quinta-feira, 21 de maio de 2015

A semente do homem de bem


Certa feita, em uma reunião de início de ano de um trabalho assistencial que contava com quase trinta anos, determinado dirigente, que labuta desde o início naquela seara, comentou em tom avaliativo que o trabalho de evangelização infantil rendera frutos naquele longo período, pois entre outros sinais, verificava-se que os meninos que frequentavam aquela casa espírita, incrustada em uma comunidade carente, repleto de tensões e pressões, não tinham bandeando para o caminho da criminalidade. 
Difícil avaliarmos os frutos dos trabalhos espíritas nas plagas assistenciais, com pessoas que se abeiram ali muitas vezes à busca apenas da cesta básica que será pega em outra denominação no dia seguinte... Difícil, pois temos carência de material didático voltado a pessoas de baixa escolaridade e de produção literária que nos ampare a lidar com famílias em condições de vulnerabilidade, às vezes refletidas em desagregações familiares com o alcoolismo e outros problemas comuns a comunidades carentes, em especial na cidade do Rio de Janeiro, e suas mazelas já conhecidas. 
Ainda que muito frequente na prática, os trabalhos assistenciais não gozam de uma discussão robusta e de produção que os permitam avançar sobre os paradigmas vigentes, com raras e valorosas colaborações que surgem por aí... Essa falta de discussão, por vezes, nos leva ao desânimo e à valorização do “bem quantitativo”, refletido na soma de benefícios distribuídos, de forma descontextualizada, social e espiritualmente. 
A evangelização infantil, comum em trabalhos de natureza assistencial, necessita de uma discussão profunda sobre currículo, pressupostos, abordagens e visões pedagógicas que percebam ali, em sala de aula, Espíritos, em verdade imersos em um ambiente de carência material, mas Espíritos sequiosos de conhecimento que os console, liberte e ampare. 
Nesse contexto, temos, sim, objetivos programáticos de melhoria a um longuíssimo prazo daquele grupo humano, ainda que nos vejamos, ocasionalmente, frustrados pelas forças presentes na capacidade de perpetuação de hábitos tristes, como a gravidez precoce, constantes a cada geração, em um ciclo de difícil rompimento. Mas a feliz fala desse amigo dirigente nos aponta para interessantes indicadores de nossos trabalhos espíritas no campo da infância, na percepção da importância de plantarmos as sementes do homem de bem, em qualquer espaço, seja ele carente ou não no campo material. E o homem de bem se fará percebido no futuro! 
Jesus na parábola do semeador fala que um homem saiu a semear, a espalhar sementes por diversos terrenos, que, diante das diversidades, buscavam crescer. Todas falharam, mas a que “caiu em boa terra, deu boa colheita, a cem, sessenta e trinta por um”, indicando-nos uma profunda reflexão que pode nos servir ao direcionamento das finalidades de nossos trabalhos assistenciais. Uma reflexão do nosso papel de semeadores e do crescimento no ato de semear. 
Amparamos aquelas famílias materialmente pela bolsa, pelo material escolar, pelas roupas... Buscamos instrumentalizá-las a caminhar sozinhas pelas oficinas, que possam com dignidade permitir a elas ganhar algum dinheirinho... Apoiamos as suas iniciativas no campo escolar, pretendendo que a nova geração transcenda a miséria material da anterior. As abordagens assistenciais clássicas aqui estampadas cuidam do emergencial, da impossibilidade de se falar de Jesus para quem tem fome, mas necessitam de um complemento, de um pão mais sublime, que emancipe espiritualmente aquelas pessoas, na reflexão de sua condição de Espíritos encarnados, na chamada resignação produtiva, que converte dor em amor. 
