sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Censuras


Ler, pensar e refletir sobre os textos de Emmanuel é sempre oportunidade renovada de aprender continuamente. A capacidade de síntese desse notável benfeitor que se utilizou das mãos abençoadas de Chico Xavier para nos orientar através de seus textos é admirável. Suas linhas compactas, seus parágrafos e textos lúcidos ensinam muito. Daí a importância de nos debruçarmos sobre seus livros para saciar a sede de conhecimento e aprender muito. Seus romances clássicos ou seus livros de mensagens que comentam o Evangelho ou os livros da Codificação são preciosos.
No livro Rumo Certo, editado pela FEB, no capítulo 49, encontramos a importante reflexão “Não censures”, de onde nos permitimos refletir sobre os ensinos ali contidos. Ao convidar a não censura, Emmanuel já traz valioso ensino no início de sua abordagem: Onde o mal apareça, retifiquemos amando, empreendendo semelhante trabalho a partir de nós mesmos.
Note o leitor que diante de mal de qualquer origem, ela pede que nos retifiquemos amando, ao invés de apenas censurar, a partir de nós mesmos e na sequencia relaciona exemplos do artista e do cirurgião que, utilizando atenção, carinho, paciência, retifica os quadros a que se dedicam ou se lhes apresentam, alcançando resultados em suas áreas específicas.
É que em tudo, como indica a sequencia do texto que sugiro ao leitor conhecer na íntegra, ele destaca a importância da paciência para se alcançar resultados. Isso porque o progresso, a luz, a felicidade nasce da construção lenta do tempo. Citando Deus com sua esperança e paciência infinitas, coloca o exemplo magnífico da semente que se transforma para gerar os frutos de sua essência, através do tempo...
Parece-nos que o objetivo maior da linda mensagem é destacar que, diante das adversidades a que estamos expostos, nunca devemos nos desesperar ou desanimar. É preciso mesmo muita paciência para transformar as ocorrências em bênçãos de aprendizado e orientação.
É que Deus está em toda parte, opera por caminhos que desconhecemos e transforma tudo em aprendizado para que amadureçamos nas experiências. Isto é amor Divino.
A experiência do próprio autor espiritual faz com que conclua a reflexão com a sabedoria que lhe é própria em linda frase: sempre que nos vejamos defrontados por dificuldades e incompreensões, saibamos servir com paciência e aprenderemos que, à frente dos problemas da vida, sejam eles quais forem, não existem razões para que venhamos a esmorecer ou desesperar.
Sim, porque Deus sempre permanece agindo através da sabedoria de suas leis e se usarmos a paciência nas dificuldades, superaremos os problemas e desafios e com uma grande vantagem: aprendemos algo mais, saímos amadurecidos. Afinal, tudo passa.
Caso você não tenha o livro em casa, poderá ler a mensagem na íntegra, pesquisando na internet: RUMO CERTO – Francisco Cândido Xavier – pelo Espírito Emmanuel. Você encontrará o livro todo e aí basta pesquisar no índice a lição 49.

Orson Peter Carrara

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Doença mental ou doença cerebral?


