segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
Palestina, encanto e magia
A Palestina está situada na região denominada pelos europeus
de Oriente Próximo. Sempre foi um país pequeno, com área equivalente ao País de
Gales, à Bélgica e à Sicília juntos.
Jerônimo, um dos “pais da Igreja”, que viveu longo tempo perto
de Belém e conhecia bem o país, calculou que sua extensão do Norte até o Sul
não era maior que 160 milhas romanas, cerca de 145 milhas inglesas, ou seja, a
distância, por exemplo, entre Florença e Roma.
As distâncias são mínimas. Reportando-nos ao tempo de Jesus,
por exemplo, uma viagem de Nazaré a Jerusalém podia durar dois dias.
Os israelitas conheciam bem o seu país e o amavam
profundamente. Livros inteiros do Antigo Testamento, como os Cantares de Salomão,
estão repletos desse sentimento. Os habitantes da Palestina de há mais de dois
mil anos (a maior parte da população) eram convencidos de que não se achavam
ali por acaso; de que sua presença no país possuía um significado; de que Deus
os estabelecera naquela terra.
No tempo de Salomão, estimava-se que não haveria ali um
milhão de habitantes. No tempo de Jesus, se calcularmos um total de dois
milhões, estaremos sendo generosos.
Milhares de judeus viviam fora da Palestina. Era sentida a
falta deles nas grandes festividades. Simão, por exemplo, que ajudou Jesus a
carregar a cruz, nascera em Cirene, Norte da África; nas escolas da Cidade
Santa havia muitos estudantes procedentes de todas as comunidades dispersas.
Dentre esses alunos poderíamos citar Saulo, filho de um
fabricante de tendas de Tarso, na Sicília, assistente assíduo das palestras do
rabino Gamaliel e que se tornaria o apóstolo Paulo de Tarso.
Houve, incontestavelmente, naquela época, uma emigração
judia. Em grego, o termo usado para denominá-la é diáspora, isto é, dispersão.
Onde quer que se encontrassem, as colônias judias mostravam
as mesmas características. Mantinham-se unidas, de maneira estável, viviam
perto uns dos outros, embora as autoridades gregas e romanas não fizessem essa
exigência. Em Roma, viviam em distritos diferentes.
Essas comunidades possuíam organizações especiais. Eram
democráticas e os assuntos materiais e espirituais misturavam-se. Uma reunião
servia tanto como assembleia de oração como de discussão política.
O nome do local onde era eleito o conselho de anciãos e o
chefe que deveria defender os interesses do grupo, o etnarca ou exarca, era o
mesmo que o do local em que o povo cantava os salmos. A reunião de assembleia
era denominada, em hebraico, kinneseth; em grego, sunagoge, do qual vem o termo
sinagoga.
Um país ocupado
A Palestina era um país ocupado. Os romanos dominavam
inteiramente o país, diretamente ou através de seus servos. Ao mesmo tempo,
seguiam seus costumes e permitiam que os povos conquistados continuassem sob o
regime a que eram habituados.
Para o romano, como para o grego, o Estado representava o
princípio governante essencial. A cidade-império ou o império reservava-se o
direito de impor regras aos súditos,
segundo seus interesses.
Enquanto permanecessem como instrumentos do Estado, a
religião e a adoração religiosa eram reconhecidas. Eram consideradas dever
cívico, de acordo com a fórmula estabelecida pelo Estado. Era como se César
“controlasse Deus”. Mas para os judeus, Deus é que controlava César. Por tudo
isso, os judeus do tempo de Jesus enfrentavam situações em que não se sabiam
quais os limites entre o reino de César e o Reino de Deus.
Compreende-se, dessa forma, o momento da cena em que os
oponentes de Jesus lhe perguntaram sobre a legalidade de pagar impostos às
autoridades romanas, ao que Jesus respondeu: “Dai a César o que é de César, e a
Deus o que é de Deus”.
Filhos eram bênçãos; o ensino, excelente
Na família judia, o nascimento de um filho era o mais
importante dos acontecimentos, celebrado com festas, para as quais eram
convidados parentes, amigos e pessoas que morassem nas proximidades.
Caso o filho fosse do sexo masculino, os cumprimentos eram
bastante calorosos. Em caso de primogênito, se fosse do sexo masculino, o
entusiasmo chegava ao auge.
Toda criança do sexo masculino tinha, por lei, que ser
circuncidada, oito dias após o nascimento. Judeu algum podia fugir a essa
obrigação.
Na época de Jesus, a circuncisão era tida não só como uma
marca da aliança, mas considerada como um ato de purificação ritual.
Durante a primeira semana, provavelmente no dia da
circuncisão, a criança recebia um nome. O direito de escolher o nome do filho
pertencia ao pai, o chefe da família. O nome escolhido correspondia ao nosso
primeiro nome. Os judeus não tinham sobrenome. Não significava dizer que o
sentimento familiar não era desenvolvido.
O filho recebia o nome do pai – “filho de fulano”, ben, em
hebraico e bar, em aramaico. Exemplo: João ben Zacarias, Jônatas ben Hanan,
Yesua ben José. O filho mais velho recebia geralmente o nome do avô, para
continuar a tradição de nome e distingui-lo do pai.
Educação
A criança permanecia nos primeiros anos aos cuidados da mãe.
As filhas ficavam com a mãe até o dia do casamento. Elas ajudavam nos trabalhos
da casa, carregavam água, teciam e colaboravam também no trabalho rural.
O pai cuidava dos filhos e os iniciava na sua profissão o
mais cedo possível, para que pudessem trabalhar com ele, inicialmente como
aprendizes, depois como oficiais.
A educação ficava a cargo do pai. O ensino judeu era
excelente. Os verdadeiros israelitas davam maior importância à educação moral
do que a tudo o mais. Não significava dizer que, no caso, o ensino da escola
fosse desprezado. Os rabinos diziam que ele era a base de tudo e absolutamente
indispensável.
A escola era ligada à sinagoga. As crianças, ricas ou
pobres, frequentavam-na desde os cinco anos de idade. A base do ensino era o
aprendizado da Torá (ou Pentateuco, nome dado ao grupo dos primeiros cinco
livros do Antigo Testamento). Linguagem, gramática, história, geografia eram
estudadas na Bíblia.
Esse uso exclusivo das Escrituras no ensino foi a aparente
causa de muitos rabinos negarem às meninas o direito de aprendê-las. Mas nem
todos os rabinos defendiam essa opinião. No Talmude (coleção de escritos dos
judeus, contendo explicações e tradições referentes à Lei de Moisés; foi
escrito entre o terceiro e o sexto século da era cristã) há um tratado que
impede a entrada das meninas na escola, mas esse mesmo tratado diz: “Todo homem
deve ensinar a Torá à sua filha”. A julgar por Maria, mãe de Jesus,
compreende-se que muitas meninas judias conheciam tão bem as Escrituras quanto
seus irmãos.
O Emissário divino, no coração de Israel
Jesus esteve integrado na comunidade judaica; seus pais obedeceram
a todos os requisitos da Lei, com relação à pessoa dele. O seu nome, Yesua, ou
Jesus, do qual Josué é uma outra forma, significava “Yavé é a solução”, ou
“Yavé nos salva”. Era um nome judeu bastante antigo, muito encontrado na
Bíblia.
Josué foi o nome do famoso juiz de Israel que, como consta,
fez parar o Sol em seu curso (evidentemente, trata-se de uma alegoria). Segundo
Lucas, 3.29, um dos ancestrais de Jesus também tivera esse nome.
Os pais de Jesus tinham nomes tipicamente judeus. O
patriarca, administrador do Faraó que estabelecera Israel no Egito, chamava-se
José; Maria era um nome dos mais comuns entre as mulheres judias na época.
Os nomes dos parentes de Jesus eram judeus. João (Yohanan) –
o Batista – seu primo, os pais de João: Zacarias e Isabel; Ana e Joaquim, seus
avós.
A casa em que Jesus viveu em Nazaré antes de iniciar a
divulgação de seus ensinamentos era uma habitação humilde, em forma de cubo,
como as habitações que os camponeses da Palestina continuaram construindo.
A aparência física dele era a de um judeu, como praticamente
eram todos naqueles dias: cabelos longos, barba, que não era uma exigência
necessária, cachos laterais (costeletas) – uma continuação dos cabelos nas
têmporas e que a Lei tornou obrigatórios. Suas roupas eram as roupas usadas por
todos. O Evangelho nos fala de sua “túnica sem costura”.
O Messias
De maneira geral, Israel não reconheceu Jesus como o Messias
esperado. Apenas um pequeno grupo o seguia.
