quinta-feira, 10 de abril de 2014

Um fofoqueiro no centro


Realizava palestra em determinada cidade do interior de um estado brasileiro qualquer, quando, após a apresentação, um senhor me procura e narra sua experiência:
“Moço, corria o ano de 1977 e eu labutava num centro espírita aqui da cidade. Nesta casa tínhamos um companheiro complicado, sujeito do vinagre, azedo, sua boca era um veneno só. Falava mal de todos, disseminava a fofoca, enfim, homem terrível de conviver. Mas eis que a vida não manda avisar quando a senhora da foice virá buscar e, num certo dia, recebemos a notícia do desencarne daquele indivíduo. Ataque cardíaco, fulminante! Enfim, estávamos livres dele!
Bom... O tempo passou e eu me esqueci completamente daquela pessoa desagradável, até que, no ano de 1997, numa reunião mediúnica, eu, que tenho vidência, vi um homem sorridente vindo em minha direção. Ele, oh! estava bem, como se fosse uma entidade bem resolvida com seus traumas. Por Deus! Identifiquei a presença daquele fofoqueiro. Era ele. Mas como? Como alguém tão malvado poderia apresentar-se bem no mundo dos Espíritos? Até que o mentor da reunião disse-me: Amigo, admira-se de nosso irmão? Pois bem, e eu me admiro de você... Não percebeu que já se passaram 20 anos? Pelo visto, ele caminhou e você ficou estagnado, a julgar os outros, esquecendo-se de que, com o tempo, seja aqui ou no além, todos crescemos!”
Jesus! Como ficamos presos ao que passou. Não sem motivo, Deus estabeleceu como condição reencarnatória o esquecimento temporário. Claro. É preciso desvencilhar-se do passado e de todos os passados, tanto o nosso quanto o dos outros.
Passado, apenas para agregar experiência, jamais para servir como elemento de condenação. Cada um de nós arca com as consequências de seus atos passados, que repercutem, não raro, de forma dolorosa no presente. Portanto, o que não precisamos é de julgamentos, sentenças, vibrações contrárias, haja vista que responderemos pelos nossos atos.
Todavia, o mais interessante é nossa visão limitada, de rótulos, que estigmatiza este ou aquele pelos seus equívocos do passado.
Sem perceber, sem refletir, condenamos o outro às trevas quando fechamos o caminho para a luz.
Explico-me: O sujeito errou demais. Tenta recomeçar, vai à igreja, ao centro, ou sei lá, e vamos nós: “Você viu o fulano? Fez um monte de besteira na vida e hoje vai ao centro”. Isso é cruel de nossa parte. As pessoas têm o direito de recomeçar suas vidas, de levantar a poeira e dar a volta por cima.
O que devemos fazer? Simples: orar por elas, orar para que prossigam firmes em seus propósitos. Não podemos ser os fiscais da vida alheia, aqueles que tentam impedir o outro de recomeçar. Que bom! Que bom poder reconhecer os erros e procurar uma religião, enfim, mudar de vida.
Deus possibilita-nos todas as chances do mundo. Ninguém está deserdado ao erro, ao equívoco, ao vício.
Irmã Rosália, em O Evangelho segundo o Espiritismo, deixa a mensagem de que, não incomodar com as faltas alheias, é caridade moral.
É bem por aí. Caridade moral. Com a mesma ênfase que atendemos o pobre, o necessitado do pão material, precisamos atender aquele que necessita do pão do espírito, ou seja, da compreensão, do carinho, da porta aberta para recolocar as coisas no lugar e seguir adiante. Nada de colocar o outro num balaio, estigmatizar. Quem nesta vida não erra?
Se ainda não conseguimos esquecer nossos erros desta existência, que ao menos não lembremos os dos outros para que eles possam recomeçar. Recomeçar a busca pela felicidade... Afinal, todos temos o direito de prosseguir, e, se não queremos prosseguir, que ao menos não impeçamos os outros de “ajeitar” novos caminhos rumo ao progresso.
Pensemos nisto!


Wellington Balbo
wellington_balbo@hotmail.com
Bauru, SP (Brasil) 

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domingo, 6 de abril de 2014

Temas da Vida e da Morte


Manoel Philomeno de Miranda 
(Parte 6) 

Continuamos a apresentar o estudo metódico e sequencial do livro: Temas da Vida e da Morte, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo P. Franco.