Insta desenvolver, com igual força, as nossas atividades doutrinárias nos trabalhos assistenciais, a evangelização, a palestra, o estudo, que para além de um caráter proselitista e catequizador, visem, por meio dessa interação, diria “filosófica", trabalhar valores morais, pela ótica da imortalidade da alma e da reencarnação, levando aos chamados, erroneamente a meu ver de assistidos, uma reflexão que os permitam adotar disposições renovadas, diante das provas da carência material e dos desafios morais da vida encarnada. 
A atividade de discussão, de interação intelectual-moral na área assistencial, tem um caráter emancipador, que liberta aqueles Espíritos de armadilhas morais, indicando o caminho do estudo, do trabalho e do esforço na superação de suas dificuldades e apontando que a dor é uma mola para despertar o nosso amor. E nessa construção, nós, ditos trabalhadores, amadurecemos, pois a falação bonita e vazia não encontra eco diante dessas dores, nos fazendo amadurecer na vivência do Cristo. 
A parte boa do trabalho atinge a todos os atores, como oportunidade bendita de amadurecimento e reflexão, representando muito mais do que ir lá ensinar o evangelho para as pessoas pobres. O pão material que dá o peixe, a oficina que dá a vara e ensina a pescar são polos fundamentais da equação da assistência... Entretanto, a discussão doutrinária, o fortalecimento filosófico, lastreado pelos pilares da doutrina espírita, traz a reflexão que faz a pessoa entender o peixe, a vara, o rio e os seus braços, convertendo todos em pescadores de almas, como disse Jesus. Não queremos fazer daquelas pessoas espíritas no sentido de que elas leiam avidamente as obras básicas e tenham um conhecimento formal. Necessitamos de uma abordagem pedagógica que mostre esse conhecimento espírita na prática, no mundo concreto, sentido, como forma de espalhar as sementes em cada coração, tornando-os sim, eles e nós, pessoas melhores, fim maior. 
Essa abordagem robustece a bolsa e a oficina, contribuindo para um caráter consolador, diante da dor, é verdade, mas também de superação, fazendo que a pessoa venha à busca do alimento e saia com a sua alma revigorada, com novos horizontes. Para isso, precisamos nos adaptar... Nossas palestras, nossos estudos, nossos currículos, para que vejam nesse contexto a melhor forma de passar o Espiritismo e todo seu valor transformador de atitudes, em sua expressão mais simples, nesses trabalhos, em especial na infância. 
A reencarnação liberta, pois mostra a nossa situação como transitória e que pode mudar pelo esforço cotidiano, na busca de construir o homem de bem naquele espírito imortal que hoje enverga uma roupagem de carência. O livre-arbítrio, a prática de bem são valores espíritas que possibilitam construir uma vida melhor, em um sentido amplo. Tesouros morais que podem e devem colaborar na superação de situações de carência material, fortalecendo aqueles Espíritos na sua prova, buscando a senda do bem. 
Fica a reflexão para os que trabalham na seara espírita na evangelização de crianças que padecem de miséria material e que por esta são influenciadas, sim, no aspecto moral, podendo essa dor servir de trampolim que as impulsione ou de buraco que as afunde. Para além do peixe que mata a fome, demandamos ouvir o convite de Jesus no chamado milagre dos peixes, para falar de pães e peixes que se multiplicam e aplacam a fome do espírito. 