Uma visão espírita


O entendimento dos transtornos “mentais” passa pela compreensão do mecanismo de reparação dos desatinos pretéritos e atuais, através da lei de causa e efeito.(1)
Ao retornar à dimensão física, a Individualidade reencarnante traz, em seu perispírito, marcas cármicas constituídas por vibrações desarmônicas, relacionadas a débitos e culpas, adquiridos em vivências anteriores. Essas marcas energéticas, em virtude de sua natureza cármica, irão plasmar, em seu corpo físico, regiões de fragilidade. Essas regiões encontram-se mais suscetíveis ao desenvolvimento de enfermidades que, em última análise, estarão relacionadas ao carma a que está vinculada a Individualidade. Obviamente, o surgimento dessas enfermidades depende também da conduta atual do Espírito domiciliado no plano físico. 
Vejamos um exemplo: determinado Espírito comprometeu-se, em existências passadas, com o abuso de bebidas alcoólicas e cometeu falhas morais em virtude desse vício. Ele poderá reencarnar então com marcas nas áreas do perispírito que são responsáveis pela vitalização do aparelho digestivo. Essas marcas estarão criando uma predisposição ao aparecimento de enfermidades, como a gastrite crônica ou disfunções hepáticas. Assim, o Espírito reencarna com “pontos fracos” em seu perispírito, que determinam os órgãos que estarão mais predispostos a adoecer. Se o Espírito vai enfermar, ou não, isso dependerá, naturalmente, do estilo de vida e da conduta moral que adotar enquanto encarnado. 
Conceito equivalente pode ser aplicado à gênese dos transtornos “mentais”, pois o cérebro é um órgão como outro qualquer. Assim, se no passado, o Espírito adquiriu débitos em virtude do mau uso de seus atributos intelecto-morais, pode criar marcas cármicas em seu perispírito na região correspondente ao cérebro. Ao reencarnar, trará consigo tendências a desequilíbrios químicos em seus neurotransmissores cerebrais. Se esse desequilíbrio neuroquímico se verificar, a Individualidade reencarnada poderá vir a padecer de enfermidades ditas “mentais”, como a depressão, o transtorno obsessivo-compulsivo, as fobias, a esquizofrenia etc. Tais doenças nada mais são do que doenças do cérebro. Não se tratam de doenças da mente ou do Espírito, embora sua causa seja espiritual. Se o transtorno dito “mental” estivesse radicado no Espírito, não se verificariam respostas favoráveis aos psicofármacos (medicamentos que agem reorganizando a química do cérebro). Essa é a prova de que tais doenças estão, de fato, no cérebro, apesar da ciência atual ainda não ter recursos para perscrutar as sutis alterações que ocorrem na intimidade das células nervosas e em seus trilhões de conexões.
Ao examinar as origens da loucura, em O Livro dos Espíritos, item 375-a, Kardec reproduz o pensamento dos Benfeitores espirituais: é sempre o corpo, e não o Espírito que está desorganizado. 
Entretanto, apesar das ditas doenças “mentais” serem, em verdade, doenças cerebrais, isso não significa que tudo se reduz ao cérebro. Pelo contrário, é o Espírito - com suas vibrações desarmônicas - que cria o desequilíbrio no cérebro, por intermédio do perispírito. Desta maneira, o Espírito não seria a sede das doenças ditas mentais, mas seria, sim, sua causa. 
Importante ressaltar que, também na gênese das enfermidades “mentais”, a conduta moral do Espírito reencarnado, suas escolhas e atitudes, seu papel perante o outro e a vida têm indiscutível valor. Inserido, muitas vezes, em situações conflituosas, como relacionamentos desprazerosos, carência afetiva, problemas vocacionais, doenças incapacitantes, situações humilhantes ou derrocada econômica, o Espírito que não se habilita à superação das provas citadas coloca-se em situação psíquica desfavorável, que pode contribuir para o desiderato infeliz da enfermidade “mental”. 
Outras vezes, a situação cármica é tão grave que tais doenças já se manifestam independentemente do concurso de fatores ambientais. 

Apresentamos abaixo um modelo que sintetiza nossas ideias:


Espírito com predisposições mórbidas específicas 




 Construção psíquica de um estado de ânimo negativo 
(revolta, aflição, ódio, medo, culpa, insatisfação etc.)  



   
Desarmonização da química cerebral
(redução de serotonina e noradrenalina, por ex. na depressão; aumento de dopamina, por ex.  na esquizofrenia.)  



   
Manifestação da doença “mental”
(depressão, mania, psicoses etc.)  



