sexta-feira, 14 de novembro de 2014
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
O tamanho das coisas
Por vezes, gastamos horas amuados, jururus, macambúzios e
sorumbáticos, consumindo a nossa mente e as nossas horas em problemas
corriqueiros, em coisas que não saíram como imaginávamos, em sonhos frustrados
parcialmente. Iludidos ficamos, focados no ponto preto em meio a um grande
quadro branco.
Nesse sentido, o poeta mato-grossense Manoel de Barros
trata, em um de seus poemas, do tamanho das coisas, como no trecho a seguir:
“Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a
cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o
tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas.
Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são
sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da
intimidade”.
A beleza da poesia pantaneira nos serve de inspiração para
refletirmos sobre de que forma lidamos com os problemas habituais em nossa
vida... Probleminhas, quando é do outro. Problemões, quando são os nossos...
Maximizamos os nossos obstáculos, pela sua “intimidade”, e minimizamos os
problemas alheios, pelo nosso egoísmo.
Seguimos assim, nos lamuriando de nossas cruzes, sem
enxergar os martirizados à nossa volta. Se o gramado do vizinho é mais verde, a
nossa cruz certamente será mais pesada...
Os Espíritos não se cansam de nos avisar desta realidade,
onde destacamos a historieta intitulada “Aflitíssima”, no Livro
“Bem-aventurados os simples” (Espírito Valerium, psicografia de Waldo Vieira),
na qual a mulher se vê aflita com seus problemas, com questões comezinhas e
busca o amparo de um dirigente espírita, que a consolava, ainda que não
possuísse braços.
Na fieira das encarnações, avançamos diante de desafios
inúmeros e a autocomiseração e o melindre não devem diminuir o nosso ritmo no
enfrentamento dos problemas – chaves para a nossa evolução. O trabalho no bem,
como terapia de múltiplas utilidades, também nos leva a conhecer outras
realidades, de modo a mensurarmos, de forma mais realista, o “tamanho das coisas”,
e percebermos que nossos fardos são leves, pelo acréscimo de misericórdia
divina.
Falta-nos um sentido amplo da palavra otimismo, em um
contexto no qual a doutrina espírita pode nos ajudar sobremaneira, a partir do
momento que esta nos mostra uma visão ampla da existência, uma percepção
concreta da eternidade, na qual tudo passa. E nos lembraremos desses fatos
dolorosos apenas como uma lembrança alegre.
Necessitamos não só ampliar a visão em relação ao outro, mas
também no que concerne à temporalidade. Para o Espiritismo a eternidade não é
um dormir, em uma pseudo-existência, e sim uma sucedânea de vidas nas quais
crescemos, aprendemos e superamos desafios e percebemos que a pequena luta de
hoje se torna menor ainda amanhã.
Cabe registrar o dito n’O Evangelho segundo o Espiritismo,
no seu Capítulo segundo: “Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida
espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que rápida passagem,
uma breve permanência num país ingrato. As vicissitudes e as tribulações da
vida são apenas incidentes que ele enfrenta com paciência, porque sabe que são
de curta duração e devem ser seguidos de uma situação mais feliz“.
O otimismo não se confunde com a inatividade de uma vida
repousada apenas na vida espiritual ou na depressão de problemas insolúveis no
plano terreno. Na visão espírita, o otimismo nos aponta uma lógica de
oportunidades, de superação pelo perdão, pelo amor, pela reparação, atuando
sobre os problemas que julgamos enormes, mas que são ínfimos nos portfólios de
almas que lutam pela evolução na crosta terrestre.
Assim, pelo prisma da vida espiritual, diante de nossos
problemas, analisemos sua dimensão frente aos nossos irmãos, em outros espaços,
e a nossa própria existência, na multiplicidade das vidas sucessivas, e veremos
que tudo é pequeno, mas não insignificante, indigno de nossa tristeza e
merecedor de nossa atenção.
O ponto de vista espírita nos enche de otimismo, afastando a
tristeza que nos invade o coração, mostrando o real tamanho das causas de
nossas aflições e a medida certa que deve ser nossa atitude: tristes pela nossa
humanidade, ativos pela nossa espiritualidade.
As coisas têm o tamanho que a ela atribuímos! Sem sermos
desleixados pelo nosso egoísmo, sem sermos melindrados pelo nosso orgulho,
devemos sopesar cada problema, lembrando a nossa condição de Espíritos imortais
em evolução com outros irmãos de jornada.
Assim, com o olhar renovado, nivelamos a vida em alto
astral, na lição de que o tempo despendido em lamentações tem melhor uso se
convertido em trabalho.
Marcus Vinicius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Imagem ilustrativa
sábado, 8 de novembro de 2014
O amor é para sempre…

O amor é o oposto da indiferença. O amor nunca tanto faz,
com o que o ser amado faz. Por isso se empenha sempre por um fazer de luz.
