segunda-feira, 14 de abril de 2014

O grande entrave da neutralidade


Entrevistei o amigo Alessandro Viana Vieira de Paula, Juiz de Direito na cidade de Itapetininga-SP, a propósito de vários temas ligados às dificuldades sociais da atualidade. Como se trata de entrevista bem extensa, selecionei duas das respostas para trazer à apreciação dos leitores, face à importância das considerações daquele amigo. São as questões 5 e 6, que transcrevo:

5 - De sua experiência profissional, como encarar o sistema prisional brasileiro e os ditames da Lei de Progresso no estágio atual do país?

O sistema prisional brasileiro ainda é precário, porque onde há superlotação, sedentarismo dos apenados, descaso com a saúde, atrasos na concessão dos direitos dos presos e, para agravar, a existência do crime organizado, de forma que raramente se consegue recuperar o preso. Quando o preso termina sua pena ou obtém a liberdade ele ainda sofre o preconceito social, porque é muito difícil alguém acreditar nele e lhe dar uma nova oportunidade. Mas a transição planetária está a todo vapor, portanto, numa sociedade mais cristã essas questões tendem a mudar. Cabe ao cristão acreditar na recuperação do indivíduo, fazendo a sua parte, por exemplo, visitas religiosas nas unidades prisionais, ofertar emprego aos egressos, ajudar suas famílias etc.

6 - Como venceremos, como nação, esses imensos desafios sociais da atualidade?

Esses desafios sociais atingem, na atualidade, o ápice porque estamos vivendo esse momento importante de transição planetária. Como sabemos, os que praticam o mal um dia despertarão para o bem, mas, o grande entrave para o progresso, se dá com os neutros. São aqueles que não fazem o bem e nem o mal, ficam acomodados. A dor e sofrimento atingem índices alarmantes para tocar esses neutros, a fim de que tomem uma decisão e possam optar pela ação efetiva no bem. Dessa forma, para vencer temos que assumir as nossas responsabilidades de cristãos, procurando ser útil para o próximo e para a sociedade, colaborando ativamente na construção da sociedade do porvir.

A motivação de trazer referidas respostas aos leitores veio sobre a abordagem que se refere aos neutros. Neutros são os omissos, os que ficam “em cima do muro”, muitas vezes apenas para criticar. Não movem braços, nem ações, e se deleitam na crítica a quem está trabalhando e se esforçando para algo colaborar nesse incêndio social que vivemos.
A neutralidade é cômoda, não exige nada. É realmente o grande entrave do progresso porque a posição é apenas de quem observa, acomodado, o incêndio e as tragédias que se repetem diariamente – fruto da miséria que gera a violência, que por sua vez traz a tensão permanente que envolve a vida humana –, deleitando-se na crítica ou, pior, na indiferença, na omissão. Sem buscar fazer o que lhe é possível, por mínimo que seja.
A outra expressão constante de uma das respostas é a que se refere às nossas responsabilidades cristãs. Nós, os cristãos, os adeptos do Evangelho – sem importar a denominação que utilizemos ou sigamos – estamos nos distraindo nessa imensa responsabilidade de apoiar o esforço do Cristo na regeneração do mundo. Ainda nos mantemos no egoísmo, na vaidade, na disputa, na arrogância.
Não temos outra alternativa para alcançar a felicidade e paz que se busca no mundo: ou melhoramos a nós mesmos ou melhoramos a nós mesmos.
A paz social que se busca está no mútuo estender das mãos, está na solidariedade e nos esforços individuais de melhora moral. Aprimorando-nos moralmente, influenciaremos nossos filhos que, por sua vez, se tornam cidadãos íntegros que mudam o panorama social.
É o caso de nos auto observarmos sobre a nossa neutralidade ou comprometimento com o bem geral que deve gerir nossas ações. Ou, em outras, palavras para nos questionarmos individualmente: como está o cumprimento de nosso dever?

