terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A determinação em recomeçar


“Levantar-me-ei e irei ter com meu pai...”. (Lucas, 15:18.) 

Quando o filho pródigo, descrito na parábola por Jesus, deliberou retornar aos braços paternos, após ter recebido sua herança e a desperdiçado em futilidades e ilusões, criou para nossa reflexão um dos mais significativos símbolos de arrependimento, coragem, determinação e maturidade. 
Reconhecendo seus equívocos não vacilou em recomeçar, aceitando a condição de empregado da propriedade do pai, pois tinha consciência de que não merecia ser tratado mais como um filho, embora não esperasse a reação fraterna do genitor, que ao avistá-lo, o acolheu num abraço carinhoso e meigo. 
De nossa parte, inúmeras vezes também deliberamos seguir caminhos contrários àqueles que nos asseguram avanço moral, prosperidade intelectual e crescimento espiritual, criando a urgente necessidade de decidir por novos rumos e outras direções, sustentadas pela esteira dos valores da dignidade, da honra e da honestidade. 
Se preciso, ergamo-nos da inércia, da apatia e do desânimo e, fortalecidos pela fé, deixemos a rede macia do comodismo em esperar que a vida nos dê tudo de forma gratuita, e busquemos conquistar virtudes, enquanto empreendemos esforços para a extinção dos defeitos que ainda nos mantêm na condição de inferioridade e sofrimento. 
Se a tristeza insistir em povoar os nossos pensamentos e derramar insatisfações em nossa vida, levantemos a confiança em Deus e tenhamos a certeza inconteste de que o Pai Celestial, amoroso e bom, justo e perfeito, em circunstância alguma deixará de atender as nossas necessidades. 
Se a moléstia insidiosa continuar a nos manter no leito de dor, embora todos os esforços de médicos, hospitais e remédios, levantemos a esperança nos dias do porvir, nos recursos que a tecnologia vem desenvolvendo, pois o amanhã poderá surgir com novas cores e propostas. 
Se familiares queridos deixaram o nosso convívio pelos mecanismos da desencarnação, renascendo para a vida espiritual, abrindo enorme lacuna em nossos corações, que se repletam de saudades, levantemos a certeza na imortalidade e prossigamos convictos de que um dia, no futuro, em outras dimensões vibratórias, novamente estaremos com eles. 
Se o abandono e a solidão estiverem nos acompanhando com frequência, escurecendo os nossos momentos e amargurando a nossa vida, levantemos a vontade de refletir e meditar, pois, às vezes, diante do nosso comportamento e atitudes, quem sabe estaremos impedindo a aproximação das pessoas ao nosso redor? 
Se os recursos financeiros e materiais se escassearam, criando dificuldades e embaraços para que possamos honrar nossos compromissos, levantemos a força e a perseverança e saiamos a trabalhar ainda mais, na confiança de que o labor nos conduzirá a novas perspectivas. 
Se os filhos que chegaram ao nosso lar – e para os quais nos empenhamos ao máximo, visando educá-los, mostrando-lhes os caminhos da decência e da dignidade – resolveram não atender aos nossos insistentes apelos de moralidade, levantemos a paciência e esperemos pelas sábias lições da vida, que farão, certamente, aquilo que não conseguimos agora fazer. 
O filho pródigo, depois de perceber o equívoco cometido, diante do sofrimento decorrente da escassez de recursos financeiros, por ter gasto a herança recebida de forma inútil, inconsequente e irresponsável, caindo no arrependimento, teve forças para levantar, sacudir a poeira e voltar ao lar paterno, nem que fosse na condição de um empregado do pai, para recomeçar a vida. 
Em oportunidades inúmeras, também nós, ao percebermos os erros e os enganos deliberados, temos absoluta necessidade de levantar a nossa vida e buscar o apoio de Deus para recomeçar, e, por certo, Ele também abrirá seus braços para nos acolher num abraço...

Reflitamos...

Waldenir Aparecido Cuin
Votuporanga, SP (Brasil) 

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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Como não transformar indignação em ódio?


