domingo, 17 de janeiro de 2016

Prazer adiado


A disciplina (em todos os sentidos: dieta, caminhadas, responsabilidades, compromissos, vigilância sobre o próprio comportamento, etc.), normalmente é encarada como algo difícil e desagradável. Afinal é difícil resistir a um sorvete ou a uma torta, à tentação de permanecer mais na cama, a faltar num compromisso numa noite de chuva e mesmo atender à necessidade dos cuidados com a saúde. Isso sem falar nos que não resistem às oportunidades da desonestidade, da esperteza que prejudica outras pessoas, ao “jeitinho” brasileiro, aos deslizes morais de toda espécie. 
Resistir, todavia, é grande virtude. Não é fácil disciplinar-se. A primeira providência é não mentirmos para nós mesmos. De que adianta dizer que esse ou aquele compromisso é bom, agradável, quando não sentimos prazer. Então, o oposto é dizer a verdade: não é bom, mas é necessário. Ou, em outras palavras: preciso fazer isso. Preciso estudar, preciso caminhar, preciso resistir, preciso disciplinar-me, mesmo adiando o prazer. Sim, porque segurar-se em várias questões provoca adiamento do prazer que buscamos. 
Adiar o prazer momentâneo, ao invés de trazer sofrimento, o potencializa.
O prazer momentâneo da indisciplina alimentar criará problemas para a saúde. Adiar esse prazer significa mais qualidade de vida, mais saúde. Da mesma forma um estudante que adia o prazer de passear, namorar, etc., potencializa o prazer futuro de se ver aprovado no vestibular. O prazer efêmero da aventura sexual muitas vezes trará muitas “dores de cabeça” no futuro. 
Por isso pensando na disciplina que precisamos aplicar a nós mesmos, busco a inspiração do poeta Cornélio Pires no poema Assuntos de disciplina, que transcrevemos parcialmente:

Tema difícil — meu caro —
Pois disciplina é dever,
Mas isso, enquanto entre os homens,
Não é fácil de saber.

Se vivermos descuidados,
Deixando as horas em vão,
Surgem testes retardados
E lutas de revisão.

A prova que se recusa
É caminho a desamparo,
Ensinamento esquecido,
Mais à frente custa caro.

Todo aquele que se esquece
Do que lhe cabe fazer,
Descamba no prejuízo,
Tem sempre muito a perder.

Lembre, nos quadros da Terra
Que recordamos a dois:
Onde surge a indisciplina,
Tribulação vem depois…

Discipline, caro amigo,
Seu tempo, corpo e função…
Quanto mais ordem na vida,
Mais vida de elevação.

Orson Peter Carrara

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Divaldo Franco e a Casa do Caminho

ESSE MERECE COMPARTILHAR! (Inédito no Face) Espalhe esse grande exemplo *** Divaldo Franco no Fantástico (se a opção de...

Publicado por Livraria do Espírita em Quarta, 18 de novembro de 2015

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Vozes do outro lado da vida


A Doutrina dos Espíritos (ou Doutrina Espírita, ou Espiritismo) é a ciência que estuda a natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como as relações que se estabelecem entre o plano físico e o mundo espiritual. Como ciência de observação investiga os fatos espíritas, como filosofia explica-os, como moral catapulta o Homem para patamares de espiritualidade mais arejados.
Através do Espiritismo, a morte morreu, as provas da imortalidade do Espírito apareceram e continuam a aparecer até aos dias de hoje, através das vozes dos "falecidos" que, por intermédio dos médiuns, demonstram a sua imortalidade. 
Tais fatos sempre existiram desde que o Homem é Homem. 
Allan Kardec estudou-os metódica e cientificamente desde 1857, altura em que o Espiritismo apareceu com o lançamento de "O Livro dos Espíritos". 
Nos dias que correm, são muitos os cientistas e pesquisadores que, pelo mundo afora, investigam e confirmam as assertivas espíritas acima referidas. 
Jorge Gomes, jornalista e editor do "Jornal de Espiritismo" (www.adeportugal.org), conferencista, escritor, já vai para o seu 3º livro lançado pela Federação Espírita Portuguesa (FEP),estando a fazer um notável trabalho de edição de livros espíritas de autores portugueses, bem como reedições de livros espíritas de qualidade– de Allan Kardec, Chico Xavier, Divaldo Franco, Raul Teixeira, Yvonne do Amaral Pereira, entre outros. 
Depois da edição de "Além do Véu" e "Do pós-vida à mediunidade", foi lançado em Portugal, recentemente, nas Caldas da Rainha, o livro "Vozes do outro lado da vida". 
Com uma encadernação muito bem conseguida, este livro é fruto de anos de pesquisa em reuniões mediúnicas, onde o autor conversou com pessoas já na dimensão espiritual (falecidas) que se manifestavam através de médiuns, em reuniões espíritas, num dos centros espíritas existentes na zona do Porto, onde o autor colabora. 
Após uma contextualização inicial no primeiro capítulo, o autor selecionou os casos atendidos, de Espíritos adoentados, acidentados, portadores de deficiência, obsessores, religiosos, suicidas e diversos outros, terminando no capítulo III por fazer uma síntese do que é mais importante nestas situações, da pesquisa, da procura e respectivas conclusões.
O contato sério, metódico, honesto, rigoroso, com o mundo espiritual, prova inequivocamente a imortalidade do Espírito. 
Com um prefácio de Júlio Peres– Psicólogo clínico, Doutor em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia – Universidade de São Paulo, pós-doutorado no "Center for Spirituality and the Mind - University of Pennsylvania", pós-doutorado em "Diagnóstico de Imagem/Radiologia Clínica - UNIFESP"– este livro destina-se a pessoas não espíritas que pretendam entender o que se passa numa reunião de contato com o mundo espiritual, e destina-se igualmente a pessoas que se interessem pelo assunto, aos espíritas em geral e, particularmente, àqueles que colaboram gratuitamente nas atividades em centros espíritas, nessas reuniões, bem como a quem esteja a efetuar estudos de Espiritismo. 
Na contracapa, o autor diz que "Depois de bem examinado o assunto, confirma-se: a linguagem dos mundos é tão somente o amor, tal como o entendia Jesus de Nazaré. Sem esse sentimento maior no coração, ninguém conseguirá ter, tão cedo, olhos para a luz". 
Que a obra "Vozes do outro lado da vida" nos possa ajudar a vislumbrar esse mundo que nos espera um dia, quando largarmos o invólucro carnal, como decorrência de um fenômeno natural – a morte do corpo físico – que é apenas a abertura de um portal para uma nova vida, um novo patamar existencial, na imortalidade da existência do Espírito. 

Nota – O leitor poderá adquirir o livro "Vozes do outro lado" em qualquer associação espírita que o tenha à venda, em www.feportuguesa.pt ou ainda pelo telefone 351 - 214 975 754.

José Lucas
Óbidos, Portugal

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sábado, 9 de janeiro de 2016