O amor pode curar, salvar, elevar, educar, regenerar. Mas
tudo a longo prazo, pois para se mostrar, atuar e agir, precisa muito ter
paciência, perseverar, persistir, muitas, infinitas vezes perdoar... Tudo
devagar.
O amor desgovernado, tumultuado pelas paixões, queima os
corações, provoca afastamentos, descontentamentos, dilacerações... Por isso, o
amor precisa se asserenar, se suavizar, alimentando-se de eternidade!
Mesmo o amor mais forte, mais viril, mais ativo precisa ser
feminino... Cuidadoso, gentil, acolhedor, sabendo se esconder para o outro
brilhar!
O amor se muda, se adapta, se transforma, se sublima, mas
nunca desiste. O amor pode estar triste, agitado, aflito, cansado com os
atritos do dia a dia. Mas se for amor, nunca esfria! O amor tudo sofre - diz
Paulo - e nunca se acaba. Mesmo ofegante, prossegue; mesmo ferido, perdoa!
Mesmo desacreditado, insiste! E mesmo rejeitado, resiste! O amor tudo pode,
tudo alcança! Força divina que nos move e nos transfigura! Mesmo ainda
misturado aos cascalhos das paixões, sua fonte profunda é sempre pura! E por
isso limpa com o tempo os corações!
O amor é o único motivo, o único estímulo, o único impulso
suficientemente forte, elevado e belo para nos levar à superação de nós mesmos!
Por amor a quem amamos e por amor a Deus, alcançamos a transcendência!
O amor para bem comunicar-se, precisa aprender sutilezas,
precisa fazer recuos, precisa ocultar ímpetos e transfigurar angústias! Precisa
calar e falar com sinceridade serena, compreensiva, derramando-se muito mais no
olhar, que na palavra; muito mais nos gestos, que nas anunciações!
O amor compreende mais que julga! Não se endurece, antes se
enternece! Quer mais se doar do que receber! E o tempo todo tece o carinho, que
alimenta!
O amor sempre renova a confiança, refaz a esperança,
alimenta o otimismo, porque seu horizonte é a eternidade!
O amor é combativo, mas não agressivo! É ativo, mas
pacífico! É enérgico, mas suave!
O amor para ser saudável deve ter dignidade, autoestima. Mas
para ser pleno, não pode ter orgulho nenhum!
O amor, por amor a quem ama, busca melhorar-se todos os
dias, para elevar-se em altura e grandeza, sendo sempre mais digno do ser
amado!
O amor só descansa com a perfeição, por isso está sempre à
procura... Só se satisfaz com a felicidade, por isso quer sempre mais!
O amor está sempre perto do coração amado, mesmo que este
esteja trancado, mesmo que esteja distante! Está perto, nem que seja por uma
prece ardente e por um pensamento constante!
O amor quando nasce é uma flor cheia de perfumes e cor, com
ilusões de primavera! Mas quando amadurece, é fruto doce, sem ornamentos,
alimento perene!
O amor, quanto mais se asserena, mais conquista; quanto mais
se desapega, mais se aproxima do ser amado!
Não há um só dia em que o amor não dedique um serviço, um
pensamento, uma prece, um algo, em favor de quem ama! Mesmo à distância, mesmo
oculto!
O amor desfaz todas as tragédias, desanuvia todas as angústias,
cura todos os desequilíbrios, harmoniza todas as almas... O tempo tudo refaz,
regenera, reergue, sublima... Só o que sobra para sempre é o amor!
Nada mais doce que um olhar de amor trocado, nada mais
confortador que uma vibração de amor permutada. Nada mais apaziguante que uma
comunhão de pensamento elevado, projetado para o infinito!
O amor inventa sempre novos caminhos, não se conforma com
obstáculos... Caminhos que chegam ao coração, caminhos que levam ao céu!
O amor sempre encontra um ponto de equilíbrio, um consenso
confortável, uma sintonia fina... E o arremate das piores situações será sempre
uma costura de bom gosto!
O amor é delicado como uma flor, forte como uma rocha, vasto
como o universo! Por isso, não cabe apenas no corpo, não cabe apenas numa vida!
É necessário que seja infinito! Lógico que seja eterno!
O amor pode se melhorar, pode se elevar, se transformar, se
sublimar... Perder sensualidade e ganhar asas; desfazer-se do feminino e do
masculino e ser divino... O amor pode até ficar guardado por um tempo até a
próxima esquina da vida... Mas se for amor, nunca termina.
O amor está sempre conectado com o ser amado. Lê seu olhar,
percebe sua alma, capta seu coração. O amor é lúcido, desperto, vidente. Não
para controlar, tomar posse, mas para estar ao lado, estar dentro, estar em
ressonância. A postos para proteger, servir, ajudar e se ofertar.