A mensagem do Cristo teve certa influência e foi geralmente
conhecida na Galileia. No restante da Palestina suas repercussões devem ter
sido bastante limitadas.
Os judeus da diáspora devem ter ouvido falar dele
casualmente, pelos peregrinos que voltavam de Jerusalém. A maioria do povo
judeu provavelmente ignorava as palavras de Jesus.
Certamente a opinião pública não se entusiasmou muito e
grande parte daqueles que estavam a par dos acontecimentos não devem ter levado
muito a sério a história de um Messias em Israel.
Na época os messias eram muito comuns. Entre o nascimento do
Cristo e a queda de Jerusalém, houve pelo menos seis impostores que assim se
proclamavam.
Os que estavam mais bem informados teriam considerado a
passagem de Jesus na Terra como algo mais que um fato comum, um fait divers, muito inferior a um acontecimento de
importância nacional.
Empatia
Houve, no entanto, um sentimento de simpatia e entusiasmo
por Ele, entre o povo comum. Lucas, 19.48, diz que “ao ouvi-lo, todo o povo
ficava dominado por ele”. Lucas se referia, certamente, à multidão, à populaça,
não à classe dominante.
Os chamados “milagres” que, segundo alguns, Cristo fez
(sabemos que todas as suas curas são explicadas cientificamente) espantaram a
muitos, e muitos tornaram-se crédulos depois. Mas aos olhos dos incrédulos da
época não era sinal de que ele fosse o Messias, pois alguns dos profetas haviam
feito maravilhas que eles denominavam de “milagres”, por não terem capacidade
de as explicar.
No final de seu Evangelho, João diz: “Há, porém, muitas
outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que
nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem”.
O maior (e único) milagre que Jesus fez foi o de ter
implantado em nosso coração de Espíritos duros, imperfeitos, recalcitrantes, a
semente duradoura do seu Evangelho.
A passagem de Jesus pela Terra foi tão fulgurante que
dividiu a História da Humanidade em
antes e depois dele.
Bibliografia:
“A vida diária nos tempos de Jesus”, de Henri Daniel Rops,
1961, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, SP.
Altamirando Carneiro
São Paulo, SP (Brasil)
Imagem ilustrativa
domingo, 17 de janeiro de 2016
Prazer adiado
A disciplina (em todos os sentidos: dieta, caminhadas,
responsabilidades, compromissos, vigilância sobre o próprio comportamento,
etc.), normalmente é encarada como algo difícil e desagradável. Afinal é
difícil resistir a um sorvete ou a uma torta, à tentação de permanecer mais na
cama, a faltar num compromisso numa noite de chuva e mesmo atender à
necessidade dos cuidados com a saúde. Isso sem falar nos que não resistem às
oportunidades da desonestidade, da esperteza que prejudica outras pessoas, ao
“jeitinho” brasileiro, aos deslizes morais de toda espécie.
Resistir, todavia, é grande virtude. Não é fácil
disciplinar-se. A primeira providência é não mentirmos para nós mesmos. De que
adianta dizer que esse ou aquele compromisso é bom, agradável, quando não
sentimos prazer. Então, o oposto é dizer a verdade: não é bom, mas é necessário.
Ou, em outras palavras: preciso fazer isso. Preciso estudar, preciso caminhar,
preciso resistir, preciso disciplinar-me, mesmo adiando o prazer. Sim, porque
segurar-se em várias questões provoca adiamento do prazer que buscamos.
Adiar o prazer momentâneo, ao invés de trazer sofrimento, o
potencializa.
O prazer momentâneo da indisciplina alimentar criará
problemas para a saúde. Adiar esse prazer significa mais qualidade de vida,
mais saúde. Da mesma forma um estudante que adia o prazer de passear, namorar,
etc., potencializa o prazer futuro de se ver aprovado no vestibular. O prazer
efêmero da aventura sexual muitas vezes trará muitas “dores de cabeça” no
futuro.
Por isso pensando na disciplina que precisamos aplicar a nós
mesmos, busco a inspiração do poeta Cornélio Pires no poema Assuntos de
disciplina, que transcrevemos parcialmente:
Tema difícil — meu caro —
Pois disciplina é dever,
Mas isso, enquanto entre os homens,
Não é fácil de saber.
Se vivermos descuidados,
Deixando as horas em vão,
Surgem testes retardados
E lutas de revisão.
A prova que se recusa
É caminho a desamparo,
Ensinamento esquecido,
Mais à frente custa caro.
Todo aquele que se esquece
Do que lhe cabe fazer,
Descamba no prejuízo,
Tem sempre muito a perder.
Lembre, nos quadros da Terra
Que recordamos a dois:
Onde surge a indisciplina,
Tribulação vem depois…
Discipline, caro amigo,
Seu tempo, corpo e função…
Quanto mais ordem na vida,
Mais vida de elevação.
Orson Peter Carrara
Imagem ilustrativa
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Divaldo Franco e a Casa do Caminho
ESSE MERECE COMPARTILHAR! (Inédito no Face) Espalhe esse grande exemplo *** Divaldo Franco no Fantástico (se a opção de...
Publicado por Livraria do Espírita em Quarta, 18 de novembro de 2015
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
Vozes do outro lado da vida
A Doutrina dos Espíritos (ou Doutrina Espírita, ou
Espiritismo) é a ciência que estuda a natureza, origem e destino dos Espíritos,
bem como as relações que se estabelecem entre o plano físico e o mundo
espiritual. Como ciência de observação investiga os fatos espíritas, como
filosofia explica-os, como moral catapulta o Homem para patamares de
espiritualidade mais arejados.
Através do Espiritismo, a morte morreu, as provas da
imortalidade do Espírito apareceram e continuam a aparecer até aos dias de
hoje, através das vozes dos "falecidos" que, por intermédio dos
médiuns, demonstram a sua imortalidade.
Tais fatos sempre existiram desde que o Homem é Homem.
Allan Kardec estudou-os metódica e cientificamente desde
1857, altura em que o Espiritismo apareceu com o lançamento de "O Livro
dos Espíritos".
Nos dias que correm, são muitos os cientistas e
pesquisadores que, pelo mundo afora, investigam e confirmam as assertivas
espíritas acima referidas.
Jorge Gomes, jornalista e editor do "Jornal de
Espiritismo" (www.adeportugal.org), conferencista, escritor, já vai para o
seu 3º livro lançado pela Federação Espírita Portuguesa (FEP),estando a fazer
um notável trabalho de edição de livros espíritas de autores portugueses, bem
como reedições de livros espíritas de qualidade– de Allan Kardec, Chico Xavier,
Divaldo Franco, Raul Teixeira, Yvonne do Amaral Pereira, entre outros.
Depois da edição de "Além do Véu" e "Do pós-vida
à mediunidade", foi lançado em Portugal, recentemente, nas Caldas da
Rainha, o livro "Vozes do outro lado da vida".
Com uma encadernação muito bem conseguida, este livro é
fruto de anos de pesquisa em reuniões mediúnicas, onde o autor conversou com
pessoas já na dimensão espiritual (falecidas) que se manifestavam através de
médiuns, em reuniões espíritas, num dos centros espíritas existentes na zona do
Porto, onde o autor colabora.
Após uma contextualização inicial no primeiro capítulo, o
autor selecionou os casos atendidos, de Espíritos adoentados, acidentados,
portadores de deficiência, obsessores, religiosos, suicidas e diversos outros,
terminando no capítulo III por fazer uma síntese do que é mais importante
nestas situações, da pesquisa, da procura e respectivas conclusões.
O contato sério, metódico, honesto, rigoroso, com o mundo
espiritual, prova inequivocamente a imortalidade do Espírito.
Com um prefácio de Júlio Peres– Psicólogo clínico, Doutor em
Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia – Universidade de
São Paulo, pós-doutorado no "Center for Spirituality and the Mind -
University of Pennsylvania", pós-doutorado em "Diagnóstico de
Imagem/Radiologia Clínica - UNIFESP"– este livro destina-se a pessoas não
espíritas que pretendam entender o que se passa numa reunião de contato com o
mundo espiritual, e destina-se igualmente a pessoas que se interessem pelo
assunto, aos espíritas em geral e, particularmente, àqueles que colaboram
gratuitamente nas atividades em centros espíritas, nessas reuniões, bem como a
quem esteja a efetuar estudos de Espiritismo.
Na contracapa, o autor diz que "Depois de bem examinado
o assunto, confirma-se: a linguagem dos mundos é tão somente o amor, tal como o
entendia Jesus de Nazaré. Sem esse sentimento maior no coração, ninguém
conseguirá ter, tão cedo, olhos para a luz".