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil) 

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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Grandes lutas e um refrigério


“Na época atual da Terra, quando crises morais agitam a sociedade, tentando a extinção do respeito a Deus e, portanto, a extinção do sentimento mais elevado que poderá enaltecer o coração humano, será bom que o espírita zele por suas crianças, preparando possibilidades futuras para a sua salvaguarda moral-espiritual. (...) 
 Concedendo permissão para que livros educativos do coração e do caráter sejam ditados do Além aos médiuns, visando à orientação à criança, Jesus, certamente, inspira-nos o raciocínio de que as verdades celestes deverão se acatadas seriamente pelo pequenino de hoje, a fim de que o adulto que ele será amanhã compreenda a responsabilidade que o aprendizado da Doutrina Espírita e do Evangelho cristão encerra. (...) 
Os Espíritos celestes, prepostos do Senhor para futuras realizações no planeta, contam com a criança de hoje, cidadão futuro, reencarnado com tarefas definidas na comunidade espírita. Que, pois, nós outros, responsáveis pelas crianças, cuidemos delas com inteligência e vigilância para que nós mesmos não caíamos no demérito de haver negligenciado a seu respeito, dando-lhes o ensino sublime da verdade por entre as inconsequências das nossas próprias incorreções e ideias pessoais.” 
O texto acima, em transcrição parcial, está datado de 03 de outubro de 1967, foi psicografado por Yvonne do Amaral Pereira e está assinado pelo Espírito Adolfo Bezerra de Menezes. Consta do livro As Três Revelações, lançamento da FEB Editora, e está como Introdução da citada obra. 
A conhecida médium (1900 – 1984), de reconhecido conteúdo doutrinário – onde se inclui, além do conhecimento, a fidelidade aos princípios da Doutrina Espírita –, tendo deixado importante legado de contribuição doutrinária para a vivência espírita, tinha ainda livros inéditos a serem lançados e esse no qual buscamos o trecho acima, é um dos lançamentos recentes da FEB. 
Apresentado na forma de um diálogo entre o avô e três netos, mas recheado de ensinos e esclarecimentos, a obra é muito rica em orientações, incluindo primorosa seleção de trechos da Codificação e mesmo das anotações do evangelistas. 
Com a transcrição parcial da Introdução, quisemos motivar o leitor e mesmo o movimento espírita – entre os pais e educadores que atuam nas instituições – ao conhecimento da obra, de reconhecida didática facilitadora na transmissão dos ensinos vivos do Espiritismo aos nossos pequenos. 
O nome Yvonne do Amaral Pereira já é, por si só, uma referência de valor expressivo e o conteúdo da obra falará por si. É um autêntico refrigério nesses momentos de grandes lutas e crise moral em que se debate a humanidade.
Nosso maior compromisso atual é, pois, com a educação. De nós mesmos, especialmente, para que sejamos autênticos transmissores das virtudes cristãs às crianças, futuros cidadãos do planeta, capazes sim de alterar o panorama difícil de corrupção e violência – oriundo, sem dúvida, de uma falha na educação nos adultos atuais. O carinho, a atenção e os cuidados com a educação são os elementos vitais para adultos equilibrados amanhã.

Orson Peter Carrara
orsonpeter92@gmail.com
http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/2015/05/grandes-lutas-e-um-refrigerio.html 

Imagem do livro

segunda-feira, 11 de maio de 2015

“A melhor coisa que não me aconteceu.”


