quarta-feira, 2 de março de 2016

Tensão ou harmonia nos grupos espíritas


Da preciosa coleção da Revista Espírita (editada por Kardec no período de 1858 a 1869), extraímos para o leitor pequeno trecho do texto Organização do Espiritismo – publicado na edição de dezembro de 1861 –, cuja atualidade impressiona face aos desafios sempre encontrados pelas instituições e grupos no que se refere aos relacionamentos entre seus integrantes.
A velha questão dos melindres de suscetibilidades, dos conflitos de opinião e daí os desdobramentos próprios da desorganização das ideias diferentes, leva muitas iniciativas ao fracasso, interrompe bênçãos de trabalho, afasta valorosos cooperadores, com prejuízos evidentes à proposta espírita.
Como o fim do Espiritismo é essencialmente moral, espera-se que busquemos nesse esforço do auto aprimoramento as bases de nossa atuação individual e coletiva, para não ocorrência dos prejuízos bem próprios de nossa condição humana.
Acompanhemos o pequeno trecho selecionado, que se refere aos grupos:

“(...) Se eles forem formados de bons elementos, serão tantas boas raízes que darão bons rebentos. Se, ao contrário, são formados de elementos heterogêneos e antipáticos, de espíritas duvidosos, se ocupando mais da forma que do fundo, considerando a moral como a parte acessória e secundária, é preciso se prever polêmicas irritantes e sem desfecho, melindres de suscetibilidades, seguido de conflitos precursores da desorganização. Entre verdadeiros espíritas, tais como os havemos definido, vendo o propósito essencial do Espiritismo na moral, que é a mesma para todos, haverá sempre abnegação da personalidade, condescendência e benevolência, e, por consequência, certeza e estabilidade nos relacionamentos. Eis porque insistimos tanto nas qualidades fundamentais. (...)”

A sempre constante questão dos conflitos ou da harmonia está no comportamento individual que se reflete diretamente nos grupos. Exatamente aquele comportamento de boa vontade que busca superar o egoísmo e a vaidade para o bem coletivo. Quando nos fechamos em pontos de vistas, quando nos achamos melhores que os demais, quando pensamos que nossa opinião é a melhor, quando não valorizamos o esforço alheio ou quando optamos pelos tristes caminhos do orgulho, serão nossos acompanhantes a irritação, a intolerância e seus desdobramentos próprios.
Quando, todavia, optamos pelo caráter solidário dos relacionamentos, quando desejamos sinceramente o bem de todos ou direcionamos nossas ações para a permanência da harmonia, os frutos de nossas realizações conjuntas serão doces e sempre com benefícios gerais que extrapolam os limites do próprio grupo, pois que se irradiam de si mesmo em favor de muitos.
É que o afeto é capaz desses prodígios. O afeto há que ser construído, valorizado, conquistado, estimulado, vivido e cultivado.
Será de muito oportunismo uma releitura do texto Organização do Espiritismo, especificamente voltado à formação ou manutenção de grupos espíritas.

Orson Peter Carrara 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Eutanásia e aborto: novo Nazismo?


