sábado, 26 de abril de 2014
sábado, 19 de abril de 2014
Ponderações em torno da Fé
“O Espiritismo estabelece como princípio que, antes de crer, é preciso compreender.” – Allan Kardec[1]
A FÉ DO PONTO DE VISTA KARDEQUIANO - Do ponto de vista
kardequiano, a fé pode ser compreendida como a confiança que o ser humano tem
em suas próprias forças para a realização de determinada coisa, superando os
obstáculos das dificuldades, da má vontade e das resistências.
Com fé em seus objetivos nobres e no próprio potencial, o
indivíduo faz-se capaz de mover “montanhas” como os “preconceitos da rotina, o
interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas”[2] que, ainda, procuram interpor-se ao
progresso da humanidade.
A fé, segundo o estudo proposto pelo mestre Allan Kardec em
O Evangelho segundo o Espiritismo, igualmente tem por significado a confiança
que se tem na realização de algo, de tal modo que, pelo pensamento, se pode
conceber antecipadamente a sua efetivação e os meios para tanto. Nesse caso,
essa fé-confiança dá ao indivíduo tranquilidade na realização de seu
tentame e favorece o êxito.
Todavia, Kardec não deixa de caracterizar a concepção de fé,
à qual ele se refere como calma e geradora de paciência porque se apoia “na
inteligência e na compreensão das coisas”[3], bem diferente do que ele chama de fé
vacilante, aquela que se ressente de sua própria fragilidade e, motivada pelo
interesse, torna-se violenta em uma tentativa irracional de suprir a força que
lhe falta.
FÉ E VIOLÊNCIA - Aliás, isso de alguma forma explica os
fenômenos contemporâneos de terrorismo religioso onde, em nome de uma
interpretação muito particular da doutrina do Islã, infelizes irmãos
integrantes do Talibã se autorizam a explodir escolas no Paquistão[4]. Trata-se de manifesta declaração da
insustentabilidade de suas convicções, mediante uma postura fundamentalista
frente ao raciocínio e uma resposta obscurantista à liberdade de pensar,
corolário do fim da escravidão humana de outros tempos.
Para Kardec, a fé não combina com a presunção e nem com a
violência. A fé deve ser humilde porque, sendo raciocinada, compreende os seus
limites e reconhece a sua fortaleza na vontade de Deus, “a inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas.”[5]
A fé presunçosa denota orgulho, imperfeição humana que
produz a cegueira intelectual e moral. O orgulhoso fecha-se em si mesmo e
crê-se com mais luzes que os outros. Ele cerra os ouvidos ao diálogo e às
opiniões contraditórias às suas crenças, desvalorizando a oportunidade de
aprender com a leitura do outro sobre as suas convicções pessoais e, quem sabe,
robustecer serenamente a própria fé.
FÉ RACIOCINADA VERSUS FÉ CEGA - Do ponto de vista
teológico, segundo Kardec, a fé costuma ser concebida como a crença em dogmas
especiais que constituem, desse modo, as mais diferentes religiões no mundo.
Dessa perspectiva, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé
cega consiste naquela em que o crente não se ocupa de verificar pela lógica o
objeto de sua crença que, muitas vezes, choca-se com as evidências que os fatos
lhe apresentam, tanto quanto colide frontalmente com o uso da razão.
A fé cega tende a produzir fanatismo, onde cada crente teria
a pretensão de que a sua religião deteria todo o conteúdo das verdades
espirituais da vida. O fanatismo, por sua vez, como erro de percepção do cosmo
e das Divinas Leis, tende a degenerar em intolerância e violência, como no
exemplo assinalado anteriormente.
Por outro lado, a fé raciocinada mantém a liberdade de
pensar como premissa de sua efetividade, ela se fortalece no raciocínio sem
preconceitos e no livre-exame proporcionado pela dúvida que investiga. Nesse
sentido, a fé racional não teme o progresso intelectual da coletividade, muito
pelo contrário, a sua capacidade de “encarar de frente a razão, em todas as
épocas da Humanidade”[6] é condição que a mantém inabalável,
como ensinou o insigne codificador do
Espiritismo.