O amor se entrega inteiro, confia, se abre. Mas sem deixar
de ser reto nos princípios, elevado nos propósitos, correto na ação.
Podem surgir desavenças, o amor as supera! Podem se erguer
ofensas, o amor as perdoa! Podem se formar mágoas, o amor as desfaz! Para o
amor, qualquer sombra é tempestade passageira e a bonança volta sempre a
brilhar!
Não há dor que o amor não cure! Não há mal que o amor não
desmanche! Não há escuridão que o amor não ilumine! Não há queda que o amor não
restaure! E seu único aliado é o tempo. Por isso, o amor é infinitamente
paciente.
O amor tem que tornar melhor quem ama e quem é amado. Se não
torna (ou se torna pior) não é ainda amor.
O amor pode se sentir impotente, rejeitado, diante de um
coração trancado, ensimesmado numa concha de solidão! Mas então, o amor tem
sempre que continuar amando, aguardando brechas de entrada, uma estrada, um
clarão... E pouco a pouco se abre o outro coração!
O amor pleno sereno, inteiro, é aquele que percebe cada
sutil necessidade, cada mensagem calada, cada aceno do ser amado. Percebe,
compreende e age. Mas é preciso caminhar muitos séculos juntos, é preciso se
desfazer de muitos egos para que o amor seja assim.
Quando o amor está presente, nenhum dia passa inútil e cada
problema revela uma lição!
Quando não é compreendido, o amor compreende mil vezes, até
que o outro alcance a compreensão!
O amor nada faz de banal, não fica na superfície, não age
com leviandade. Por isso desmancha o mal e lida com a verdade. Por isso não é
mesmice e com energia e meiguice se lança na eternidade!
Nem tudo o que sabe, o amor fala, porque não faz falta. Nem
tudo o que faz o amor fala, porque não se exalta. Nem tudo o que dói o amor
fala, sem mágoa incauta. E quando o amor cala, sua luz brilha mais alta!
Amar, amar, amar é a única maneira de ir se esquecendo de
si! E quando se esquece completamente, o amor encontra Deus!
O amor ensina, sem ofuscar e aprende, com gratidão!
Quando se está possuído de amor, os pés andam mais leves, o
coração alado e o ar mais rarefeito. Mesmo que às vezes, pesem a caminhada, o
coração e o ar, logo tudo se desanuvia e o céu claro logo de novo se anuncia!
Entender como o outro expressa amor e saber fazer chegar ao
outro o nosso amor é alcançar o milagre da comunicação.
O amor não precisa ter medo de amar mesmo que o outro não
ame, mesmo que o outro ame menos. O amor não precisa ter medo de amar o
diferente, o oposto, o desaprovado, o endurecido... Pois o amor transpõe
qualquer barreira e um dia alcançará a plena comunhão!
O amor saberá tornar a franqueza tão doce, que não fira...
Saberá usar a crítica com tanto acolhimento que não afaste... O amor não
faltará jamais à verdade mas não há de buscar seus interesses e não a vestirá
como arma, sendo-lhe ao invés uma túnica sutil!
O amor não se deixa aprisionar pela rotina seca do
cotidiano! Ao invés, resgata a flor, a poesia, o sorriso e o toque suave das
mãos!
Quantos espinhos o amor precisa colher na terra, por breves
momentos de sintonia plena! Mas sempre esperando a certeza de uma eternidade de
comunhão!
Quando o amor é muito grande e se vê no inferno, não
desiste, resiste, insiste, mesmo triste! E de salto em salto (porque se sabe
eterno) se faz fraterno e afinal se dilata tanto, regado a pranto, que se
alcança materno!
Quando o amor nasce materno, doce, sem nuvens, já nasce
eterno, mas não evita a luta, a labuta... Então precisa apenas secar o pranto,
aceitar as penas e de alma enxuta, persistir para sempre, como anjo sem
desencanto!
O amor restaura pacientemente o que se quebrou. Dá asas aos
que se arrastam, fazendo de vermes borboletas, fazendo de homens, anjos.
O amor não se agasta, não se gasta, nunca se afasta e só
doar-se já lhe basta.
A colheita do amor é farta, exuberante, ensolarada. Alimenta
e conforta. Quando vem, falta nada. Apenas um pleno bem escancara a porta.
Quando não se cobra, o amor dá de sobra. Quando não se
apega, o amor transborda pleno, doce e sereno. Quando se respeita e nenhum
ciúme à espreita e quando se entrega inteiro, sem medidas, floresce singelo,
campestre, como margaridas.
Amar sem posse é amar mais. Amar melhor. Amar em paz. Amar
sem desejo de nada, recebendo o que se deseja, de mão sobeja.
Dora Incontri
Imagem ilustrativa
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
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