Certamente todos nos lembramos das práticas horríveis do nazismo, na II Guerra Mundial, onde a loucura de um homem pretendia criar uma raça pura e forte.
Parece coisa primitiva, mas... foi ontem, há 70 anos atrás!!!
Em pleno século XXI, o Homem vive as maravilhas da tecnologia, que muito tem contribuído para o seu bem-estar, e melhores condições de vida no planeta Terra.
Este mês (Fevereiro de 2016), em Portugal, um jornal semanário dava destaque a uma petição a favor da eutanásia, assinada por cerca de 100 pessoas, consideradas "ilustres" na sociedade.
Apelam ao direito de morrer com dignidade, como se morrer, fosse indigno.
Apela-se ao fim do sofrimento, como se o sofrimento não fosse uma presença contínua, na vida de todos nós.
Porque matar os idosos que sofrem, e não os jovens ou os adultos saudáveis, com vários tipos de sofrimento?
Entende-se este ponto de vista, quando o Homem, tendo perdido o Norte de Deus, e vivendo dentro do paradigma materialista (o materialismo foi morto pela Física, ao declarar que não existe matéria, mas sim energia em vários estados), pense que a eutanásia é a saída limpa do sofrimento.
Tola ilusão...
Em meados do século XIX, apareceu a Doutrina dos Espíritos (Espiritismo ou Doutrina Espírita) que veio demonstrar, à saciedade, que somos seres imortais, que a vida continua além da morte do corpo de carne, e explicar o porquê da dissemelhança de oportunidades nesta vida, tendo em conta a Lei da Reencarnação, e a consequente Lei de Causa e Efeito.
Hoje em dia, não é possível alegar desconhecimento, pois, este abunda ao som de um clique, no teclado de um computador.
Investigadores e cientistas de todo o mundo, não espíritas na sua maioria, têm vindo desde meados do século XIX até aos dia de hoje, a comprovar as teses espíritas.
Não sendo o Homem senhor da Vida, não tem o direito de decidir pela morte deste ou daquele. A legislação humana, retrata, de certo modo, o seu estado evolutivo, espiritualmente falando.

O estudo sério e sistemático da Doutrina Espírita, dá ao Homem
uma compreensão holística da Vida, fazendo-o entender do porquê da vida, suas dissemelhanças e as consequências dos nossos actos nesta vida,a repercutirem-se em vidas posteriores.

Estudando a doutrina espírita (que não é mais uma seita nem mais uma religião) verificamos que a dor, diversificada, aparece como factor auto-correctivo para o ser humano, propiciando-lhe assim, nesses momentos, longos e fecundos momentos de meditação, sobre os valores reais da Vida, e qual o objectivo da mesma.
A pessoa que, de livre vontade, se mata pelo processo da eutanásia, entra no mundo espiritual na grave condição do suicida, e os médicos que o matam, mesmo que "legalmente", de acordo com as leis dos homens, assumem o ónus de homicidas, ónus esse do qual não se furtam, pois que radicam na sua consciência. Uns e outros, voltarão noutra reencarnação, com dolorosos processos de culpa, quando não marcados por dolorosas limitações físicas, como acontece com a maioria dos suicidas.
Quando se tenta liberalizar o aborto, como condenar Hitler?
Quando os médicos aconselham mães a abortar porque foi detectada uma anomalia num determinado gene do bebé, como condenar Hitler?
Quando se pretende "legalizar" a matança de doentes terminais, sob a pretensa dignidade de morrer (como se a dignidade dependesse do estado exterior do corpo carnal), como condenar Hitler?
Conta-se, que certo dia uma mãe adentrou o consultório do seu ginecologista. Desempregada, com um filho de 5 anos, estava grávida e, tendo em conta a vida difícil do ponto de vista monetário, queria abortar, pois dizia não conseguir criar sozinha dois filhos. O ginecologista fez então a seguinte proposta: se abortasse, corria risco de vida, quer a mãe, quer o bebé. Assim sendo, seria mais lógico matar o filho de 5 anos e deixar nascer o bebé. A mãe saiu furiosa, porta fora...
Afinal... onda estava a diferença?
Seria útil que os nossos legisladores, médicos, políticos, governantes, estudassem espiritismo, como já acontece em muitos países, a fim de melhor entenderem quem somos, de onde viemos, o que estamos na Terra a fazer, e para onde vamos após o decesso físico.

Matar?
Jamais,... seja qual for o pretexto...