Orson Peter Carrara

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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Um fofoqueiro no centro


Realizava palestra em determinada cidade do interior de um estado brasileiro qualquer, quando, após a apresentação, um senhor me procura e narra sua experiência:
“Moço, corria o ano de 1977 e eu labutava num centro espírita aqui da cidade. Nesta casa tínhamos um companheiro complicado, sujeito do vinagre, azedo, sua boca era um veneno só. Falava mal de todos, disseminava a fofoca, enfim, homem terrível de conviver. Mas eis que a vida não manda avisar quando a senhora da foice virá buscar e, num certo dia, recebemos a notícia do desencarne daquele indivíduo. Ataque cardíaco, fulminante! Enfim, estávamos livres dele!
Bom... O tempo passou e eu me esqueci completamente daquela pessoa desagradável, até que, no ano de 1997, numa reunião mediúnica, eu, que tenho vidência, vi um homem sorridente vindo em minha direção. Ele, oh! estava bem, como se fosse uma entidade bem resolvida com seus traumas. Por Deus! Identifiquei a presença daquele fofoqueiro. Era ele. Mas como? Como alguém tão malvado poderia apresentar-se bem no mundo dos Espíritos? Até que o mentor da reunião disse-me: Amigo, admira-se de nosso irmão? Pois bem, e eu me admiro de você... Não percebeu que já se passaram 20 anos? Pelo visto, ele caminhou e você ficou estagnado, a julgar os outros, esquecendo-se de que, com o tempo, seja aqui ou no além, todos crescemos!”
Jesus! Como ficamos presos ao que passou. Não sem motivo, Deus estabeleceu como condição reencarnatória o esquecimento temporário. Claro. É preciso desvencilhar-se do passado e de todos os passados, tanto o nosso quanto o dos outros.
Passado, apenas para agregar experiência, jamais para servir como elemento de condenação. Cada um de nós arca com as consequências de seus atos passados, que repercutem, não raro, de forma dolorosa no presente. Portanto, o que não precisamos é de julgamentos, sentenças, vibrações contrárias, haja vista que responderemos pelos nossos atos.
Todavia, o mais interessante é nossa visão limitada, de rótulos, que estigmatiza este ou aquele pelos seus equívocos do passado.
Sem perceber, sem refletir, condenamos o outro às trevas quando fechamos o caminho para a luz.
Explico-me: O sujeito errou demais. Tenta recomeçar, vai à igreja, ao centro, ou sei lá, e vamos nós: “Você viu o fulano? Fez um monte de besteira na vida e hoje vai ao centro”. Isso é cruel de nossa parte. As pessoas têm o direito de recomeçar suas vidas, de levantar a poeira e dar a volta por cima.
O que devemos fazer? Simples: orar por elas, orar para que prossigam firmes em seus propósitos. Não podemos ser os fiscais da vida alheia, aqueles que tentam impedir o outro de recomeçar. Que bom! Que bom poder reconhecer os erros e procurar uma religião, enfim, mudar de vida.
Deus possibilita-nos todas as chances do mundo. Ninguém está deserdado ao erro, ao equívoco, ao vício.
Irmã Rosália, em O Evangelho segundo o Espiritismo, deixa a mensagem de que, não incomodar com as faltas alheias, é caridade moral.
É bem por aí. Caridade moral. Com a mesma ênfase que atendemos o pobre, o necessitado do pão material, precisamos atender aquele que necessita do pão do espírito, ou seja, da compreensão, do carinho, da porta aberta para recolocar as coisas no lugar e seguir adiante. Nada de colocar o outro num balaio, estigmatizar. Quem nesta vida não erra?
Se ainda não conseguimos esquecer nossos erros desta existência, que ao menos não lembremos os dos outros para que eles possam recomeçar. Recomeçar a busca pela felicidade... Afinal, todos temos o direito de prosseguir, e, se não queremos prosseguir, que ao menos não impeçamos os outros de “ajeitar” novos caminhos rumo ao progresso.
Pensemos nisto!