Partilhei hoje na minha página do Face uma foto de um membro da polícia militar com a arma em punho diante de uma estudante desarmada, em posição pacífica, durante a guerra declarada pelo Governo do Estado aos alunos que reivindicam a manutenção de suas escolas, no movimento “Não fechem minha escola”. Ao partilhar essa foto e comentar brevemente minha indignação diante da cena, vi-me arrebatada numa discussão desenfreada na minha própria página. Mantive-me calada, mas tenho ficado amargada com o nível de agressividade, conservadorismo, analfabetismo político reinantes no momento presente. E toda vez que manifesto qualquer posição, vejo-me enredada numa trama de contenda, de vibrações desencontradas, que me afetam por dentro.
Por isso, a reflexão de hoje é sobre uma questão fundamental: como manter a paz íntima diante das gritantes injustiças do mundo? Como exercitar a indignação (necessária, pois até Jesus a manifestou diante dos fariseus que exploravam o povo) sem se deixar escorregar para a ódio e para o asco? Como manter o olhar lúcido e crítico diante das estruturas profundamente injustas da sociedade, diante da falta de ética, diante da negligência com o ser humano, sem afundar-se num desânimo existencial, que nos faça parar deprimidos à beira do caminho? Como, enfim, atuar no mundo, para transformá-lo, com suficiente amor no coração, mas sem a pieguice e a apatia dos que aceitam tudo de cabeça baixa?
Lembro-me aqui de três figuras que muito me inspiram na vida e que viveram momentos críticos nesse sentido. Um foi Pestalozzi. Condecorado pela Revolução Francesa, por suas ideias progressistas para a melhoria das condições do povo e de sua educação, ele escreveu um livro intitulado Sim ou Não?, que pretendia responder se ele era contra ou a favor daquela Revolução sangrenta. Ora, claramente, ele se manifesta contrário à violência, mas a favor das reivindicações populares, diante da opressão em que vivia o povo. Hoje, é verdade, a análise marxista da História considera a Revolução Francesa uma revolução burguesa, que usou as classes populares a seu favor. Na época, na compreensão de Pestalozzi, era algo que brotava sobretudo legitimamente das entranhas do povo. Ele não aprovava, nem justificava a violência, mas compreendia-a, como uma reação inevitável à opressão. Numa outra obra sua, Minhas Indagações sobre a marcha do desenvolvimento da espécie humana, Pestalozzi desenvolve toda uma teoria, que antecede em alguns aspectos a psicanálise, apontando a repressão dos instintos das massas como uma das causas de explosão de guerras e revoluções. De qualquer forma, ele considera que uma educação integral, como a que ele propunha, deveria despertar a divindade interior dos indivíduos, motivando-os a agir autonomamente, sem repressão, no sentido da fraternidade e do bem-estar de todos.
Kardec, no Livro dos Espíritos, na questão 783, da mesma forma que seu mestre Pestalozzi, admite a necessidade das revoluções sociais, olhando a História de uma perspectiva no tempo:

“O homem não pode ficar eternamente na ignorância, porque deve chegar à meta marcada pela Providência: ele se esclarece pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas ideias, elas germinam durante séculos, depois, de repente, estouram e fazem ruir o edifício carcomido do passado, que não está mais em harmonia com as necessidades e aspirações novas.
O homem muitas vezes vê nessas comoções apenas a desordem e a confusão momentânea que o atingem em seus interesses materiais; aquele que se eleva pelo pensamento além do pessoal, admira os desígnios da Providência, que do mal faz surgir o bem. É a tempestade que purifica a atmosfera, depois de tê-la agitado.” (Tradução minha)

Entretanto, foi no século XX, que um elevado espírito, aliás chamado Mahatma (grande alma), deu um exemplo maravilhoso de uma atuação política, para transformação social, na luta contra a injustiça, por caminhos da não-violência, comprometido ao mesmo tempo com seu próprio aperfeiçoamento espiritual e com a elevação moral do povo. Gandhi foi passo a passo, como conta em sua autobiografia, construindo uma forma de atuar no mundo, para mudá-lo, sem render-se ao ódio, ao desespero e sem a alienação, muitas vezes característica, de alguns líderes espirituais. Unindo fé e política, autoconhecimento com a trilha da não-violência, ele deixou a mensagem de que só conquistamos a devida força moral, social e mesmo política (num sentido muito amplo e não partidário) se conquistarmos ao mesmo tempo a nós mesmos. Mas ele também se deparou com o rugir das paixões, o estouro da violência, da guerra civil, de seus compatriotas, pagando com a vida o seu empenho de dialogar com todos e não odiar ninguém.
Fica porém esse aprendizado para nós: guardemos serenidade nas lutas justas em que nos empenhemos no mundo. A oração é uma força essencial para isso. Assim nos ensinaram Jesus e Gandhi. Cuidemos de nosso mundo íntimo, para não nos rendermos ao ódio, que é um grau degenerado de indignação. E enchamo-nos de compaixão para com todos. Porque todos precisam dela.