   
 Medicamentos e outras medidas terapêuticas reorganizam a química do cérebro

  

    
Recuperação plena ou parcial do equilíbrio cerebral 

  

   
Condição psíquica da entidade reencarnada define seu prognóstico futuro


(1) Colaborou neste artigo: Carlos Alberto Mourão Júnior que, tal como Ricardo Baesso de Oliveira, é médico radicado na cidade de Juiz de Fora (MG).

Ricardo Baesso de Oliveira
Juiz de Fora, MG (Brasil)

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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Mortos, estamos nós...


O dia de finados chega e ficamos a chorar os que partiram. 
Questionamos, indagamos e tentamos saber as razões pelas quais nossos afetos vão embora, muitas vezes de forma repentina. 
A inconformação ganha espaço em nossos raciocínios porque em nossa visão quem deve ir primeiro são os mais velhos. Consideramos que o pai deve partir antes do filho. 
Irmão mais velho antes do mais novo. 
Quem tem 99 deve ir antes, muito antes do que aquele que tem 45. Entretanto, embora queiramos que seja assim, sabemos que não funciona assim. 
É que são insondáveis os desígnios de Deus, e ignoramos as necessidades evolutivas dos seres que estão encarnados, entonces... 
Entonces, muita gente se perde em pensamentos, questionamentos e reflexões deste quilate:

 - Por que se foram? 
 - Coitado, tão jovem, tinha tanta vida pela frente! 
 - Tanta gente malvada, e justamente ele vai embora! Que injustiça!

Frases assim demonstram o desconhecimento do público em geral sobre as leis que regem a vida, sobre a reencarnação. 
Reencarnamos com o bilhete de passagem de volta comprado, só não está datado, porquanto em muitos casos a data do desencarne dependerá de nossa postura aqui na Terra. 
Pessoas negligentes com a saúde tendem a entrar no ônibus de retorno mais cedo. 
Indivíduos que levam uma vida desregrada, arriscada, começam a tingir com as cores da imprudência o seu retorno ao plano dos Espíritos. 
Exatamente, morrem antes do tempo previsto! 
O inverso também é real. 
Pessoas que se cuidam, guardam qualidade de vida, obedecem a regras, tendem a viver mais tempo no corpo. 
Porém, em verdade, ninguém morre. 
Aqui ou no Além estamos vivos. 
Aliás, aqui, encarnados, estamos mais mortos do que aqueles que julgamos serem os mortos da história. 
Em suma, mortos estamos nós, eles vivem. 
Os que se foram não estão mortos, mas vivos. Mortos, estamos nós, encarnados que, limitados pelo corpo físico, não conseguimos experimentar em plenitude todas as capacidades do Espírito. 
Eles, os que se foram, estão vivos, podendo gozar a vida sem tantas necessidades grosseiras que nos são impostas pela máquina orgânica. 
Um dia, porém, nasceremos, ao nos despojarmos do corpo, e enquanto um cortejo chora a nossa partida, afirmando que morremos, nós constataremos felizes a certeza de que a vida continua e de que mortos estão os que ficaram, não os que partiram. 
Todavia, que saiamos daqui no tempo exato, no prazo previsto para nosso desencarne, e para isso é preciso aproveitar com comedimento a vida, ou melhor, a experiência de estar encarnado. 
Podemos ser os próximos passageiros a entrar no ônibus que atravessa a fronteira para o Além... E que nosso nascimento seja tão feliz quanto foi a nossa morte por aqui, enquanto encarnados. 
Porque eles vivem. E nós? Nós estamos “mortos”...

