terça-feira, 18 de novembro de 2014

Mortos, estamos nós...


O dia de finados chega e ficamos a chorar os que partiram. 
Questionamos, indagamos e tentamos saber as razões pelas quais nossos afetos vão embora, muitas vezes de forma repentina. 
A inconformação ganha espaço em nossos raciocínios porque em nossa visão quem deve ir primeiro são os mais velhos. Consideramos que o pai deve partir antes do filho. 
Irmão mais velho antes do mais novo. 
Quem tem 99 deve ir antes, muito antes do que aquele que tem 45. Entretanto, embora queiramos que seja assim, sabemos que não funciona assim. 
É que são insondáveis os desígnios de Deus, e ignoramos as necessidades evolutivas dos seres que estão encarnados, entonces... 
Entonces, muita gente se perde em pensamentos, questionamentos e reflexões deste quilate:

 - Por que se foram? 
 - Coitado, tão jovem, tinha tanta vida pela frente! 
 - Tanta gente malvada, e justamente ele vai embora! Que injustiça!

Frases assim demonstram o desconhecimento do público em geral sobre as leis que regem a vida, sobre a reencarnação. 
Reencarnamos com o bilhete de passagem de volta comprado, só não está datado, porquanto em muitos casos a data do desencarne dependerá de nossa postura aqui na Terra. 
Pessoas negligentes com a saúde tendem a entrar no ônibus de retorno mais cedo. 
Indivíduos que levam uma vida desregrada, arriscada, começam a tingir com as cores da imprudência o seu retorno ao plano dos Espíritos. 
Exatamente, morrem antes do tempo previsto! 
O inverso também é real. 
Pessoas que se cuidam, guardam qualidade de vida, obedecem a regras, tendem a viver mais tempo no corpo. 
Porém, em verdade, ninguém morre. 
Aqui ou no Além estamos vivos. 
Aliás, aqui, encarnados, estamos mais mortos do que aqueles que julgamos serem os mortos da história. 
Em suma, mortos estamos nós, eles vivem. 
Os que se foram não estão mortos, mas vivos. Mortos, estamos nós, encarnados que, limitados pelo corpo físico, não conseguimos experimentar em plenitude todas as capacidades do Espírito. 
Eles, os que se foram, estão vivos, podendo gozar a vida sem tantas necessidades grosseiras que nos são impostas pela máquina orgânica. 
Um dia, porém, nasceremos, ao nos despojarmos do corpo, e enquanto um cortejo chora a nossa partida, afirmando que morremos, nós constataremos felizes a certeza de que a vida continua e de que mortos estão os que ficaram, não os que partiram. 
Todavia, que saiamos daqui no tempo exato, no prazo previsto para nosso desencarne, e para isso é preciso aproveitar com comedimento a vida, ou melhor, a experiência de estar encarnado. 
Podemos ser os próximos passageiros a entrar no ônibus que atravessa a fronteira para o Além... E que nosso nascimento seja tão feliz quanto foi a nossa morte por aqui, enquanto encarnados. 
Porque eles vivem. E nós? Nós estamos “mortos”...

Wellington Balbo
Salvador, BA (Brasil) 

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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Entrevista com o médium Divaldo Pereira Franco