Dora Incontri 

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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Se o assassinato de Jesus resgatou nossos pecados, pecado paga pecado!


A morte vicária de Jesus na cruz significa que seu sofrimento foi muito agradável a Deus, e, em consequência disso, os pecados da Humanidade, que tanto teriam ofendido a Deus, teriam sido resgatados ou pagos. Isso é o que tenho chamado de teologia de sangue.
O pecado faz sofrer nosso próximo e, por consequência, de acordo com a lei inexorável bíblica e universal de causa e efeito, faz-nos sofrer também, pois a cada um será dado de acordo com suas obras. (Mateus 16: 27). E ninguém deixará de pagar tudo até o último centavo. (Mateus 5: 26). Isso quer dizer que, quando pagarmos o último centavo de nossas faltas, estaremos quites com a lei de causa e efeito e, portanto, não vamos pagar mais nada, o que derruba totalmente por terra as chamadas penas eternas no sentido como foram entendidas, erradamente, pelos teólogos cristãos antigos e ainda por um grande número dos da atualidade.
As exceções dos que não aceitam essas ideias absurdas incompatíveis com o Deus Verdadeiro de amor infinito e irrestrito para com todos os seus filhos (Atos 10: 34) são dos teólogos cristãos espíritas e de uma minoria de avançados teólogos católicos e protestantes. E os cristãos ainda mais agarrados a essas ideias de um Deus pagão, sofredor, de terror e vingador, com suas penas infernais sempiternas, são os nossos irmãos evangélicos. Aliás, muitos pastores, não todos, usam essas penas infernais como meio de amedrontar seus fiéis e, assim, pegarem mais dízimos deles.
Todas as religiões recebem influências de outras. O cristianismo as recebeu dos judeus antigos, que, por sua vez, receberam as dos fenícios, caldeus e outros povos antigos da região do chamado Oriente Médio.
Essas ideias de um Deus que sofre com as nossas faltas e de ser Ele um castigador vingativo cruel e antropomórfico (de natureza humana) originaram-se dos deuses ou espíritos humanos desencarnados que se comunicavam através dos médiuns (na Bíblia, profetas), deuses esses que foram erradamente tidos como sendo o próprio e verdadeiro Deus. E esses deuses ou espíritos desencarnados são confirmados pelo próprio Jesus: “Vós sois deuses” (João 10: 34). Entre esses deuses há os bons, os mais ou menos e os maus e enganadores. Daí João Evangelista nos recomendar que examinemos os espíritos para sabermos se são bons ou maus, para que não venhamos dar crédito aos que são maus. (Primeira Carta de João 4: 1). É por isso que Moisés, também, até proibiu a comunicação com os espíritos desencarnados (Deuteronômio capítulo 18). Mas ele elogiou os médiuns (profetas na Bíblia) esclarecidos, verdadeiros e não mercenários Medade e Heldade, os quais recebiam espíritos bons e profetizavam. (Números 11: 24 a 30).
Deus não sofre com os nossos pecados, além de Ele não ser um espírito atrasado vampiro, que se deleita com sangue derramado e menos ainda com sangue humano. Que Deus seria esse? Essa teologia, além de ser absurda, leva muitos ao ateísmo!
Os deuses ou espíritos humanos evoluídos não ensinam a teologia de sangue nem que Deus sofre com os nossos pecados vingando-os de modo exagerado e, pois, injusto, e menos ainda esses espíritos humanos evoluídos ensinam o absurdo de que um pecado como o do assassinado de Jesus anula nossos pecados!