Que a obra "Vozes do outro lado da vida" nos possa
ajudar a vislumbrar esse mundo que nos espera um dia, quando largarmos o
invólucro carnal, como decorrência de um fenômeno natural – a morte do corpo
físico – que é apenas a abertura de um portal para uma nova vida, um novo
patamar existencial, na imortalidade da existência do Espírito.
Nota – O leitor poderá adquirir o livro "Vozes do outro
lado" em qualquer associação espírita que o tenha à venda, em
www.feportuguesa.pt ou ainda pelo telefone 351 - 214 975 754.
José Lucas
Óbidos, Portugal
Imagem do livro
sábado, 9 de janeiro de 2016
O retorno ao mundo espiritual
De todas as certezas que podemos
ter na vida, a morte é a mais certa delas. Inevitável... chega a qualquer hora
e em qualquer lugar, atingindo, sem pedir licença homens, mulheres, crianças,
idosos, seres vivos em geral, de qualquer idade, crença ou classe social.
O curioso, é que mesmo sabendo
ser este o destino de tudo o que é vivo, fazemos de conta que ela não existe e
que jamais irá nos atingir. Educamo-nos para a vida, mas não o fazemos para a
morte, para sua aceitação quando chegar a nossa vez ou a do outro.
Os motivos que nos levam a cruzar
o além são muitos e impostos pela forma como vivemos. Se negligentes ao
atravessar uma rua, certamente seremos atropelados; se somos hipocondríacos,
poderemos partir por uma intoxicação provocada pelo excesso de medicamentos; se
alcoólatra, partiremos por doenças que acometerão o sistema biológico como a
cirrose e assim por diante, sem esquecer a transposição pelo suicídio.
Chegaremos ao plano espiritual e
seremos amparados de modo mais ágil ou não de acordo com nossas conquistas e
nosso estado mental ditará o local onde habitaremos. Daí advém a necessidade da
educação para a morte, que implica em mudanças de atitudes e comportamentos
diante da vida.
Se morrer não é o fim, então
porque morremos de medo de morrer? A pergunta é redundante, porém necessária, e
a resposta óbvia, morrermos de medo de morrer porque não sabemos o que é a
morte e porque não nos adestramos para morrer. E a assertiva é real inclusive
para o meio espírita, que como justificativa para a falta de educação para a
morte, dizem que não sabem o que encontrarão do outro lado...
Muitos morrem, poucos desencarnam,
pois morrer é ter as sensações vitais paralisadas, mas ter o espírito em agonia
pelo passamento. Desencarnar é agradecer pelo corpo que serviu de abrigo ao
espírito em sua trajetória evolutiva e seguir sem apego àquilo que já não tem
mais funções a desempenhar. É partir livre na certeza de que a vida permanece
ativa.
O historiador Philippe Ariès,
pesquisou durante muito tempo o comportamento do homem diante da morte e mostra
que a forma como a encaramos é algo novo. As mudanças, do período medieval ao
atual foram lentas e muitas vezes não percebidas.
Na Idade Média, a morte era um
evento público que ao ser pressentida fazia com que as pessoas se recolhessem
com seus amigos e parentes para dar cumprimento ao ritual de pedir perdão pelas
faltas e transcrever o testamento onde era expresso todos os desejos inclusive
o de salvação da alma, descrevendo a forma como gostaria que fosse o velório e
o sepultamento bem como declarando os valores que seriam empregados para o
pagamento das missas em favor da própria alma e de outros que fossem lembrados.
A prática era enterrar em local
considerado sagrado, como nas igrejas para os que podiam pagar ou próximo a ela
para os indigentes. Mortos e vivos conviviam pacificamente até que os valores
começaram a mudar e o hábito de se fazer festas e feiras nos adros das igrejas
desapareceu por ter se tornado um incomodo conviver com os falecidos.
Na Idade Moderna europeia
mantiveram-se os mesmos costumes, porém a visão sobre a morte mudou e esta
passou a ser vista como algo que tirava um ente querido. Era uma transgressão
aos sentimentos, a morte de si mesmo deixa de ser temida e passa-se a recear a
morte do outro.
Para evitar o contágio com os
miasmas pestilentos da morte, surgiram os cemitérios e a família passou a ser o
foco das atenções com a adoção do luto eterno como demonstração de respeito e
de profundo sentimento pela “perda”.
Por temer a falta do outro e a
fim de evitar sofrimentos, no período Contemporâneo o estado de saúde do
moribundo passou a ser escondido deste, ele não devia saber que estava prestes
a cruzar a fronteira com o além, porém a intenção era varrer a morte da
sociedade.
A partir da década de 30 do
século XX, não mais se morre em casa e cercado de amigos e parentes, mas em
hospitais e de forma solitária. Para Norbert Elias, esta forma de morrer é
reflexo da forma como se vive nas sociedades modernas, solitariamente.
Os avanços da ciência médica
passaram a permitir o prolongamento ou não da vida, o luto também perdeu o
sentido e o pensamento de que morte chegará sempre para o outro, como dito
anteriormente, permanece vivo bem como o sentimento de que somos os únicos a sofrer
quando chega a termo a vida física de um ente querido.
Nesse percurso histórico, a morte
foi encarada como a ida para o nada e no mesmo período surge o Espiritismo
colocando por terra os dogmas explicando que para salvar-se é preciso praticar
a caridade, pois, fora desta não há salvação, o que significa, de acordo com o
Espírito da Verdade, na questão 886 de O Livro dos Espíritos: benevolência para
com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.
O Espiritismo esclarece os
meandros temidos da morte, mostrando-a como um processo natural na vida do
espírito em seu processo evolutivo. Deixa claro que apenas o corpo vira pó e
que o espírito vai encarar a jornada em um novo plano.
Muitas vezes já morremos e ainda
tememos o passar para o outro mundo, um medo justificado apenas pela falta de
estudo e de conhecimentos sobre o assunto, visto que educar-se para a morte faz
parte do processo de transformação moral do indivíduo.
Se o Espiritismo esclarece os
temores da morte e tem os mecanismos adequados que promovam uma educação neste
sentido, porque o espírita ainda treme diante de sua “aparição”? Medo do
fantasma de preto segurando uma foice, temor de que o mito da finitude seja
verdadeiro ou medo de descobrir a sua verdadeira essência enquanto espírito?
Em 1959, Chico Xavier fazia uma
viagem, de avião, que enfrentou uma grande turbulência. Em meio ao pânico
geral, Chico também começou a gritar e todos já esperavam não sair vivos.
Emmanuel o repreende dizendo que a cena demonstrava falta de fé na imortalidade
da alma.
De acordo com Kardec em O Céu e o
Inferno, o temor da morte parte do instinto de conservação do homem, necessário
enquanto não temos esclarecimentos sobre a vida após a morte e também para
impedir que sejamos negligentes com a vida corporal e, à medida que tenhamos
uma melhor compreensão sobre o seu sistema, o medo desaparecerá.
Porém, apesar dos
esclarecimentos, a morte permanece envolta em mistérios e crenças como o virar
santo. As frases direcionadas para os que partem como “olhe por nós daí de
cima”, são claras demonstrações de que ainda não sabemos o que é a morte e qual
deve ser o nosso procedimento diante do fato, mas também revela a ignorância
sobre as condições do espírito.
A morte não é uma novidade na
vida do homem, ao contrário, é um processo natural, tanto quanto nascer. Porém
nos escusarmos a entender e até mesmo a falar sobre a morte e segundo Kardec,
este comportamento não nos permite penetrar o pensamento no mundo espiritual e
por isso temos dele uma visão distorcida que impõe o medo e a falta de
informações não deixa que percebamos as condições espirituais de quem parte,
pois por melhor que tenha sido quando encarnado, poderá não seguir em paz e,
portanto não estar em condições de olhar por nós.
Cada um encontra-se em um degrau
na escala evolutiva carregando o fardo das próprias ações que determinará a
realidade da vida no mundo espiritual. Lembrando que a mente culpada projetará
sofrimentos e se afinará com outros que estiverem no mesmo patamar energético;
a mente em paz consigo mesma e certa de que viveu procurando fazer o bem e em
consonância com as Leis Divinas, granjeará benesses. Portanto, este não teme a
morte e nem procura justificativas vãs mesmo porque, sabe bem o que é o mundo
espiritual e o que lhe aguarda ao cruzar o véu.
O espírito André Luiz nos diz que
a maior surpresa da morte é nos confrontarmos com a nossa consciência, pois é a
partir dela que construímos o céu, paramos no purgatório ou nos precipitamos
aos planos inferiores.