Wellington Balbo
wellington_balbo@hotmail.com
Bauru, SP (Brasil) 

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domingo, 6 de abril de 2014

Temas da Vida e da Morte


Manoel Philomeno de Miranda 
(Parte 6) 

Continuamos a apresentar o estudo metódico e sequencial do livro: Temas da Vida e da Morte, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo P. Franco.

Questões preliminares

A. Existe a hereditariedade psicológica?

Não. Embora seja inegável que os caracteres são transmissíveis e que os filhos e os descendentes em geral herdam de pais e ancestrais as parecenças físicas, a morfologia, as posturas e outros sinais de identificação, não se dá o mesmo nas áreas psíquica, psicológica e emocional. Pais geniais e antepassados doutos não geram, necessariamente, filhos sábios, tanto quanto artistas e guerreiros não procriam símiles. (Temas da Vida e da Morte - Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 41 e 42.) 

B. De onde procedem as aptidões que a pessoa revela no curso da existência corpórea? 

Elas procedem geralmente das experiências passadas, em que o Espírito armazenou valores que lhe pesam na economia evolutiva como poderosos plasmadores da personalidade e da inclinação para uma como para outra área do conhecimento, para a vivência da virtude ou do vício. (Obra citada - Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 42 e 43.) 

C. Como devemos proceder com relação às más tendências que trazemos do passado?  

Devemos, evidentemente, corrigi-las, tanto quanto devemos cultivar as aptidões superiores. As tendências devem ser disciplinadas, corrigidas a qualquer esforço, para que sejam superadas. As tendências doentias, heranças pessoais dos gravames anteriores, devem ser canalizadas para as realizações positivas, como experiência inicial que se automatizará, dando margem às paixões elevadas, aquelas que promovem o indivíduo à sua condição de conquistador da razão a caminho da intuição, ao tempo em que se liberta do atavismo primário das imantações do reino animal. (Obra citada - Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 43 e 44).

Texto para leitura: 

21. Não existe hereditariedade psicológica - As leis de Mendel, estudadas largamente, vieram contribuir de modo eficaz para o equacionamento de muitos enigmas nos diversos capítulos da hereditariedade. (N.R.: Johann Mendel, botânico austríaco, nascido em 1822 e falecido em 1884, vivendo num mosteiro, realizou de 1856 a 1866 experiências sobre hereditariedade nos vegetais que fizeram dele o fundador da genética.) No entanto, se complementam os conceitos do Transformismo e do Evolucionismo, não interpretam inúmeros quesitos da realidade da vida biológica. É inegável que os caracteres são transmissíveis e que os filhos, os descendentes em geral, herdam de pais e ancestrais as parecenças físicas, a morfologia, as posturas e outros sinais de identificação. Mas o mesmo não ocorre nas áreas psíquica, psicológica e emocional. Pais geniais e antepassados doutos não geram, necessariamente, filhos sábios, tanto quanto artistas e guerreiros não procriam símiles. Certo, a convivência e a educação, os hábitos e a disciplina modelam as personalidades dos descendentes, neles plasmando, às vezes pela violência emocional, características que parecem herdadas, sem que o ser traga nas paisagens íntimas essas habilidades ou determinações. Da mesma forma, homens incultos e viciosos não reproduzem vidas caóticas semelhantes, exceto quando degenerescências físicas impõem limitações e distúrbios de variada ordem. Mesmo nos casos que se podem arrolar como decorrência da hereditariedade psicológica e moral, devemos levar em conta os fatores anteriores ao renascimento físico do ser. O Espírito é o engenheiro da maquinaria fisiopsíquica de que se vai utilizar na jornada humana. Claro que os processos de reencarnação se fazem mediante as leis de afinidade espiritual, por impositivos anteriores, o que resulta em identificações e choques nos clãs, onde se reencontram seres simpáticos ou adversários que o berço volta a reunir. Em face dessa conjuntura, muitas das heranças se fazem naturais, porque o clima vibratório impõe os condicionamentos e os programas indispensáveis na formação do corpo. (Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 41 e 42.)