José Reis Chaves

Prof. de português e literatura aposentado formado na PUC Minas / Escritor e jornalista colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte / Palestrante nacional e internacional espírita e de outras correntes espiritualistas / Apresentador do programa “Presença Espírita na Bíblia” da TV Mundo Maior / Participante do programa “O Consolador” da Rádio Boa Nova / Tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Kardec, para a Editora Chico Xavier. E autor dos livros, entre outros, "A Reencarnação na Bíblia e na Ciência" e "A Face Oculta das Religiões", Editora EBM, SP, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Podem-se ler também as matérias da coluna de José Reis Chaves em O TEMPO, de Belo Horizonte, no seu facebook e no site desse jornal: www.tempo.com.br / Procurar colunistas. No final das matérias, há um espaço para comentários dos leitores, espaço este que se tornou um verdadeiro fórum de religiões. E qualquer um pode deixar seu comentário lá. Se não quiser que seu nome apareça, use um pseudônimo. E seu e-mail nunca aparece lá.
Obs.: Se meus livros não são encontrados em sua cidade, eles podem ser adquiridos diretamente comigo por meu e-mail ou telefone. Telefone: (31) 3373-6870

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sentido relativo


O ano de 2015 motivou a família espírita mundial a comemorar, com alegria, os 150 anos de lançamento da obra O Céu e o Inferno, que estuda a Justiça Divina à luz do Espiritismo.  Não é para menos, a obra é mesmo uma preciosidade, face aos esclarecimento de seus textos, enriquecido que estão por depoimentos colhidos e selecionados por Kardec apresentando a situação dos espíritos no plano espiritual e constantes da 2ª. parte da obra.
O livro é um desdobramento do Livro Quarto de O Livro dos Espíritos, constituído de dois capítulos e estendendo-se da 920 à última questão da obra que deu origem ao Espiritismo.
E é exatamente em O Livro dos Espíritos, na questão 1009, incluída no subtítulo Duração das penas futuras, que encontramos o questionamento de Kardec: “(...) as penas impostas não o seriam jamais pela eternidade?”.
É que a velha crença do castigo eterno borbulhava na mentalidade humana e hoje já se verifica – embora haja posicionamentos ainda presentes nesse sentido – que a ideia do sofrimento eterno era história ingênua para uma época de infância da mentalidade humana. Aliás, diga-se de propósito que o livro O Céu e o Inferno adentra a questão com sabedoria e profundidade.
O que nos chama atenção, todavia, é que a questão em referência mereceu respostas de quatro sábios espíritos: Santo Agostinho, Lammenais, Platão e Paulo, o Apóstolo, e ainda está acrescido com texto complementar de Allan Kardec, o Codificador.
Nosso objetivo é chamar a atenção do leitor para buscar a questão e suas lúcidas respostas, para estuda-las e juntos ampliarmos nossas reflexões, face à sabedoria das considerações apresentadas, o que seria impossível aqui no contexto de breve abordagem, pois as respostas compõe material para um congresso de espiritismo só sobre a questão 1009. Todavia, destacamos trechos preciosos a seguir:

a)      De Agostinho: “(...) Não há contradição em atribuir-lhe a bondade infinita e a vingança infinita? (...) Ele não seria bom se consagrasse penas horríveis, perpétuas, à maior parte de suas criaturas. (...) não é o sublime da virtude, unida à bondade, fazer depender a duração das penas aos esforços do culpado para se melhorar? (...)”. Refere-se o autor à bondade de Deus, naturalmente, indagando, inclusive, o que seria a duração de uma vida de cem anos, em relação à eternidade e mesmo considerando que interroguemos o bom senso se haveria lógica na condenação perpétua por alguns momentos d erro. Sugiro ao leitor meditar na resposta, lendo-a na íntegra diretamente na fonte;
b)      De Lammenais: “(...) Filhos pródigos, abandonai vosso exílio voluntário; voltai vossos passos para a morada paterna: o pai vos estende os braços e mantém-se sempre pronto para festejar vosso retorno à família.” Isso após pedir que nos interessemos pelo combate por todos os meios para destruir a ideia da eternidade das penas, pensamento contrário à justiça e à bondade de Deus;
c)      De Platão: “Guerras de palavras! (...) Não sabeis, pois, que o que entendeis hoje por eternidade, os antigos não o entendiam como vós? (...) é no sentido relativo que importa interpretar os textos sagrados. A eternidade das penas, portanto, não é senão relativa e não absoluta. (...) Só Deus é eterno e não poderia criar o mal eterno; sem isso seria preciso arrancar-lhe o mais sublimes dos seus atributos: o soberano poder, porque não é soberanamente poderoso quem pode criar um elemento destruidor de suas obras (...)”. Magnífica a resposta de Platão, que endereçamos ao leitor;
d)      De Paulo, o Apóstolo: a resposta do espírito é tão grandiosa que comporta uma abordagem exclusiva e fornece material para amplo estudo. Destacamos, todavia, uma única frase, já no início da resposta: “Gravitar para a unidade divina, tal é o destino da Humanidade. Para alcança-lo, três coisas são necessárias: a justiça, o amor e a ciência; três coisas lhe são opostas e contrárias: a ignorância, o ódio e a injustiça. (...)”. Gravitamos todos em torno de Deus, que é causa de tudo e, incrível e extraordinário, é pensar que Deus é unidade na diversidade que criou, estando em tudo. É o que mais precisamos aprender: enxergar a paternidade divina! E vemos lá, assinalado pelo espírito o que é necessário e o que é o oposto. Considere o leitor os desafios da atualidade e não será difícil perceber os caminhos a que somos convidados a trilhar e mesmo os desafios de enfrentamento natural por força de nossa atual condição evolutiva.