Não. O articulista não está passando mal. A frase do título acima não é de minha autoria. Segundo consta, ela foi dita por Clive Owen quando não conseguiu o papel para representar no cinema o famoso James Bond. Por ter perdido a representação desse herói famoso por seus “milagres” nos filmes, acabou conquistando coisas melhores.
Com você já se passou o mesmo? Ou seja, você não conseguiu realizar determinado sonho e, tempos depois, concluiu que foi melhor que tivesse sido dessa maneira? Por exemplo, não conseguimos realizar uma viagem planejada e acalentada por muito tempo. Entristecemos-nos no momento do acontecimento. Mas, depois, com o rolar do calendário dos homens paramos e dizemos a frase: “Foi até melhor não ter viajado mesmo!”. Ou, então, um carro ou um imóvel que não adquirimos. Na ocasião nos sentimos frustrados, tristes mesmos. Mas, depois, um dia lá na frente concluímos que não ter entrado na posse desse ou daquele bem material foi até melhor. É difícil aceitarmos esse raciocínio, não é verdade? Mas que acontece, acontece. E se é difícil aceitar tais acontecimentos em relação aos bens materiais, quando se trata dos valores espirituais é um “Deus nos acuda”! No livro Encontros e Desencontros, de Richard Simonetti, tem uma história intitulada O Bem Maior, que relata o drama de uma senhora que demorou muito para engravidar. Após os devidos cuidados, finalmente teve sucesso na realização do seu sonho! Iria ser mãe. Agradeceu profundamente aos Espíritos amigos pela intercessão na solução do seu problema de esterilidade. Quando a gravidez ia pelo quinto mês de gestação, ela recebe um recado através de uma pessoa do Centro Espírita que frequentava: a espiritualidade amiga iria visitá-la em uma determinada noite para o devido trabalho de assistência que a gravidez necessitava. Ela ficou imensamente feliz! Tinha certeza de que os Espíritos continuavam zelando para que ela realizasse o desejo imenso de ser mãe. Em uma determinada noite acordou com muita cólica no baixo ventre. A bolsa amniótica que protegia o feto havia se rompido e ela entrara em trabalho de parto prematuro. Ficou extremamente infeliz e, como sempre acontece, interrogou mentalmente os Espíritos que precisam ter ombros largos para receber a culpa dos problemas que nos afligem: “Afinal - pensava ela -, os amigos espirituais não iriam visitá-la em uma determinada noite para auxiliá-la?” “Pois, então! - continuava protestando intimamente – “como podia ter a bolsa se rompido e colocado em risco a vida do filho que era o seu sonho maior? Que espécie de ajuda vieram os Espíritos prestar, afinal de contas?”. Ao chegar ao hospital recebeu os socorros necessários e o parto acabou realmente se concretizando. Perdera o filho que tanto desejava. Entretanto, o médico, após o exame do produto daquela gestação precocemente expulso do útero, deu-lhe a notícia de que o filho já estava morto há muitos dias dentro do seu ventre e necessitava dali ser retirado. Pôde ela entender (o que já é uma vitória!) que os Espíritos tinham vindo intervir favoravelmente em uma situação irremediável. 
Tenho a mais absoluta certeza de que, ao retornarmos ao mundo dos Espíritos, olhando para trás, principalmente contemplando a última reencarnação à semelhança de alguém que alcançou o pico de um monte e olha para o vale, teremos que agradecer a Providência Divina pelas coisas que julgávamos melhores e que jamais nos aconteceram. Por exemplo, milhares de criaturas ou até mesmo milhões delas, adentram as casas de loteria em geral com o sonho dourado de ser um feliz ganhador. Você duvida que algumas delas, ou muitas, suplicam a ajuda dos desencarnados para adivinhar qual o bilhete que vai ser premiado ou quais os números que irão anunciar um novo milionário? Já pensou no que faríamos com a tentação de milhões ganhos de maneira tão fácil? Quantas portas para o desequilíbrio que esse dinheiro poderia abrir dependendo, é claro, da opção particular de cada um? Na questão de número 1001 de O Livro Dos Espíritos, encontramos a seguinte afirmativa em um determinado trecho da resposta: Deus, submetendo-o à prova da fortuna, tão difícil e tão perigosa para o seu futuro, quis lhe dar por compensação a felicidade da generosidade da qual ele pode gozar desde este mundo. Aí está de maneira bastante clara que o dinheiro é uma prova difícil e perigosa. Então, a melhor coisa que pode ocorrer para a imensa maioria dos que buscam a fortuna através desse tipo de jogos é exatamente não acontecer de ganharem. Perdem os bens materiais, mas não se comprometem moralmente como poderia ocorrer com o dinheiro farto nas mãos. 
Da mesma maneira poderíamos ir construindo raciocínio semelhante com os títulos de importância do mundo, com a beleza física, com a grande cultura da pessoa, com a posição social importante e tudo o mais que a imaginação de cada um pode considerar. Com os ensinamentos da Doutrina Espírita temos a oportunidade, desde já, de chegar à conclusão de que a Providência Divina agiu em nosso favor quando a melhor coisa que não nos aconteceu foi exatamente aquela que não se deu segundo a nossa vontade, mas de acordo com a determinação Dele. Aliás, não é isso que um número imenso de pessoas repete todos os dias na oração do Pai Nosso, sem se dar conta?