Conforme colocou Herculano Pires,
a educação para a morte começa no exato momento em que tomamos conhecimento
dessa realidade e despertamos para uma noção profunda que nos leva a
compreender as implicações e proporções da morte, a perceber a imortalidade
como uma benção e uma oportunidade de reencontrarmos os que amamos e dar
continuidade à vida com maiores possibilidades de acerto, com liberdade e com a
consciência de que somos Espíritos.
Referências:
ARIÈS, Phillippe. História da
morte no Ocidente. Da Idade Média aos nossos dias. Trad. Priscila V. de
Siqueira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
ELIAS, Norbert. A solidão dos
moribundos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2001.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno.
Trad. Albertina Escudeiro Sêco. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CELD, 2008.
XAVIER, Francisco Cândido e LUIZ, André
(espírito). Nosso Lar. Brasília: FEB, 2014.
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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Existem Espíritos em toda parte?
“Estamos mergulhados num mar de ideias.” - Platão.
Remontando à antiga Grécia podemos ver Platão nos ensinar
que “vivemos num mar de ideias”. Vamos também estudar Paulo de Tarso quando ele
nos diz que "vivemos como que na frente de plateia de assistentes”. E
também no século passado leremos Albert Einstein quando ele diz que “vivemos
num mundo repleto de ondas”.
Sabemos que existem pessoas em toda parte e, assim como nos
diz André Luiz, as formas-pensamento estão sendo constantemente emitidas por
nós a todos os instantes. Como a vida continua e não termina com certeza no
túmulo, veremos, então, como nos ensinam os Espíritos, através de Kardec, que
há Espíritos em toda parte.
Essa mistura dos encarnados e desencarnados, essa troca de
ideias constante entre o mundo físico e o espiritual nos conduz a pensar sobre
nossas posições mentais, vigiar sempre, para não deixar as influências
espirituais nocivas nos afetarem, pois nos afirmam os Espíritos, numa das
perguntas de O Livro dos Espíritos[1]: Os Espíritos influenciam em nossas
vidas? E a resposta é objetiva: “muito mais do que vocês imaginam”. Podemos
então perceber, na profundidade dessa afirmação, como devemos realmente vigiar:
sempre.
A existência de Espíritos em toda parte nos leva a perceber
que, com os nossos atos e pensamentos, exemplos bons ou não, atraímos os
Espíritos segundo a sintonia que provocamos.
Fato é que, estando os Espíritos à nossa volta, eles podem
nos ajudar ou atrapalhar, dependendo apenas de nossa posição mental, espiritual
e,porque não dizer, vibracional?
Esse tema nos leva ao profundo e complexo problema das
perturbações, obsessões e todo tipo de influência negativa que recebemos dos
Espíritos quando nos sintonizamos na mesma faixa de vibração.
As pessoas que não acreditam na espiritualidade, vida após a
morte, e todo esse complexo de interferência espiritual à nossa volta, ao se
depararem com o problema da influência espiritual, levam toda essa problemática
para o campo da psicologia e psiquiatria clássica, não procurando observar com
mais profundidade o problema.
Sem dúvida as ciências psicológicas e psiquiátricas têm um
papel importante nas nossas vidas para a busca do equilíbrio emocional e
cognitivo do ser, mas estamos aqui falando de algo que transcende o ser
encarnado, levando-nos a um questionamento mais profundo, pois a Ciência muitas
vezes cura os problemas dessa ordem, mas outras vezes não. Podemos ver, no dia
a dia, pessoas se curando através de uma terapia alternativa, oferecida pelos
centros espíritas, que é o “tratamento espiritual”, que não tem, segundo os
estudos clássicos da Ciência, qualquer comprovação da sua eficácia, até porque
os elementos chaves, o Espírito e sua influência, ainda se encontram obscuros
para a nossa Ciência.
Assim deveremos, passo a passo, dia após dia, construir o
reino de Deus dentro de nós, para que possamos estar em sintonia com os bons
Espíritos, recebendo suas orientações dentro do nosso campo mental em forma de
intuição, inspiração ou até mesmo uma atuação mais direta, dependendo da
situação em que nos encontramos.
O esperado bloqueio das influências negativas dos irmãos
espirituais que ainda se identificam com o mal, só é possível com mudanças de
atitudes, e procurando viver dia após dia os ensinamentos de Jesus.
Importante que entendamos que o tratamento espiritual é um
remédio importante para restituir o equilíbrio espiritual, mas, para permanecer
nesse equilíbrio, dependerá, dali para frente,de nós. Porque continuaremos
recebendo as influências boas ou não, dependendo apenas de nós.
Disse Jesus ao doente: [2]“Eu te curei, vai, mas não peques
para que não te aconteça coisa pior”. Nessa lição o Mestre dos mestres nos
proclama a necessidade de mudança hoje para obtermos uma vida espiritual
melhor. Para que consigamos manter uma ligação com a espiritualidade Maior
torna-se necessário o trabalho no bem, a única saída real e efetiva para o
nosso ser.
Espíritos em toda parte, com ou sem evolução nas ações,
sentimentos e emoções, constroem um hálito espiritual à nossa volta,em que nós
compartilhamos e colaboramos nesse tal nível de energia e vibração.
Seja como emissores de pensamentos ou atos, construtivos ou
não, estamos na presença de Espíritos a todo o momento. Assim, orar e vigiar,
como manda o Mestre, é ainda a melhor forma de garantir uma ligação proveitosa
junto à espiritualidade Maior.
Referências:
[1] Allan Kardec, Livro dos Espíritos.
[2] Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo.
Wagner Ideali
Guarulhos,
SP (Brasil)
Imagem ilustrativa
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
Os que foram para o lado de lá e voltaram para contar...
A médica suíça Elisabeth Kübler Ross (08 de julho de 1926 –
24 de agosto de 2004) passou décadas ao lado de pacientes em estado terminal.
Sua experiência a fez escrever o livro “Sobre a morte e o processo de morrer”,
em que apresenta o modelo de Kübler Ross a informar familiares e amigos de
doentes terminais a melhor maneira de conviver com a situação.
A pesquisadora estudou mais de 20.000 casos de EQM -
Experiência de quase morte - e verificou que todos tinham um ponto em comum:
aqueles indivíduos que foram e se depararam com o outro lado da vida não
queriam voltar para o lado de cá. Relataram sobre o sentimento de liberdade e
plenitude que experimentaram ao não estarem carregando o pesado corpo de carne.
Tiveram sensações das mais agradáveis, como se estivessem
num sonho bom, mas que, infelizmente, segundo narrativas, foram obrigados a
acordar e utilizar novamente a máquina física que, bem o sabemos com o
conhecimento espírita, oblitera a manifestação do Espírito em sua força total.
Foi-se o tempo em que triunfava o argumento de que
"ninguém ainda voltou para contar como é o lado de lá". Muitos foram,
todos gostaram e quiseram ficar.
As pesquisas da Dra. Ross evidenciam um outro ponto
importante: somos amparados pelos Espíritos que nos precederam na grande viagem
da vida. A bem da verdade, é que, seja aqui ou no Além, Deus está conosco,
amparando sempre.
Pena em algumas ocasiões duvidarmos de sua bondade e cairmos
no fosso dos incrédulos.
Dia desses, um amigo comentou que ao comparecer ao
consultório médico para renovação de sua CNH, iniciou um bate-papo com a médica
que o atendeu.
Estava ela amargurada com a morte do marido. Segundo ela,
homem alto, forte, bonito, e que se cuidava muito. Colesterol em dia, glicose
idem, pressão 12/08, de menino, não obstante os seus 55 anos.
Foi-se embora sem dizer “adeus”. Numa dessas noites dormiu
com a visita da lua, porém não se levantou com o alvorecer.
Partiu fulminado por inexplicável ataque cardíaco.
Com tristeza, indagou:
- Por que com ele, se
há tanta gente malvada no mundo?
- Há pessoas que vêm
para uma vida breve, existência curta mesmo, entretanto, a morte não existe,
pois o que morre é o corpo – tentou consolar o amigo...
- Chega, moço! Chega!
Calou-se meu amigo; percebeu que naquele momento suas
palavras seriam inócuas, porquanto não estava a doutora com ouvidos de ouvir.
Ele apenas pediu que ela o procurasse quando quisesse
conversar sobre a imortalidade da alma.
Despediu-se da doutora e partiu, não sem antes lançar-lhe um
olhar de compaixão...
Ela passa pela segunda etapa do luto: a raiva.
São cinco as fases do luto: negação, raiva, negociação,
interiorização e aceitação. Sugiro que estudem o modelo de Kübler Ross para
melhor compreensão do tema.
Não adiantam discursos religiosos ou conselhos nesta segunda
etapa do luto. É preciso cada um vivenciar o luto e ter seu tempo.