Questões preliminares

A. Existe a hereditariedade psicológica?

Não. Embora seja inegável que os caracteres são transmissíveis e que os filhos e os descendentes em geral herdam de pais e ancestrais as parecenças físicas, a morfologia, as posturas e outros sinais de identificação, não se dá o mesmo nas áreas psíquica, psicológica e emocional. Pais geniais e antepassados doutos não geram, necessariamente, filhos sábios, tanto quanto artistas e guerreiros não procriam símiles. (Temas da Vida e da Morte - Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 41 e 42.) 

B. De onde procedem as aptidões que a pessoa revela no curso da existência corpórea? 

Elas procedem geralmente das experiências passadas, em que o Espírito armazenou valores que lhe pesam na economia evolutiva como poderosos plasmadores da personalidade e da inclinação para uma como para outra área do conhecimento, para a vivência da virtude ou do vício. (Obra citada - Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 42 e 43.) 

C. Como devemos proceder com relação às más tendências que trazemos do passado?  

Devemos, evidentemente, corrigi-las, tanto quanto devemos cultivar as aptidões superiores. As tendências devem ser disciplinadas, corrigidas a qualquer esforço, para que sejam superadas. As tendências doentias, heranças pessoais dos gravames anteriores, devem ser canalizadas para as realizações positivas, como experiência inicial que se automatizará, dando margem às paixões elevadas, aquelas que promovem o indivíduo à sua condição de conquistador da razão a caminho da intuição, ao tempo em que se liberta do atavismo primário das imantações do reino animal. (Obra citada - Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 43 e 44).

Texto para leitura: 

21. Não existe hereditariedade psicológica - As leis de Mendel, estudadas largamente, vieram contribuir de modo eficaz para o equacionamento de muitos enigmas nos diversos capítulos da hereditariedade. (N.R.: Johann Mendel, botânico austríaco, nascido em 1822 e falecido em 1884, vivendo num mosteiro, realizou de 1856 a 1866 experiências sobre hereditariedade nos vegetais que fizeram dele o fundador da genética.) No entanto, se complementam os conceitos do Transformismo e do Evolucionismo, não interpretam inúmeros quesitos da realidade da vida biológica. É inegável que os caracteres são transmissíveis e que os filhos, os descendentes em geral, herdam de pais e ancestrais as parecenças físicas, a morfologia, as posturas e outros sinais de identificação. Mas o mesmo não ocorre nas áreas psíquica, psicológica e emocional. Pais geniais e antepassados doutos não geram, necessariamente, filhos sábios, tanto quanto artistas e guerreiros não procriam símiles. Certo, a convivência e a educação, os hábitos e a disciplina modelam as personalidades dos descendentes, neles plasmando, às vezes pela violência emocional, características que parecem herdadas, sem que o ser traga nas paisagens íntimas essas habilidades ou determinações. Da mesma forma, homens incultos e viciosos não reproduzem vidas caóticas semelhantes, exceto quando degenerescências físicas impõem limitações e distúrbios de variada ordem. Mesmo nos casos que se podem arrolar como decorrência da hereditariedade psicológica e moral, devemos levar em conta os fatores anteriores ao renascimento físico do ser. O Espírito é o engenheiro da maquinaria fisiopsíquica de que se vai utilizar na jornada humana. Claro que os processos de reencarnação se fazem mediante as leis de afinidade espiritual, por impositivos anteriores, o que resulta em identificações e choques nos clãs, onde se reencontram seres simpáticos ou adversários que o berço volta a reunir. Em face dessa conjuntura, muitas das heranças se fazem naturais, porque o clima vibratório impõe os condicionamentos e os programas indispensáveis na formação do corpo. (Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 41 e 42.)

