sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A ilusão da família perfeita


Era uma vez Aloísio e Vera, um casal muito simpático; ambos de família espírita e atuantes no movimento. Desde o namoro, todos viam que seria um casamento que daria certo. E deu. Aloísio e Vera, com amor, companheirismo e tolerância, souberam construir uma relação saudável em todos os sentidos. 
Aloísio era advogado; Vera, professora. Ambos muito bem-sucedidos e estimados. E, como dedicados trabalhadores da seara espírita, sempre estiveram à frente em vários setores, não só do centro espírita, mas também do movimento espírita municipal e estadual. Enfim, Aloísio e Vera seguiram a tradição familiar e abraçaram o movimento espírita com determinação, trabalhando com afinco por ele e para ele. 
A união e a estabilidade de Aloísio e Vera, aliadas à dedicação de ambos à causa espírita, faziam com que o casal estivesse sempre cercado de admiração por todos. Era referência no movimento espírita. 
Dentre as várias atividades, o casal estivera, por um bom tempo, à frente da mocidade. Como evangelizadores, falavam para os jovens sobre felicidade conjugal, fidelidade, importância do namoro, formação familiar, divórcio... Tudo sempre visando a que os jovens, futuramente, encontrassem parceiro ideal e formassem um casal feliz como eles. 
Aloísio e Vera tinham três filhos: Douglas, Vítor e Luciana. E também tinham irmãos, cunhados, sobrinhos... 
Toda vez que um casal do movimento espírita local se separava, Aloísio e Vera, construtivamente, criticavam. Não entendiam aonde havia ido parar o amor que um prometera ao outro; diziam que as pessoas estavam brincando de casar; reprovavam o fim da união... Quando era na família de um deles, também. Irmãos e sobrinhos costumavam ser alvos de crítica caso se separassem, namorassem sem casar, ou “ficassem”, algo muito comum hoje em dia. Na visão deles, um espírita não poderia se separar ou fazer sexo sem se casar. E o casamento deveria ser de papel passado. 
Os filhos do casal ainda eram pequenos, e Aloísio e Vera olhavam os três com olhos alvissareiros. Na visão de ambos, os filhos não passariam por tempestades conjugais ou afetivas. Afinal, eram espíritas de berço, cresceram dentro do centro espírita. Começaram na evangelização infantil e, em seguida, iriam para a mocidade. Mais adiante, já adultos e plenamente integrados ao movimento espírita, teriam tarefas variadas no centro e, quiçá, no movimento espírita da cidade ou do Estado. Ato contínuo, eles se casariam com pessoas do próprio movimento espírita e teriam uniões conjugais perfeitas. Se não fossem espíritas, os escolhidos dos filhos decerto adeririam à causa, pois ninguém resiste ao Consolador Prometido. 
Filhos, noras e genros espíritas, netos espíritas, casamentos perfeitos e felizes! Aloísio e Vera vislumbravam a possibilidade de envelhecerem cercados por descendentes e agregados espíritas, diferentemente dos familiares e amigos, sempre às voltas com separações. 
Tudo ia bem na vida e nas esperanças do nosso feliz casal até que, um dia, Douglas, Vítor e Luciana entraram na vida adulta. 
Douglas, o mais velho, dentista, casou-se como manda o figurino. E com uma moça espírita, ainda por cima, para felicidade e contentamento dos pais.  Dois anos depois, o casamento acabava. Douglas e a esposa haviam chegado à conclusão que não se amavam tanto a ponto de quererem a companhia um do outro por anos a fio. Vera, a mãe, ficou muito chocada. Aloísio, o pai, chorou convulsivamente. Aquele deve ter sido o dia mais triste da vida dele. O casal espírita que havia idealizado filhos perfeitos com casamentos da mesma forma experimentava o gosto amargo da separação do mais velho. 
Depois da separação, Douglas não quis voltar para a casa dos pais. Foi morar sozinho. Livre como nunca pensara. De vez em quando, aparecia no centro para tomar um passe. Mas não se interessava em, digamos, seguir carreira no movimento espírita. 
Mais adiante, Douglas conheceu Talita, uma jovem com quem prontamente se afinou. Talita era mãe solteira de Carolina, menina que adorou Douglas assim que o conheceu (e ele, a ela). Foram morar juntos. Passado um tempinho, Douglas e Talita já eram pais de Carolina. O tão sonhado neto – no caso, uma neta – de Aloísio e Vera chegara, mas não da forma como haviam sonhado. Foi uma alegria mesclada com uma pitada de descontentamento. Afinal, a nora era mãe solteira. 
Vítor, o filho do meio, chef de cozinha, também se casou. Dono de um restaurante, conheceu Elaine, a esposa, especialista em vinhos, durante um evento. O casamento de Vítor deu certo. Ele encontrou de fato uma mulher que o completava, só que, ambos, devido aos vários eventos e viagens proporcionados na área em que atuavam, resolveram não ter filhos. Além disso, Vítor, que até então, por orientação dos pais, não dera importância a bebidas alcoólicas, passou, por influência da esposa e da profissão, a ser um apreciador dos bons vinhos. Ele não se tornou um bebedor contumaz, deixo claro. Mas gostava de harmonizar, ou seja, escolher que tipo de vinho ia melhor com carne bovina, peixe, cordeiro e por aí vai. Como espírita que era, gostava de estar no centro. Sempre que podia, ajudava nos eventos gastronômicos. Já preparara incríveis almoços beneficentes. Não dava expediente em outras atividades por causa do restaurante e das viagens e eventos gastronômicos em que, com prazer, estava sempre envolvido. 
