Realizava palestra em determinada cidade do interior de um estado brasileiro
qualquer, quando, após a apresentação, um senhor me procura e narra sua
experiência:
“Moço, corria o ano de 1977 e eu labutava num centro
espírita aqui da cidade. Nesta casa tínhamos um companheiro complicado, sujeito
do vinagre, azedo, sua boca era um veneno só. Falava mal de todos, disseminava
a fofoca, enfim, homem terrível de conviver. Mas eis que a vida não manda
avisar quando a senhora da foice virá buscar e, num certo dia, recebemos a
notícia do desencarne daquele indivíduo. Ataque cardíaco, fulminante! Enfim,
estávamos livres dele!
Bom... O tempo passou e eu me esqueci completamente daquela
pessoa desagradável, até que, no ano de 1997, numa reunião mediúnica, eu, que
tenho vidência, vi um homem sorridente vindo em minha direção. Ele, oh! estava
bem, como se fosse uma entidade bem resolvida com seus traumas. Por Deus!
Identifiquei a presença daquele fofoqueiro. Era ele. Mas como? Como alguém tão
malvado poderia apresentar-se bem no mundo dos Espíritos? Até que o mentor da
reunião disse-me: Amigo, admira-se de nosso irmão? Pois bem, e eu me admiro de
você... Não percebeu que já se passaram 20 anos? Pelo visto, ele caminhou e
você ficou estagnado, a julgar os outros, esquecendo-se de que, com o tempo,
seja aqui ou no além, todos crescemos!”
Jesus! Como ficamos presos ao que passou. Não sem motivo,
Deus estabeleceu como condição reencarnatória o esquecimento temporário. Claro.
É preciso desvencilhar-se do passado e de todos os passados, tanto o nosso
quanto o dos outros.
Passado, apenas para agregar experiência, jamais para servir
como elemento de condenação. Cada um de nós arca com as consequências de seus
atos passados, que repercutem, não raro, de forma dolorosa no presente.
Portanto, o que não precisamos é de julgamentos, sentenças, vibrações
contrárias, haja vista que responderemos pelos nossos atos.
Todavia, o mais interessante é nossa visão limitada, de
rótulos, que estigmatiza este ou aquele pelos seus equívocos do passado.
Sem perceber, sem refletir, condenamos o outro às trevas
quando fechamos o caminho para a luz.
Explico-me: O sujeito errou demais. Tenta recomeçar, vai à
igreja, ao centro, ou sei lá, e vamos nós: “Você viu o fulano? Fez um
monte de besteira na vida e hoje vai ao centro”. Isso é cruel de nossa parte.
As pessoas têm o direito de recomeçar suas vidas, de levantar a poeira e dar a
volta por cima.
O que devemos fazer? Simples: orar por elas, orar para que
prossigam firmes em seus propósitos. Não podemos ser os fiscais da vida alheia,
aqueles que tentam impedir o outro de recomeçar. Que bom! Que bom poder
reconhecer os erros e procurar uma religião, enfim, mudar de vida.
Deus possibilita-nos todas as chances do mundo. Ninguém está
deserdado ao erro, ao equívoco, ao vício.
Irmã Rosália, em O Evangelho segundo o Espiritismo,
deixa a mensagem de que, não incomodar com as faltas alheias, é caridade moral.
É bem por aí. Caridade moral. Com a mesma ênfase que
atendemos o pobre, o necessitado do pão material, precisamos atender aquele que
necessita do pão do espírito, ou seja, da compreensão, do carinho, da porta
aberta para recolocar as coisas no lugar e seguir adiante. Nada de colocar o
outro num balaio, estigmatizar. Quem nesta vida não erra?
Se ainda não conseguimos esquecer nossos erros desta
existência, que ao menos não lembremos os dos outros para que eles possam
recomeçar. Recomeçar a busca pela felicidade... Afinal, todos temos o direito
de prosseguir, e, se não queremos prosseguir, que ao menos não impeçamos os
outros de “ajeitar” novos caminhos rumo ao progresso.
Pensemos nisto!
Imagem ilustrativa
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