22. As aptidões geralmente procedem das experiências passadas - As aptidões e as tendências só raramente correspondem às leis da hereditariedade, especialmente hoje, quando as opções para a conduta e a ação se fazem um leque imenso de possibilidades, ensejando a identificação do homem com as suas próprias realidades. No passado, a falta de comunicação de massa, a ausência de contatos sociais imprimiam como tendências o que eram hábitos dos grupamentos familiares, que impunham nos nascituros e crianças um roteiro de realizações que se lhes incorporava impositivo, difícil de ser evitado. Não obstante, as exceções demonstram, nos gênios como nos idiotas, a independência do reencarnante em relação às matrizes genéticas. Eis por que as tendências, as aptidões humanas, sem descartar-se a contribuição dos genes e cromossomos, procedem das experiências do passado, em que o Espírito armazenou valores que lhe pesam na economia evolutiva como poderosos plasmadores da personalidade, da inclinação para uma como para outra área do conhecimento, para a vivência da virtude ou do vício. Dramas e tragédias, crimes e ações nefandos que passaram ignorados ou não justiçados pelos códigos humanos, convertem-se em processos psicopatológicos que se manifestam em forma de desequilíbrio no endividado, sem que haja fatores ancestrais que justifiquem o desconcerto. Ao ser processado o mecanismo do renascimento, o candidato modela, imprime nas células em formação aquilo de que necessita para recuperar-se, ascender e resgatar... O mesmo se dá no campo da cultura, da beleza, da arte, em que o Espírito, ao ser submetido aos implementos celulares, neles trabalha esses equipamentos sutis para responderem com fidelidade ao ministério para o qual retorna ao corpo, em realizações nobilitantes. (Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 42 e 43.)

23. As más tendências devem ser corrigidas - As tendências e aptidões atuais são, pois, reminiscências do passado de cada indivíduo. Tudo a que se aspira e se realiza sem a aprendizagem atual procede de experiências passadas, que se encontram ínsitas no ser e desabrocham como inclinação, impulso, compulsão, mais poderosos do que o meio onde a criatura se encontra localizada.  As aptidões superiores devem ser cultivadas, tanto quanto não podem ser deixadas sem conveniente tratamento as más tendências,  que devem ser disciplinadas,  corrigidas a qualquer esforço,  para que sejam superadas,  oferecendo campo para os primeiros cometimentos no setor do bem,  na condição  de exercício  dignificante  em formulação para realizações elevadas e libertadoras no futuro. Todo empreendimento exige esforço, diretriz e segurança. As tendências doentias, heranças pessoais dos gravames anteriores, devem ser canalizadas para as realizações positivas, como experiência inicial que se automatizará, dando margem às paixões elevadas, aquelas que promovem o indivíduo à sua condição de conquistador da razão a caminho da intuição, ao tempo em que se liberta do atavismo primário das imantações do reino animal... Fadado à Grande Conquista, recorda para elevar-se, superando o mal que nele remanesce, sob o apelo do amor que o alimenta e é de procedência divina. (Tendências, aptidões e reminiscências, pp. 43 e 44.)


24. Fatalismo biológico absoluto não existe - O fatalismo biológico, estabelecido mediante as conquistas pessoais de cada indivíduo, não é definitivo em relação à data da sua morte. A longevidade como a brevidade da existência corporal, embora façam parte do programa adrede estabelecido para cada homem, alteram-se para menos ou para mais, de acordo com o seu comportamento e do contributo que oferece à aparelhagem orgânica para a sua preservação ou desgaste. Necessitando de um período de tempo em cada existência física para realizar a aprendizagem evolutiva em cujo curso está inscrito, o Espírito tem meios para abreviar-lhe ou ampliar-lhe o ciclo, mediante os recursos de que dispõe e são facultados a todos. É óbvio que o estroina desperdiça maior quota de energias, impondo sobrecargas desnecessárias aos equipamentos fisiológicos, do que o indivíduo prudente. As ocorrências que lhe sucedam têm as suas causas no comportamento que se permitem. Igualmente, a forma de desencarnar, sem fugir ao impositivo do destino que é de construção pessoal, resulta das experiências que são vividas. O homem imprevidente e precipitado, desrespeitador dos códigos de lei estabelecidos, torna-se fácil presa de infaustos acontecimentos,  que ele mesmo se propicia como efeito da conduta arbitrária a que se entrega. Acidentes, homicídios, intoxicações, desastres de vários tipos que arrebatam vidas, resultam da imprevidência, da irresponsabilidade, do orgulho dos que lhes são vítimas, na maioria das vezes e no maior número de acontecimentos. Devendo aplicar a inteligência e a bondade como norma de conduta habitual, grande parte das criaturas prefere a arrogância, a discussão acesa, o desrespeito ao dever, a negligência, tornando-se, afinal, vítimas de si mesmas, suicidas indiretas. Nos autocídios de ação prolongada ou imediata, a responsabilidade é total daqueles que tomam a decisão infeliz e a levam a cabo, inspirados ou não por Entidades perversas com as quais sintonizam. Derrapando em comportamentos pessimistas a que se aferram, a atitudes agressivas nas quais se comprazem, na fixação de ideias tormentosas em que se demoram, em ambições desenfreadas e rebeldia sistemática, a etapa final, infelizmente, não pode ser outra. Com o gesto que supõem ser de libertação, tombam, por largos anos de dor, em mais cruel processo de recuperação e desespero, para que aprendam disciplina e submissão contra as quais antes se rebelaram.  (Comportamento e vida, pp. 45 e 46.) (Continua no próximo número.)