Aloísio e Vera esperavam mais da união feliz de Vítor. Era um casamento que tinha tudo para lhes dar netos, mas Vítor e a esposa tiveram outros planos. E quando nosso casal de espíritas perfeito soube que o filho gostava de harmonizar os pratos por ele preparados com vinhos de uva tipo merlot,cabernet sauvignon etc., ficou muito triste. Exagero! Vítor não é nenhum alcoólatra! Graças à formação religiosa que teve, sabe muito bem o que faz! 
Por fim, Luciana, a caçula, profissional da área de turismo, aos 22 anos, conheceu Carlos, um executivo de 45, separado, e pai de três filhos. Ambos se gostaram e foram morar juntos, para decepção dos pais, que sonhavam um casamento de princesa para a única filha mulher. Não houve papel passado, nem bolo, nem doces. Luciana comunicou a decisão aos pais e, dias depois, fez as malas e se mudou para a casa do amado, com quem vive muito feliz até hoje. 
Ela e Carlos também não quiseram filhos. Ele já tinha três, e ela era nova; queria terminar os estudos e curtir o charmoso quarentão por quem se apaixonara. E como se entrosou muito bem com os enteados, praticamente da mesma idade dela, Luciana nunca teve muita vontade de ser mãe; deu-se por satisfeita como jovem madrasta de três adolescentes. 
Como boa espírita, Luciana frequentava um centro. Era evangelizadora de mocidade já que sempre gostou de lidar com jovens. Tanto que os enteados gostavam muito dela. 
Foi difícil para os pais aceitarem a decisão de Luciana. Até evitavam conversar sobre ela. Quando alguém perguntava, diziam que ela estava estudando no exterior. Embora não admitissem, Aloísio e Vera estavam com vergonha da filha. Acharam que sua atitude não condizia com a de uma moça de família. Ainda mais família espírita! Depois, felizmente, a poeira assentou. 
Tempos depois, Magda, prima de Vera, trouxe o casal à realidade. Após ouvir os dois tecerem um tapete de lamentações e decepções para com a prole, disse aos dois: – Sinto muito. Mas foi a melhor coisa que aconteceu a vocês. 
– Como assim? –retrucou Vera, atônita. 
–Vocês– disse Magda–sempre se acharam melhores do que os demais familiares e o pessoal do centro espírita. Sempre se acharam um modelo de família. Tinham a ilusão de que os filhos seriam iguais a vocês. Não contavam que eles cresceriam e fariam suas próprias escolhas. Vocês sempre acharam que as pessoas que não são espíritas, tal como vocês, não seriam tão bons espíritas como vocês. As escolhas dos meninos fizeram vocês colocarem os pés no chão. 
Magda quis dizer que o fato de Douglas, Vítor e Luciana serem espíritas não os isentava de serem cidadãos do mundo de hoje, em que o livre-arbítrio é mais dilatado. Um mundo no qual as mulheres são livres para administrarem a vida afetiva, sexual e profissional. Um mundo no qual o casamento de papel passado deixou de ser a única porta de entrada para a vida adulta. Um mundo no qual uma pessoa separada não carrega mais o estigma de décadas atrás. E quis dizer também que Aloísio e Vera não haviam falhado como pais. Pelo contrário, haviam dado aos três, desde a mais tenra idade, amor à luz da imortalidade da alma. Um amor capaz de torná-los seguros para fazer as próprias escolhas sem culpa e com maturidade. E quis dizer também que pais espíritas não devem achar que falharam porque os filhos não quiseram abraçar tarefas no centro espírita. Se quiserem, ótimo! Sempre há trabalho esperando. Mas o que importava é que os três eram boas pessoas, cidadãos do bem, éticos, íntegros, queridos, honestos e com sólida formação cristã e moral para seguirem suas vidas; espíritas, quer estivessem ou não integrados ao movimento espírita. E, acima de tudo, eram três irmãos que se adoravam e gostavam muito dos pais. 
A partir da advertência de Magda, Aloísio e Vera passaram a perceber que, de fato, os filhos estavam felizes com as próprias escolhas. Os três eram adultos. Portanto, competia a eles viver suas vidas e arcarem com as consequências de seus erros e acertos. Mesmo porque, Talita, Elaine e Carlos eram boa gente. Aloísio e Vera deixaram de lado o pé atrás e facilitaram a aproximação dos três. Com isso, perceberam que a filha mais velha de Talita e os três filhos de Carlos também gostavam muito deles. Por que não aceitá-los como netos também? Aceitaram. Essa abertura gerou um grande bem-estar para todo mundo. 
Daí por diante, nosso casal passou a cuidar mais um do outro, a viajar mais vezes. Iniciaram até atividades físicas. Enfim, foram viver sua vida de casal feliz, aceitaram as escolhas dos filhos e recuperaram a harmonia. 
A ilusão da família perfeita nos moldes por eles estabelecidos terminara. Aloísio e Vera haviam se humanizado. Tornaram-se, inclusive, não só melhores pessoas, como melhores espíritas. Menos bitolados, menos rigorosos... Mais tolerantes, flexíveis, arejados, modernos e compreensivos!