Pena que para os que desconhecem a imortalidade da alma o
processo de luto seja extremamente doloroso...
Não precisaria ser assim, mas, enfim, num mundo ainda
demasiado materialista poucos entendem a necessidade do “morrer”...
Ainda bem que Espíritos como a Dra. Ross nos visitam aqui na
Terra e deixam um legado que faz aquecer corações e esclarecer mentes.
Muitos não ouvem, mas os que ouvem terão analgésicos para
suas dores...
Pensemos nisto.
Wellington Balbo
Salvador,
BA (Brasil)
Imagem do livro
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
A generosidade diante do umbiguismo
Há uma doença que acomete gravemente algumas pessoas, sem
que elas tenham a mínima consciência de estarem padecendo dela: o umbiguismo. É
aquela personalidade que só fala de si, de seus problemas, de suas demandas,
que está sempre orientada para seu próprio ego. Se entremeia a conversa com
alguma pergunta sobre a saúde ou o bem-estar do outro, é por um resquício de
cortesia superficial, que se esvai logo que o outro responde brevemente. A
frase seguinte do umbiguista é de novo sobre si mesmo.
É claro que todo ser humano guarda em maior ou menor grau
uma dose de egoísmo que, como diria tão acuradamente Kardec, ao lado do
orgulho, são as maiores chagas da humanidade. Mas refiro-me aqui àqueles
extremos, que se fixaram no período do narcisismo infantil. É normal a criança
pequena, por uma questão de sobrevivência e do processo de desenvolvimento, ter
um momento de total fixação em si mesma. Não é normal o adulto, que já deveria
ter atingido a maturidade psíquica, agir dessa maneira autocentrada, sem
conseguir sentir sinceramente empatia para com as demandas do outro.
Não é normal o adulto não se preocupar autenticamente com os
de sua volta, movendo-se para atender às necessidades que estão ao seu alcance
atender ou até que são de seu dever atender.
Ora, o problema que quero analisar aqui é o encontro de um
umbiguista com uma pessoa generosa, dessas que ao contrário da descrita acima,
gosta de ajudar, se preocupa genuinamente com o bem-estar alheio e se entrega
afetivamente aos familiares, amigos, a colegas de trabalho, e em alguns casos
de maior nobreza, a qualquer ser humano que se lhe aproxime.
O que muitas vezes se dá então é que o umbiguista pode se
tornar um vampirizador, um explorador, um abusador da generosidade do outro. Já
aqui uma vez neste blog, comentei a história da árvore generosa, cujo menino
foi retirando todas as partes da árvore, que sempre lhe cedia tudo o que ele
pedia. Então, defendi a atitude da árvore, apesar do umbiguismo do menino,
porque a generosidade não pode trair a si mesma, por causa do egoísmo do outro.
E eis aí o grande conflito que quero comentar. Como não se
tornar menos generoso, mais egoísta, mais defensivo, mais calculista, diante de
tanto egoísmo empedrado que se vê hoje em dia? Sobretudo num momento histórico,
em que se estimula o centrar-se sobre si mesmo, o pensar primeiro em si e sob o
discurso do autoamor (sem dúvida necessário, pois até Jesus disse: ama ao próximo,
como a ti mesmo), escondem-se muitas vezes uma apologia do umbiguismo
disfarçado e um desprezo e um horror por palavras antigas e nobres como
sacrifício, renúncia, entrega…
Como não perder a generosidade, como não trair a empatia,
diante de pessoas que só pedem, só querem, só demandam, só falam de si e pensam
que o mundo gira em torno delas? Que são incapazes de se preocupar de fato com
o outro e, muito menos, de serem pró-ativas em cuidar de quem quer que seja?
Rápidas no exigir, cobrar, esmolar, pedir e lentíssimas, desinteressadas, e
mesmo ausentes, quando se trata de prestar um favor, ajudar ou mesmo praticar
atos de civilidade social, como um telefonema, um cumprimento, uma visita, um
convite, um como vai?
Chega um momento em que por mais que o generoso persista em
sua generosidade, terá de se cobrir de uma camada de autoproteção, para que sua
energia e seus recursos (sejam afetivos, humanos ou mesmo financeiros) não
sejam totalmente drenados pelo umbiguista. Mas, diante de uma ou outra recusa
sua em atender às demandas de quem sempre está pedindo algo, ou quando por
qualquer circunstância, o umbiguista não está num momento de necessidade, a
pessoa generosa verá amargamente o desaparecimento do outro. Ausência
prolongada, desinteresse, ou um pouco de cortesia forçada apenas. Então, essa
pessoa, que se doa por hábito, certamente sentirá o quanto o umbiguista usa e
abusa e não consegue ter um afeto mais profundo por ninguém.
Esse é o cenário aparente da situação. Mas se quem doa
persiste, com um certo cuidado para não se deixar esfolar pelo umbiguista; se
quem é generoso não se mover de sua generosidade e se quem ama não deixar de
amar incondicionalmente, apesar de receber um amor muito pobre daquele pobre egoísta,
então, um dia, a ficha deste último cai. Um dia ele se toca. Um dia percebe o
quanto foi infantil e centrado apenas em si. Mas talvez, não haverá tempo mais
de ser generoso com aquele que foi generoso com ele. Será com outros. Assim é a
dinâmica da vida. Porque o que de principal a pessoa generosa deu para o
umbiguista terá sido justamente o aprendizado no exemplo do que é ser bom,
altruísta, solidário e… generoso.
E o generoso, o que terá aprendido? A perseverar na bondade,
a desapegar-se totalmente dos resultados e a manter-se sereno diante dos
umbiguistas da vida…
Dora Incontri
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Piedade em casa
Não aguardes as ocorrências da dor para desabotoares a flor
da piedade no coração.
Sê afável com os teus, sê gentil em casa, sê generoso onde
estiveres.
No lar, encontrarás múltiplas ocasiões, cada dia, para o
cultivo da celeste virtude.
Tolera, com calma silenciosa, a cólera daqueles que vivem
sob o teto que te agasalha.
Não pronuncies frases de acusação contra o parente que se
ausentou por algumas horas.
Não te irrites contra o irmão enganado pela vaidade ou pelo
orgulho que se transviou nos vastos despenhadeiros da ilusão.
Na tarefa de esposo, desculpa a fraqueza ou a exasperação da
companheira, nos dias cinzentos da incompreensão; e, no ministério da esposa,
aprende a perdoar as faltas do companheiro e a esquecê-las, a fim de que ele se
fortaleça no crescimento do bem.
Se és pai ou mãe, compadece-te de teus filhos, quando
estejam dominados pela indisciplina ou pela cegueira; e, se és filho ou filha,
ajuda aos pais, quando sofram nos excessos de rigorismo ou na intemperança
mental.
Compreende o irmão que errou e ajuda-o para que não se faça
pior, e capacita-te de que toda revolta nasce da ignorância para que tuas horas
no lar e no mundo sejam forças de fraternidade e de auxilio.
Quando estiveres à beira da impaciência ou da ira, perdoa
setenta vezes sete vezes e adota o silêncio por gênio guardião de tua própria
paz.
Compadece-te sempre.
Se tudo é desespero e conturbação, onde te encontras,
compadece-te ainda, ampara e espera, sem reclamar.
Guarda a piedade, entre as bênçãos do trabalho.
Habituemo-nos a ignorar todo o mal, fazendo todo o bem ao
nosso alcance.
A piedade do Senhor, nas grandes crises da vida,
transformou-se em perdão com bondade e em ressurreição com serviço incessante
pelo soerguimento do mundo inteiro.
Elucidações de Emmanuel
Do livro Alvorada do Reino, obra psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier.
Imagem do livro
domingo, 20 de dezembro de 2015
Natal de amor
Após a Introdução de O Livro dos Espíritos, o leitor atento
encontra matéria com o título Prolegômenos que significa exposição preliminar
dos princípios gerais de qualquer ciência ou arte, introdução expositiva de
algum tratado científico. Ela vem assinada por diversos sábios da Humanidade e
entre tais assinaturas destaca-se a de Vicente de Paulo (1576-1660), um
sacerdote francês que em 1633 fundou a Congregação das Irmãs de Caridade com o
objetivo de atender os pobres e os enfermos.
Quando morreu Vicente, já havia 40 casas das Irmãs de
Caridade, que depois se espalharam pelo mundo e chegaram ao Brasil em 1849.
Hoje, inspiradas por tal obra, distribuem-se pelo mundo através de hospitais,
ambulatórios médicos, dentários, enfermagem, sendo mais conhecido por aqui
através das Associações Vicentinas ou Casas de São Vicente de Paulo.