O retorno ao mundo espiritual


De todas as certezas que podemos ter na vida, a morte é a mais certa delas. Inevitável... chega a qualquer hora e em qualquer lugar, atingindo, sem pedir licença homens, mulheres, crianças, idosos, seres vivos em geral, de qualquer idade, crença ou classe social. 
O curioso, é que mesmo sabendo ser este o destino de tudo o que é vivo, fazemos de conta que ela não existe e que jamais irá nos atingir. Educamo-nos para a vida, mas não o fazemos para a morte, para sua aceitação quando chegar a nossa vez ou a do outro. 
Os motivos que nos levam a cruzar o além são muitos e impostos pela forma como vivemos. Se negligentes ao atravessar uma rua, certamente seremos atropelados; se somos hipocondríacos, poderemos partir por uma intoxicação provocada pelo excesso de medicamentos; se alcoólatra, partiremos por doenças que acometerão o sistema biológico como a cirrose e assim por diante, sem esquecer a transposição pelo suicídio. 
Chegaremos ao plano espiritual e seremos amparados de modo mais ágil ou não de acordo com nossas conquistas e nosso estado mental ditará o local onde habitaremos. Daí advém a necessidade da educação para a morte, que implica em mudanças de atitudes e comportamentos diante da vida. 
Se morrer não é o fim, então porque morremos de medo de morrer? A pergunta é redundante, porém necessária, e a resposta óbvia, morrermos de medo de morrer porque não sabemos o que é a morte e porque não nos adestramos para morrer. E a assertiva é real inclusive para o meio espírita, que como justificativa para a falta de educação para a morte, dizem que não sabem o que encontrarão do outro lado... 
Muitos morrem, poucos desencarnam, pois morrer é ter as sensações vitais paralisadas, mas ter o espírito em agonia pelo passamento. Desencarnar é agradecer pelo corpo que serviu de abrigo ao espírito em sua trajetória evolutiva e seguir sem apego àquilo que já não tem mais funções a desempenhar. É partir livre na certeza de que a vida permanece ativa. 
O historiador Philippe Ariès, pesquisou durante muito tempo o comportamento do homem diante da morte e mostra que a forma como a encaramos é algo novo. As mudanças, do período medieval ao atual foram lentas e muitas vezes não percebidas. 
Na Idade Média, a morte era um evento público que ao ser pressentida fazia com que as pessoas se recolhessem com seus amigos e parentes para dar cumprimento ao ritual de pedir perdão pelas faltas e transcrever o testamento onde era expresso todos os desejos inclusive o de salvação da alma, descrevendo a forma como gostaria que fosse o velório e o sepultamento bem como declarando os valores que seriam empregados para o pagamento das missas em favor da própria alma e de outros que fossem lembrados. 
A prática era enterrar em local considerado sagrado, como nas igrejas para os que podiam pagar ou próximo a ela para os indigentes. Mortos e vivos conviviam pacificamente até que os valores começaram a mudar e o hábito de se fazer festas e feiras nos adros das igrejas desapareceu por ter se tornado um incomodo conviver com os falecidos. 
Na Idade Moderna europeia mantiveram-se os mesmos costumes, porém a visão sobre a morte mudou e esta passou a ser vista como algo que tirava um ente querido. Era uma transgressão aos sentimentos, a morte de si mesmo deixa de ser temida e passa-se a recear a morte do outro. 
Para evitar o contágio com os miasmas pestilentos da morte, surgiram os cemitérios e a família passou a ser o foco das atenções com a adoção do luto eterno como demonstração de respeito e de profundo sentimento pela “perda”. 
Por temer a falta do outro e a fim de evitar sofrimentos, no período Contemporâneo o estado de saúde do moribundo passou a ser escondido deste, ele não devia saber que estava prestes a cruzar a fronteira com o além, porém a intenção era varrer a morte da sociedade. 
A partir da década de 30 do século XX, não mais se morre em casa e cercado de amigos e parentes, mas em hospitais e de forma solitária. Para Norbert Elias, esta forma de morrer é reflexo da forma como se vive nas sociedades modernas, solitariamente. 
Os avanços da ciência médica passaram a permitir o prolongamento ou não da vida, o luto também perdeu o sentido e o pensamento de que morte chegará sempre para o outro, como dito anteriormente, permanece vivo bem como o sentimento de que somos os únicos a sofrer quando chega a termo a vida física de um ente querido. 
Nesse percurso histórico, a morte foi encarada como a ida para o nada e no mesmo período surge o Espiritismo colocando por terra os dogmas explicando que para salvar-se é preciso praticar a caridade, pois, fora desta não há salvação, o que significa, de acordo com o Espírito da Verdade, na questão 886 de O Livro dos Espíritos: benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. 
O Espiritismo esclarece os meandros temidos da morte, mostrando-a como um processo natural na vida do espírito em seu processo evolutivo. Deixa claro que apenas o corpo vira pó e que o espírito vai encarar a jornada em um novo plano. 
Muitas vezes já morremos e ainda tememos o passar para o outro mundo, um medo justificado apenas pela falta de estudo e de conhecimentos sobre o assunto, visto que educar-se para a morte faz parte do processo de transformação moral do indivíduo. 
Se o Espiritismo esclarece os temores da morte e tem os mecanismos adequados que promovam uma educação neste sentido, porque o espírita ainda treme diante de sua “aparição”? Medo do fantasma de preto segurando uma foice, temor de que o mito da finitude seja verdadeiro ou medo de descobrir a sua verdadeira essência enquanto espírito? 
Em 1959, Chico Xavier fazia uma viagem, de avião, que enfrentou uma grande turbulência. Em meio ao pânico geral, Chico também começou a gritar e todos já esperavam não sair vivos. Emmanuel o repreende dizendo que a cena demonstrava falta de fé na imortalidade da alma. 
De acordo com Kardec em O Céu e o Inferno, o temor da morte parte do instinto de conservação do homem, necessário enquanto não temos esclarecimentos sobre a vida após a morte e também para impedir que sejamos negligentes com a vida corporal e, à medida que tenhamos uma melhor compreensão sobre o seu sistema, o medo desaparecerá. 
Porém, apesar dos esclarecimentos, a morte permanece envolta em mistérios e crenças como o virar santo. As frases direcionadas para os que partem como “olhe por nós daí de cima”, são claras demonstrações de que ainda não sabemos o que é a morte e qual deve ser o nosso procedimento diante do fato, mas também revela a ignorância sobre as condições do espírito. 
A morte não é uma novidade na vida do homem, ao contrário, é um processo natural, tanto quanto nascer. Porém nos escusarmos a entender e até mesmo a falar sobre a morte e segundo Kardec, este comportamento não nos permite penetrar o pensamento no mundo espiritual e por isso temos dele uma visão distorcida que impõe o medo e a falta de informações não deixa que percebamos as condições espirituais de quem parte, pois por melhor que tenha sido quando encarnado, poderá não seguir em paz e, portanto não estar em condições de olhar por nós. 
Cada um encontra-se em um degrau na escala evolutiva carregando o fardo das próprias ações que determinará a realidade da vida no mundo espiritual. Lembrando que a mente culpada projetará sofrimentos e se afinará com outros que estiverem no mesmo patamar energético; a mente em paz consigo mesma e certa de que viveu procurando fazer o bem e em consonância com as Leis Divinas, granjeará benesses. Portanto, este não teme a morte e nem procura justificativas vãs mesmo porque, sabe bem o que é o mundo espiritual e o que lhe aguarda ao cruzar o véu. 
O espírito André Luiz nos diz que a maior surpresa da morte é nos confrontarmos com a nossa consciência, pois é a partir dela que construímos o céu, paramos no purgatório ou nos precipitamos aos planos inferiores. 
Conforme colocou Herculano Pires, a educação para a morte começa no exato momento em que tomamos conhecimento dessa realidade e despertamos para uma noção profunda que nos leva a compreender as implicações e proporções da morte, a perceber a imortalidade como uma benção e uma oportunidade de reencontrarmos os que amamos e dar continuidade à vida com maiores possibilidades de acerto, com liberdade e com a consciência de que somos Espíritos.

Referências:

ARIÈS, Phillippe. História da morte no Ocidente. Da Idade Média aos nossos dias. Trad. Priscila V. de Siqueira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
ELIAS, Norbert. A solidão dos moribundos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2001.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Trad. Albertina Escudeiro Sêco. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CELD, 2008.
XAVIER, Francisco Cândido e LUIZ, André (espírito). Nosso Lar. Brasília: FEB, 2014.


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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Existem Espíritos em toda parte?


“Estamos mergulhados num mar de ideias.” - Platão.