Marcelo Teixeira
Petrópolis, RJ (Brasil)


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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Quem é o idoso?


“O corpo gera o corpo, porém o Espírito não é gerado pelo Espírito, porque já existia antes da gestação do corpo. Não foram os pais que geraram o Espírito de seu filho, eles apenas forneceram-lhe um corpo carnal.” – Está escrito n’O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIV, item 8.
Quando encarnamos recebemos uma carga de fluido vital (fluido de vida). A quantidade de fluido vital não é a mesma para todos os seres; isso depende da necessidade reencarnatória de cada um.
André Luiz, em livro psicografado por Chico Xavier, explica que poucos são os completistas, ou seja, nascemos com uma estimativa de vida estabelecida pela quantidade de fluido vital recebido e, com os abusos que cometemos, podemos desencarnar antes do previsto, não completando o tempo estipulado.
Se viemos para acertar as pendências biológicas por mau uso do nosso corpo, como o suicídio direto ou indireto, vamos ficar aqui pouco tempo, somente o necessário para cobrir o tempo que desperdiçamos com os abusos numa vida anterior. Uma pessoa pode ter sua estimativa de vida programada para viver 80 anos e, em consequência de abusos químicos, por exemplo, desencarnar aos 65 anos, ficará devendo 15 anos. Na próxima encarnação, viverá somente 15 anos. 
Outros indivíduos vêm para uma tarefa prisional. Ao conviver com gerações que não são a sua, o indivíduo vai se sentindo isolado, um estranho no ninho. Os jovens o olham como se fosse uma peça de museu; com os companheiros da sua idade já não consegue se entender, pois lhe faltam estímulos visuais, auditivos ou lucidez. Torna-se pessoa dependente dos parentes, dos descendentes, para levá-lo aqui e acolá, para cuidar-se e tratar-se. Alguns idosos apanham, outros são explorados em seus bens materiais, outros são colocados em asilos onde nunca recebem visitas. Apesar do descaso dos filhos, dos familiares e da sociedade, que também terão de resgatar suas posturas equivocadas, esta é uma oportunidade de resgate dos abusos cometidos em outras vidas para, quem sabe, dobrar seu orgulho ou sua vaidade.
Em compensação, outros indivíduos vêm, cuidam da família, educam os filhos, se preocupam com o entorno, com a natureza. Ao findar a carga de fluido vital, voltam para o plano espiritual com a missão cumprida.
A escritora espírita, Dora Incontri, afirma que quem envelhece de modo apropriado é capaz de entender o conjunto da vida, que é uma preparação para o encontro com Deus. Quando o indivíduo estiver consciente deste destino eterno e tiver acumulado experiências proveitosas e puder repartir com os mais jovens o testemunho de uma vida exemplar, o declínio físico pouco importará. 
É necessário, portanto, a compreensão de que "o jovem de hoje, pelas determinações biológicas do Planeta, será o velho de amanhã; e o ancião de agora, pela lei sublime da reencarnação, será o moço do futuro". (André Luiz, do livro "Correio Fraterno", Francisco Cândido Xavier.)