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O tamanho das coisas


Por vezes, gastamos horas amuados, jururus, macambúzios e sorumbáticos, consumindo a nossa mente e as nossas horas em problemas corriqueiros, em coisas que não saíram como imaginávamos, em sonhos frustrados parcialmente. Iludidos ficamos, focados no ponto preto em meio a um grande quadro branco.
Nesse sentido, o poeta mato-grossense Manoel de Barros trata, em um de seus poemas, do tamanho das coisas, como no trecho a seguir:
“Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade”.
A beleza da poesia pantaneira nos serve de inspiração para refletirmos sobre de que forma lidamos com os problemas habituais em nossa vida... Probleminhas, quando é do outro. Problemões, quando são os nossos... Maximizamos os nossos obstáculos, pela sua “intimidade”, e minimizamos os problemas alheios, pelo nosso egoísmo.
Seguimos assim, nos lamuriando de nossas cruzes, sem enxergar os martirizados à nossa volta. Se o gramado do vizinho é mais verde, a nossa cruz certamente será mais pesada...
Os Espíritos não se cansam de nos avisar desta realidade, onde destacamos a historieta intitulada “Aflitíssima”, no Livro “Bem-aventurados os simples” (Espírito Valerium, psicografia de Waldo Vieira), na qual a mulher se vê aflita com seus problemas, com questões comezinhas e busca o amparo de um dirigente espírita, que a consolava, ainda que não possuísse braços.
Na fieira das encarnações, avançamos diante de desafios inúmeros e a autocomiseração e o melindre não devem diminuir o nosso ritmo no enfrentamento dos problemas – chaves para a nossa evolução. O trabalho no bem, como terapia de múltiplas utilidades, também nos leva a conhecer outras realidades, de modo a mensurarmos, de forma mais realista, o “tamanho das coisas”, e percebermos que nossos fardos são leves, pelo acréscimo de misericórdia divina.
Falta-nos um sentido amplo da palavra otimismo, em um contexto no qual a doutrina espírita pode nos ajudar sobremaneira, a partir do momento que esta nos mostra uma visão ampla da existência, uma percepção concreta da eternidade, na qual tudo passa. E nos lembraremos desses fatos dolorosos apenas como uma lembrança alegre.
Necessitamos não só ampliar a visão em relação ao outro, mas também no que concerne à temporalidade. Para o Espiritismo a eternidade não é um dormir, em uma pseudo-existência, e sim uma sucedânea de vidas nas quais crescemos, aprendemos e superamos desafios e percebemos que a pequena luta de hoje se torna menor ainda amanhã.
Cabe registrar o dito n’O Evangelho segundo o Espiritismo, no seu Capítulo segundo: “Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que rápida passagem, uma breve permanência num país ingrato. As vicissitudes e as tribulações da vida são apenas incidentes que ele enfrenta com paciência, porque sabe que são de curta duração e devem ser seguidos de uma situação mais feliz“.
O otimismo não se confunde com a inatividade de uma vida repousada apenas na vida espiritual ou na depressão de problemas insolúveis no plano terreno. Na visão espírita, o otimismo nos aponta uma lógica de oportunidades, de superação pelo perdão, pelo amor, pela reparação, atuando sobre os problemas que julgamos enormes, mas que são ínfimos nos portfólios de almas que lutam pela evolução na crosta terrestre.
Assim, pelo prisma da vida espiritual, diante de nossos problemas, analisemos sua dimensão frente aos nossos irmãos, em outros espaços, e a nossa própria existência, na multiplicidade das vidas sucessivas, e veremos que tudo é pequeno, mas não insignificante, indigno de nossa tristeza e merecedor de nossa atenção.
O ponto de vista espírita nos enche de otimismo, afastando a tristeza que nos invade o coração, mostrando o real tamanho das causas de nossas aflições e a medida certa que deve ser nossa atitude: tristes pela nossa humanidade, ativos pela nossa espiritualidade.
As coisas têm o tamanho que a ela atribuímos! Sem sermos desleixados pelo nosso egoísmo, sem sermos melindrados pelo nosso orgulho, devemos sopesar cada problema, lembrando a nossa condição de Espíritos imortais em evolução com outros irmãos de jornada.
Assim, com o olhar renovado, nivelamos a vida em alto astral, na lição de que o tempo despendido em lamentações tem melhor uso se convertido em trabalho.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

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sábado, 8 de novembro de 2014

O amor é para sempre…


(Escrevi esses pensamentos, muito sentidos, há alguns anos. Pretendia publicá-los num livro, mas antes que ficarem guardados, na memória do computador, melhor partilhar com outros que, como eu, estejam amadurecendo essa que é a maior herança divina em nós: a capacidade de amar. Dediquei essas palavras na época a uma pessoa especial em minha vida e que, embora distante, continuo amando, já que o amor é para sempre…)

