sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Voltando para casa

Um velho estava sentado num jardim descansando das atividades diurnas. Com satisfação, o ancião aspirava o perfume das flores quando viu aproximar-se um rapazinho dos seus catorze anos que se sentou num banco próximo.
Maltrapilho, o garoto mostrava-se triste e desanimado.

O que estaria fazendo o garoto na rua àquele horário? Estava anoitecendo e as pessoas passavam apressadas rumo aos seus lares.

Condoído, o bondoso velhinho acercou-se dele puxando conversa. Dentro em pouco ficou sabendo que o menino abandonara o lar desejando viver por sua conta. Então, perguntou ao garoto com voz serena:

— Você gosta de histórias?

A um sinal afirmativo do rapazinho, ele informou:

— Pois vou contar-lhe uma história que nos foi deixada por Jesus há quase dois mil anos.

E o velhinho principiou a contar, ante os olhos atentos do menino: 
               
— Um homem tinha dois filhos que eram toda a sua alegria. Certo dia o mais moço disse ao pai: Dá-me a parte da tua riqueza que me pertence. O pai, diante desse pedido, repartiu seus haveres, dando a cada um dos filhos o que lhe caberia por herança. Alguns dias depois, o filho caçula arrumou suas coisas e partiu para um país distante.

Vendo-se livre da autoridade paterna, o rapaz, que não era muito ajuizado, gastou tudo o que possuía com bebidas, mulheres e jogos. Quando percebeu, era tarde demais. Estava na mais absoluta miséria. Não tinha onde dormir ou o que comer.

Nessa época, uma grande seca assolou a região e a fome alastrou-se. Sem recursos, o rapaz pediu ajuda a um homem daquele país a quem contou suas desventuras e, condoído, ele o enviou para seus campos a fim de guardar porcos.

Os porcos se alimentavam de alfarrobas, isto é, os frutos de uma árvore chamada alfarrobeira, que são umas vagens de polpa doce e nutritiva usada para alimentar animais. No entanto, nem da comida dos porcos lhe davam, e ele passou muita fome. Lembrou-se, então, da sua casa e sentiu grande saudade do pai, que sempre fora muito bom. Arrependeu-se do que fizera e lembrou que na casa do seu pai todos eram bem tratados e viviam felizes. E ele, ali, não tinha o que comer! Então, o rapaz tomou uma decisão:

— Já sei o que farei. Voltarei para casa e direi ao meu pai: Pai, eu pequei contra o céu e diante do senhor; já não sou digno de ser chamado seu filho. Mas, se me aceitar, eu serei um simples empregado em sua casa.

               
Enchendo-se de esperança o rapaz assim fez. Regressou para seu país e para seu lar. A viagem foi difícil e cansativa, pois ele não possuía mais recursos para as despesas de viagem. Não desanimou, porém, e prosseguiu firme até chegar a casa. De longe o pai o avistou e condoeu-se do estado de miséria do filho. Cheio de compaixão correu ao seu encontro, abraçou-o e beijou-o com carinho.

E o filho disse a seu pai:

— Pai, eu pequei contra o céu e diante do senhor e não sou digno de ser chamado seu filho. Ficaria contente se me aceitasse como um empregado da sua casa.

O generoso pai, que nunca deixara de amar o filho, ordenou aos empregados:

— Tragam a melhor roupa para meu filho! Coloquem o anel em seu dedo e sandálias em seus pés. Façamos uma festa e alegremo-nos, porque este meu filho estava perdido e foi achado, estava morto e reviveu!

E assim foi feito. Quando o filho mais velho voltou do campo e ouviu som de música e de festa, perguntou a um dos servos o que estava acontecendo. O servo explicou: Seu irmão voltou são e salvo e seu pai mandou matar um boi novo e gordo para festejar a volta dele.

Indignado e cheio de ciúme, o filho mais velho não quis entrar em casa. O pai, avisado do que estava ocorrendo, foi encontrar-se com ele, e o filho mostrou sua revolta:

— Pai! Há muitos anos eu o sirvo fazendo todas as suas vontades e nunca ganhei nem um cabrito para festejar com meus amigos. No entanto, meu irmão, que gastou seu dinheiro em prazeres, é recebido com uma grande festa?!...

O bondoso pai, desejando incliná-lo à bondade e ao perdão, disse-lhe:

— Meu filho, você está sempre comigo e tudo o que é meu lhe pertence também. Mas é justo que nos alegremos com a volta do seu irmão, que estava perdido e foi achado, estava morto e reviveu para nosso convívio e alegria.

*

A noite caíra por completo e aos poucos as luzes da praça foram se acendendo.

O velho calou-se. O rapazinho, que permanecera pensativo, suspirou. Com ar profundamente compreensivo, virou-se para o velhinho, murmurando com voz comovida:

— Entendi a mensagem. O senhor conseguiu convencer-me. Retornarei para casa. Meus pais devem estar preocupados com minha ausência e sei que ficarão felizes ao me rever.

Levantou-se e, estendendo a mão para o velhinho, concluiu com lágrimas nos olhos:

— Obrigado. Afinal, não há melhor lugar do que a nossa casa, e não há problema que um pouco de compreensão e boa vontade não consiga resolver. 

Tia Célia

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