Por isso a velha questão das penas é meramente relativa! O grau de responsabilidade varia de acordo com o conhecimento e não há castigos ou punições, há apenas consequências. O “gravitar” citado por Paulo inclui o esforço pessoal que precisa ser feito para alcançar os propósitos da evolução. Aprisionarmo-nos no medo ou na crença dos castigos eternos é travar esse esforço. É, pois, no sentido relativo que devem ser entendidas as chamadas penas impostas em sofrimento no equivocado entendimento do chamado inferno, pois que os sofrimentos e aflições aplicáveis em situações de lesões ou desrespeito às Leis de Amor que regem a vida e o Universo, nada mais são que meras consequências e nunca castigo. Consequências naturais geradas pelo desamor, pela desarmonia ou pelo desrespeito ou indiferença às Leis de Deus. E a própria aplicação da palavra eternidade é resultado da relatividade do conhecimento no tempo. Não somos eternos, somos imortais. Eterno é atributo de Deus. Nós, seus filhos, suas criaturas, somos imortais. Nunca teremos fim, mas fomos criados um dia, tivemos um início. Por isso devemos entender as questões dentro de sua relatividade.

Orson Peter Carrara

domingo, 22 de novembro de 2015

Crônicas da vida invisível: a resposta de Iohan


Nalgum lugar do maravilhoso livro de Roberto Cabral, O Violinista de Veneza, se explica que a vida por vezes nos encurrala, via aparentes "coincidências", com mudanças necessárias de pensamentos, de iniciativas, a fim de nos conduzir a um estado de felicidade espiritual mais pleno. Em poucas vezes deparei noutras leituras tamanha expressão da verdade! 
De uns quatro dias para cá eu andava encantada depois de assistir à versão cinematográfica da obra-prima de Victor Hugo, Os Miseráveis. Porque, como apreciadora de literatura, me confirmo fã incondicional do legendário poeta e escritor francês, desde os tempos em que, cursando a faculdade de Letras, escancaram-se ao meu acesso os grandes clássicos literários universais! 
Paralelo a isso, eu contava já de há mais de um mês com uma extensa fila de livros novos para ler. Mas o começo de ano corrido, em ritmo frenético com férias, viagens, taxas a pagar, entre outra extensa série de compromissos, acabou por me empurrar involuntariamente este prazer para um momento mais pacificado. Ainda porque, em se tratando de obras de teor espírita, necessito particularmente de estado de espírito condizente e atmosfera propícia para a devida assimilação do conteúdo, desfrutando, deste modo, da leitura assim como acontece quando sorvemos aos poucos uma aromática xícara de café! 
Ontem, uma sexta-feira, sentindo chegado enfim um momento adequado, olhei para a sacola da livraria ainda do mesmo jeito guardada sobre a escrivaninha, com os livros. Já tinha me ocorrido no mesmo dia umas duas vezes a ideia de começar com a citada obra de Roberto Cabral, obviamente comprada em sintonia espontânea com a aura que, de tempos a esta parte, me cerca desde que se iniciou minha parceria mediúnica com Iohan, o querido músico das esferas invisíveis que fora violinista em mais de uma de suas reencarnações anteriores. Até aquele momento, portanto, apenas intuindo que possivelmente ele tivesse participado da influenciação à compra do livro, meio a meio com minhas próprias inclinações, tomei-o para ler e, ignorando a programação enfadonha da TV, joguei-me gostosamente no sofá da sala, começando. E não consegui mais me separar da leitura! Por razões que impressionavam! 
Precisaria narrar detalhadamente o conteúdo do livro para melhor explicar, mas, para os fins deste artigo, resumo que trata-se da história de um professor de violino que, na Europa do século XIX e em Veneza, se vê afastado de seu grande amor, a menina dos olhos de anjo e sua aluna, por causa da sua resistência teimosa em não aceitar ou, ao menos, não querer investigar com isenção os fenômenos mediúnicos das mesas girantes que avassalavam a Europa naquela época, principalmente a partir da França, quando - vejam, Victor Hugo! - em pleno tempo de exílio, se dedicava com fervor ao estudo de todos estes fatos, promovendo, ele mesmo, as reuniões com as mesas! 
