sábado, 23 de agosto de 2014

O susto da ajuda espiritual


Popularmente, se diz que “Deus escreve certo por linhas tortas”, e essa realidade se apresenta com certa constância em nossa vida. Presenciei uma cena especial, estava sentado observando o quintal, quando percebi um pequeno pássaro, um filhote que não voava e certamente seria presa fácil aos cães e possíveis felinos que apareceriam pelo canto escandaloso do filhote. Tocado por um senso instintivo de auxílio ao mais fraco, resolvi ajudar o pequeno pássaro a sair da provável zona de risco, levando-o a um lugar seguro. No processo de execução do meu plano de auxílio, levantei e segui em direção ao filhote, que começou a correr em voos mínimos que mal saiam do chão e gritava crendo que eu o mataria. No momento parei, tocado pelo desespero do filhote, que deveria me ver como um gigante avassalador, mas segui na intenção de salvá-lo. Os gritos dele aumentavam significativamente e finalmente entre minhas mãos, acreditei que ele estouraria pelos gritos que emitia sem sessar, com as pequenas asas desarrumadas pelo constante debatimento. Conduzi o filhote vencido entre as mãos, imaginando que ele estaria esperando ser devorado, até que o coloquei lentamente num canto protegido por folhagens e me afastei. Sai pensando o que ficou na cabeça do pássaro (se é que ele pensa), não deve ter entendido nada, primeiro eu saio atrás dele até pegá-lo e depois solto, creio que ele nunca saberá que a angustia que ele sentiu era justamente a ajuda. Conosco acontece o mesmo, muitas vezes passamos por angustias injustificáveis e por mais que tentemos não entendemos o porque de tantas dificuldades e mal sabemos que muitas vezes, trata-se justamente da ajuda que precisamos. Nem sempre para sanar nossas necessidades imediatistas, mas sempre atendendo as nossas necessidades como espíritos imortais. Na questão 501 de “O Livro dos Espíritos” encontramos a seguinte pergunta: 

- Por que é oculta a ação dos Espíritos sobre a nossa existência e por que, quando nos protegem, não o fazem de modo ostensivo? 

E a resposta é merecedora de profunda reflexão: “Se vos fosse dado contar sempre com a ação deles, não obraríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não progrediria. Para que este possa adiantar-se, precisa de experiência, adquirindo-a frequentemente à sua custa. É necessário que exercite suas forças, sem o que, seria como a criança a quem não consentem que ande sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira que não vos tolha o livre-arbítrio, porquanto, se não tivésseis responsabilidade, não avançaríeis na senda que vos há de conduzir a Deus.

Roosevelt Andophato Tiago
Barra Bonita, SP (Brasil) 

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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A hipótese insuperável de Kardec