22. As aptidões geralmente procedem das experiências passadas - As aptidões e as tendências só raramente correspondem às leis da hereditariedade, especialmente hoje, quando as opções para a conduta e a ação se fazem um leque imenso de possibilidades, ensejando a identificação do homem com as suas próprias realidades. No passado, a falta de comunicação de massa, a ausência de contatos sociais imprimiam como tendências o que eram hábitos dos grupamentos familiares, que impunham nos nascituros e crianças um roteiro de realizações que se lhes incorporava impositivo, difícil de ser evitado. Não obstante, as exceções demonstram, nos gênios como nos idiotas, a independência do reencarnante em relação às matrizes genéticas. Eis por que as tendências, as aptidões humanas, sem descartar-se a contribuição dos genes e cromossomos, procedem das experiências do passado, em que o Espírito armazenou valores que lhe pesam na economia evolutiva como poderosos plasmadores da personalidade, da inclinação para uma como para outra área do conhecimento, para a vivência da virtude ou do vício. Dramas e tragédias, crimes e ações nefandos que passaram ignorados ou não justiçados pelos códigos humanos, convertem-se em processos psicopatológicos que se manifestam em forma de desequilíbrio no endividado, sem que haja fatores ancestrais que justifiquem o desconcerto. Ao ser processado o mecanismo do renascimento, o candidato modela, imprime nas células em formação aquilo de que necessita para recuperar-se, ascender e resgatar... O mesmo se dá no campo da cultura, da beleza, da arte, em que o Espírito, ao ser submetido aos implementos celulares, neles trabalha esses equipamentos sutis para responderem com fidelidade ao ministério para o qual retorna ao corpo, em realizações nobilitantes. (Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 42 e 43.)

23. As más tendências devem ser corrigidas - As tendências e aptidões atuais são, pois, reminiscências do passado de cada indivíduo. Tudo a que se aspira e se realiza sem a aprendizagem atual procede de experiências passadas, que se encontram ínsitas no ser e desabrocham como inclinação, impulso, compulsão, mais poderosos do que o meio onde a criatura se encontra localizada.  As aptidões superiores devem ser cultivadas, tanto quanto não podem ser deixadas sem conveniente tratamento as más tendências,  que devem ser disciplinadas,  corrigidas a qualquer esforço,  para que sejam superadas,  oferecendo campo para os primeiros cometimentos no setor do bem,  na condição  de exercício  dignificante  em formulação para realizações elevadas e libertadoras no futuro. Todo empreendimento exige esforço, diretriz e segurança. As tendências doentias, heranças pessoais dos gravames anteriores, devem ser canalizadas para as realizações positivas, como experiência inicial que se automatizará, dando margem às paixões elevadas, aquelas que promovem o indivíduo à sua condição de conquistador da razão a caminho da intuição, ao tempo em que se liberta do atavismo primário das imantações do reino animal... Fadado à Grande Conquista, recorda para elevar-se, superando o mal que nele remanesce, sob o apelo do amor que o alimenta e é de procedência divina. (Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 43 e 44.)