FÉ NÃO SE PRESCREVE - É de bom alvitre que recordemos
que a fé não pode ser prescrita ou imposta a um indivíduo. No que tange aos
valores espirituais básicos é uma aquisição pessoal amadurecida a cada
reencarnação do Espírito, atualizada sob a influência de questões
socioculturais, contudo, é uma questão de foro íntimo.
Por fim, entendamos que a fé, para ser raciocinada, demanda
que o seu ponto de apoio se estabeleça na compreensão clara e prefeita daquilo
em que se crê, ou seja, em um método de raciocínio que se sustente em um
sentido lúcido e profundo para a crença, no exame rigoroso dos fatos inerentes
aos princípios filosóficos da escola de fé abraçada, sem deixar margem a nenhum
mistério ou superstição.
Em matéria de crença aceitemos somente o que é inteligível à
razão e, caso alguém queira nos impor uma fé cega, lembremo-nos da recomendação
do Mestre Jesus a dizer-nos em seu Evangelho “Deixai-os; são condutores cegos.
Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.”[7]
[4] YUSUFZAI,
Ashfaq. Paquistão:
escolas femininas desafiam o Talibã. Disponível em: http://ponto.outraspalavras.net/2012/01/11/escolas-femininas-desafiam-taliba/,
acessado em 26/01/2012.
Vinícius Lima Lousada
É educador, pesquisador e editor do blog: www.saberesdoespirito.blogspot.com
Bento Gonçalves-RS.
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Para Deus tudo é vida!
Talvez tenha sido uma das frases mais importantes que eu já
tenha ouvido, não só pelo ensino que ela traz,
mas, também, pelo momento em que
foi proferida.
Havia adentrado as fileiras do Espiritismo fazia pouco mais
de cinco anos. Nosso querido Hugo Gonçalves, diretor do jornal O IMORTAL,
passou a confiar-me entrevistas com pessoas importantes para o movimento
espírita: Heloísa Pires, Raul Teixeira, nosso saudoso Renê Pessa e outros.
Certa vez, vivendo um momento muito delicado de minha vida,
onde a fé ainda acordava em meu espírito e quando me apresentava diante de uma
situação em que o medo da morte assombrava meus pensamentos, fui convocado a
entrevistar nosso respeitado expositor e médium baiano Divaldo Pereira Franco.
Divaldo, que já possuía uma extensa ficha de serviço para o
Cristo e para o Consolador Prometido, estava acompanhado de uma comitiva de
trabalhadores que sempre se reuniam a ele quando vinha aqui para o Paraná; eu,
um iniciante no aprendizado do Espiritismo – isso há aproximadamente 25 anos –
em uma situação muito assustadora: alguém muito próximo a mim estava entre a
vida e a morte... E eu só pensava na morte. De tempos em tempos um gelo percorria
meu corpo como se algo ruim fosse acontecer a qualquer momento.
Ansioso e ao mesmo tempo preocupado com a entrevista,
voltei-me para o orador e disse-lhe que tinha algumas perguntas para lhe
propor. Ele acenou com a cabeça, positivamente... Iniciei a entrevista,
gravando naqueles gravadores de fitas cassetes antigas.
Enquanto Divaldo respondia as questões propostas, vez por
outra um frio percorria meu corpo anunciando que a morte estava por perto,
fazendo-me pensar naquele parente próximo.
Havia preparado sete perguntas. Quando estava na terceira,
Divaldo subitamente parou de responder às questões e, tocando-me levemente o
ombro, disse-me: “Meu caro amigo, para Deus tudo é vida. A morte não
existe. Onde quer que estejamos, estaremos sempre vivos...”.
Senti como se uma brisa suave envolvesse meu espírito e me
acalmasse. Aquela frase não só pacificaria meus tormentos naquele momento, mas
pacifica-me até hoje. Onde quer que eu esteja falando sobre temas da vida e da
morte sempre tenho procurado usar a frase: A vida depois da vida, e
não mais a vida depois da morte.
Então, quando nos perguntamos por que Deus permite tantas
tragédias em nosso mundo, tantas mortes, me recordo da frase de Divaldo, que
bem representa a luz da verdade que nossa doutrina nos apresenta: “Para
Deus tudo é vida”. Então, não existe morte, mas provas e expiações... Além
disso, tudo é vida.
