Motivo de conversas de botequim, passando por músicas,
poesias e reflexões dos grandes filósofos, o tema “Amor” sempre esteve em pauta
desde que o mundo é mundo.
E o tema, claro, não passou despercebido pelo codificador do
Espiritismo, Allan Kardec, que fez várias referências ao amor. Entretanto,
destaco esta que considero esclarecedora e consta na questão de 938 de O livro
dos Espíritos:
Vejamos o que Kardec comenta:
“A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser
amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar
corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da
felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e
benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta”.
Belíssimo comentário. Temos, todos, a necessidade de amar e
de ser amados. Uma via de mão dupla. A felicidade que gozamos está no dar e
receber e não apenas no receber.
Entretanto, todos querem, na maioria das vezes, receber o
amor. Afinal, quem não quer ser amado? Seja amor de pai, mãe, irmãos, amigos,
todos almejam ser amados. Por isso, nestas breves linhas abro uma brecha e
pretendo convidá-los a refletir:
Queremos tanto ser amados, mas... será que amamos na mesma
proporção em que somos amados?
Eu amo! Dirão muitos.
No entanto, será que amamos realmente?
Costumo indagar à plateia nas palestras: O que você faria se
o amor de sua vida lhe dissesse “Descobri que o meu caminho não é mais com
você. Peço, pois, licença para despedir-me e seguir minha vida de outra forma”?
Será que diríamos: Se é esta sua decisão, embora triste eu a
respeito e torcerei pela sua felicidade! Ou será que diríamos: Ingrato (a)!
Depois de tantos anos me abandona. Ah, pagará caro!
Será que o nosso amor é tão grande a ponto de respeitar a
decisão do outro?
Fácil? Claro que não, até porque poucos de nós têm o
desprendimento necessário para amar desta forma.
Outro dia em conversa com um amigo, ele me disse: O amor é
uma decisão! E arrematou: O amor é o mais nobre dos sentimentos e quando eu
decido amar alguém tenho que estar ciente de que esta pessoa poderá não me amar
da forma como eu a amo.
Confesso que de início não concordei. Sempre achei que não
escolhemos amar, que o amor entra sem pedir licença.
E fiquei a refletir por alguns dias até chegar à conclusão
de que o amigo, um filósofo, estava certo: O amor é mesmo uma decisão! Eu
escolho amar, respeitar, compreender. Descobri, então, que quem entra sem pedir
licença é a paixão, avassaladora como sempre, mas o amor não.
E amar equivale a, sobretudo, respeitar as decisões do
outro, mesmo que estas nos excluam. O que fazer diante do ente que nos deixa? O
que fazer em face do amor que se vai? Quem ama respeita o direito de escolha do
outro, sempre.
Eis porque amar nos faz exercitar o que temos de mais belo
em nosso ser que são as virtudes de respeitar, compreender, renunciar, abdicar
e tantas outras mais.
Se é bom ser amado, se é nosso objetivo sermos amados,
tenhamos a certeza de que amar é ainda melhor.
Amar é uma decisão, uma sábia decisão e, como seres
pensantes, podemos decidir amar a qualquer momento. Eis um exercício diário e
constante para nosso aperfeiçoamento como seres humanos.
O amor, ah!, o amor é sempre uma decisão – diria meu amigo
filósofo!
Wellington Balbo
Bauru, SP
(Brasil)
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