24. Fatalismo biológico absoluto não existe - O fatalismo biológico, estabelecido mediante as conquistas pessoais de cada indivíduo, não é definitivo em relação à data da sua morte. A longevidade como a brevidade da existência corporal, embora façam parte do programa adrede estabelecido para cada homem, alteram-se para menos ou para mais, de acordo com o seu comportamento e do contributo que oferece à aparelhagem orgânica para a sua preservação ou desgaste. Necessitando de um período de tempo em cada existência física para realizar a aprendizagem evolutiva em cujo curso está inscrito, o Espírito tem meios para abreviar-lhe ou ampliar-lhe o ciclo, mediante os recursos de que dispõe e são facultados a todos. É óbvio que o estroina desperdiça maior quota de energias, impondo sobrecargas desnecessárias aos equipamentos fisiológicos, do que o indivíduo prudente. As ocorrências que lhe sucedam têm as suas causas no comportamento que se permitem. Igualmente, a forma de desencarnar, sem fugir ao impositivo do destino que é de construção pessoal, resulta das experiências que são vividas. O homem imprevidente e precipitado, desrespeitador dos códigos de lei estabelecidos, torna-se fácil presa de infaustos acontecimentos,  que ele mesmo se propicia como efeito da conduta arbitrária a que se entrega. Acidentes, homicídios, intoxicações, desastres de vários tipos que arrebatam vidas, resultam da imprevidência, da irresponsabilidade, do orgulho dos que lhes são vítimas, na maioria das vezes e no maior número de acontecimentos. Devendo aplicar a inteligência e a bondade como norma de conduta habitual, grande parte das criaturas prefere a arrogância, a discussão acesa, o desrespeito ao dever, a negligência, tornando-se, afinal, vítimas de si mesmas, suicidas indiretas. Nos autocídios de ação prolongada ou imediata, a responsabilidade é total daqueles que tomam a decisão infeliz e a levam a cabo, inspirados ou não por Entidades perversas com as quais sintonizam. Derrapando em comportamentos pessimistas a que se aferram, a atitudes agressivas nas quais se comprazem, na fixação de ideias tormentosas em que se demoram, em ambições desenfreadas e rebeldia sistemática, a etapa final, infelizmente, não pode ser outra. Com o gesto que supõem ser de libertação, tombam, por largos anos de dor, em mais cruel processo de recuperação e desespero, para que aprendam disciplina e submissão contra as quais antes se rebelaram.  (Comportamento e vida, pp. 45 e 46.) (Continua no próximo número.)

Thiago Bernardes
thiago_imortal@yahoo.com.br
Curitiba, Paraná (Brasil)  

Imagem é do livro

domingo, 30 de março de 2014

Tijolos...


Claro que o que você vai ler abaixo é simbólico, mas bem retrata a atual situação do mundo...
Um jovem e bem sucedido executivo dirigia por sua vizinhança, correndo um pouco demais em seu novo Jaguar. Observando crianças se lançando entre os carros estacionados, diminuiu um pouco a velocidade, quando achou ter visto algo.
Enquanto passava, nenhuma criança apareceu. De repente um tijolo espatifou-se na porta lateral do Jaguar! Freou bruscamente e deu ré até o lugar de onde teria vindo o tijolo. Saltou do carro e pegou bruscamente uma criança entre alguns veículos estacionados e gritou:
- Por que isso? Quem é você? Que besteira você pensa que está fazendo? Este é um carro novo e caro, aquele tijolo que você jogou vai me custar muito dinheiro. Por que você fez isto?
- Por favor senhor me desculpe, eu não sabia mais o que fazer! - Implorou o pequeno menino - Ninguém estava disposto a parar e me atender neste local.
Lágrimas corriam do rosto do garoto, enquanto apontava na direção dos carros estacionados.
- É meu irmão. Ele desceu sem freio e caiu de sua cadeira de rodas e não consigo levantá-lo.
Soluçando, o menino perguntou ao executivo:
- O senhor poderia me ajudar a recolocá-lo em sua cadeira de rodas? Ele está machucado e é muito pesado para mim.
Movido internamente muito além das palavras, o jovem motorista engolindo "nó imenso" dirigiu-se ao jovenzinho, colocando-o em sua cadeira de rodas.
Tirou seu lenço, limpou as feridas e arranhões, verificando se tudo estava bem.
- Obrigado e que meu Deus possa abençoá-lo - a grata criança disse a ele.
O homem então viu o menino se distanciar... empurrando o irmão em direção à casa.
Foi um longo caminho de volta para o Jaguar... um longo e lento caminho de volta. Ele nunca consertou a porta amassada. Deixou amassada para lembrá-lo de não ir tao rápido pela vida, que alguém tivesse que atirar um tijolo para obter a sua atenção.
Deus sussura em nossas almas e fala aos nossos corações.
Algumas vezes quando nós não temos tempo de ouvir, Ele tem de jogar um tijolo em nós.
É sua escolha: ouvir o sussurro ou esperar pelo tijolo!
Boa reflexão!
  