Remontando à antiga Grécia podemos ver Platão nos ensinar que “vivemos num mar de ideias”. Vamos também estudar Paulo de Tarso quando ele nos diz que "vivemos como que na frente de plateia de assistentes”. E também no século passado leremos Albert Einstein quando ele diz que “vivemos num mundo repleto de ondas”.
Sabemos que existem pessoas em toda parte e, assim como nos diz André Luiz, as formas-pensamento estão sendo constantemente emitidas por nós a todos os instantes. Como a vida continua e não termina com certeza no túmulo, veremos, então, como nos ensinam os Espíritos, através de Kardec, que há Espíritos em toda parte.
Essa mistura dos encarnados e desencarnados, essa troca de ideias constante entre o mundo físico e o espiritual nos conduz a pensar sobre nossas posições mentais, vigiar sempre, para não deixar as influências espirituais nocivas nos afetarem, pois nos afirmam os Espíritos, numa das perguntas de O Livro dos Espíritos[1]: Os Espíritos influenciam em nossas vidas? E a resposta é objetiva: “muito mais do que vocês imaginam”. Podemos então perceber, na profundidade dessa afirmação, como devemos realmente vigiar: sempre.
A existência de Espíritos em toda parte nos leva a perceber que, com os nossos atos e pensamentos, exemplos bons ou não, atraímos os Espíritos segundo a sintonia que provocamos.
Fato é que, estando os Espíritos à nossa volta, eles podem nos ajudar ou atrapalhar, dependendo apenas de nossa posição mental, espiritual e,porque não dizer, vibracional?
Esse tema nos leva ao profundo e complexo problema das perturbações, obsessões e todo tipo de influência negativa que recebemos dos Espíritos quando nos sintonizamos na mesma faixa de vibração.
As pessoas que não acreditam na espiritualidade, vida após a morte, e todo esse complexo de interferência espiritual à nossa volta, ao se depararem com o problema da influência espiritual, levam toda essa problemática para o campo da psicologia e psiquiatria clássica, não procurando observar com mais profundidade o problema.
Sem dúvida as ciências psicológicas e psiquiátricas têm um papel importante nas nossas vidas para a busca do equilíbrio emocional e cognitivo do ser, mas estamos aqui falando de algo que transcende o ser encarnado, levando-nos a um questionamento mais profundo, pois a Ciência muitas vezes cura os problemas dessa ordem, mas outras vezes não. Podemos ver, no dia a dia, pessoas se curando através de uma terapia alternativa, oferecida pelos centros espíritas, que é o “tratamento espiritual”, que não tem, segundo os estudos clássicos da Ciência, qualquer comprovação da sua eficácia, até porque os elementos chaves, o Espírito e sua influência, ainda se encontram obscuros para a nossa Ciência.
Assim deveremos, passo a passo, dia após dia, construir o reino de Deus dentro de nós, para que possamos estar em sintonia com os bons Espíritos, recebendo suas orientações dentro do nosso campo mental em forma de intuição, inspiração ou até mesmo uma atuação mais direta, dependendo da situação em que nos encontramos.
O esperado bloqueio das influências negativas dos irmãos espirituais que ainda se identificam com o mal, só é possível com mudanças de atitudes, e procurando viver dia após dia os ensinamentos de Jesus.
Importante que entendamos que o tratamento espiritual é um remédio importante para restituir o equilíbrio espiritual, mas, para permanecer nesse equilíbrio, dependerá, dali para frente,de nós. Porque continuaremos recebendo as influências boas ou não, dependendo apenas de nós.
Disse Jesus ao doente: [2]“Eu te curei, vai, mas não peques para que não te aconteça coisa pior”. Nessa lição o Mestre dos mestres nos proclama a necessidade de mudança hoje para obtermos uma vida espiritual melhor. Para que consigamos manter uma ligação com a espiritualidade Maior torna-se necessário o trabalho no bem, a única saída real e efetiva para o nosso ser.
Espíritos em toda parte, com ou sem evolução nas ações, sentimentos e emoções, constroem um hálito espiritual à nossa volta,em que nós compartilhamos e colaboramos nesse tal nível de energia e vibração.
Seja como emissores de pensamentos ou atos, construtivos ou não, estamos na presença de Espíritos a todo o momento. Assim, orar e vigiar, como manda o Mestre, é ainda a melhor forma de garantir uma ligação proveitosa junto à espiritualidade Maior.

Referências:
[1] Allan Kardec, Livro dos Espíritos.
[2] Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo.

Wagner Ideali
Guarulhos, SP (Brasil)

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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Os que foram para o lado de lá e voltaram para contar...


A médica suíça Elisabeth Kübler Ross (08 de julho de 1926 – 24 de agosto de 2004) passou décadas ao lado de pacientes em estado terminal. Sua experiência a fez escrever o livro “Sobre a morte e o processo de morrer”, em que apresenta o modelo de Kübler Ross a informar familiares e amigos de doentes terminais a melhor maneira de conviver com a situação.
A pesquisadora estudou mais de 20.000 casos de EQM - Experiência de quase morte - e verificou que todos tinham um ponto em comum: aqueles indivíduos que foram e se depararam com o outro lado da vida não queriam voltar para o lado de cá. Relataram sobre o sentimento de liberdade e plenitude que experimentaram ao não estarem carregando o pesado corpo de carne.
Tiveram sensações das mais agradáveis, como se estivessem num sonho bom, mas que, infelizmente, segundo narrativas, foram obrigados a acordar e utilizar novamente a máquina física que, bem o sabemos com o conhecimento espírita, oblitera a manifestação do Espírito em sua força total.
Foi-se o tempo em que triunfava o argumento de que "ninguém ainda voltou para contar como é o lado de lá". Muitos foram, todos gostaram e quiseram ficar.
As pesquisas da Dra. Ross evidenciam um outro ponto importante: somos amparados pelos Espíritos que nos precederam na grande viagem da vida. A bem da verdade, é que, seja aqui ou no Além, Deus está conosco, amparando sempre.
Pena em algumas ocasiões duvidarmos de sua bondade e cairmos no fosso dos incrédulos.
Dia desses, um amigo comentou que ao comparecer ao consultório médico para renovação de sua CNH, iniciou um bate-papo com a médica que o atendeu.
Estava ela amargurada com a morte do marido. Segundo ela, homem alto, forte, bonito, e que se cuidava muito. Colesterol em dia, glicose idem, pressão 12/08, de menino, não obstante os seus 55 anos.
Foi-se embora sem dizer “adeus”. Numa dessas noites dormiu com a visita da lua, porém não se levantou com o alvorecer.
Partiu fulminado por inexplicável ataque cardíaco.

Com tristeza, indagou:

- Por que com ele, se há tanta gente malvada no mundo?
- Há pessoas que vêm para uma vida breve, existência curta mesmo, entretanto, a morte não existe, pois o que morre é o corpo – tentou consolar o amigo...
- Chega, moço! Chega!

Calou-se meu amigo; percebeu que naquele momento suas palavras seriam inócuas, porquanto não estava a doutora com ouvidos de ouvir.
Ele apenas pediu que ela o procurasse quando quisesse conversar sobre a imortalidade da alma.
Despediu-se da doutora e partiu, não sem antes lançar-lhe um olhar de compaixão...
Ela passa pela segunda etapa do luto: a raiva.
São cinco as fases do luto: negação, raiva, negociação, interiorização e aceitação. Sugiro que estudem o modelo de Kübler Ross para melhor compreensão do tema.
Não adiantam discursos religiosos ou conselhos nesta segunda etapa do luto. É preciso cada um vivenciar o luto e ter seu tempo.
Pena que para os que desconhecem a imortalidade da alma o processo de luto seja extremamente doloroso...
Não precisaria ser assim, mas, enfim, num mundo ainda demasiado materialista poucos entendem a necessidade do “morrer”...
Ainda bem que Espíritos como a Dra. Ross nos visitam aqui na Terra e deixam um legado que faz aquecer corações e esclarecer mentes.
Muitos não ouvem, mas os que ouvem terão analgésicos para suas dores...
Pensemos nisto.

Wellington Balbo
Salvador, BA (Brasil)

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A generosidade diante do umbiguismo