O amor é o oposto da indiferença. O amor nunca tanto faz, com o que o ser amado faz. Por isso se empenha sempre por um fazer de luz. 
O amor pode curar, salvar, elevar, educar, regenerar. Mas tudo a longo prazo, pois para se mostrar, atuar e agir, precisa muito ter paciência, perseverar, persistir, muitas, infinitas vezes perdoar... Tudo devagar. 
O amor desgovernado, tumultuado pelas paixões, queima os corações, provoca afastamentos, descontentamentos, dilacerações... Por isso, o amor precisa se asserenar, se suavizar, alimentando-se de eternidade! 
Mesmo o amor mais forte, mais viril, mais ativo precisa ser feminino... Cuidadoso, gentil, acolhedor, sabendo se esconder para o outro brilhar! 
O amor se muda, se adapta, se transforma, se sublima, mas nunca desiste. O amor pode estar triste, agitado, aflito, cansado com os atritos do dia a dia. Mas se for amor, nunca esfria! O amor tudo sofre - diz Paulo - e nunca se acaba. Mesmo ofegante, prossegue; mesmo ferido, perdoa! Mesmo desacreditado, insiste! E mesmo rejeitado, resiste! O amor tudo pode, tudo alcança! Força divina que nos move e nos transfigura! Mesmo ainda misturado aos cascalhos das paixões, sua fonte profunda é sempre pura! E por isso limpa com o tempo os corações! 
O amor é o único motivo, o único estímulo, o único impulso suficientemente forte, elevado e belo para nos levar à superação de nós mesmos! Por amor a quem amamos e por amor a Deus, alcançamos a transcendência! 
O amor para bem comunicar-se, precisa aprender sutilezas, precisa fazer recuos, precisa ocultar ímpetos e transfigurar angústias! Precisa calar e falar com sinceridade serena, compreensiva, derramando-se muito mais no olhar, que na palavra; muito mais nos gestos, que nas anunciações! 
O amor compreende mais que julga! Não se endurece, antes se enternece! Quer mais se doar do que receber! E o tempo todo tece o carinho, que alimenta! 
O amor sempre renova a confiança, refaz a esperança, alimenta o otimismo, porque seu horizonte é a eternidade! 
O amor é combativo, mas não agressivo! É ativo, mas pacífico! É enérgico, mas suave! 
O amor para ser saudável deve ter dignidade, autoestima. Mas para ser pleno, não pode ter orgulho nenhum! 
O amor, por amor a quem ama, busca melhorar-se todos os dias, para elevar-se em altura e grandeza, sendo sempre mais digno do ser amado! 
O amor só descansa com a perfeição, por isso está sempre à procura... Só se satisfaz com a felicidade, por isso quer sempre mais! 
O amor está sempre perto do coração amado, mesmo que este esteja trancado, mesmo que esteja distante! Está perto, nem que seja por uma prece ardente e por um pensamento constante! 
O amor quando nasce é uma flor cheia de perfumes e cor, com ilusões de primavera! Mas quando amadurece, é fruto doce, sem ornamentos, alimento perene! 
O amor, quanto mais se asserena, mais conquista; quanto mais se desapega, mais se aproxima do ser amado! 
Não há um só dia em que o amor não dedique um serviço, um pensamento, uma prece, um algo, em favor de quem ama! Mesmo à distância, mesmo oculto! 
O amor desfaz todas as tragédias, desanuvia todas as angústias, cura todos os desequilíbrios, harmoniza todas as almas... O tempo tudo refaz, regenera, reergue, sublima... Só o que sobra para sempre é o amor! 
Nada mais doce que um olhar de amor trocado, nada mais confortador que uma vibração de amor permutada. Nada mais apaziguante que uma comunhão de pensamento elevado, projetado para o infinito! 
O amor inventa sempre novos caminhos, não se conforma com obstáculos... Caminhos que chegam ao coração, caminhos que levam ao céu! 
O amor sempre encontra um ponto de equilíbrio, um consenso confortável, uma sintonia fina... E o arremate das piores situações será sempre uma costura de bom gosto! 
O amor é delicado como uma flor, forte como uma rocha, vasto como o universo! Por isso, não cabe apenas no corpo, não cabe apenas numa vida! É necessário que seja infinito! Lógico que seja eterno! 
O amor pode se melhorar, pode se elevar, se transformar, se sublimar... Perder sensualidade e ganhar asas; desfazer-se do feminino e do masculino e ser divino... O amor pode até ficar guardado por um tempo até a próxima esquina da vida... Mas se for amor, nunca termina. 
O amor está sempre conectado com o ser amado. Lê seu olhar, percebe sua alma, capta seu coração. O amor é lúcido, desperto, vidente. Não para controlar, tomar posse, mas para estar ao lado, estar dentro, estar em ressonância. A postos para proteger, servir, ajudar e se ofertar. 