Maria Angela Miranda
Londrina, PR (Brasil)

Fonte:http://www.oconsolador.com.br/ano9/425/maria_miranda.html

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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Você pode me explicar o que significa intelecto-moral?


Em carta publicada na seção de Cartas desta mesma edição ( Revista O Consolador ) o leitor João Zamoner pergunta-nos: Você pode me explicar o que significa intelecto-moral? 
A palavra composta “intelecto-moral”, que tem valor de adjetivo, é utilizada quando queremos dizer que determinado fato ou coisa dá relevância, ao mesmo tempo, à inteligência e à moralidade. 
Allan Kardec a utilizou quando escreveu sobre as Aristocracias, em um dos capítulos que compõem a 1ª parte do livro Obras Póstumas. Nesse texto, Kardec faz uma previsão acerca do advento futuro em nosso mundo do que ele chamou de aristocracia intelecto-moral. 
A palavra aristocracia vem do grego Aristos, o melhor, e Kratus, poder. Aristocracia significa, assim, o poder dos melhores, conquanto saibamos que o sentido primitivo da palavra foi por várias vezes deturpado. 
De acordo com o texto escrito por Kardec, verificaram-se na história da Humanidade terrena cinco espécies de aristocracia:

1 - Aristocracia dos patriarcas

Nas sociedades primitivas, quando surgiu, em decorrência da formação dos grupos sociais, a necessidade de uma autoridade, esta foi conferida aos chefes de família, aos anciãos e aos patriarcas. Surgia assim a primeira de todas as aristocracias, um fenômeno que ainda se vê em pleno século 21 em algumas comunidades indígenas.

2 - Aristocracia da força

Com o surgimento dos conflitos e das guerras, a autoridade foi sendo transferida aos poucos para os indivíduos fortes e vigorosos, ocorrendo então o advento dos chefes militares. Surgia com isso o segundo modelo de aristocracia.

3 - Aristocracia do nascimento

Os detentores do poder foram, com o tempo, transferindo seus privilégios e sua autoridade aos descendentes. Nascia então o terceiro modelo de aristocracia, geralmente fundamentada em leis outorgadas por quem estava no poder e nisso tinha interesse. Na organização política atual, como por exemplo no Brasil, senadores e deputados costumam inserir seus filhos e netos na política, transferindo-lhes o seu prestígio e seus votos, o que constitui um resquício do terceiro modelo de aristocracia surgida no mundo.

4 - Aristocracia do dinheiro

Com o surgimento das grandes fortunas, elevou-se na Terra um novo poder, o do ouro, visto que com o ouro pode-se dispor de homens e coisas. O que não se concedia mais aos títulos, concedeu-se à fortuna e esta, como ainda é bastante comum em nossos dias, passou a ser detentora do poder. Foi esse o quarto modelo de aristocracia verificada no planeta.

5 - Aristocracia da inteligência

Este modelo é o que vai se insinuando no mundo, em que técnicos e especialistas nas mais diferentes áreas é que ditam as regras que governam os povos. Ocorre que a inteligência, por si só, não é garantia de que todos os seres humanos de igual forma serão contemplados pelos detentores do poder. O desenvolvimento intelectual sem o guia dos princípios morais pode, como sabemos, ter consequências desastrosas para a sociedade.

Kardec prevê então, no texto que mencionamos, o surgimento de uma sexta forma de aristocracia no mundo, como decorrência da própria evolução da Humanidade, a aristocracia intelecto-moral, em que, por definição, a inteligência e a moralidade estarão presentes na autoridade, a que todos podem submeter-se, confiados em suas luzes e em sua justiça.  
Algo semelhante já se vê em algumas comunidades espirituais, como a colônia Nosso Lar, descrita por André Luiz no livro de mesmo nome. O governador de Nosso Lar reuniria as duas condições que o Codificador do Espiritismo assinala como características da aristocracia intelecto-moral.