Há uma doença que acomete gravemente algumas pessoas, sem que elas tenham a mínima consciência de estarem padecendo dela: o umbiguismo. É aquela personalidade que só fala de si, de seus problemas, de suas demandas, que está sempre orientada para seu próprio ego. Se entremeia a conversa com alguma pergunta sobre a saúde ou o bem-estar do outro, é por um resquício de cortesia superficial, que se esvai logo que o outro responde brevemente. A frase seguinte do umbiguista é de novo sobre si mesmo. 
É claro que todo ser humano guarda em maior ou menor grau uma dose de egoísmo que, como diria tão acuradamente Kardec, ao lado do orgulho, são as maiores chagas da humanidade. Mas refiro-me aqui àqueles extremos, que se fixaram no período do narcisismo infantil. É normal a criança pequena, por uma questão de sobrevivência e do processo de desenvolvimento, ter um momento de total fixação em si mesma. Não é normal o adulto, que já deveria ter atingido a maturidade psíquica, agir dessa maneira autocentrada, sem conseguir sentir sinceramente empatia para com as demandas do outro. 
Não é normal o adulto não se preocupar autenticamente com os de sua volta, movendo-se para atender às necessidades que estão ao seu alcance atender ou até que são de seu dever atender. 
Ora, o problema que quero analisar aqui é o encontro de um umbiguista com uma pessoa generosa, dessas que ao contrário da descrita acima, gosta de ajudar, se preocupa genuinamente com o bem-estar alheio e se entrega afetivamente aos familiares, amigos, a colegas de trabalho, e em alguns casos de maior nobreza, a qualquer ser humano que se lhe aproxime. 
O que muitas vezes se dá então é que o umbiguista pode se tornar um vampirizador, um explorador, um abusador da generosidade do outro. Já aqui uma vez neste blog, comentei a história da árvore generosa, cujo menino foi retirando todas as partes da árvore, que sempre lhe cedia tudo o que ele pedia. Então, defendi a atitude da árvore, apesar do umbiguismo do menino, porque a generosidade não pode trair a si mesma, por causa do egoísmo do outro. 
E eis aí o grande conflito que quero comentar. Como não se tornar menos generoso, mais egoísta, mais defensivo, mais calculista, diante de tanto egoísmo empedrado que se vê hoje em dia? Sobretudo num momento histórico, em que se estimula o centrar-se sobre si mesmo, o pensar primeiro em si e sob o discurso do autoamor (sem dúvida necessário, pois até Jesus disse: ama ao próximo, como a ti mesmo), escondem-se muitas vezes uma apologia do umbiguismo disfarçado e um desprezo e um horror por palavras antigas e nobres como sacrifício, renúncia, entrega… 
Como não perder a generosidade, como não trair a empatia, diante de pessoas que só pedem, só querem, só demandam, só falam de si e pensam que o mundo gira em torno delas? Que são incapazes de se preocupar de fato com o outro e, muito menos, de serem pró-ativas em cuidar de quem quer que seja? Rápidas no exigir, cobrar, esmolar, pedir e lentíssimas, desinteressadas, e mesmo ausentes, quando se trata de prestar um favor, ajudar ou mesmo praticar atos de civilidade social, como um telefonema, um cumprimento, uma visita, um convite, um como vai? 
Chega um momento em que por mais que o generoso persista em sua generosidade, terá de se cobrir de uma camada de autoproteção, para que sua energia e seus recursos (sejam afetivos, humanos ou mesmo financeiros) não sejam totalmente drenados pelo umbiguista. Mas, diante de uma ou outra recusa sua em atender às demandas de quem sempre está pedindo algo, ou quando por qualquer circunstância, o umbiguista não está num momento de necessidade, a pessoa generosa verá amargamente o desaparecimento do outro. Ausência prolongada, desinteresse, ou um pouco de cortesia forçada apenas. Então, essa pessoa, que se doa por hábito, certamente sentirá o quanto o umbiguista usa e abusa e não consegue ter um afeto mais profundo por ninguém. 
Esse é o cenário aparente da situação. Mas se quem doa persiste, com um certo cuidado para não se deixar esfolar pelo umbiguista; se quem é generoso não se mover de sua generosidade e se quem ama não deixar de amar incondicionalmente, apesar de receber um amor muito pobre daquele pobre egoísta, então, um dia, a ficha deste último cai. Um dia ele se toca. Um dia percebe o quanto foi infantil e centrado apenas em si. Mas talvez, não haverá tempo mais de ser generoso com aquele que foi generoso com ele. Será com outros. Assim é a dinâmica da vida. Porque o que de principal a pessoa generosa deu para o umbiguista terá sido justamente o aprendizado no exemplo do que é ser bom, altruísta, solidário e… generoso. 
E o generoso, o que terá aprendido? A perseverar na bondade, a desapegar-se totalmente dos resultados e a manter-se sereno diante dos umbiguistas da vida…

Dora Incontri

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Piedade em casa


Não aguardes as ocorrências da dor para desabotoares a flor da piedade no coração. 
Sê afável com os teus, sê gentil em casa, sê generoso onde estiveres. 
No lar, encontrarás múltiplas ocasiões, cada dia, para o cultivo da celeste virtude. 
Tolera, com calma silenciosa, a cólera daqueles que vivem sob o teto que te agasalha. 
Não pronuncies frases de acusação contra o parente que se ausentou por algumas horas. 
Não te irrites contra o irmão enganado pela vaidade ou pelo orgulho que se transviou nos vastos despenhadeiros da ilusão. 
Na tarefa de esposo, desculpa a fraqueza ou a exasperação da companheira, nos dias cinzentos da incompreensão; e, no ministério da esposa, aprende a perdoar as faltas do companheiro e a esquecê-las, a fim de que ele se fortaleça no crescimento do bem. 
Se és pai ou mãe, compadece-te de teus filhos, quando estejam dominados pela indisciplina ou pela cegueira; e, se és filho ou filha, ajuda aos pais, quando sofram nos excessos de rigorismo ou na intemperança mental. 
Compreende o irmão que errou e ajuda-o para que não se faça pior, e capacita-te de que toda revolta nasce da ignorância para que tuas horas no lar e no mundo sejam forças de fraternidade e de auxilio. 
Quando estiveres à beira da impaciência ou da ira, perdoa setenta vezes sete vezes e adota o silêncio por gênio guardião de tua própria paz. 
Compadece-te sempre. 
Se tudo é desespero e conturbação, onde te encontras, compadece-te ainda, ampara e espera, sem reclamar. 
Guarda a piedade, entre as bênçãos do trabalho. 
Habituemo-nos a ignorar todo o mal, fazendo todo o bem ao nosso alcance. 
A piedade do Senhor, nas grandes crises da vida, transformou-se em perdão com bondade e em ressurreição com serviço incessante pelo soerguimento do mundo inteiro.

Elucidações de Emmanuel 
Do livro Alvorada do Reino, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

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domingo, 20 de dezembro de 2015

Natal de amor


Após a Introdução de O Livro dos Espíritos, o leitor atento encontra matéria com o título Prolegômenos que significa exposição preliminar dos princípios gerais de qualquer ciência ou arte, introdução expositiva de algum tratado científico. Ela vem assinada por diversos sábios da Humanidade e entre tais assinaturas destaca-se a de Vicente de Paulo (1576-1660), um sacerdote francês que em 1633 fundou a Congregação das Irmãs de Caridade com o objetivo de atender os pobres e os enfermos. 
Quando morreu Vicente, já havia 40 casas das Irmãs de Caridade, que depois se espalharam pelo mundo e chegaram ao Brasil em 1849. Hoje, inspiradas por tal obra, distribuem-se pelo mundo através de hospitais, ambulatórios médicos, dentários, enfermagem, sendo mais conhecido por aqui através das Associações Vicentinas ou Casas de São Vicente de Paulo. 
Por que falamos de Vicente de Paulo? Justamente para falar do amor... O que é o amor? Seria a afeição entre homem e mulher? ou o amor de mãe? Todas são expressões do amor, mas gostaríamos de comentar o amor vivido e demonstrado por Vicente, assim como também por Jesus, Francisco de Assis e tantos outros importantes nomes da história humana, inclusive na atualidade como Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá ou Chico Xavier... 
A Doutrina de Jesus, por exemplo, é a mais alta expressão do amor. Ele já ensinava que o maior mandamento é o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo... A própria Parábola do bom samaritano já indica isso. O Livro dos Espíritos em sua questão 888 traz resposta de Vicente e também em O Evangelho Segundo o Espiritismo a presença de Vicente é marcante na exaltação do amor ao próximo, através da caridade. 
Nossa ausência de autoridade para falar do assunto, face à fragilidade na vivência espontânea do amor ao próximo não nos tira, entretanto, o entusiasmo de falar sobre o amor. Toca-nos o coração ver nossos irmãos carentes entregues ao relento, passando imensas dificuldades na própria sobrevivência, sofrendo a humilhação do desprezo social. Quantos irmãos nossos não vemos pelas ruas, no trânsito, carregando caixas de papelão ou coletando latinhas de refrigerantes, crianças em semáforos, velhos abandonados, enfermos entregues à própria sorte em hospitais... 
A mensagem de Vicente de Paulo, entre tantos vultos inspirados pela mensagem do Evangelho, convida-nos a essa face real do amor. Deixemo-nos impregnar por tais exemplos e verdadeiros convites para o bem. É claro que ainda não somos capazes de agir como eles, nem ter a espontaneidade com que viveram, mas pelo menos pensemos nos exemplos que deram diante de nossos irmãos em dificuldade que encontremos pelo caminho, mesmo que for apenas para oferecer-lhes um sorriso e um minuto de atenção... 
Quando chegamos ao Natal, que o amor trazido por Jesus nos inspire as ações nesse sentido para efetivamente vivermos o amor espontaneamente.