Terminei esta semana a leitura do livro “Kardec, a biografia”, de Marcel Souto Maior. Gostei do Livro, com os senões (e vantagens) de uma obra escrita por alguém que está de fora das fileiras espíritas, pelo menos no discurso, mas que soube retratar de forma leve os eventos históricos que conduziram a chamada codificação da doutrina espírita e que hoje nos alenta e nos inspira, nas lutas cotidianas. 
Bem redigido, de forma clara e didática, antecipando o roteiro da película a ser produzida, o livro mostra um Kardec homem, com dificuldades, inserido em um contexto político e filosófico, para assim ser o baluarte do espiritualismo moderno, que entre mesas girantes e cadernos manuscritos, produziu um manancial de conhecimento a influenciar o mundo até hoje, passados mais de 150 anos. 
A leitura do livro mostrou-me um homem de ciência, sagaz e bem-intencionado que, diante de fenômenos populares envolvendo mesas girantes, busca identificar a sua gênese e com o apoio das informações fornecidas pelos próprios causadores dos fenômenos, os Espíritos, elabora assim uma tese que deu conta daquela casuística, abrangendo um sistema filosófico amplo, sobre a natureza e o destino do ser humano no universo. 
 Essa tese, fundamentada na imortalidade da alma, na comunicabilidade dos Espíritos e nas múltiplas existências, inédita na sua integração, jaz insuperável, influenciando um sem-número de produções culturais, que trazem nesse paradigma seu espelho, no qual, apesar da baixa difusão percentual do Espiritismo como movimento religioso, esta doutrina tem, por meio de seus princípios basilares, conquistado seu espaço nesses mais de 150 anos, ao sol das ilações sobre a vida futura. 
A imortalidade da alma, hipótese comum à maioria das religiões, tem mais recentemente ganhado corpo nas pesquisas sobre EQM-Estado de Quase Morte do Dr. Raymond Moody Júnior e Sam Parnia, na análise de pessoas que em estado de coma retornam à vida e narram situações similares. A despeito das hipóteses formuladas sobre a ação do subconsciente, os estudos continuam, amparados na hipótese básica. 
As múltiplas existências tiveram também seus baluartes, nas pesquisas e produções de Hemendras Banerjee, Brian Weiss, Albert de Rochas e Ian Stevenson, com destaque para os estudos da Profa. Hellen Wambach, que comparou dados das regressões com informações históricas sobre as sociedades. Recentemente a Terapia de Vidas Passadas se vulgarizou entre os profissionais, e tem-se estudado relatos de vidas passadas e a sua associação a marcas de nascença. Tem-se ainda, aí bem recentemente, os estudos na Universidade do Prof. Jim Tucker, que vira e mexe aparece nos programas televisivos com intrigantes casos de lembranças de vidas passadas. 
No campo da comunicação com o Além, os médiuns brasileiros forneceram grande material de estudo, nas mediunidades de Chico Xavier e os diversos estudos correlatos, em especial na questão da grafoscopia. Os casos mediúnicos de Divaldo Franco, Arigó, Peixotinho e do Médium de cura João de Deus têm sido objeto de estudos que ratificam e fortalecem as ideias postas por Kardec. 
O ceticismo ainda campeia, por comodismo, por interesse ou por decepção. Ainda que surjam explicações isoladas de céticos, de forma integrada esses fenômenos encontram guarida nas formulações kardequianas à luz dos depoimentos dos Espíritos, o que vem sendo reforçado pela ação dos estudiosos citados e outros desconhecidos, que labutam de forma incansável, enfrentando o preconceito da academia e a pressão de ideologias religiosas, como enfrentou Allan Kardec no seu tempo, conforme bem descrito pela sua presente biografia. 
Para além de uma revelação, Kardec apresentou um sistema lógico coerente como resposta ao fenômeno posto, construído a partir do material coletado das comunicações com os Espíritos. Uma hipótese que ele mesmo apresentou e refutou as contradições, ao estudar os sistemas no Capítulo IV de “O Livro dos Médiuns”. Ali, Kardec já se posiciona sobre as demais hipóteses em relação ao fenômeno mediúnico e expõe, por argumentos, por que a tese espírita se apresenta insuperável para dar conta da situação. E, até hoje, a explicação ainda é válida. 
Os pilares, a visão de que o fenômeno derivava de inteligências que, chamadas de Espíritos, nada mais eram dos que os homens sem a roupagem carnal, que se sucediam em existências no mundo de cá e de lá, permanecem robustos e convergentes aos estudos que se seguiram, pelas regressões, comunicações e lembranças. Dizer que Kardec é atual não é tomá-lo pela letra idêntica de um suposto livro sagrado e sim pela força do paradigma por ele proposto na explicação da fenomenologia espírita e de todo o contexto com base nesses pressupostos. 
O aspecto filosófico da hipótese espírita, abraçando Deus e o problema do ser, do destino e da dor, traz a essa uma grande força, impulsionando vidas à modificação de disposições, à reforma íntima e à prática da caridade, tornando nosso mundo melhor. Outras hipóteses, além de não atenderem a completude dos fenômenos, baseiam-se em pressupostos teológicos estranhos à razão, com deuses seletivos e injustos, atendendo a injunções e poderes estranhos à visão do bem. O Espiritismo se apresenta como uma verdade ratificada pela razão e pelos fenômenos, na cantiga de esperança que embala a humanidade, mas que se faz incômoda. 
Incômoda, pois rompe os grilhões filosóficos do mundo antigo, da idade de trevas e das visões escravizantes de vida futura, que Kardec não se furtou a tratar no livro “O Céu e o Inferno”. Ideias que ainda pululam por aí, acompanhadas dos mesmos fenômenos de outrora, à busca de soluções razoáveis, que já surgiram no século retrasado pelas mãos do mestre Lionês. 
Assim como ocorreu na biografia de Chico Xavier, acredito que o livro do escritor Marcel Souto Maior despertará o interesse pela obra Kardequiana no público em geral, obra essa que se apresenta insuperável, pelo método e pela consistência, na resposta aos fenômenos mediúnicos. O estudo sistematizado das obras nos permite entender a essência do Espiritismo e de como chegamos a compreender que mesas que giravam nos forneciam uma resposta filosófica para a existência. 
As ideias de Kardec influenciaram o mundo. Ainda que carentes de autoria específica do Espírito A ou B, talvez como um bom caminho para evitar a captura e a exposição, essas ideias seguem por aí em filmes e livros, distantes da estranheza de outras épocas. Ideias de um Deus justo, de vidas que não terminam, de mortos que não se calam, de falhas que são reparadas. Uma visão de mundo libertador que, pelo esforço de um homem, das pessoas à sua volta e das gerações que se seguiram, do mundo de cá e de lá, continua a nos brindar com o consolo que ampara, mas também com a sagacidade que liberta.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
Rio de Janeiro, RJ (Brasil) 