O amor se entrega inteiro, confia, se abre. Mas sem deixar de ser reto nos princípios, elevado nos propósitos, correto na ação. 
Podem surgir desavenças, o amor as supera! Podem se erguer ofensas, o amor as perdoa! Podem se formar mágoas, o amor as desfaz! Para o amor, qualquer sombra é tempestade passageira e a bonança volta sempre a brilhar! 
Não há dor que o amor não cure! Não há mal que o amor não desmanche! Não há escuridão que o amor não ilumine! Não há queda que o amor não restaure! E seu único aliado é o tempo. Por isso, o amor é infinitamente paciente. 
O amor tem que tornar melhor quem ama e quem é amado. Se não torna (ou se torna pior) não é ainda amor. 
O amor pode se sentir impotente, rejeitado, diante de um coração trancado, ensimesmado numa concha de solidão! Mas então, o amor tem sempre que continuar amando, aguardando brechas de entrada, uma estrada, um clarão... E pouco a pouco se abre o outro coração! 
O amor pleno sereno, inteiro, é aquele que percebe cada sutil necessidade, cada mensagem calada, cada aceno do ser amado. Percebe, compreende e age. Mas é preciso caminhar muitos séculos juntos, é preciso se desfazer de muitos egos para que o amor seja assim. 
Quando o amor está presente, nenhum dia passa inútil e cada problema revela uma lição! 
Quando não é compreendido, o amor compreende mil vezes, até que o outro alcance a compreensão! 
O amor nada faz de banal, não fica na superfície, não age com leviandade. Por isso desmancha o mal e lida com a verdade. Por isso não é mesmice e com energia e meiguice se lança na eternidade! 
Nem tudo o que sabe, o amor fala, porque não faz falta. Nem tudo o que faz o amor fala, porque não se exalta. Nem tudo o que dói o amor fala, sem mágoa incauta. E quando o amor cala, sua luz brilha mais alta! 
Amar, amar, amar é a única maneira de ir se esquecendo de si! E quando se esquece completamente, o amor encontra Deus! 
O amor ensina, sem ofuscar e aprende, com gratidão! 
Quando se está possuído de amor, os pés andam mais leves, o coração alado e o ar mais rarefeito. Mesmo que às vezes, pesem a caminhada, o coração e o ar, logo tudo se desanuvia e o céu claro logo de novo se anuncia! 
Entender como o outro expressa amor e saber fazer chegar ao outro o nosso amor é alcançar o milagre da comunicação. 
O amor não precisa ter medo de amar mesmo que o outro não ame, mesmo que o outro ame menos. O amor não precisa ter medo de amar o diferente, o oposto, o desaprovado, o endurecido... Pois o amor transpõe qualquer barreira e um dia alcançará a plena comunhão! 
O amor saberá tornar a franqueza tão doce, que não fira... Saberá usar a crítica com tanto acolhimento que não afaste... O amor não faltará jamais à verdade mas não há de buscar seus interesses e não a vestirá como arma, sendo-lhe ao invés uma túnica sutil! 
O amor não se deixa aprisionar pela rotina seca do cotidiano! Ao invés, resgata a flor, a poesia, o sorriso e o toque suave das mãos! 
Quantos espinhos o amor precisa colher na terra, por breves momentos de sintonia plena! Mas sempre esperando a certeza de uma eternidade de comunhão! 
Quando o amor é muito grande e se vê no inferno, não desiste, resiste, insiste, mesmo triste! E de salto em salto (porque se sabe eterno) se faz fraterno e afinal se dilata tanto, regado a pranto, que se alcança materno! 
Quando o amor nasce materno, doce, sem nuvens, já nasce eterno, mas não evita a luta, a labuta... Então precisa apenas secar o pranto, aceitar as penas e de alma enxuta, persistir para sempre, como anjo sem desencanto! 
O amor restaura pacientemente o que se quebrou. Dá asas aos que se arrastam, fazendo de vermes borboletas, fazendo de homens, anjos.
O amor não se agasta, não se gasta, nunca se afasta e só doar-se já lhe basta. 
A colheita do amor é farta, exuberante, ensolarada. Alimenta e conforta. Quando vem, falta nada. Apenas um pleno bem escancara a porta. 
Quando não se cobra, o amor dá de sobra. Quando não se apega, o amor transborda pleno, doce e sereno. Quando se respeita e nenhum ciúme à espreita e quando se entrega inteiro, sem medidas, floresce singelo, campestre, como margaridas.
Amar sem posse é amar mais. Amar melhor. Amar em paz. Amar sem desejo de nada, recebendo o que se deseja, de mão sobeja.

Dora Incontri 

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