Orson Peter Carrara

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Tão perto, tão longe


O poeta falava ao jornalista sobre seu assunto mais íntimo: a poesia. Tornara-se a pouco imortal, quase ao mesmo tempo em que a matéria frágil lhe anunciara seus oitenta anos de perfeita destrutibilidade. O jornalista matreiro e experiente esquenta a conversa, recordando: você não acredita em nada além da vida, não é? Sorrindo um riso quase natural, espontâneo, o poeta recém-empossado na Academia Brasileira de Letras reflete brevemente e confirma: não, não acredito; até gostaria de crer, dizem que é melhor acreditar do que não acreditar, mas eu não consigo mesmo. Aqui se aplica bem a frase de Vinícius: “que seja imortal enquanto dure”. 
Alguns minutos antes, o poeta revelara o seu processo de composição poética e deixara no ar uma interrogação a respeito das ideias, dos temas e mesmo das motivações para compor suas consagradas obras. Tudo vinha simplesmente, sem planejamento prévio. Eu não planejei a minha vida, nada, tudo veio naturalmente, diz. O jornalista contrapõe, então: mas a inspiração depende muito da transpiração, não é? Sim, afirma o poeta, mas eu não faço muito esforço, não. Claro, cabe a mim dar o tom, o estilo, apurar, trabalhar o texto. As coisas chegam e acho que esse é o caso, porque a pessoa não é poeta, escritor etc. se não nasceu com o dom. Não adianta querer ser uma coisa se o dom não está presente, se ele não nasceu com aquilo. O poeta fala de algo que para ele está no DNA, com a certeza de todas as certezas, porque é isso que o alimenta, é nisso que acredita. 
O ser humano é um ser limite. Não digo limitado, apenas, mas digo que vive na fronteira da vida e da morte, do espírito e da matéria e de forma geral não tem a percepção clara disso. Está sempre esbarrando num e noutro lado da fronteira, muito próximo do crer e do não crer, quase a descobrir o que um e outro lado apresentam, sem, contudo, ultrapassar a linha tênue que separa a matéria do espírito. Ele não é nem completamente um corpo, nem completamente um espírito. Isso vale tanto para o homem material, feito o poeta a crer no fim, na extinção total da vida ou término do ciclo, como vale também para o homem espiritual, que crê na continuidade, no depois, mas está sempre esbarrando nas dúvidas da vida material. 
Não me agrada a ideia da existência de alguém que não crê; penso que o ser humano é aquele que crê sempre em alguma coisa, e, por crer, age, sonha, pensa, descortina. O poeta que revela sua incapacidade de crer em algo após a morte, na verdade, crê na inutilidade da vida, na sua finitude total. Crê na imortalidade apenas da duração, daquilo que é válido viver, mas sem a perspectiva da repetição, do renascimento ou da permanência para além do limite da vida material. O futuro nele está sempre pressionado pela morte e só é válido pensar neste futuro até o horizonte próximo, após o qual não há nada mais. 
Algo não muito diferente se passa com o homem espiritualista que acredita na continuidade e no retorno, mas vive pressionado pelos conflitos do viver no corpo e anseia sempre colocar os pés no outro lado da fronteira, antes mesmo de completar a experiência do próprio corpo. Sua dúvida maior está em como viver na matéria sem perder a essência do espírito, o que o coloca na condição de não viver completamente, nem a perspectiva do espírito nem a do corpo. 
Nessa fronteira-limite os dois se esbarram sem perceber, e esbarram permanentemente, porque o homem de Herculano não é o homem-corpo, mas o homem-espírito, apesar de seus quereres e de suas negações. A inspiração do poeta é uma realidade, mas parte considerável de sua origem, de sua fonte – esta relação comunicativa misteriosa, a envolver os de cá e os de lá –, para o poeta-corpo, só alcança quem nasceu com o dom de ser poeta, escritor, dramaturgo, mas, na verdade, alcança a todos, em todas as áreas, onde a criação esteja sendo exercida por qualquer forma de arte, ou onde a vida humana consome-se no existente. 
Dois humanos vivem na inspiração, da inspiração, com a inspiração. Não penso apenas em dois humanos distantes, um aqui, outro além; penso, também, em dois humanos visíveis, táteis, que estão ou não lado a lado, mas que habitam o mundo do pensamento e não apenas o do DNA. Porque o seu amigo do lado, que o abraça e dá bom-dia é fonte de inspiração; porque o seu olhar capta as imagens da tristeza, sem perceber que forças o movem para que se dirija para o lado onde a tristeza se derrama. A sua inspiração o leva a criar, e a criação o faz transformar a tristeza em possibilidade de alegria, sonhos, desejos, esperanças. Você vive ali, naquela fronteira-limite, tão perto e tão longe; perto demais para perceber; longe demais para se apropriar. A matéria e o espírito escorregam entre nossos dedos, no líquido fluído das ideias: vivemos no corpo buscando o imaterial, ou vivemos no imaterial desejando o corpo. O conflito é a nossa inconstância diária. Não sabemos ainda, não encontramos a segurança do corpo que abraça o espírito, nem do espírito que abraça o corpo. A fronteira-limite é ainda o nosso mistério. 

Wilson Garcia
Recife, PE (Brasil) 

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sábado, 12 de dezembro de 2015

Palestra Espírita - Divaldo Franco - A Maçonaria e o Espiritismo - Parte 4

Palestra Espírita - Divaldo Franco - A Maçonaria e o Espiritismo - Parte 3

Palestra Espírita - Divaldo Franco - A Maçonaria e o Espiritismo - Parte 2

Palestra Espírita - Divaldo Franco - A Maçonaria e o Espiritismo - Parte 1

Fazemos o ambiente


Allan Kardec usou o título Atmosfera espiritual, em sua Revista Espírita de maio de 1867, para abordar a questão da influência dos maus fluidos - produzidos pelos sentimentos contrários à caridade -, que tornam os ambientes desagradáveis e muitas vezes intoleráveis. 
Não é outra a causa dos constrangimentos que se estabelecem nos relacionamentos, especialmente em grupos onde o ambiente "parece pesar" e surgem as sensações de desconforto. E há que se considerar que a permanências desses "ambientes pesados", característicos de ondas mentais conflitantes, pode acarretar graves prejuízos morais e mesmo desuniões e danos à saúde, já que desencadeadores de obsessões. 
A abordagem do Codificador é extremamente lúcida e coerente. Selecionamos alguns trechos ao leitor, indicando, todavia, a fonte original para leitura e estudo na íntegra, conforme citado no primeiro parágrafo.

"(...) sabemos que, numa reunião, além dos assistentes corporais, há sempre auditores invisíveis; que sendo a impermeabilidade uma propriedade do organismo dos Espíritos, estes podem achar-se em número ilimitado num dado espaço. (...) Sabe-se que os fluidos que emanam dos Espíritos são mais ou menos salutares, conforme seu grau de depuração. Conhece-se o seu poder curativo em certos casos e, também, seus efeitos mórbidos de indivíduo a indivíduo. Ora, desde que o ar pode ser saturado desses fluidos, não é evidente que, conforme a natureza dos Espíritos que abundam em determinado lugar, o ar ambiente se ache carregado de elementos salutares ou malsãos, que devem exercer influências sobre a saúde física, assim como sobre a saúde moral? 
Quando se pensa na energia da ação que um Espírito pode exercer sobre um homem, é de admirar-se da que deve resultar de uma aglomeração de centenas ou milhares de Espíritos? Esta ação será boa ou má conforme os Espíritos derramem num dado meio um fluido benéfico ou maléfico, agindo à maneira das emanações fortificantes ou dos miasmas deletérios, que se espalham no ar. 
Assim se pode explicar certos efeitos coletivos, produzidos sobre massas de indivíduos, o sentimento de bem-estar ou de mal-estar, que se experimenta em certos meios, e que não tem nenhuma causa aparente conhecida, o entusiasmo ou o desencorajamento, por vezes a espécie de vertigem que se apodera de toda uma assembléia, de toda uma cidade, mesmo de todo um povo. 
Em razão do seu grau de sensibilidade, cada indivíduo sofre a influência desta atmosfera viciada ou vivificante. Por este fato, que parece fora de dúvida e que, ao mesmo tempo que a teoria e a experiência, nós achamos nas relações do mundo espiritual com o mundo material, um novo princípio de higiene, que, sem dúvida, um dia a ciência fará entrar em linha de conta. (...)"

Ora, o trecho transcrito é por demais claro. Ele remete a outras tantas considerações, impossíveis de serem trazidas ao simples espaço de um artigo. Mas poderíamos ponderar sobre como subtrair-se a estas influências (e Kardec aborda isso na continuidade do texto). 
O fato concreto é que somos sempre responsáveis pelo tipo de influência que atraímos ou alterações que produzimos nos fluidos que nos circundam por força dos sentimentos e pensamentos que cultivamos. 
Numa assembléia, pequena ou numerosa, o padrão dominante dos pensamentos é fator decisivo para determinar o tipo de sensação que vigorará "no ar" daquele ambiente. Alterá-lo também é tarefa dos mesmos pensamentos e sentimentos. Fruto da perseverança no bem e no reconhecimento dos valores que conduzem ao estabelecimento da harmonia na convivência. 
Uma vez mais surge a necessidade da melhora moral como único recurso de vivermos melhor. E há que se pensar que isso vale individualmente, no ambiente social ou familiar ou mesmo numa nação e até num planeta. Dá o que pensar diante da realidade nossos dias, não é mesmo?

Orson Peter Carrara 
orsonpeter92@gmail.com
http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/p/contato.html

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A determinação em recomeçar


“Levantar-me-ei e irei ter com meu pai...”. (Lucas, 15:18.) 