Por que falamos de Vicente de Paulo? Justamente para falar
do amor... O que é o amor? Seria a afeição entre homem e mulher? ou o amor de
mãe? Todas são expressões do amor, mas gostaríamos de comentar o amor vivido e
demonstrado por Vicente, assim como também por Jesus, Francisco de Assis e
tantos outros importantes nomes da história humana, inclusive na atualidade
como Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá ou Chico Xavier...
A Doutrina de Jesus, por exemplo, é a mais alta expressão do
amor. Ele já ensinava que o maior mandamento é o amor a Deus, ao próximo como a
si mesmo... A própria Parábola do bom samaritano já indica isso. O Livro dos
Espíritos em sua questão 888 traz resposta de Vicente e também em O Evangelho
Segundo o Espiritismo a presença de Vicente é marcante na exaltação do amor ao
próximo, através da caridade.
Nossa ausência de autoridade para falar do assunto, face à
fragilidade na vivência espontânea do amor ao próximo não nos tira, entretanto,
o entusiasmo de falar sobre o amor. Toca-nos o coração ver nossos irmãos
carentes entregues ao relento, passando imensas dificuldades na própria
sobrevivência, sofrendo a humilhação do desprezo social. Quantos irmãos nossos
não vemos pelas ruas, no trânsito, carregando caixas de papelão ou coletando
latinhas de refrigerantes, crianças em semáforos, velhos abandonados, enfermos
entregues à própria sorte em hospitais...
A mensagem de Vicente de Paulo, entre tantos vultos
inspirados pela mensagem do Evangelho, convida-nos a essa face real do amor.
Deixemo-nos impregnar por tais exemplos e verdadeiros convites para o bem. É
claro que ainda não somos capazes de agir como eles, nem ter a espontaneidade
com que viveram, mas pelo menos pensemos nos exemplos que deram diante de
nossos irmãos em dificuldade que encontremos pelo caminho, mesmo que for apenas
para oferecer-lhes um sorriso e um minuto de atenção...
Quando chegamos ao Natal, que o amor trazido por Jesus nos
inspire as ações nesse sentido para efetivamente vivermos o amor
espontaneamente.
Orson Peter Carrara
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
Tão perto, tão longe
O poeta falava ao jornalista sobre seu assunto mais íntimo:
a poesia. Tornara-se a pouco imortal, quase ao mesmo tempo em que a matéria
frágil lhe anunciara seus oitenta anos de perfeita destrutibilidade. O
jornalista matreiro e experiente esquenta a conversa, recordando: você não
acredita em nada além da vida, não é? Sorrindo um riso quase natural, espontâneo,
o poeta recém-empossado na Academia Brasileira de Letras reflete brevemente e
confirma: não, não acredito; até gostaria de crer, dizem que é melhor acreditar
do que não acreditar, mas eu não consigo mesmo. Aqui se aplica bem a frase de
Vinícius: “que seja imortal enquanto dure”.
Alguns minutos antes, o poeta revelara o seu processo de
composição poética e deixara no ar uma interrogação a respeito das ideias, dos
temas e mesmo das motivações para compor suas consagradas obras. Tudo vinha
simplesmente, sem planejamento prévio. Eu não planejei a minha vida, nada, tudo
veio naturalmente, diz. O jornalista contrapõe, então: mas a inspiração depende
muito da transpiração, não é? Sim, afirma o poeta, mas eu não faço muito
esforço, não. Claro, cabe a mim dar o tom, o estilo, apurar, trabalhar o texto.
As coisas chegam e acho que esse é o caso, porque a pessoa não é poeta,
escritor etc. se não nasceu com o dom. Não adianta querer ser uma coisa se o
dom não está presente, se ele não nasceu com aquilo. O poeta fala de algo que
para ele está no DNA, com a certeza de todas as certezas, porque é isso que o
alimenta, é nisso que acredita.
O ser humano é um ser limite. Não digo limitado, apenas, mas
digo que vive na fronteira da vida e da morte, do espírito e da matéria e de
forma geral não tem a percepção clara disso. Está sempre esbarrando num e
noutro lado da fronteira, muito próximo do crer e do não crer, quase a
descobrir o que um e outro lado apresentam, sem, contudo, ultrapassar a linha
tênue que separa a matéria do espírito. Ele não é nem completamente um corpo,
nem completamente um espírito. Isso vale tanto para o homem material, feito o
poeta a crer no fim, na extinção total da vida ou término do ciclo, como vale
também para o homem espiritual, que crê na continuidade, no depois, mas está
sempre esbarrando nas dúvidas da vida material.
Não me agrada a ideia da existência de alguém que não crê;
penso que o ser humano é aquele que crê sempre em alguma coisa, e, por crer,
age, sonha, pensa, descortina. O poeta que revela sua incapacidade de crer em
algo após a morte, na verdade, crê na inutilidade da vida, na sua finitude
total. Crê na imortalidade apenas da duração, daquilo que é válido viver, mas
sem a perspectiva da repetição, do renascimento ou da permanência para além do
limite da vida material. O futuro nele está sempre pressionado pela morte e só
é válido pensar neste futuro até o horizonte próximo, após o qual não há nada
mais.
Algo não muito diferente se passa com o homem espiritualista
que acredita na continuidade e no retorno, mas vive pressionado pelos conflitos
do viver no corpo e anseia sempre colocar os pés no outro lado da fronteira,
antes mesmo de completar a experiência do próprio corpo. Sua dúvida maior está
em como viver na matéria sem perder a essência do espírito, o que o coloca na
condição de não viver completamente, nem a perspectiva do espírito nem a do
corpo.
Nessa fronteira-limite os dois se esbarram sem perceber, e
esbarram permanentemente, porque o homem de Herculano não é o homem-corpo, mas
o homem-espírito, apesar de seus quereres e de suas negações. A inspiração do
poeta é uma realidade, mas parte considerável de sua origem, de sua fonte –
esta relação comunicativa misteriosa, a envolver os de cá e os de lá –, para o
poeta-corpo, só alcança quem nasceu com o dom de ser poeta, escritor,
dramaturgo, mas, na verdade, alcança a todos, em todas as áreas, onde a criação
esteja sendo exercida por qualquer forma de arte, ou onde a vida humana
consome-se no existente.
Dois humanos vivem na inspiração, da inspiração, com a
inspiração. Não penso apenas em dois humanos distantes, um aqui, outro além;
penso, também, em dois humanos visíveis, táteis, que estão ou não lado a lado,
mas que habitam o mundo do pensamento e não apenas o do DNA. Porque o seu amigo
do lado, que o abraça e dá bom-dia é fonte de inspiração; porque o seu olhar
capta as imagens da tristeza, sem perceber que forças o movem para que se
dirija para o lado onde a tristeza se derrama. A sua inspiração o leva a criar,
e a criação o faz transformar a tristeza em possibilidade de alegria, sonhos,
desejos, esperanças. Você vive ali, naquela fronteira-limite, tão perto e tão
longe; perto demais para perceber; longe demais para se apropriar. A matéria e
o espírito escorregam entre nossos dedos, no líquido fluído das ideias: vivemos
no corpo buscando o imaterial, ou vivemos no imaterial desejando o corpo. O
conflito é a nossa inconstância diária. Não sabemos ainda, não encontramos a
segurança do corpo que abraça o espírito, nem do espírito que abraça o corpo. A
fronteira-limite é ainda o nosso mistério.
Wilson Garcia
Recife, PE (Brasil)
Visite, quando puder, o blog: www.expedienteonline.com.br
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sábado, 12 de dezembro de 2015
Fazemos o ambiente
Allan Kardec usou o título Atmosfera espiritual, em sua
Revista Espírita de maio de 1867, para abordar a questão da influência dos maus
fluidos - produzidos pelos sentimentos contrários à caridade -, que tornam os
ambientes desagradáveis e muitas vezes intoleráveis.
Não é outra a causa dos constrangimentos que se estabelecem
nos relacionamentos, especialmente em grupos onde o ambiente "parece
pesar" e surgem as sensações de desconforto. E há que se considerar que a
permanências desses "ambientes pesados", característicos de ondas
mentais conflitantes, pode acarretar graves prejuízos morais e mesmo desuniões
e danos à saúde, já que desencadeadores de obsessões.
A abordagem do Codificador é extremamente lúcida e coerente.
Selecionamos alguns trechos ao leitor, indicando, todavia, a fonte original
para leitura e estudo na íntegra, conforme citado no primeiro parágrafo.
"(...) sabemos que, numa reunião, além dos assistentes
corporais, há sempre auditores invisíveis; que sendo a impermeabilidade uma
propriedade do organismo dos Espíritos, estes podem achar-se em número
ilimitado num dado espaço. (...) Sabe-se que os fluidos que emanam dos
Espíritos são mais ou menos salutares, conforme seu grau de depuração.