Ricardo Orestes Forni
Tupã, SP (Brasil)

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sábado, 2 de maio de 2015

A recompensa pelo esforço


“Quem desejar a bênção divina, trabalhe para merecê-la. O aprendiz ausente da aula não pode reclamar benefícios decorrentes da lição.” (Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, item 100, psicografia de Francisco C. Xavier.)

Acostumado a privilégios e a favorecimentos na Terra, quase sempre sem merecimentos, segue o homem pela vida acreditando que pode também negociar com Deus, dentro da lei do menor esforço, ou ainda, escorado na ideia de levar vantagem em tudo. Sem declinar reflexões para com as coisas nobres, sublimes e realmente belas, ilusoriamente pensa que o mundo lhe dará o que anseia, gratuitamente.
Deseja ardentemente as benesses dos “céus”, sem movimentar qualquer esforço pessoal no sentido de dar a sua cota de participação saudável, no contexto social em que vive. Busca encontrar benefícios para si e, quando muito, para os seus familiares e amigos, sem ideia de universalidade, não vendo irmãos além dos afetos que acalenta.
Cultuando o egoísmo, carrega consigo a vontade forte de ser feliz, desconhecendo que a felicidade somente será possível, em nosso âmago, quando a plantarmos no coração do próximo. 
E, quando percebe que seus sonhos e metas não são atingidos, pois que em oportunidades variadas busca pelo impossível ou pelo irrealizável, desespera-se, caindo em profundas prostrações que se incumbem de aniquilar-lhe os melhores propósitos, propiciando o aparecimento de processos depressivos ou de inatividade, geradores de incomensuráveis quadros de sofrimentos. 
Informa-nos a sabedoria do Espírito Emmanuel que se pretendemos ter a justiça divina do nosso lado, que lutemos por merecê-la, e isso, obviamente, não chegará sem que saiamos a procurá-la, uma vez que foi Jesus quem noticiou: “ajuda-te e o céu te ajudará”. 
Dessa forma, importante será que vislumbremos em nossa intimidade, buscando conhecer os recursos que temos, e dentro da lição divina dos “talentos”, conforme ensina a parábola do Cristo, tenhamos pressa em encontrar quais talentos possuímos e, não perdendo tempo, saiamos a multiplicá-los em favor do próximo, pois quem trabalha em favor do irmão do caminho, na verdade atua em prol de si mesmo, isso porque é “dando que se recebe”. 
Assim se dermos amor, logo encontraremos quem nos decline tais sentimentos, se distribuirmos caridade, não muito longe alguém estará tendo piedade pelas aflições que passamos e nos ajudará também, se oferecermos gentilezas e fraternidade, em breve a afabilidade dos outros estará nos beneficiando com a solidariedade e ternura, se ministrarmos a educação por onde passarmos, os bons tratos e as boas maneiras nos servirão por mãos amigas. Então, não resta dúvida, se desejamos a justiça divina, se pretendemos estar de posse da tranquilidade, da paz e da felicidade, primeiramente temos que implantá-las nos corações alheios. 
E, pela mesma lei, receberemos de volta também todo o mal que aos outros fizermos ou mesmo a indiferença, pois pela lei de causa e efeito, a vida nos retornará tudo aquilo que endereçarmos aos nossos irmãos, no contexto social que em vivemos. 
As sábias leis de Deus não apresentam segredos ou mistérios, tudo caminha dentro do princípio da compensação; o que fizermos no mundo, na mesma proporção receberemos do mundo.

Waldenir Aparecido Cuin
Votuporanga, SP (Brasil)

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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Aprendendo com o vento


Era um tormento que se repetia a cada dia na hora de fazer os deveres de casa: era as continhas, a leitura de um livro, as tabuadas.
Carla detestava tudo isso e era sempre com má vontade que se sentava à mesa para fazer as tarefas.

