O que se vai ler abaixo é trecho de um pronunciamento de
Allan Kardec, em 6 de outubro de 1865, na reabertura das sessões da Sociedade
Parisiense de Estudos Espiritas, e que contém atualíssima e feliz ponderação do
Codificador – dirigida aos espíritas de sua época e perfeitamente cabível nos
dias atuais do movimento espírita e mesmo para nossa condição de cidadão –,
publicada na íntegra na edição de novembro de sua Revista Espírita, do mesmo
ano, que recomendamos aos leitores. Aqui destacamos um único parágrafo, valioso
por si mesmo.
Vejam:
R. E. novembro de 1865: «Deus me guarde de ter a presunção
de me crer o único capaz, ou mais capaz do que um outro, ou o único encarregado
de cumprir os desígnios da Providência; não, este pensamento está longe de mim.
Neste grande movimento renovador tenho a minha parte de atuação; não falo senão
daquilo que me concerne; mas o que posso afirmar sem vã fanfarrice, é que, no
que me incumbe, nem a coragem, nem a perseverança, me faltarão. Nisso jamais
falhei, mas hoje que vejo o caminho se aclarar de uma maravilhosa claridade,
sinto minhas forças crescerem, não tenho mais dúvida e graças às novas luzes
que praza a Deus me dar, estou certo, e digo a todos os meus irmãos, com toda a
certeza que jamais tive: coragem e perseverança, porque um esplendoroso sucesso
coroará vossos esforços.”.
A seleção parcial está dentro de um contexto geral, cuja
íntegra do texto trará ao leitor esclarecimentos valiosos de atuação espírita.
Destacamos, todavia, esse parágrafo específico pela evidência da humildade de
Kardec, ao lado de intensa força pessoal construída sobre virtudes que todos
podemos valorizar nesses tempos de imensa dificuldade social: coragem e
perseverança.
Embora seu extraordinário trabalho de organização do corpo
doutrinário do Espiritismo com as instruções colhidas dos espíritos, ele não se
coloca em posição superior a ninguém, reconhece que todos tem sua parte de ação
no programa geral de expansão do pensamento espírita.
Esse reconhecimento da parte de trabalho que cabe a cada um
de nós no concerto geral de evolução do planeta, onde se inclui naturalmente o
próprio esforço pessoal nesse objetivo, é o primeiro passo que vacina contra
vaidades ou pretensões desconectadas com nossa condição de filhos de Deus
destinados à felicidade.
Todos podemos oferecer nosso trabalho, nosso esforço. Se
soubermos agir com lucidez, se nos respeitarmos mutuamente, usando as
ferramentas da coragem e da perseverança – como destaca o Codificador – um
esplendoroso sucesso coroará vossos esforços, usando as palavras do próprio
Kardec em seu discurso.
E o que seria esse sucesso senão a vitória sobre nós mesmos,
no domínio das paixões e imperfeições que ainda trazemos, no cumprimento do
dever, do esforço pela conquista de virtudes, na luta pelo progresso. Exemplo
claro trazido pela conduta do codificador do Espiritismo, que não se deixa
vencer pela postura vaidosa ou orgulhosa, embora todo o trabalho que estava em
suas mãos.
A Revista Espírita é riquíssima fonte desses ensinamentos.
Recomendo-a com ênfase aos leitores.
Orson Peter Carrara
Imagem da revista
Revista Espírita - downlood: http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/index.html
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