Nicolas Cage é o ator principal do filme Um pai de família,
lançado em dezembro de 2000 nos principais cinemas do país. O filme mostra a
experiência de um bem sucedido executivo de grande banco americano. Com todo o
poder nas mãos, podendo adquirir tudo que desejasse e ao mesmo tempo contando
com bom número de servidores e subordinados, controlava o grande Banco com mãos
de ferro. Conhecido pela grande inteligência e muita habilidade nas questões
econômicas, dedicava sua vida em proporcionar lucros crescentes à empresa, que
o valorizava com altos salários e invejadas mordomias. Na Noite de Natal,
viu-se, entretanto, sozinho e talvez um tanto melancólico recordava-se da
antiga namorada deixada há 13 anos, quando resolveu seguir a bem sucedida
carreira executiva.
A sequência do filme deixa entender que o telefonema da
ex-namorada, durante o dia no escritório, fê-lo buscar recordações, embora
tenha recusado atender o telefone. E nesse estado de espírito, dormiu. Dormiu e
sonhou que acordava em outra vida, agora casado com aquela que fora sua
namorada e pai de dois filhos. Assustado com a rotina de uma vida familiar,
tentou voltar ao Banco onde não foi reconhecido. Desesperado, teve que se
contentar com as dificuldades da vida conjugal, de pai de família... Embora
mantendo a memória de ser o famoso executivo, não conseguia retomar a própria
realidade.
O filme desenrola-se quase por inteiro no cotidiano de uma
família de classe média, culminando com o despertar de nosso personagem em sua
vida real de destacado diretor do famoso Banco. O despertar, entretanto,
provocou o cancelamento de inadiável reunião marcada para aquela manhã e a
busca da antiga namorada, a quem relatou todo o sonho - inclusive citando nome
e idade dos filhos, seus sonhos e detalhes da vida em comum. OThe end deixa que
o público tire suas próprias conclusões, sugerindo um reatar de namoro para
transformar em realidade o sonho vivido com tanta intensidade. E há uma frase
no filme que é a marca da fita cinematográfica ora comentada: Não importa nosso
endereço, o importante é que estejamos juntos. A frase, muito além do aspecto
romântico entre casais, indica a importância da família e da convivência entre
seres afins, normalmente reunidos no contexto familiar visando o progresso,
como bem definem as Leis Divinas. Fica a sugestão ao leitor para apreciação do
bem elaborado trabalho.
Podemos fazer um estudo dos tres parágrafos acima à luz da
Doutrina Espírita. Podemos assistir o filme e enxergá-lo sob a ótica espírita.
Vários itens podem ser enquadrados. Para efeito didático do artigo, podemos
analisar a questão dos laços de família e da missão da paternidade
(respectivamente questões 773 a 775 e 582 de O Livro dos Espíritos, que
sugerimos para consulta do leitor). Sugerimos porque desejamos analisar o tema
com mais abrangência sob outro aspecto: a dos sonhos. Embora se trate de um
filme, com suas fantasias, podemos classificar o sonho de que forma?
No mesmo O Livro dos Espíritos, as questões 400 a 421 tratam
do assunto, de onde trazemos as informações seguintes dadas pelos espíritos: O
Espírito jamais fica inativo durante o sono do corpo; podemos avaliar a
liberdade do espírito durante o sono pelos sonhos; dispondo de mais faculdades
que no estado de vigília, durante o sono - enquanto o corpo repousa - o
espírito tem a lembrança do passado e às vezes a previsão do futuro; o espírito
vê em sonho aquilo que deseja, porque vai procurá-lo; pessoas que se conhecem
ou não podem visitar-se durante o sono do corpo, se visitarem e conversarem.
Já na Revista Espírita (julho de 1865 - vol. 7 - edição
Edicel), com o título Teoria dos Sonhos, Allan Kardec desenvolve considerações
importantes sobre a questão. Destaca uma classificação sobre os sonhos e
apresenta o princípio básico dos sonhos. Usando palavras do próprio
Codificador, referindo-se ao Espiritismo: Demonstra que o sonho, o
sonambulismo, o êxtase, a dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro,
a penetração do pensamento não passam de variantes e graus de um mesmo
princípio: a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria.
Esta incessante atividade do Espírito durante o sono do
corpo indica que muitas providências, decisões de interesse da alma são tomadas
durante o desprendimento pelo sono. Apenas o corpo dorme, pois na vigília ou
durante o sono o comandante do corpo é o espírito, senhor absoluto de decisões
que o livre arbítrio lhe confere. Decisões que vão interferir na felicidade ou
infelicidade, saúde ou enfermidade que o corpo vai experimentar, por
constituir-se ele em instrumento dirigido pelo Espírito nele encarnado, como
ensina a notável Doutrina Espírita. Na verdade, vivemos uma única realidade e
quando na vigília estamos parcialmente bloqueados pelo corpo físico. Quando
desprendidos pelo sono, desfrutamos da liberdade plena, cujas imagens e
experiências o sonho registra, muitas vezes é claro de forma confusa pois o
corpo não participou e o registro pelo cérebro carnal fica confuso. Entre os
sonhos, e aqui usando palavras do Codificador ainda na Revista Espírita acima
citada, uns há que que tem um caráter de tal modo positivo que, racionalmente,
não poderiam ser atribuídos a simples jogo de imaginação; tais são aqueles nos
quais, ao despertar, adquire-se a prova da realidade do que se viu, e em que
absolutamente não se pensava.
Não se confunda aqui os sonhos provenientes de pesadelos por
alimentação inadequada ou provocados por imaginação excitada e até aqueles
oriundos de exageradas preocupações materiais. Vamos enquadrar os casos de
origem espiritual, de ativa participação do espírito.
No caso do filme citado, excluindo-se os exageros da
imaginação e da fantasia, poderá notar o leitor que tiver oportunidade de
assistir, que tudo foi um sonho, mas a decisão final coube ao personagem da
trama vivida, para mudar ou transformar em realidade aquilo que verdadeiramente
buscava. E abrimos horizontes para outra questão básica: o livre-arbítrio, que
para não alongar o artigo deixo ao leitor pesquisar nas questões 843 a 850 de O
Livro dos Espíritos. Porém, a mensagem do filme fica: não importa o endereço,
importante é que estejamos sempre juntos.
Orson Peter Carrara
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