Wellington Balbo
Salvador, BA (Brasil) 

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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Entrevista com o médium Divaldo Pereira Franco


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O tamanho das coisas


Por vezes, gastamos horas amuados, jururus, macambúzios e sorumbáticos, consumindo a nossa mente e as nossas horas em problemas corriqueiros, em coisas que não saíram como imaginávamos, em sonhos frustrados parcialmente. Iludidos ficamos, focados no ponto preto em meio a um grande quadro branco.
Nesse sentido, o poeta mato-grossense Manoel de Barros trata, em um de seus poemas, do tamanho das coisas, como no trecho a seguir:
“Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade”.
A beleza da poesia pantaneira nos serve de inspiração para refletirmos sobre de que forma lidamos com os problemas habituais em nossa vida... Probleminhas, quando é do outro. Problemões, quando são os nossos... Maximizamos os nossos obstáculos, pela sua “intimidade”, e minimizamos os problemas alheios, pelo nosso egoísmo.
Seguimos assim, nos lamuriando de nossas cruzes, sem enxergar os martirizados à nossa volta. Se o gramado do vizinho é mais verde, a nossa cruz certamente será mais pesada...
Os Espíritos não se cansam de nos avisar desta realidade, onde destacamos a historieta intitulada “Aflitíssima”, no Livro “Bem-aventurados os simples” (Espírito Valerium, psicografia de Waldo Vieira), na qual a mulher se vê aflita com seus problemas, com questões comezinhas e busca o amparo de um dirigente espírita, que a consolava, ainda que não possuísse braços.
Na fieira das encarnações, avançamos diante de desafios inúmeros e a autocomiseração e o melindre não devem diminuir o nosso ritmo no enfrentamento dos problemas – chaves para a nossa evolução. O trabalho no bem, como terapia de múltiplas utilidades, também nos leva a conhecer outras realidades, de modo a mensurarmos, de forma mais realista, o “tamanho das coisas”, e percebermos que nossos fardos são leves, pelo acréscimo de misericórdia divina.
Falta-nos um sentido amplo da palavra otimismo, em um contexto no qual a doutrina espírita pode nos ajudar sobremaneira, a partir do momento que esta nos mostra uma visão ampla da existência, uma percepção concreta da eternidade, na qual tudo passa. E nos lembraremos desses fatos dolorosos apenas como uma lembrança alegre.
Necessitamos não só ampliar a visão em relação ao outro, mas também no que concerne à temporalidade. Para o Espiritismo a eternidade não é um dormir, em uma pseudo-existência, e sim uma sucedânea de vidas nas quais crescemos, aprendemos e superamos desafios e percebemos que a pequena luta de hoje se torna menor ainda amanhã.
Cabe registrar o dito n’O Evangelho segundo o Espiritismo, no seu Capítulo segundo: “Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que rápida passagem, uma breve permanência num país ingrato. As vicissitudes e as tribulações da vida são apenas incidentes que ele enfrenta com paciência, porque sabe que são de curta duração e devem ser seguidos de uma situação mais feliz“.
O otimismo não se confunde com a inatividade de uma vida repousada apenas na vida espiritual ou na depressão de problemas insolúveis no plano terreno. Na visão espírita, o otimismo nos aponta uma lógica de oportunidades, de superação pelo perdão, pelo amor, pela reparação, atuando sobre os problemas que julgamos enormes, mas que são ínfimos nos portfólios de almas que lutam pela evolução na crosta terrestre.
Assim, pelo prisma da vida espiritual, diante de nossos problemas, analisemos sua dimensão frente aos nossos irmãos, em outros espaços, e a nossa própria existência, na multiplicidade das vidas sucessivas, e veremos que tudo é pequeno, mas não insignificante, indigno de nossa tristeza e merecedor de nossa atenção.
O ponto de vista espírita nos enche de otimismo, afastando a tristeza que nos invade o coração, mostrando o real tamanho das causas de nossas aflições e a medida certa que deve ser nossa atitude: tristes pela nossa humanidade, ativos pela nossa espiritualidade.
As coisas têm o tamanho que a ela atribuímos! Sem sermos desleixados pelo nosso egoísmo, sem sermos melindrados pelo nosso orgulho, devemos sopesar cada problema, lembrando a nossa condição de Espíritos imortais em evolução com outros irmãos de jornada.
Assim, com o olhar renovado, nivelamos a vida em alto astral, na lição de que o tempo despendido em lamentações tem melhor uso se convertido em trabalho.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

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