Quando o filho pródigo, descrito na parábola por Jesus, deliberou retornar aos braços paternos, após ter recebido sua herança e a desperdiçado em futilidades e ilusões, criou para nossa reflexão um dos mais significativos símbolos de arrependimento, coragem, determinação e maturidade. 
Reconhecendo seus equívocos não vacilou em recomeçar, aceitando a condição de empregado da propriedade do pai, pois tinha consciência de que não merecia ser tratado mais como um filho, embora não esperasse a reação fraterna do genitor, que ao avistá-lo, o acolheu num abraço carinhoso e meigo. 
De nossa parte, inúmeras vezes também deliberamos seguir caminhos contrários àqueles que nos asseguram avanço moral, prosperidade intelectual e crescimento espiritual, criando a urgente necessidade de decidir por novos rumos e outras direções, sustentadas pela esteira dos valores da dignidade, da honra e da honestidade. 
Se preciso, ergamo-nos da inércia, da apatia e do desânimo e, fortalecidos pela fé, deixemos a rede macia do comodismo em esperar que a vida nos dê tudo de forma gratuita, e busquemos conquistar virtudes, enquanto empreendemos esforços para a extinção dos defeitos que ainda nos mantêm na condição de inferioridade e sofrimento. 
Se a tristeza insistir em povoar os nossos pensamentos e derramar insatisfações em nossa vida, levantemos a confiança em Deus e tenhamos a certeza inconteste de que o Pai Celestial, amoroso e bom, justo e perfeito, em circunstância alguma deixará de atender as nossas necessidades. 
Se a moléstia insidiosa continuar a nos manter no leito de dor, embora todos os esforços de médicos, hospitais e remédios, levantemos a esperança nos dias do porvir, nos recursos que a tecnologia vem desenvolvendo, pois o amanhã poderá surgir com novas cores e propostas. 
Se familiares queridos deixaram o nosso convívio pelos mecanismos da desencarnação, renascendo para a vida espiritual, abrindo enorme lacuna em nossos corações, que se repletam de saudades, levantemos a certeza na imortalidade e prossigamos convictos de que um dia, no futuro, em outras dimensões vibratórias, novamente estaremos com eles. 
Se o abandono e a solidão estiverem nos acompanhando com frequência, escurecendo os nossos momentos e amargurando a nossa vida, levantemos a vontade de refletir e meditar, pois, às vezes, diante do nosso comportamento e atitudes, quem sabe estaremos impedindo a aproximação das pessoas ao nosso redor? 
Se os recursos financeiros e materiais se escassearam, criando dificuldades e embaraços para que possamos honrar nossos compromissos, levantemos a força e a perseverança e saiamos a trabalhar ainda mais, na confiança de que o labor nos conduzirá a novas perspectivas. 
Se os filhos que chegaram ao nosso lar – e para os quais nos empenhamos ao máximo, visando educá-los, mostrando-lhes os caminhos da decência e da dignidade – resolveram não atender aos nossos insistentes apelos de moralidade, levantemos a paciência e esperemos pelas sábias lições da vida, que farão, certamente, aquilo que não conseguimos agora fazer. 
O filho pródigo, depois de perceber o equívoco cometido, diante do sofrimento decorrente da escassez de recursos financeiros, por ter gasto a herança recebida de forma inútil, inconsequente e irresponsável, caindo no arrependimento, teve forças para levantar, sacudir a poeira e voltar ao lar paterno, nem que fosse na condição de um empregado do pai, para recomeçar a vida. 
Em oportunidades inúmeras, também nós, ao percebermos os erros e os enganos deliberados, temos absoluta necessidade de levantar a nossa vida e buscar o apoio de Deus para recomeçar, e, por certo, Ele também abrirá seus braços para nos acolher num abraço...

Reflitamos...

Waldenir Aparecido Cuin
Votuporanga, SP (Brasil) 

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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Como não transformar indignação em ódio?


Partilhei hoje na minha página do Face uma foto de um membro da polícia militar com a arma em punho diante de uma estudante desarmada, em posição pacífica, durante a guerra declarada pelo Governo do Estado aos alunos que reivindicam a manutenção de suas escolas, no movimento “Não fechem minha escola”. Ao partilhar essa foto e comentar brevemente minha indignação diante da cena, vi-me arrebatada numa discussão desenfreada na minha própria página. Mantive-me calada, mas tenho ficado amargada com o nível de agressividade, conservadorismo, analfabetismo político reinantes no momento presente. E toda vez que manifesto qualquer posição, vejo-me enredada numa trama de contenda, de vibrações desencontradas, que me afetam por dentro.
Por isso, a reflexão de hoje é sobre uma questão fundamental: como manter a paz íntima diante das gritantes injustiças do mundo? Como exercitar a indignação (necessária, pois até Jesus a manifestou diante dos fariseus que exploravam o povo) sem se deixar escorregar para a ódio e para o asco? Como manter o olhar lúcido e crítico diante das estruturas profundamente injustas da sociedade, diante da falta de ética, diante da negligência com o ser humano, sem afundar-se num desânimo existencial, que nos faça parar deprimidos à beira do caminho? Como, enfim, atuar no mundo, para transformá-lo, com suficiente amor no coração, mas sem a pieguice e a apatia dos que aceitam tudo de cabeça baixa?
Lembro-me aqui de três figuras que muito me inspiram na vida e que viveram momentos críticos nesse sentido. Um foi Pestalozzi. Condecorado pela Revolução Francesa, por suas ideias progressistas para a melhoria das condições do povo e de sua educação, ele escreveu um livro intitulado Sim ou Não?, que pretendia responder se ele era contra ou a favor daquela Revolução sangrenta. Ora, claramente, ele se manifesta contrário à violência, mas a favor das reivindicações populares, diante da opressão em que vivia o povo. Hoje, é verdade, a análise marxista da História considera a Revolução Francesa uma revolução burguesa, que usou as classes populares a seu favor. Na época, na compreensão de Pestalozzi, era algo que brotava sobretudo legitimamente das entranhas do povo. Ele não aprovava, nem justificava a violência, mas compreendia-a, como uma reação inevitável à opressão. Numa outra obra sua, Minhas Indagações sobre a marcha do desenvolvimento da espécie humana, Pestalozzi desenvolve toda uma teoria, que antecede em alguns aspectos a psicanálise, apontando a repressão dos instintos das massas como uma das causas de explosão de guerras e revoluções. De qualquer forma, ele considera que uma educação integral, como a que ele propunha, deveria despertar a divindade interior dos indivíduos, motivando-os a agir autonomamente, sem repressão, no sentido da fraternidade e do bem-estar de todos.
Kardec, no Livro dos Espíritos, na questão 783, da mesma forma que seu mestre Pestalozzi, admite a necessidade das revoluções sociais, olhando a História de uma perspectiva no tempo:

“O homem não pode ficar eternamente na ignorância, porque deve chegar à meta marcada pela Providência: ele se esclarece pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas ideias, elas germinam durante séculos, depois, de repente, estouram e fazem ruir o edifício carcomido do passado, que não está mais em harmonia com as necessidades e aspirações novas.
O homem muitas vezes vê nessas comoções apenas a desordem e a confusão momentânea que o atingem em seus interesses materiais; aquele que se eleva pelo pensamento além do pessoal, admira os desígnios da Providência, que do mal faz surgir o bem. É a tempestade que purifica a atmosfera, depois de tê-la agitado.” (Tradução minha)

Entretanto, foi no século XX, que um elevado espírito, aliás chamado Mahatma (grande alma), deu um exemplo maravilhoso de uma atuação política, para transformação social, na luta contra a injustiça, por caminhos da não-violência, comprometido ao mesmo tempo com seu próprio aperfeiçoamento espiritual e com a elevação moral do povo. Gandhi foi passo a passo, como conta em sua autobiografia, construindo uma forma de atuar no mundo, para mudá-lo, sem render-se ao ódio, ao desespero e sem a alienação, muitas vezes característica, de alguns líderes espirituais. Unindo fé e política, autoconhecimento com a trilha da não-violência, ele deixou a mensagem de que só conquistamos a devida força moral, social e mesmo política (num sentido muito amplo e não partidário) se conquistarmos ao mesmo tempo a nós mesmos. Mas ele também se deparou com o rugir das paixões, o estouro da violência, da guerra civil, de seus compatriotas, pagando com a vida o seu empenho de dialogar com todos e não odiar ninguém.
Fica porém esse aprendizado para nós: guardemos serenidade nas lutas justas em que nos empenhemos no mundo. A oração é uma força essencial para isso. Assim nos ensinaram Jesus e Gandhi. Cuidemos de nosso mundo íntimo, para não nos rendermos ao ódio, que é um grau degenerado de indignação. E enchamo-nos de compaixão para com todos. Porque todos precisam dela.

