Por vezes, gastamos horas amuados, jururus, macambúzios e
sorumbáticos, consumindo a nossa mente e as nossas horas em problemas
corriqueiros, em coisas que não saíram como imaginávamos, em sonhos frustrados
parcialmente. Iludidos ficamos, focados no ponto preto em meio a um grande
quadro branco.
Nesse sentido, o poeta mato-grossense Manoel de Barros
trata, em um de seus poemas, do tamanho das coisas, como no trecho a seguir:
“Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a
cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o
tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas.
Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são
sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da
intimidade”.
A beleza da poesia pantaneira nos serve de inspiração para
refletirmos sobre de que forma lidamos com os problemas habituais em nossa
vida... Probleminhas, quando é do outro. Problemões, quando são os nossos...
Maximizamos os nossos obstáculos, pela sua “intimidade”, e minimizamos os
problemas alheios, pelo nosso egoísmo.
Seguimos assim, nos lamuriando de nossas cruzes, sem
enxergar os martirizados à nossa volta. Se o gramado do vizinho é mais verde, a
nossa cruz certamente será mais pesada...
Os Espíritos não se cansam de nos avisar desta realidade,
onde destacamos a historieta intitulada “Aflitíssima”, no Livro
“Bem-aventurados os simples” (Espírito Valerium, psicografia de Waldo Vieira),
na qual a mulher se vê aflita com seus problemas, com questões comezinhas e
busca o amparo de um dirigente espírita, que a consolava, ainda que não
possuísse braços.
Na fieira das encarnações, avançamos diante de desafios
inúmeros e a autocomiseração e o melindre não devem diminuir o nosso ritmo no
enfrentamento dos problemas – chaves para a nossa evolução. O trabalho no bem,
como terapia de múltiplas utilidades, também nos leva a conhecer outras
realidades, de modo a mensurarmos, de forma mais realista, o “tamanho das coisas”,
e percebermos que nossos fardos são leves, pelo acréscimo de misericórdia
divina.
Falta-nos um sentido amplo da palavra otimismo, em um
contexto no qual a doutrina espírita pode nos ajudar sobremaneira, a partir do
momento que esta nos mostra uma visão ampla da existência, uma percepção
concreta da eternidade, na qual tudo passa. E nos lembraremos desses fatos
dolorosos apenas como uma lembrança alegre.
Necessitamos não só ampliar a visão em relação ao outro, mas
também no que concerne à temporalidade. Para o Espiritismo a eternidade não é
um dormir, em uma pseudo-existência, e sim uma sucedânea de vidas nas quais
crescemos, aprendemos e superamos desafios e percebemos que a pequena luta de
hoje se torna menor ainda amanhã.
Cabe registrar o dito n’O Evangelho segundo o Espiritismo,
no seu Capítulo segundo: “Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida
espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que rápida passagem,
uma breve permanência num país ingrato. As vicissitudes e as tribulações da
vida são apenas incidentes que ele enfrenta com paciência, porque sabe que são
de curta duração e devem ser seguidos de uma situação mais feliz“.
O otimismo não se confunde com a inatividade de uma vida
repousada apenas na vida espiritual ou na depressão de problemas insolúveis no
plano terreno. Na visão espírita, o otimismo nos aponta uma lógica de
oportunidades, de superação pelo perdão, pelo amor, pela reparação, atuando
sobre os problemas que julgamos enormes, mas que são ínfimos nos portfólios de
almas que lutam pela evolução na crosta terrestre.
Assim, pelo prisma da vida espiritual, diante de nossos
problemas, analisemos sua dimensão frente aos nossos irmãos, em outros espaços,
e a nossa própria existência, na multiplicidade das vidas sucessivas, e veremos
que tudo é pequeno, mas não insignificante, indigno de nossa tristeza e
merecedor de nossa atenção.
O ponto de vista espírita nos enche de otimismo, afastando a
tristeza que nos invade o coração, mostrando o real tamanho das causas de
nossas aflições e a medida certa que deve ser nossa atitude: tristes pela nossa
humanidade, ativos pela nossa espiritualidade.
As coisas têm o tamanho que a ela atribuímos! Sem sermos
desleixados pelo nosso egoísmo, sem sermos melindrados pelo nosso orgulho,
devemos sopesar cada problema, lembrando a nossa condição de Espíritos imortais
em evolução com outros irmãos de jornada.
Assim, com o olhar renovado, nivelamos a vida em alto
astral, na lição de que o tempo despendido em lamentações tem melhor uso se
convertido em trabalho.
Marcus Vinicius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Imagem ilustrativa
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