"O sofrimento é o alto-falante de Deus para um mundo surdo"

Não esperem pelo "tijolo".

É claro também que Deus não atira tijolos em seus filhos. Porém, a insensibilidade humana requer mesmo umas boas "chacoalhadas" para despertar do letárgico sono da indiferença... Qualquer semelhança com os dias atuais é mera coincidência.

Orson Peter Carrara 

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sábado, 29 de março de 2014

Certezas do Poeta e da Lei


Quem, dentre nós, nunca ouvira falar de Francisco Otaviano de Almeida Rosa (1825 – 1889), Advogado, Escritor e brilhante Jornalista, que fora também Deputado, Senador e Diplomata? É considerado, com louvor, um dos patronos da Academia Brasileira de Letras; todavia, se nunca ouviras falar do eminente letrista, certamente conheces algo de uma sua tocante e célebre poesia do nosso cotidiano de lágrimas:

Abre aspas:

Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.

Fecha aspas.

E o fato é que a Dor, nas suas mais diversas nuanças: física ou simplesmente consciencial, ou moral, ou espiritual, são companheiras assíduas dos nossos passos, sobretudo nos ambientes endividados, de consciências sombrias de um Mundo Provacional, de grandes expiações. 
Há quem diga que alguns elementos são invulneráveis à Dor; estudos “comprovaram” que sociopatas, indivíduos egoístas, interesseiros e manipuladores, bem como homicidas frios e calculistas, são insensíveis a ela, estando isentos das cobranças de sua consciência que não lhes pedem um ajuste de contas, um acerto social. E, dir-se-ia: “felizardos, por imunes que são”. Entretanto, não acredito, de forma cabal, completa e absoluta, em tais “comprovações”, e, por isto: minhas aspas. 
Óbvio que alguns indivíduos de consciência rastejante, ou seja, de patamares evolutivos mui baixos e mui grosseiros, quiçá, até se sinta mais confortável, psicologicamente, do que resulte dos seus atos cruéis e violentos; mas chegar ao absurdo de que tais elementos não sintam pesar; de que tais não sentem a dor consciencial; de que tais indivíduos são imunes às cobranças de retificação de seus erros, vai uma distância enorme, pois que todos, do mais alto ao mais baixo nível de espiritualidade e de humanização, sentem algum grau perceptivo da dor, da cobrança consciencial, pois que, do contrário, a Lei de Deus, feita para todos, indistintamente, estaria, de certa forma, sendo derrogada por alguns poucos e aplicada à maioria deste Mundo infernal, feito de lágrimas e de dores, a que nos sujeitamos como filhos da Consciência Maior, que espera do criado a consciência reta, isenta de falhas, rumo à perfeição. 
Afirma-se, e não duvido de tal, que a dívida pode até ser transferida no tempo, mas terá de ser quitada sempre, pois que tal é o ditame da Soberana Lei. Entretanto, isto não quer dizer que nossa consciência não faça suas cobranças, que não nos recorde os crimes, que não nos mostre o abismo de nossa criação, pois na consciência se instala o Tribunal do Supremo que aguarda, com paciência, nosso arrependimento, mas também nos exige o condigno resultado da expiação. 
Creio, sim, que o Tribunal de Deus encontra-se instalado em nossa consciência: palingenésica, perene e imortal, havendo, pois, diversificados níveis da mesma, não excluindo, e, não exonerando, em tempo algum, quem quer que seja, pois que a Perfeita Lei não distribui privilégios ou favorecimentos, não promove conluios ou negociatas a benefício de uns e prejuízos de outros, pois que se firma na Ordem, na Justiça e no Merecimento, não se dobrando às dívidas do filho infrator. 

Fernando Rosemberg Patrocinio

Imagem de Francisco Otaviano de Almeida