Conhece-se o seu poder curativo em certos casos e, também, seus efeitos
mórbidos de indivíduo a indivíduo. Ora, desde que o ar pode ser saturado desses
fluidos, não é evidente que, conforme a natureza dos Espíritos que abundam em
determinado lugar, o ar ambiente se ache carregado de elementos salutares ou
malsãos, que devem exercer influências sobre a saúde física, assim como sobre a
saúde moral?
Quando se pensa na energia da ação que um Espírito pode
exercer sobre um homem, é de admirar-se da que deve resultar de uma aglomeração
de centenas ou milhares de Espíritos? Esta ação será boa ou má conforme os
Espíritos derramem num dado meio um fluido benéfico ou maléfico, agindo à
maneira das emanações fortificantes ou dos miasmas deletérios, que se espalham
no ar.
Assim se pode explicar certos efeitos coletivos, produzidos
sobre massas de indivíduos, o sentimento de bem-estar ou de mal-estar, que se experimenta
em certos meios, e que não tem nenhuma causa aparente conhecida, o entusiasmo
ou o desencorajamento, por vezes a espécie de vertigem que se apodera de toda
uma assembléia, de toda uma cidade, mesmo de todo um povo.
Em razão do seu grau de sensibilidade, cada indivíduo sofre
a influência desta atmosfera viciada ou vivificante. Por este fato, que parece
fora de dúvida e que, ao mesmo tempo que a teoria e a experiência, nós achamos
nas relações do mundo espiritual com o mundo material, um novo princípio de
higiene, que, sem dúvida, um dia a ciência fará entrar em linha de conta.
(...)"
Ora, o trecho transcrito é por demais claro. Ele remete a
outras tantas considerações, impossíveis de serem trazidas ao simples espaço de
um artigo. Mas poderíamos ponderar sobre como subtrair-se a estas influências
(e Kardec aborda isso na continuidade do texto).
O fato concreto é que somos sempre responsáveis pelo tipo de
influência que atraímos ou alterações que produzimos nos fluidos que nos
circundam por força dos sentimentos e pensamentos que cultivamos.
Numa assembléia, pequena ou numerosa, o padrão dominante dos
pensamentos é fator decisivo para determinar o tipo de sensação que vigorará
"no ar" daquele ambiente. Alterá-lo também é tarefa dos mesmos
pensamentos e sentimentos. Fruto da perseverança no bem e no reconhecimento dos
valores que conduzem ao estabelecimento da harmonia na convivência.
Uma vez mais surge a necessidade da melhora moral como único
recurso de vivermos melhor. E há que se pensar que isso vale individualmente,
no ambiente social ou familiar ou mesmo numa nação e até num planeta. Dá o que
pensar diante da realidade nossos dias, não é mesmo?
Orson Peter Carrara
orsonpeter92@gmail.com
http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/p/contato.html
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
A determinação em recomeçar
“Levantar-me-ei e irei ter com meu pai...”. (Lucas, 15:18.)
Quando o filho pródigo, descrito na parábola por Jesus,
deliberou retornar aos braços paternos, após ter recebido sua herança e a
desperdiçado em futilidades e ilusões, criou para nossa reflexão um dos mais
significativos símbolos de arrependimento, coragem, determinação e maturidade.
Reconhecendo seus equívocos não vacilou em recomeçar,
aceitando a condição de empregado da propriedade do pai, pois tinha consciência
de que não merecia ser tratado mais como um filho, embora não esperasse a
reação fraterna do genitor, que ao avistá-lo, o acolheu num abraço carinhoso e
meigo.
De nossa parte, inúmeras vezes também deliberamos seguir
caminhos contrários àqueles que nos asseguram avanço moral, prosperidade
intelectual e crescimento espiritual, criando a urgente necessidade de decidir
por novos rumos e outras direções, sustentadas pela esteira dos valores da
dignidade, da honra e da honestidade.
Se preciso, ergamo-nos da inércia, da apatia e do desânimo
e, fortalecidos pela fé, deixemos a rede macia do comodismo em esperar que a
vida nos dê tudo de forma gratuita, e busquemos conquistar virtudes, enquanto
empreendemos esforços para a extinção dos defeitos que ainda nos mantêm na
condição de inferioridade e sofrimento.
Se a tristeza insistir em povoar os nossos pensamentos e
derramar insatisfações em nossa vida, levantemos a confiança em Deus e tenhamos
a certeza inconteste de que o Pai Celestial, amoroso e bom, justo e perfeito,
em circunstância alguma deixará de atender as nossas necessidades.
Se a moléstia insidiosa continuar a nos manter no leito de
dor, embora todos os esforços de médicos, hospitais e remédios, levantemos a
esperança nos dias do porvir, nos recursos que a tecnologia vem desenvolvendo,
pois o amanhã poderá surgir com novas cores e propostas.
Se familiares queridos deixaram o nosso convívio pelos
mecanismos da desencarnação, renascendo para a vida espiritual, abrindo enorme
lacuna em nossos corações, que se repletam de saudades, levantemos a certeza na
imortalidade e prossigamos convictos de que um dia, no futuro, em outras
dimensões vibratórias, novamente estaremos com eles.
Se o abandono e a solidão estiverem nos acompanhando com
frequência, escurecendo os nossos momentos e amargurando a nossa vida,
levantemos a vontade de refletir e meditar, pois, às vezes, diante do nosso
comportamento e atitudes, quem sabe estaremos impedindo a aproximação das
pessoas ao nosso redor?
Se os recursos financeiros e materiais se escassearam,
criando dificuldades e embaraços para que possamos honrar nossos compromissos,
levantemos a força e a perseverança e saiamos a trabalhar ainda mais, na
confiança de que o labor nos conduzirá a novas perspectivas.
Se os filhos que chegaram ao nosso lar – e para os quais nos
empenhamos ao máximo, visando educá-los, mostrando-lhes os caminhos da decência
e da dignidade – resolveram não atender aos nossos insistentes apelos de
moralidade, levantemos a paciência e esperemos pelas sábias lições da vida, que
farão, certamente, aquilo que não conseguimos agora fazer.
O filho pródigo, depois de perceber o equívoco cometido,
diante do sofrimento decorrente da escassez de recursos financeiros, por ter
gasto a herança recebida de forma inútil, inconsequente e irresponsável, caindo
no arrependimento, teve forças para levantar, sacudir a poeira e voltar ao lar
paterno, nem que fosse na condição de um empregado do pai, para recomeçar a
vida.
Em oportunidades inúmeras, também nós, ao percebermos os
erros e os enganos deliberados, temos absoluta necessidade de levantar a nossa
vida e buscar o apoio de Deus para recomeçar, e, por certo, Ele também abrirá
seus braços para nos acolher num abraço...
Reflitamos...
Waldenir Aparecido Cuin
Votuporanga, SP (Brasil)
Imagem ilustrativa
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Como não transformar indignação em ódio?
Partilhei hoje na minha página do Face uma foto de um membro
da polícia militar com a arma em punho diante de uma estudante desarmada, em
posição pacífica, durante a guerra declarada pelo Governo do Estado aos alunos
que reivindicam a manutenção de suas escolas, no movimento “Não fechem minha
escola”. Ao partilhar essa foto e comentar brevemente minha indignação diante
da cena, vi-me arrebatada numa discussão desenfreada na minha própria página.
Mantive-me calada, mas tenho ficado amargada com o nível de agressividade,
conservadorismo, analfabetismo político reinantes no momento presente. E toda
vez que manifesto qualquer posição, vejo-me enredada numa trama de contenda, de
vibrações desencontradas, que me afetam por dentro.
Por isso, a reflexão de hoje é sobre uma questão
fundamental: como manter a paz íntima diante das gritantes injustiças do mundo?
Como exercitar a indignação (necessária, pois até Jesus a manifestou diante dos
fariseus que exploravam o povo) sem se deixar escorregar para a ódio e para o
asco? Como manter o olhar lúcido e crítico diante das estruturas profundamente
injustas da sociedade, diante da falta de ética, diante da negligência com o
ser humano, sem afundar-se num desânimo existencial, que nos faça parar deprimidos
à beira do caminho? Como, enfim, atuar no mundo, para transformá-lo, com
suficiente amor no coração, mas sem a pieguice e a apatia dos que aceitam tudo
de cabeça baixa?