José Lucas

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Exilados de Capela

EXILADOS DE CAPELA(belísimo video)

Publicado por Margarida Oliveira em Terça, 19 de janeiro de 2016

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Ponderação de lucidez


O que se vai ler abaixo é trecho de um pronunciamento de Allan Kardec, em 6 de outubro de 1865, na reabertura das sessões da Sociedade Parisiense de Estudos Espiritas, e que contém atualíssima e feliz ponderação do Codificador – dirigida aos espíritas de sua época e perfeitamente cabível nos dias atuais do movimento espírita e mesmo para nossa condição de cidadão –, publicada na íntegra na edição de novembro de sua Revista Espírita, do mesmo ano, que recomendamos aos leitores. Aqui destacamos um único parágrafo, valioso por si mesmo.

 Vejam:

R. E. novembro de 1865: «Deus me guarde de ter a presunção de me crer o único capaz, ou mais capaz do que um outro, ou o único encarregado de cumprir os desígnios da Providência; não, este pensamento está longe de mim. Neste grande movimento renovador tenho a minha parte de atuação; não falo senão daquilo que me concerne; mas o que posso afirmar sem vã fanfarrice, é que, no que me incumbe, nem a coragem, nem a perseverança, me faltarão. Nisso jamais falhei, mas hoje que vejo o caminho se aclarar de uma maravilhosa claridade, sinto minhas forças crescerem, não tenho mais dúvida e graças às novas luzes que praza a Deus me dar, estou certo, e digo a todos os meus irmãos, com toda a certeza que jamais tive: coragem e perseverança, porque um esplendoroso sucesso coroará vossos esforços.”.

A seleção parcial está dentro de um contexto geral, cuja íntegra do texto trará ao leitor esclarecimentos valiosos de atuação espírita. Destacamos, todavia, esse parágrafo específico pela evidência da humildade de Kardec, ao lado de intensa força pessoal construída sobre virtudes que todos podemos valorizar nesses tempos de imensa dificuldade social: coragem e perseverança.
Embora seu extraordinário trabalho de organização do corpo doutrinário do Espiritismo com as instruções colhidas dos espíritos, ele não se coloca em posição superior a ninguém, reconhece que todos tem sua parte de ação no programa geral de expansão do pensamento espírita.
Esse reconhecimento da parte de trabalho que cabe a cada um de nós no concerto geral de evolução do planeta, onde se inclui naturalmente o próprio esforço pessoal nesse objetivo, é o primeiro passo que vacina contra vaidades ou pretensões desconectadas com nossa condição de filhos de Deus destinados à felicidade.
Todos podemos oferecer nosso trabalho, nosso esforço. Se soubermos agir com lucidez, se nos respeitarmos mutuamente, usando as ferramentas da coragem e da perseverança – como destaca o Codificador – um esplendoroso sucesso coroará vossos esforços, usando as palavras do próprio Kardec em seu discurso.
E o que seria esse sucesso senão a vitória sobre nós mesmos, no domínio das paixões e imperfeições que ainda trazemos, no cumprimento do dever, do esforço pela conquista de virtudes, na luta pelo progresso. Exemplo claro trazido pela conduta do codificador do Espiritismo, que não se deixa vencer pela postura vaidosa ou orgulhosa, embora todo o trabalho que estava em suas mãos.

A Revista Espírita é riquíssima fonte desses ensinamentos. Recomendo-a com ênfase aos leitores.

Orson Peter Carrara

Imagem da revista

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Não há amor a Deus e nem Cristianismo sem amor ao próximo