A mãezinha procurava orientá-la:

— Carla, minha filha, tudo o que fazemos de boa vontade nos pesa menos. Aproveite a ocasião para aprender e aceite o que deve ser feito, com disposição e bom ânimo.

Mas ela respondia mal-humorada:

— Não gosto de fazer tabuadas, nem continhas. Nada. Detesto estudar.
— Mas é preciso, minha filha. Há coisas das quais não podemos fugir, e quanto mais cedo as aceitarmos, melhor.

No entanto, a dificuldade persistia. Certa ocasião, Carla estava muito irritada porque teria que ler um livro de história, como dever escolar daquele dia.

Com o livro nas mãos, a menina chorou, esperneou, e não conseguiu ler. 
A mãe, que a observava de longe e viu que naquelas condições a filha não conseguiria fazer a tarefa, disse:

— Está bem, Carla. Se não quer fazer a tarefa agora, vá fazer outra coisa. Depois você termina de ler o livro. Vá varrer o quintal para mim.

— Que bom, mamãe! Ufa! Que coisa mais desagradável é ter que ler história. Prefiro varrer o quintal.

Em seguida, toda satisfeita, Carla pegou uma vassoura e foi para o quintal que se encontrava cheio de folhas secas. 
Estava ventando muito naquele dia e a alegria de Carla logo terminou. Por mais que ela se esforçasse, não conseguia terminar o serviço. O vento esparramava as folhas novamente. Tentou, tentou, e não conseguiu.

Afinal, muito descontente, entrou em casa reclamando:

— Que droga! O vento não me deixa limpar o quintal! Desisto.

Sua mãe, mais experiente, ponderou:
 
— É só uma questão de saber lidar com os problemas, filha. Temos que aceitar os obstáculos que a vida nos impõe e aprender a superá-los com boa vontade e disposição. Quer ver? Venha, vou lhe mostrar.               
Levou a menina até o quintal e mostrou-lhe que, já que não poderia vencer o vento, deveria usá-lo em seu benefício.

— Como? – perguntou a garota, surpresa.

— É simples. Em vez de varrer contra o vento, varra a favor do vento – explicou a mãe.

E assim Carla fez. Logo ela percebeu que a tarefa tornou-se fácil, agradável e rapidamente foi concluída. Juntando as folhas num canto, a menina recolheu-as com uma pá apropriada. 
Dando por terminado o serviço, a menina limpou as mãos, exclamando satisfeita:

— Puxa! Mamãe, nem acredito! Como foi fácil. Você é um gênio!

A mãe sorriu contente, completando:

— Nem tanto, minha filha. Apenas sou uma pessoa mais experiente e que já aprendeu que não adianta irmos contra os problemas da vida. Temos que enfrentá-los com coragem e determinação. Fugir das situações difíceis não nos ajudará a resolvê-las. Se tivermos boa vontade, resolveremos qualquer problema em nossa vida.

Fez uma pausa e concluiu:

— Grande parte das vezes, as coisas não são tão ruins quanto nos parecem. Depende muito da nossa maneira de enxergá-las.

Carla lembrou-se da tarefa que não tinha conseguido realizar e achou que sua mãe tinha razão. Com um pouco de boa vontade ela conseguiria. 
Calada, pegou novamente o livro de história e sentou-se para ler. Aos poucos foi se interessando pelo assunto e, não demorou muito, já tinha terminado.

Fechou o livro e foi correndo contar para a mãe:

— Terminei de ler o livro, mamãe. Sabe que não foi tão difícil assim? Ao contrário, a história era até bem interessante! Você tinha razão, com má vontade nada conseguiremos realizar.

A mãe abraçou a filha, feliz, agradecendo a Deus por ver que ela havia aprendido a lição. 

Célia Xavier Camargo
http://www.oconsolador.com.br/ano8/395/espiritismoparacriancas.html