Astolfo O. de Oliveira Filho
Londrina, Paraná (Brasil)


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domingo, 2 de agosto de 2015

Intuição salvadora


Uma jovem senhora, mãe de duas meninas, nos apresentou seu filho mais novo, um lindo menino de cerca de 50 dias de idade e já com cinco quilos. Contou-nos ela uma história emocionante, que nos faz, uma vez mais, atestar o socorro incessante que nos é proporcionado pelo amor divino. Disse ela que estava tudo certo para que tivesse um parto normal. Acompanhava tudo corretamente com seu obstetra no pré-natal. Quando estava com 39 semanas de gravidez, faltando poucos dias para o parto normal, numa sexta-feira, acordou sentindo uma impressão angustiante. Não podia esperar o parto normal. Tinha que fazer uma cesariana naquele dia mesmo. Começou a chorar sem parar, não conseguia parar de chorar. Ligou para o médico, desesperada, que tinha que fazer cesariana naquele dia mesmo e chorando sem parar. O médico aquiesceu e conseguiu um centro cirúrgico para aquele dia mesmo. O marido assistiu à cirurgia e ouviu o médico comentar várias vezes, surpreso: - Eu nunca vi isso antes!
Eventualmente ouve-se comentar sobre o circular de cordão, quando o cordão umbilical enrola no pescoço do bebê e é um risco para a vida da criança ou para o cérebro, se apertar. Isso pode ser previsto hoje em dia com aparelhos e salvar o bebê. Nessa gravidez, os exames pré-natais estavam perfeitos, não havia suspeita de nada errado. O médico surpreendeu-se ao ver que o cordão umbilical tinha virado sobre si mesmo, estava fazendo um nó em si mesmo e, se apertasse, o bebê podia morrer no útero ou no parto normal. A atitude da mãe salvou-lhe o filho. Ali estava ele, lindo, sem sequela alguma.
Perguntamos à mãe se ela havia sonhado com algo que lhe pudesse ter sugerido aquela atitude. Ela disse que não, que só estava com aquela impressão horrível e que tinha que fazer uma cesariana urgente. Ainda bem que o médico a ouviu. Na questão 459 de “O Livro dos Espíritos”, Kardec pergunta se os Espíritos influem sobre nossos pensamentos e nossas ações e a resposta é que nesse sentido a sua influência é maior do que supomos e que, muito frequentemente, são eles que nos dirigem. Essa jovem mãe, com certeza, foi amparada pelos benfeitores amorosos, para que tomasse a atitude referida, que salvou a vida de seu filho.
Na questão 471, Kardec pergunta se quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível, ou de satisfação interior sem causa conhecida, isso decorreria unicamente de uma disposição física. Os Espíritos respondem que isso é quase sempre um efeito das comunicações que, sem o saber, tivemos com os Espíritos durante o sono.
A mãe não lembrava e, na grande maioria, as pessoas não se lembram dos sonhos. Léon Denis explica isso em seu magistral livro “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”. O Espírito, em se desprendendo do corpo durante o sono, permanece ligado a ele por um laço fluídico, que transmite ao corpo as impressões do mundo espiritual. Ora, o corpo é matéria densa, que vibra em estado desacelerado, enquanto o Espírito, em estado de vibração acelerada, fora da matéria, está vivenciando uma situação energética rápida. Quanto mais longe o Espírito for, em camadas mais elevadas, menos material será sua lembrança, pois maior será o estado de energia e menor o da matéria densa. Menos nitidez de lembrança, devido à densidade da matéria física, impressiona menos o corpo material, a menos que o Espírito vivamente o deseje, com toda a força de sua vontade. Como, espiritualmente falando, nem sempre o Espírito deseja ou tem condições, esquecerá ao acordar, embora em sua memória espiritual a lembrança se mantenha, fora de seu cérebro físico. Há também os casos em que os mentores apaguem a memória, permitindo somente a lembrança do necessário, para que o encarnado, em lembrando a alegria e a beleza do mundo espiritual, não perca a vontade de viver aqui na Terra. Vemos isso expresso nas obras de André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier.
A mãe do bebê deve ter sido visitada em sonhos e alertada. Ao acordar, não tinha a lembrança, mas uma impressão, um mal-estar, a certeza de que tinha que intervir no mesmo dia e não aguardar o parto normal, que é o que desejava.
Bendito é o amor de Deus que sempre socorre! Nunca estamos sozinhos. Sempre amparados. Quantas vezes teremos sido socorridos, sem o saber? Como diz Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, psicografado por Chico Xavier, na mensagem Capacete da Esperança, resguardemos, pois, o nosso pensamento com o capacete da esperança fiel e prossigamos para a vitória suprema do bem. Tenhamos fé no amparo e socorro de Deus. Prossigamos na grande batalha com nós mesmos, para o nosso aprimoramento, na certeza de que estamos sob a proteção dos que nos amam, no mundo espiritual.