Dora Incontri 

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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Se o assassinato de Jesus resgatou nossos pecados, pecado paga pecado!


A morte vicária de Jesus na cruz significa que seu sofrimento foi muito agradável a Deus, e, em consequência disso, os pecados da Humanidade, que tanto teriam ofendido a Deus, teriam sido resgatados ou pagos. Isso é o que tenho chamado de teologia de sangue.
O pecado faz sofrer nosso próximo e, por consequência, de acordo com a lei inexorável bíblica e universal de causa e efeito, faz-nos sofrer também, pois a cada um será dado de acordo com suas obras. (Mateus 16: 27). E ninguém deixará de pagar tudo até o último centavo. (Mateus 5: 26). Isso quer dizer que, quando pagarmos o último centavo de nossas faltas, estaremos quites com a lei de causa e efeito e, portanto, não vamos pagar mais nada, o que derruba totalmente por terra as chamadas penas eternas no sentido como foram entendidas, erradamente, pelos teólogos cristãos antigos e ainda por um grande número dos da atualidade.
As exceções dos que não aceitam essas ideias absurdas incompatíveis com o Deus Verdadeiro de amor infinito e irrestrito para com todos os seus filhos (Atos 10: 34) são dos teólogos cristãos espíritas e de uma minoria de avançados teólogos católicos e protestantes. E os cristãos ainda mais agarrados a essas ideias de um Deus pagão, sofredor, de terror e vingador, com suas penas infernais sempiternas, são os nossos irmãos evangélicos. Aliás, muitos pastores, não todos, usam essas penas infernais como meio de amedrontar seus fiéis e, assim, pegarem mais dízimos deles.
Todas as religiões recebem influências de outras. O cristianismo as recebeu dos judeus antigos, que, por sua vez, receberam as dos fenícios, caldeus e outros povos antigos da região do chamado Oriente Médio.
Essas ideias de um Deus que sofre com as nossas faltas e de ser Ele um castigador vingativo cruel e antropomórfico (de natureza humana) originaram-se dos deuses ou espíritos humanos desencarnados que se comunicavam através dos médiuns (na Bíblia, profetas), deuses esses que foram erradamente tidos como sendo o próprio e verdadeiro Deus. E esses deuses ou espíritos desencarnados são confirmados pelo próprio Jesus: “Vós sois deuses” (João 10: 34). Entre esses deuses há os bons, os mais ou menos e os maus e enganadores. Daí João Evangelista nos recomendar que examinemos os espíritos para sabermos se são bons ou maus, para que não venhamos dar crédito aos que são maus. (Primeira Carta de João 4: 1). É por isso que Moisés, também, até proibiu a comunicação com os espíritos desencarnados (Deuteronômio capítulo 18). Mas ele elogiou os médiuns (profetas na Bíblia) esclarecidos, verdadeiros e não mercenários Medade e Heldade, os quais recebiam espíritos bons e profetizavam. (Números 11: 24 a 30).
Deus não sofre com os nossos pecados, além de Ele não ser um espírito atrasado vampiro, que se deleita com sangue derramado e menos ainda com sangue humano. Que Deus seria esse? Essa teologia, além de ser absurda, leva muitos ao ateísmo!
Os deuses ou espíritos humanos evoluídos não ensinam a teologia de sangue nem que Deus sofre com os nossos pecados vingando-os de modo exagerado e, pois, injusto, e menos ainda esses espíritos humanos evoluídos ensinam o absurdo de que um pecado como o do assassinado de Jesus anula nossos pecados!

José Reis Chaves

Prof. de português e literatura aposentado formado na PUC Minas / Escritor e jornalista colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte / Palestrante nacional e internacional espírita e de outras correntes espiritualistas / Apresentador do programa “Presença Espírita na Bíblia” da TV Mundo Maior / Participante do programa “O Consolador” da Rádio Boa Nova / Tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Kardec, para a Editora Chico Xavier. E autor dos livros, entre outros, "A Reencarnação na Bíblia e na Ciência" e "A Face Oculta das Religiões", Editora EBM, SP, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Podem-se ler também as matérias da coluna de José Reis Chaves em O TEMPO, de Belo Horizonte, no seu facebook e no site desse jornal: www.tempo.com.br / Procurar colunistas. No final das matérias, há um espaço para comentários dos leitores, espaço este que se tornou um verdadeiro fórum de religiões. E qualquer um pode deixar seu comentário lá. Se não quiser que seu nome apareça, use um pseudônimo. E seu e-mail nunca aparece lá.
Obs.: Se meus livros não são encontrados em sua cidade, eles podem ser adquiridos diretamente comigo por meu e-mail ou telefone. Telefone: (31) 3373-6870

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sentido relativo


O ano de 2015 motivou a família espírita mundial a comemorar, com alegria, os 150 anos de lançamento da obra O Céu e o Inferno, que estuda a Justiça Divina à luz do Espiritismo.  Não é para menos, a obra é mesmo uma preciosidade, face aos esclarecimento de seus textos, enriquecido que estão por depoimentos colhidos e selecionados por Kardec apresentando a situação dos espíritos no plano espiritual e constantes da 2ª. parte da obra.
O livro é um desdobramento do Livro Quarto de O Livro dos Espíritos, constituído de dois capítulos e estendendo-se da 920 à última questão da obra que deu origem ao Espiritismo.
E é exatamente em O Livro dos Espíritos, na questão 1009, incluída no subtítulo Duração das penas futuras, que encontramos o questionamento de Kardec: “(...) as penas impostas não o seriam jamais pela eternidade?”.
É que a velha crença do castigo eterno borbulhava na mentalidade humana e hoje já se verifica – embora haja posicionamentos ainda presentes nesse sentido – que a ideia do sofrimento eterno era história ingênua para uma época de infância da mentalidade humana. Aliás, diga-se de propósito que o livro O Céu e o Inferno adentra a questão com sabedoria e profundidade.
O que nos chama atenção, todavia, é que a questão em referência mereceu respostas de quatro sábios espíritos: Santo Agostinho, Lammenais, Platão e Paulo, o Apóstolo, e ainda está acrescido com texto complementar de Allan Kardec, o Codificador.
Nosso objetivo é chamar a atenção do leitor para buscar a questão e suas lúcidas respostas, para estuda-las e juntos ampliarmos nossas reflexões, face à sabedoria das considerações apresentadas, o que seria impossível aqui no contexto de breve abordagem, pois as respostas compõe material para um congresso de espiritismo só sobre a questão 1009. Todavia, destacamos trechos preciosos a seguir:

a)      De Agostinho: “(...) Não há contradição em atribuir-lhe a bondade infinita e a vingança infinita? (...) Ele não seria bom se consagrasse penas horríveis, perpétuas, à maior parte de suas criaturas. (...) não é o sublime da virtude, unida à bondade, fazer depender a duração das penas aos esforços do culpado para se melhorar? (...)”. Refere-se o autor à bondade de Deus, naturalmente, indagando, inclusive, o que seria a duração de uma vida de cem anos, em relação à eternidade e mesmo considerando que interroguemos o bom senso se haveria lógica na condenação perpétua por alguns momentos d erro. Sugiro ao leitor meditar na resposta, lendo-a na íntegra diretamente na fonte;
b)      De Lammenais: “(...) Filhos pródigos, abandonai vosso exílio voluntário; voltai vossos passos para a morada paterna: o pai vos estende os braços e mantém-se sempre pronto para festejar vosso retorno à família.” Isso após pedir que nos interessemos pelo combate por todos os meios para destruir a ideia da eternidade das penas, pensamento contrário à justiça e à bondade de Deus;
c)      De Platão: “Guerras de palavras! (...) Não sabeis, pois, que o que entendeis hoje por eternidade, os antigos não o entendiam como vós? (...) é no sentido relativo que importa interpretar os textos sagrados. A eternidade das penas, portanto, não é senão relativa e não absoluta. (...) Só Deus é eterno e não poderia criar o mal eterno; sem isso seria preciso arrancar-lhe o mais sublimes dos seus atributos: o soberano poder, porque não é soberanamente poderoso quem pode criar um elemento destruidor de suas obras (...)”. Magnífica a resposta de Platão, que endereçamos ao leitor;
d)      De Paulo, o Apóstolo: a resposta do espírito é tão grandiosa que comporta uma abordagem exclusiva e fornece material para amplo estudo. Destacamos, todavia, uma única frase, já no início da resposta: “Gravitar para a unidade divina, tal é o destino da Humanidade. Para alcança-lo, três coisas são necessárias: a justiça, o amor e a ciência; três coisas lhe são opostas e contrárias: a ignorância, o ódio e a injustiça. (...)”. Gravitamos todos em torno de Deus, que é causa de tudo e, incrível e extraordinário, é pensar que Deus é unidade na diversidade que criou, estando em tudo. É o que mais precisamos aprender: enxergar a paternidade divina! E vemos lá, assinalado pelo espírito o que é necessário e o que é o oposto. Considere o leitor os desafios da atualidade e não será difícil perceber os caminhos a que somos convidados a trilhar e mesmo os desafios de enfrentamento natural por força de nossa atual condição evolutiva.