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segunda-feira, 14 de abril de 2014
O grande entrave da neutralidade
Entrevistei o amigo Alessandro Viana Vieira de Paula, Juiz
de Direito na cidade de Itapetininga-SP, a propósito de vários temas ligados às
dificuldades sociais da atualidade. Como se trata de entrevista bem extensa,
selecionei duas das respostas para trazer à apreciação dos leitores, face à
importância das considerações daquele amigo. São as questões 5 e 6, que
transcrevo:
5 - De sua experiência profissional, como encarar o sistema
prisional brasileiro e os ditames da Lei de Progresso no estágio atual do país?
O sistema prisional brasileiro ainda é precário, porque onde
há superlotação, sedentarismo dos apenados, descaso com a saúde, atrasos na
concessão dos direitos dos presos e, para agravar, a existência do crime
organizado, de forma que raramente se consegue recuperar o preso. Quando o
preso termina sua pena ou obtém a liberdade ele ainda sofre o preconceito
social, porque é muito difícil alguém acreditar nele e lhe dar uma nova
oportunidade. Mas a transição planetária está a todo vapor, portanto, numa sociedade
mais cristã essas questões tendem a mudar. Cabe ao cristão acreditar na
recuperação do indivíduo, fazendo a sua parte, por exemplo, visitas religiosas
nas unidades prisionais, ofertar emprego aos egressos, ajudar suas famílias
etc.
6 - Como venceremos, como nação, esses imensos desafios
sociais da atualidade?
Esses desafios sociais atingem, na atualidade, o ápice
porque estamos vivendo esse momento importante de transição planetária. Como
sabemos, os que praticam o mal um dia despertarão para o bem, mas, o grande
entrave para o progresso, se dá com os neutros. São aqueles que não fazem o bem
e nem o mal, ficam acomodados. A dor e sofrimento atingem índices alarmantes
para tocar esses neutros, a fim de que tomem uma decisão e possam optar pela ação
efetiva no bem. Dessa forma, para vencer temos que assumir as nossas
responsabilidades de cristãos, procurando ser útil para o próximo e para a
sociedade, colaborando ativamente na construção da sociedade do porvir.
A motivação de trazer referidas respostas aos leitores veio sobre a abordagem
que se refere aos neutros. Neutros são os omissos, os que ficam “em cima do
muro”, muitas vezes apenas para criticar. Não movem braços, nem ações, e se
deleitam na crítica a quem está trabalhando e se esforçando para algo colaborar
nesse incêndio social que vivemos.
A neutralidade é cômoda, não exige nada. É realmente o grande entrave do
progresso porque a posição é apenas de quem observa, acomodado, o incêndio e as
tragédias que se repetem diariamente – fruto da miséria que gera a violência,
que por sua vez traz a tensão permanente que envolve a vida humana –,
deleitando-se na crítica ou, pior, na indiferença, na omissão. Sem buscar fazer
o que lhe é possível, por mínimo que seja.
A outra expressão constante de uma das respostas é a que se refere às nossas
responsabilidades cristãs. Nós, os cristãos, os adeptos do Evangelho – sem
importar a denominação que utilizemos ou sigamos – estamos nos distraindo nessa
imensa responsabilidade de apoiar o esforço do Cristo na regeneração do mundo.
Ainda nos mantemos no egoísmo, na vaidade, na disputa, na arrogância.
Não temos outra alternativa para alcançar a felicidade e paz que se busca no
mundo: ou melhoramos a nós mesmos ou melhoramos a nós mesmos.
A paz social que se busca está no mútuo estender das mãos, está na
solidariedade e nos esforços individuais de melhora moral. Aprimorando-nos
moralmente, influenciaremos nossos filhos que, por sua vez, se tornam cidadãos
íntegros que mudam o panorama social.
É o caso de nos auto observarmos sobre a nossa neutralidade ou comprometimento
com o bem geral que deve gerir nossas ações. Ou, em outras, palavras para nos
questionarmos individualmente: como está o cumprimento de nosso dever?
Orson Peter Carrara
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