ou não em forma de maternagem. Uma mãe que abandona o filho não pratica a maternagem. Ela pode transferi-la para outra pessoa, no caso de uma adoção, ou emprestá-la ou ainda partilhá-la, no caso de entregar o filho a uma babá ou a uma creche (onde atualmente quase que se proíbe a maternagem, como se professoras de crianças pequenas tivessem de ser apenas “professoras”, quando toda criança pequena precisa o tempo todo de cuidados maternos). O pai também pode e até deve exercer a maternagem.
O que se dá é que em nossa sociedade, esfriada, individualista, competitiva, desumanizada, as pessoas estão desaprendendo a serem maternas. Porque todos devem ser “produtivos” no sentido econômico do termo. Não podemos nos dar ao luxo de cuidar de alguém, seja uma criança, seja um doente, seja um idoso. Temos todos, homens e mulheres, de trabalhar o tempo inteiro para “ganharmos a vida” e assim vamos perdendo a vida, esvaziando-a de carinho, de afeto e de cuidados mútuos.
Está certo que a Psicanálise desencantou as mães, mostrando-as como possíveis responsáveis por neuroses e psicoses, devido ao apego excessivo, ao devotamento doentio; é certo que a mulher saiu para o mercado de trabalho e não pode recuar da vida no mundo, dando sua contribuição para a sociedade; é certo que não podemos mais idealizar a mãe como sendo sempre um modelo de renúncia e abnegação – mas precisamos sim de sentimentos maternos para vivermos em sociedade de forma saudável, amorosa e plena.
Lembro aqui do amorosíssimo Francisco de Assis, que dizia aos seus companheiros, que eles se cuidassem mutuamente como mães… Lembro de Pestalozzi, o grande educador que tratou pela primeira vez da necessidade do afeto na educação e seus biógrafos reconheceram nele “um grande coração maternal”. Lembro de todas as mães, do decorrer dos milênios e ainda hoje, perdidas na multidão, que não saem nas matérias da Revista Veja, sobre executivas bem-sucedidas, que parecem mulheres despersonalizadas de seu estatuto feminino – lembro de todas as mulheres – dizia – que abriram caminhos para que seus filhos crescessem fortes, saudáveis e pessoas de bem, pelo amor com que se dedicaram a eles, pelo devotamento de sua presença… e lembro de minha mãe, que intelectualizada, parceira de livros e idéias, e que não suportava a idealização de uma “santa mãezinha”, não deixava de arrumar minha cama e de cuidar de nosso bem-estar psíquico e físico, de que, sabemos, as verdadeiras mães continuam a cuidar, mesmo do outro lado da vida…
O toque materno, a ternura, a preocupação com o outro é que arranca a vida da aridez e do vazio. Quem teve o privilégio de receber esses cuidados de sua mãe biológica, tanto melhor. Quem teve a sorte de ser “maternado” por outras pessoas, em sua infância, adolescência ou encontrar compensações maternas em suas relações atuais, ótimo. O que não podemos é passarmos a vida sem nenhum tipo de doçura materna, sem nenhum colo que nos aconchegue a alma.
Não é à toa que Maria, mãe de Jesus, é venerada em todos os cantos do planeta. Ela representa espiritualmente esse colo sagrado, acolhedor e pleno, no qual nos sentimos crianças de novo e seguros de uma proteção confortadora.
Mas também devemos ter consciência de que amadurecer, crescer, emancipar-se psiquicamente e espiritualmente, é sermos capazes por nossa vez de oferecer colos, de ofertar cuidados maternos e de sermos ternura no caminho de alguém.

Dora Incontri
http://doraincontri.com/

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