Informo aos meus queridos leitores que, frequentemente, sou redundante e repetitivo, de propósito, porque me preocupo muito com a clareza do que escrevo. Ademais, os comentários sobre a coluna no Portal de O TEMPO (www.otempo.com.br), além dos dos leitores novos, repetem-se muito. E assim, sou obrigado a voltar novamente às questões já abordadas.
É que meus assuntos já são de natureza complexa e polêmica, uma vez que eles são bíblicos, filosóficos e teológicos.  E se eu não primar, pois, pela ênfase da clareza das ideias tratadas e com simplicidade literária, os assuntos ficam pouco inteligíveis para o grande público. Assim, tenho também por norma fazer meus leitores não só pensarem como eu penso quando escrevo, mas até que sintam igualmente o que sinto.
E eis um exemplo do porquê de minhas redundâncias. Tenho demonstrado à saciedade que as traduções de “aionios” em grego e “ôlam” em hebraico na Bíblia por eterno ou tempo sem fim estão erradas, pois esses adjetivos, nas citadas línguas bíblicas, têm o sentido de tempo indefinido e não sem fim ou para sempre. O mesmo significado têm também os substantivos correspondentes a esses adjetivos: “aêon”, em grego, e “aeternitas”, em latim, traduzidos erroneamente por eternidade ou tempo sem fim. Assim, também, a locução adverbial de tempo “de eternidade em eternidade” encontrada na Bíblia, várias vezes, demonstra-nos que, se a eternidade é mais de uma, é porque ela é mesmo um tempo que tem fim, pois só existe outra eternidade com o fim da anterior. A questão é de uma clareza meridiana, mas falta humildade aos religiosos fundamentalistas para a aceitarem. Então, nem sempre volto ao assunto para eles mesmos, mas para esclarecer os leitores das suas incoerências absurdas.
Não se pode confundir o sentido de uma expressão com a sua tradução literal ou “ipsis litteris”. Porém, para mais clareza do assunto, vamos até substituir a mencionada locução adverbial de tempo “de eternidade em eternidade” por “tempo indefinido”: “Mas a misericórdia de Deus é “de tempo indefinido” sobre os que o temem.” (Salmo 103: 17).   Esse tempo é indefinido, porque depende da quantidade das boas e más obras de cada indivíduo. E essa misericórdia divina, por ser infinita, jamais cessa.
Mas vamos, ao menos um pouco, ao assunto do título desta coluna.
A missão de Jesus aqui no nosso mundo foi de enviado de Deus para nos trazer o Evangelho, para nós o pormos em prática, a fim de que possamos acelerar a nossa difícil passagem pela porta estreita, símbolo ensinado por Jesus da nossa salvação.
Muitos cristãos ainda pensam que Jesus veio ao nosso mundo para ter seu sangue derramado na cruz, pecado este contraditório que faria Deus o Pai ficar tão contente e feliz, que Ele até daria por nulas as nossas obras más, dando-nos a salvação totalmente de graça. Para esses cristãos, parece que Deus seja um espírito vampiro dos muito atrasados mesmo e que, pois, se deleita muito com sangue humano! Esses cristãos têm que se libertar urgentemente dessa teologia doentia, que eu tenho chamado de teologia do sangue, a qual de tão absurda que é, tem até arrastado parte da civilização cristã para o ateísmo.
E atentemos para a verdadeira teologia cristã do apóstolo e evangelista João (1 João 4: 20), em que se baseia o título dessa matéria: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.”

PS: Recomendo www.feeak.org.br

José Reis Chaves

Prof. de português e literatura aposentado formado na PUC Minas / Escritor e jornalista colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte / Palestrante nacional e internacional espírita e de outras correntes espiritualistas / Apresentador do programa “Presença Espírita na Bíblia” da TV Mundo Maior / Participante do programa “O Consolador” da Rádio Boa Nova / Tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Kardec, para a Editora Chico Xavier. E autor dos livros, entre outros, "A Reencarnação na Bíblia e na Ciência" e "A Face Oculta das Religiões", Editora EBM, SP, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Podem-se ler também as matérias da coluna de José Reis Chaves em O TEMPO, de Belo Horizonte, no seu facebook e no site desse jornal: www.tempo.com.br / Procurar colunistas. No final das matérias, há um espaço para comentários dos leitores, espaço este que se tornou um verdadeiro fórum de religiões. E qualquer um pode deixar seu comentário lá. Se não quiser que seu nome apareça, use um pseudônimo. E seu e-mail nunca aparece lá.
Obs.: Se meus livros não são encontrados em sua cidade, eles podem ser adquiridos diretamente comigo por meu e-mail ou telefone. Telefone: (31) 3373-6870