Ora, conforme eu ia lendo, lembrava-me também do nosso próprio romance, lançado ano passado, Sonata ao Amor, contando o drama sofrido de Iohan em sua última reencarnação: um professor de violino vitimizado pela prova dolorosa de ser um portador do HIV, e toda a sua luta ao apaixonar-se por uma aluna, tendo que enfrentar os preconceitos da sociedade, e encontrando, junto a ela, a redenção de seus dilemas, ao deparar as explicações situadas todas nos episódios trágicos de suas vidas anteriores! E comecei a desconfiar que o querido mentor de nossas atuais parcerias literárias, de caso pensado, me havia conduzido a esta obra inspirada, de Roberto Cabral, a fim de ainda uma vez ilustrar como tudo é encadeamento e simbiose de intenções quando nos dispomos a trabalhar na missão de divulgação das verdades maiores da vida, sem esmorecimentos, o que vez ou outra ameaça o médium mergulhado nas canseiras e compromissos que o enredam em várias frentes durante sua trajetória material! E após ler, empolgada, a passagem na qual o protagonista, Antônio, promove voluntariamente uma breve sessão mediúnica de confirmação da presença de um Espírito em sua casa, a partir de perguntas respondidas com pancadas, me ocorreu, ao me recolher para dormir ontem, pedir o mesmo ao meu paciente amigo da invisibilidade. Queria dele, ainda uma vez, a bondade de uma confirmação da sua influenciação naquele caso, para não ficar dada a achar se tratar de uma coincidência sem cabimento, e, diga-se, grandemente desanimadora, quando tantos detalhes concorriam para me comprovar exatamente o contrário! Assim, encerrei-me em meu quarto perto da meia-noite, e me coloquei em estado de prece e concentração. 
No entanto, empolgada pela iniciativa de improviso, e momentaneamente esquecida de que cada mentor nos acessa em dependência direta da sintonia com os recursos fluídicos do próprio médium, cometi o equívoco de solicitar dele um tipo estrito de resposta no formato do que promoveu o protagonista do livro. Pedi que, se fosse de fato verdade a sua presença e influenciação para ler justo aquela obra, com intenção benéfica de incrementar certezas apaziguadoras na sua medianeira, a fim de darmos continuidade tranquila aos nossos projetos de futuro, que desse uma pancada leve no quarto, em sinal de "sim". Mas passaram os minutos, para minha decepção, no mais franco silêncio! 
Todavia, antes de me abandonar a um estado de desânimo absoluto, após repetir inutilmente a solicitação mal refletida, ocorreu-me mergulhar de novo em prece fervorosa a Jesus, renovando meu pedido, mas de modo diferente. Atinei para o fator importante de que devem prevalecer nestas vivências o sentido de utilidade real, o que só é bem avaliado a partir da ótica de cima dos mentores. Atinando com o meu engano, disse a Iohan que entendia que talvez meu modo de pedir fosse equivocado, e mesmo o propósito ou o momento em que solicitava dele este favor. E que, então, se lhe fosse possível me responder com o mesmo "sim" de forma mais apropriada aos meus recursos mediúnicos, que o fizesse por influenciação mental, como costuma se comunicar comigo. Ou através de sugestão ocasional à minha filha, naquele instante ainda acordada em seu quarto, ou ainda a meu pai - atualmente residindo em Aracaju - para enviar-me uma mensagem qualquer pelo celular. E eu entenderia aquilo como uma confirmação condigna! 
Pois não se passaram cinco minutos desta nova solicitação, amigo leitor, e ao meu lado na cama, no escuro do quarto, soou o celular com duas mensagens de meu pai, versando sobre assuntos cotidianos! 
Eis, portanto, e oferecida de maneira maravilhosa, encantadora, a resposta deste outro exímio violinista da vida invisível e um de meus mentores! A confirmação tão ansiada!
A resposta de Iohan!

Christina Nunes
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

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