Imagem do livro e seu autor

domingo, 17 de agosto de 2014

Até quando viveremos assim?


No mundo corpóreo as influências dominam as relações humanas. Isso pode ser bom ou ruim para as pessoas, dependendo do caráter dessas influências. Um bom exemplo tem força de transformação a ponto de melhorar hábitos e renovar ideias. O contrário é ainda mais verdadeiro: por conta das suas imperfeições morais, o ser humano assimila o mau comportamento com grande facilidade.
Há, entre nós, a tendência em seguir modelos. Gostamos de imitar os outros. Fazemos isso automaticamente. Sem raciocinar, muitas vezes nos surpreendemos falando, pensando ou agindo igual àquele que nos impressionou com seu modo de ser.
A comparação é outro processo de influência entre os homens. Queremos nos comparar aos outros para medir nossa posição social, nosso desempenho, nossa inteligência etc. Normalmente nos comparamos a quem julgamos nos ser superior, jamais a quem está abaixo de nós. Tolo orgulho.
Curioso é que imitamos e nos comparamos, quase sempre, ao que é ruim, e acabamos “incorporando” em nossa vida vícios e erros que nos atraem. Identificamos, nos outros, aquilo que temos dentro de nós e isso estabelece uma ligação que não percebemos. Esse motivo existe neles, forte a ponto de nos influenciar; e em nós, a ponto de querer parecer com eles. Passamos a escravos da conduta alheia, deixamos de ser nós mesmos. Esquecemos nossa identidade própria e adotamos um estereótipo. Vivemos uma vida de aceitação passiva, sem nenhuma avaliação crítica, guiados pela moda, conformados com o estabelecido, o que nos acarretará frustrações e desenganos, cedo ou tarde.
Até quando viveremos assim, seguindo os outros, com prejuízo do nosso livre-arbítrio? Até quando agiremos pela cabeça de terceiros, sem pensar que isso possa estar nos desviando dos compromissos que nos compete realizar? 
Precisamos reagir e pensar sério num bom projeto de vida para nós; ganhar experiência, construir nossa personalidade sob valores de qualidade, aprimorar as características pessoais e fazer escolhas com mais cuidado. Importante ajuizar se os modelos que copiamos não estão atrasando nossa vida; se as pessoas em quem nos espelhamos e cujas atitudes parecem o máximo, não estão equivocadas. O nível de exigência em relação a nós precisa aumentar. O que é bom para os outros pode não servir para nós. Precisamos exercer nossa vontade, independentemente da opinião em voga, sem desprezar as referências éticas. 
Essas medidas garantirão nosso processo de crescimento interior, sem ilusões. Construtores do nosso destino, nós desenvolveremos um modelo próprio, segundo as características que nos identificam como seres individuais. As influências, naturais no convívio humano, nos afetarão de modo menos impactante, já que passaremos a filtrá-las segundo padrões assertivos. De tudo o que é lícito, acataremos só o que nos convier, conforme o ensino de Paulo de Tarso (I Coríntios, 6,12).
Está na hora de reagir, portanto, e seguir com mais fidelidade a nossa própria vocação, dando ouvidos à consciência, escolhendo o modelo de vida que mais tem a ver conosco e que nos porá no caminho de grandes realizações.

