Note o leitor como o texto abaixo é atualíssimo para a
realidade do país e que especialmente pode ser aplicado à nossa realidade
individual interior. Ele foi escrito em 1863 e retrata bem o descuido que
vivemos com os autênticos valores que deveríamos preservar. A situação política
do país é um reflexo direto desse descuido. Peço ao leitor ler atentamente com
os olhos da pesquisa imparcial. O texto é todo construído com imagens
simbólicas, de alto alcance filosófico e deve ser lido além das formas, além da
moldura das palavras.
“(...) Os frutos da árvore da vida são os frutos de vida, de
esperança e de fé. (...) A árvore é sempre boa, mas os jardineiros são maus.
Eles quiseram conformá-la à sua ideia, quiseram modelá-la segundo as suas
necessidades; eles a cortaram, diminuíram-na, mutilaram-na; seus ramos estéreis
não produzem maus frutos, pois nada produzem. O viajor sedento que se detém sob
sua sombra para procurar o fruto da esperança que lhe deve restituir a força e
a coragem, não distingue senão ramos infecundos fazendo pressentir a
tempestade. Em vão, ele procura o fruto da árvore de vida; as folhas caem
secas; a mão do homem de tanto manejá-las, queimou-as. (...)”.
E prossegue com propriedade:
“(...) Aquele que a plantou vos convida a cuidá-la com amor,
e a vereis produzir ainda, com abundância, seus frutos divinos. (...) não a
mutileis; sua sombra intensa quer se estender sobre o Universo; não encurteis
seus ramos. Seus frutos benfazejos caem em abundância para sustentar o viajor
sedento que quer atingir o objetivo; não os colheis, esses frutos, para os
guardar e os deixar apodrecer, a fim de que não sirvam a ninguém (...); a
árvore que produz bons frutos deve distribuí-los para todos. Ide, pois,
procurar aqueles que estão sedentos; conduzi-os sob os ramos da árvore e dividi
com eles o abrigo que ela vos oferece. (...)”.
A linguagem simbólica indica claramente o egoísmo que ainda
nos caracteriza a condição humana, preocupados que ainda estamos em acumular,
esquecidos ou negligentes dos cuidados com os valores reais da vida e seus
frutos, manipulando, moldando aos nossos interesses e adaptando-os às nossas
ideias, nem sempre saudáveis, mutilando-os em seus reais objetivos. E tudo isso
com prejuízos enormes à coletividade que busca, sedenta, seus frutos de vida,
de esperança e fé. Seria o caso de pensarmos no alcance da expressão: frutos de
vida, esperança e fé, além das palavras e em toda sua abrangência.
O egoísmo é o grande responsável por esse quadro de
interesses, dos quais estamos assumindo enorme responsabilidade perante a vida
e seus nobres objetivos.
A transcrição parcial, porém, não é desanimadora. É antes,
construtiva, convidando à fraternidade: “(...) segui aqueles que vos conduzem à
sombra da árvore da vida (...)”.
Afinal, reconhece-se o cristão pelas suas obras, como indica
o título do texto. E essas obras produzem a pura brisa da harmonia individual e
social, pois que “A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres
e aniquila as misérias sociais”.
A crise moral que se abate sobre o país é resultante do
esquecimento de princípios básicos de amor e conduta reta e poderemos alterar
tudo isso a qualquer tempo, fazendo as mudanças dentro de nós, que se
refletirão inevitavelmente na vida social.
Extraídos de O
Evangelho Segundo o Espiritismo, em transcrição parcial dos capítulos XI e
XVIII, os textos oferecem reta orientação aos desafios da atualidade.
Orson Peter Carrara
Imagem ilustrativa
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