Por isso a velha questão das penas é meramente relativa! O grau de responsabilidade varia de acordo com o conhecimento e não há castigos ou punições, há apenas consequências. O “gravitar” citado por Paulo inclui o esforço pessoal que precisa ser feito para alcançar os propósitos da evolução. Aprisionarmo-nos no medo ou na crença dos castigos eternos é travar esse esforço. É, pois, no sentido relativo que devem ser entendidas as chamadas penas impostas em sofrimento no equivocado entendimento do chamado inferno, pois que os sofrimentos e aflições aplicáveis em situações de lesões ou desrespeito às Leis de Amor que regem a vida e o Universo, nada mais são que meras consequências e nunca castigo. Consequências naturais geradas pelo desamor, pela desarmonia ou pelo desrespeito ou indiferença às Leis de Deus. E a própria aplicação da palavra eternidade é resultado da relatividade do conhecimento no tempo. Não somos eternos, somos imortais. Eterno é atributo de Deus. Nós, seus filhos, suas criaturas, somos imortais. Nunca teremos fim, mas fomos criados um dia, tivemos um início. Por isso devemos entender as questões dentro de sua relatividade.

Orson Peter Carrara

domingo, 22 de novembro de 2015

Crônicas da vida invisível: a resposta de Iohan


Nalgum lugar do maravilhoso livro de Roberto Cabral, O Violinista de Veneza, se explica que a vida por vezes nos encurrala, via aparentes "coincidências", com mudanças necessárias de pensamentos, de iniciativas, a fim de nos conduzir a um estado de felicidade espiritual mais pleno. Em poucas vezes deparei noutras leituras tamanha expressão da verdade! 
De uns quatro dias para cá eu andava encantada depois de assistir à versão cinematográfica da obra-prima de Victor Hugo, Os Miseráveis. Porque, como apreciadora de literatura, me confirmo fã incondicional do legendário poeta e escritor francês, desde os tempos em que, cursando a faculdade de Letras, escancaram-se ao meu acesso os grandes clássicos literários universais! 
Paralelo a isso, eu contava já de há mais de um mês com uma extensa fila de livros novos para ler. Mas o começo de ano corrido, em ritmo frenético com férias, viagens, taxas a pagar, entre outra extensa série de compromissos, acabou por me empurrar involuntariamente este prazer para um momento mais pacificado. Ainda porque, em se tratando de obras de teor espírita, necessito particularmente de estado de espírito condizente e atmosfera propícia para a devida assimilação do conteúdo, desfrutando, deste modo, da leitura assim como acontece quando sorvemos aos poucos uma aromática xícara de café! 
Ontem, uma sexta-feira, sentindo chegado enfim um momento adequado, olhei para a sacola da livraria ainda do mesmo jeito guardada sobre a escrivaninha, com os livros. Já tinha me ocorrido no mesmo dia umas duas vezes a ideia de começar com a citada obra de Roberto Cabral, obviamente comprada em sintonia espontânea com a aura que, de tempos a esta parte, me cerca desde que se iniciou minha parceria mediúnica com Iohan, o querido músico das esferas invisíveis que fora violinista em mais de uma de suas reencarnações anteriores. Até aquele momento, portanto, apenas intuindo que possivelmente ele tivesse participado da influenciação à compra do livro, meio a meio com minhas próprias inclinações, tomei-o para ler e, ignorando a programação enfadonha da TV, joguei-me gostosamente no sofá da sala, começando. E não consegui mais me separar da leitura! Por razões que impressionavam! 
Precisaria narrar detalhadamente o conteúdo do livro para melhor explicar, mas, para os fins deste artigo, resumo que trata-se da história de um professor de violino que, na Europa do século XIX e em Veneza, se vê afastado de seu grande amor, a menina dos olhos de anjo e sua aluna, por causa da sua resistência teimosa em não aceitar ou, ao menos, não querer investigar com isenção os fenômenos mediúnicos das mesas girantes que avassalavam a Europa naquela época, principalmente a partir da França, quando - vejam, Victor Hugo! - em pleno tempo de exílio, se dedicava com fervor ao estudo de todos estes fatos, promovendo, ele mesmo, as reuniões com as mesas! 
Ora, conforme eu ia lendo, lembrava-me também do nosso próprio romance, lançado ano passado, Sonata ao Amor, contando o drama sofrido de Iohan em sua última reencarnação: um professor de violino vitimizado pela prova dolorosa de ser um portador do HIV, e toda a sua luta ao apaixonar-se por uma aluna, tendo que enfrentar os preconceitos da sociedade, e encontrando, junto a ela, a redenção de seus dilemas, ao deparar as explicações situadas todas nos episódios trágicos de suas vidas anteriores! E comecei a desconfiar que o querido mentor de nossas atuais parcerias literárias, de caso pensado, me havia conduzido a esta obra inspirada, de Roberto Cabral, a fim de ainda uma vez ilustrar como tudo é encadeamento e simbiose de intenções quando nos dispomos a trabalhar na missão de divulgação das verdades maiores da vida, sem esmorecimentos, o que vez ou outra ameaça o médium mergulhado nas canseiras e compromissos que o enredam em várias frentes durante sua trajetória material! E após ler, empolgada, a passagem na qual o protagonista, Antônio, promove voluntariamente uma breve sessão mediúnica de confirmação da presença de um Espírito em sua casa, a partir de perguntas respondidas com pancadas, me ocorreu, ao me recolher para dormir ontem, pedir o mesmo ao meu paciente amigo da invisibilidade. Queria dele, ainda uma vez, a bondade de uma confirmação da sua influenciação naquele caso, para não ficar dada a achar se tratar de uma coincidência sem cabimento, e, diga-se, grandemente desanimadora, quando tantos detalhes concorriam para me comprovar exatamente o contrário! Assim, encerrei-me em meu quarto perto da meia-noite, e me coloquei em estado de prece e concentração. 
No entanto, empolgada pela iniciativa de improviso, e momentaneamente esquecida de que cada mentor nos acessa em dependência direta da sintonia com os recursos fluídicos do próprio médium, cometi o equívoco de solicitar dele um tipo estrito de resposta no formato do que promoveu o protagonista do livro. Pedi que, se fosse de fato verdade a sua presença e influenciação para ler justo aquela obra, com intenção benéfica de incrementar certezas apaziguadoras na sua medianeira, a fim de darmos continuidade tranquila aos nossos projetos de futuro, que desse uma pancada leve no quarto, em sinal de "sim". Mas passaram os minutos, para minha decepção, no mais franco silêncio! 
Todavia, antes de me abandonar a um estado de desânimo absoluto, após repetir inutilmente a solicitação mal refletida, ocorreu-me mergulhar de novo em prece fervorosa a Jesus, renovando meu pedido, mas de modo diferente. Atinei para o fator importante de que devem prevalecer nestas vivências o sentido de utilidade real, o que só é bem avaliado a partir da ótica de cima dos mentores. Atinando com o meu engano, disse a Iohan que entendia que talvez meu modo de pedir fosse equivocado, e mesmo o propósito ou o momento em que solicitava dele este favor. E que, então, se lhe fosse possível me responder com o mesmo "sim" de forma mais apropriada aos meus recursos mediúnicos, que o fizesse por influenciação mental, como costuma se comunicar comigo. Ou através de sugestão ocasional à minha filha, naquele instante ainda acordada em seu quarto, ou ainda a meu pai - atualmente residindo em Aracaju - para enviar-me uma mensagem qualquer pelo celular. E eu entenderia aquilo como uma confirmação condigna! 
Pois não se passaram cinco minutos desta nova solicitação, amigo leitor, e ao meu lado na cama, no escuro do quarto, soou o celular com duas mensagens de meu pai, versando sobre assuntos cotidianos! 
Eis, portanto, e oferecida de maneira maravilhosa, encantadora, a resposta deste outro exímio violinista da vida invisível e um de meus mentores! A confirmação tão ansiada!
A resposta de Iohan!

Christina Nunes
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

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