Cláudio Bueno da Silva
Osasco, SP (Brasil) 

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sábado, 9 de agosto de 2014

A religião em nós


Dessa forma, como observadores e observados, nos apoiamos, reconstruímos nossos valores e nossas crenças.
Somos seres sociais. Precisamos um do outro para o exercício do autoconhecimento. No outro, admiramos o belo, reconhecemos o feio, aprendemos sobre o erro, aplaudimos o acerto, identificamos fraquezas, reconhecemos a força. Ao contrário do dito popular, são os iguais que se atraem e não os opostos.
Toda religião merece nosso respeito. Toda religião pretende a mesma coisa: a evolução espiritual, através da prática do bem; e condena a mesma coisa: o exercício do mal. Afirma que somos irmãos por termos a mesma Filiação Divina, que somos iguais e devemos nos amar e nos ajudar. Então, se todas as religiões possuem os mesmos princípios, por que são tão diferentes entre si?
Não existe diferença substancial no pensamento religioso, mas sim no entendimento, no posicionamento a partir da maturidade espiritual. O bem é sempre o bem, o mal é sempre o mal. Em todos os livros sagrados da humanidade encontramos diretrizes e normas que não se alteram na essência. O que se altera são as expressões e o entendimento dos homens.
A religião tem como função aproximar aqueles que possuem as mesmas necessidades evolutivas. Cada ser acompanha o pensamento religioso de acordo com a sua maturidade espiritual. Assim, em grupo, ao identificarmos no outro uma fraqueza semelhante a que temos e observarmos sua luta para superá-la, nos fortalecemos e criamos coragem para lutar nossas próprias batalhas. Dessa forma, como observadores e observados, nos apoiamos, reconstruímos nossos valores e nossas crenças.
Todo agrupamento pela religião, seja ela qual for, não está reunido ao acaso, mas pelas necessidades de aprendizado. Em Mateus, 6:33, encontramos: “Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo”. O verdadeiro religioso deve crer que, se houver sinceridade em seus atos, Deus fará sua parte. E, então, deverá trabalhar para seu sustento material, mas trabalhará com a certeza de que nada lhe faltará para uma vida tranquila. Isso porque estará disponibilizando, com sinceridade, uma parte de seu tempo para aprender e praticar o que Jesus nos deixou: o conhecimento e o exemplo através da caridade.
Ser religioso não se resume em dizer-se espírita, católico, budista, umbandista, protestante etc. Significa, sim, agir com sinceridade, que nada mais é do que fazer ao próximo o que se deseja para si mesmo. Todo equívoco nos dá a oportunidade de aprendizado, de transformação. Deus não castiga. Ele nos premia. O castigo é uma invenção humana. Ele é a justiça suprema.
Ir à casa religiosa, participar de todos os seus eventos, chamar Jesus de Mestre, proclamando-nos crentes em Deus e possuidores de muita fé não nos torna verdadeiros religiosos. Os atos exteriores, se não refletirem nossa modificação íntima e a conscientização de nossos deveres, de nada servirão para nos ajudar ou ajudar a quem precisa. Deus reconhece o que temos dentro de nosso espírito, independentemente do que dizemos ser.
Há falsos religiosos, que enganam a boa fé dos que os escutam. Falam de Deus, pregam sobre Jesus através dos Evangelhos, enchem casas religiosas prometendo milagres para quem se dispuser a lhes dar o pagamento da enganação, mas seus corações só buscam o prazer material, proporcionado pela ingenuidade de quem os segue.
“Basta a cada dia o seu mal”, lembra o Mestre. Cuidemos de nosso presente, dando a devida importância para a verdadeira religião e a vida nos sorrirá com mais frequência. Não haverá por que praticarmos religião por conveniência, pois sua busca com consciência e responsabilidade nos tornará homens melhores, e sentiremos esta mudança em nossas vidas.
Sejamos como o bom samaritano que, independentemente da raça e da religião, era um verdadeiro homem de bem, um sincero religioso. 

“Como crês? Ninguém sabe... O mundo apenas
 Sabe que és luz nas aflições terrenas,
 Pela consolação que te abençoa.

 Seja qual for o templo que te exprime,
 Deus te proteja o coração sublime
 Alma querida e bela, humilde e boa.”

(Alma Querida, Auta de Souza, psicografia de Francisco Cândido Xavier)

Maria Angela Miranda
Londrina, PR (Brasil)  

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Encontro com Divaldo - Ciclo de palestras pela Europa (2014)