Lembro-me aqui de três figuras que muito me inspiram na vida
e que viveram momentos críticos nesse sentido. Um foi Pestalozzi. Condecorado
pela Revolução Francesa, por suas ideias progressistas para a melhoria das
condições do povo e de sua educação, ele escreveu um livro intitulado Sim ou
Não?, que pretendia responder se ele era contra ou a favor daquela Revolução
sangrenta. Ora, claramente, ele se manifesta contrário à violência, mas a favor
das reivindicações populares, diante da opressão em que vivia o povo. Hoje, é
verdade, a análise marxista da História considera a Revolução Francesa uma
revolução burguesa, que usou as classes populares a seu favor. Na época, na
compreensão de Pestalozzi, era algo que brotava sobretudo legitimamente das
entranhas do povo. Ele não aprovava, nem justificava a violência, mas
compreendia-a, como uma reação inevitável à opressão. Numa outra obra sua,
Minhas Indagações sobre a marcha do desenvolvimento da espécie humana,
Pestalozzi desenvolve toda uma teoria, que antecede em alguns aspectos a
psicanálise, apontando a repressão dos instintos das massas como uma das causas
de explosão de guerras e revoluções. De qualquer forma, ele considera que uma
educação integral, como a que ele propunha, deveria despertar a divindade
interior dos indivíduos, motivando-os a agir autonomamente, sem repressão, no sentido
da fraternidade e do bem-estar de todos.
Kardec, no Livro dos Espíritos, na questão 783, da mesma
forma que seu mestre Pestalozzi, admite a necessidade das revoluções sociais,
olhando a História de uma perspectiva no tempo:
“O homem não pode ficar
eternamente na ignorância, porque deve chegar à meta marcada pela Providência:
ele se esclarece pela força das coisas. As revoluções morais, como as
revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas ideias, elas germinam
durante séculos, depois, de repente, estouram e fazem ruir o edifício carcomido
do passado, que não está mais em harmonia com as necessidades e aspirações
novas.
O homem muitas vezes
vê nessas comoções apenas a desordem e a confusão momentânea que o atingem em
seus interesses materiais; aquele que se eleva pelo pensamento além do pessoal,
admira os desígnios da Providência, que do mal faz surgir o bem. É a tempestade
que purifica a atmosfera, depois de tê-la agitado.” (Tradução minha)
Entretanto, foi no século XX, que um elevado espírito, aliás
chamado Mahatma (grande alma), deu um exemplo maravilhoso de uma atuação
política, para transformação social, na luta contra a injustiça, por caminhos
da não-violência, comprometido ao mesmo tempo com seu próprio aperfeiçoamento
espiritual e com a elevação moral do povo. Gandhi foi passo a passo, como conta
em sua autobiografia, construindo uma forma de atuar no mundo, para mudá-lo,
sem render-se ao ódio, ao desespero e sem a alienação, muitas vezes
característica, de alguns líderes espirituais. Unindo fé e política,
autoconhecimento com a trilha da não-violência, ele deixou a mensagem de que só
conquistamos a devida força moral, social e mesmo política (num sentido muito
amplo e não partidário) se conquistarmos ao mesmo tempo a nós mesmos. Mas ele
também se deparou com o rugir das paixões, o estouro da violência, da guerra
civil, de seus compatriotas, pagando com a vida o seu empenho de dialogar com
todos e não odiar ninguém.
Fica porém esse aprendizado para nós: guardemos serenidade nas lutas justas em que nos empenhemos no mundo. A oração é uma força essencial para isso. Assim nos ensinaram Jesus e Gandhi. Cuidemos de nosso mundo íntimo, para não nos rendermos ao ódio, que é um grau degenerado de indignação. E enchamo-nos de compaixão para com todos. Porque todos precisam dela.
Fica porém esse aprendizado para nós: guardemos serenidade nas lutas justas em que nos empenhemos no mundo. A oração é uma força essencial para isso. Assim nos ensinaram Jesus e Gandhi. Cuidemos de nosso mundo íntimo, para não nos rendermos ao ódio, que é um grau degenerado de indignação. E enchamo-nos de compaixão para com todos. Porque todos precisam dela.
Dora Incontri
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segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Se o assassinato de Jesus resgatou nossos pecados, pecado paga pecado!
A morte vicária de
Jesus na cruz significa que seu sofrimento foi muito agradável a Deus, e, em
consequência disso, os pecados da Humanidade, que tanto teriam ofendido a Deus,
teriam sido resgatados ou pagos. Isso é o que tenho chamado de teologia de
sangue.
O pecado faz sofrer
nosso próximo e, por consequência, de acordo com a lei inexorável bíblica e
universal de causa e efeito, faz-nos sofrer também, pois a cada um será dado de
acordo com suas obras. (Mateus 16: 27). E ninguém deixará de pagar tudo até o
último centavo. (Mateus 5: 26). Isso quer dizer que, quando pagarmos o último
centavo de nossas faltas, estaremos quites com a lei de causa e efeito e,
portanto, não vamos pagar mais nada, o que derruba totalmente por terra as
chamadas penas eternas no sentido como foram entendidas, erradamente, pelos
teólogos cristãos antigos e ainda por um grande número dos da atualidade.
As exceções dos que
não aceitam essas ideias absurdas incompatíveis com o Deus Verdadeiro de amor
infinito e irrestrito para com todos os seus filhos (Atos 10: 34) são dos
teólogos cristãos espíritas e de uma minoria de avançados teólogos católicos e
protestantes. E os cristãos ainda mais agarrados a essas ideias de um Deus
pagão, sofredor, de terror e vingador, com suas penas infernais sempiternas,
são os nossos irmãos evangélicos. Aliás, muitos pastores, não todos, usam essas
penas infernais como meio de amedrontar seus fiéis e, assim, pegarem mais
dízimos deles.
Todas as religiões
recebem influências de outras. O cristianismo as recebeu dos judeus antigos,
que, por sua vez, receberam as dos fenícios, caldeus e outros povos antigos da
região do chamado Oriente Médio.
Essas ideias de um
Deus que sofre com as nossas faltas e de ser Ele um castigador vingativo cruel
e antropomórfico (de natureza humana) originaram-se dos deuses ou espíritos
humanos desencarnados que se comunicavam através dos médiuns (na Bíblia,
profetas), deuses esses que foram erradamente tidos como sendo o próprio e
verdadeiro Deus. E esses deuses ou espíritos desencarnados são confirmados pelo
próprio Jesus: “Vós sois deuses” (João 10: 34). Entre esses deuses há os bons,
os mais ou menos e os maus e enganadores. Daí João Evangelista nos recomendar
que examinemos os espíritos para sabermos se são bons ou maus, para que não
venhamos dar crédito aos que são maus. (Primeira Carta de João 4: 1). É por
isso que Moisés, também, até proibiu a comunicação com os espíritos
desencarnados (Deuteronômio capítulo 18). Mas ele elogiou os médiuns (profetas
na Bíblia) esclarecidos, verdadeiros e não mercenários Medade e Heldade, os
quais recebiam espíritos bons e profetizavam. (Números 11: 24 a 30).
Deus não sofre com
os nossos pecados, além de Ele não ser um espírito atrasado vampiro, que se
deleita com sangue derramado e menos ainda com sangue humano. Que Deus seria
esse? Essa teologia, além de ser absurda, leva muitos ao ateísmo!
Os deuses ou
espíritos humanos evoluídos não ensinam a teologia de sangue nem que Deus sofre
com os nossos pecados vingando-os de modo exagerado e, pois, injusto, e menos
ainda esses espíritos humanos evoluídos ensinam o absurdo de que um pecado como
o do assassinado de Jesus anula nossos pecados!
José Reis Chaves
Prof. de português e literatura aposentado formado na PUC Minas / Escritor e jornalista colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte / Palestrante nacional e internacional espírita e de outras correntes espiritualistas / Apresentador do programa “Presença Espírita na Bíblia” da TV Mundo Maior / Participante do programa “O Consolador” da Rádio Boa Nova / Tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Kardec, para a Editora Chico Xavier. E autor dos livros, entre outros, "A Reencarnação na Bíblia e na Ciência" e "A Face Oculta das Religiões", Editora EBM, SP, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Podem-se ler também as matérias da coluna de José Reis Chaves em O TEMPO, de Belo Horizonte, no seu facebook e no site desse jornal: www.tempo.com.br / Procurar colunistas. No final das matérias, há um espaço para comentários dos leitores, espaço este que se tornou um verdadeiro fórum de religiões. E qualquer um pode deixar seu comentário lá. Se não quiser que seu nome apareça, use um pseudônimo. E seu e-mail nunca aparece lá.
Obs.: Se meus livros não são encontrados em sua cidade, eles podem ser adquiridos diretamente comigo por meu e-mail ou telefone. Telefone: (31) 3373-6870
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