Jane Martins Vilela
Cambé, PR (Brasil)

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quarta-feira, 29 de julho de 2015

João Pedro


Esse novo amigo tem apenas 5 anos. Um garoto inteligente, afetuoso, que corre a me abraçar onde me vê. Tocou-me o coração. Foi conosco, acompanhado pelos pais, a Guaxupé (MG), num evento de grande porte – onde havia 700 pessoas –, participando ativamente das atividades dedicadas às crianças. Foi num fim de semana, fomos no sábado e voltamos no domingo.            
Minha participação no evento foi proferir palestra no encerramento. O tema era dedicado ao afeto, ao cuidado que devemos ter uns com os outros, na vivência do respeito e no esforço da fraternidade, onde se inclui naturalmente o amor e o carinho às crianças, para que se sintam amadas, respeitadas e acolhidas. Aliás, já se sabe, que a maioria dos casos de desequilíbrios sociais na vida adulta é resultante de uma infância desprezada ou vivida sem amor dos pais ou responsáveis adultos pela criança. Isso é normalmente constatado em terapias, onde traumas, medos e angústias tem sua origem na infância, repetindo, na maioria dos casos.              
Antes da minha vez de assumir a tribuna para iniciar a palestra, tive um insight e pedi autorização aos pais, sem nada combinar com o garoto e pedi aos pais nada dissessem a ele.              
Iniciei a abordagem, desenvolvi a temática durante uns 25 minutos e, ao final, após todas as considerações, que julguei viáveis e oportunas pertinentes ao tema, citei que um novo amigo já estava entre nós e chamei-o pelo nome: João Pedro, venha ao palco!              
Agachei-me, abri os braços chamando-o para o abraço de dois velhos amigos. Ele veio correndo pelo palco, na presença do imenso público, e lançou-se aos meus braços, com a espontaneidade e alegria que é própria das crianças, que é característica peculiar da pureza de coração.              
Levantei-o nos braços, levei-o até o microfone, colocando-o de pé sobre a cadeira para alcançar o pedestal e fiz rápidas perguntas que ele respondeu com graça, fazendo a emoção do público. Que cena comovente! A espontaneidade de uma criança, onde o coração ainda não se impregnou da malícia, do melindre, da desconfiança ou do preconceito.              
Abraçamo-nos com alegria. Encerrei a fala para dizer que na pureza infantil está, sem dúvida, a chave da felicidade humana, o segredo para sairmos de nossas neuroses e vencermos os quadros deprimentes da vida adulta perturbada pelas neuroses que vamos acumulando.              
Não é por outra razão que afirmou o Mestre da Humanidade: deixai vir a mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus.              
Sim, é o reino da humildade interior, da alegria espontânea, do comportamento puro de quem confia e não se deixa contaminar por preconceitos ou pensamentos e posturas pré-concebidas que tantas vezes nos permitimos adotar.              
É que o afeto é capaz de construir a felicidade, dentro e fora de casa, em qualquer lugar. Tratemos de valorizar essa grande virtude de nos tratarmos com docilidade, com respeito, com fraternidade. Maridos e esposa, tratemos nosso cônjuge com carinho e atenção, são eles os companheiros que a vida nos deu para essa caminhada de aprendizado.              
Abracemos os filhos, abramos o coração aos amigos, sejamos mais afáveis uns com os outros, construamos a fraternidade.              
Sejamos como João Pedro: espontâneos, puros de coração. Ele é uma criança, mas todos nós podemos nos esforçar para esse comportamento.    

Parabéns aos pais! Meu abraço ao menino querido.

Orson Peter Carrara