Thiago Bernardes
thiago_imortal@yahoo.com.br
Curitiba, Paraná (Brasil)  

Imagem é do livro

domingo, 30 de março de 2014

Tijolos...


Claro que o que você vai ler abaixo é simbólico, mas bem retrata a atual situação do mundo...
Um jovem e bem sucedido executivo dirigia por sua vizinhança, correndo um pouco demais em seu novo Jaguar. Observando crianças se lançando entre os carros estacionados, diminuiu um pouco a velocidade, quando achou ter visto algo.
Enquanto passava, nenhuma criança apareceu. De repente um tijolo espatifou-se na porta lateral do Jaguar! Freou bruscamente e deu ré até o lugar de onde teria vindo o tijolo. Saltou do carro e pegou bruscamente uma criança entre alguns veículos estacionados e gritou:
- Por que isso? Quem é você? Que besteira você pensa que está fazendo? Este é um carro novo e caro, aquele tijolo que você jogou vai me custar muito dinheiro. Por que você fez isto?
- Por favor senhor me desculpe, eu não sabia mais o que fazer! - Implorou o pequeno menino - Ninguém estava disposto a parar e me atender neste local.
Lágrimas corriam do rosto do garoto, enquanto apontava na direção dos carros estacionados.
- É meu irmão. Ele desceu sem freio e caiu de sua cadeira de rodas e não consigo levantá-lo.
Soluçando, o menino perguntou ao executivo:
- O senhor poderia me ajudar a recolocá-lo em sua cadeira de rodas? Ele está machucado e é muito pesado para mim.
Movido internamente muito além das palavras, o jovem motorista engolindo "nó imenso" dirigiu-se ao jovenzinho, colocando-o em sua cadeira de rodas.
Tirou seu lenço, limpou as feridas e arranhões, verificando se tudo estava bem.
- Obrigado e que meu Deus possa abençoá-lo - a grata criança disse a ele.
O homem então viu o menino se distanciar... empurrando o irmão em direção à casa.
Foi um longo caminho de volta para o Jaguar... um longo e lento caminho de volta. Ele nunca consertou a porta amassada. Deixou amassada para lembrá-lo de não ir tao rápido pela vida, que alguém tivesse que atirar um tijolo para obter a sua atenção.
Deus sussura em nossas almas e fala aos nossos corações.
Algumas vezes quando nós não temos tempo de ouvir, Ele tem de jogar um tijolo em nós.
É sua escolha: ouvir o sussurro ou esperar pelo tijolo!
Boa reflexão!
  
"O sofrimento é o alto-falante de Deus para um mundo surdo"

Não esperem pelo "tijolo".

É claro também que Deus não atira tijolos em seus filhos. Porém, a insensibilidade humana requer mesmo umas boas "chacoalhadas" para despertar do letárgico sono da indiferença... Qualquer semelhança com os dias atuais é mera coincidência.

Orson Peter Carrara 

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sábado, 29 de março de 2014

Certezas do Poeta e da Lei


Quem, dentre nós, nunca ouvira falar de Francisco Otaviano de Almeida Rosa (1825 – 1889), Advogado, Escritor e brilhante Jornalista, que fora também Deputado, Senador e Diplomata? É considerado, com louvor, um dos patronos da Academia Brasileira de Letras; todavia, se nunca ouviras falar do eminente letrista, certamente conheces algo de uma sua tocante e célebre poesia do nosso cotidiano de lágrimas:

Abre aspas:

Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.

Fecha aspas.

E o fato é que a Dor, nas suas mais diversas nuanças: física ou simplesmente consciencial, ou moral, ou espiritual, são companheiras assíduas dos nossos passos, sobretudo nos ambientes endividados, de consciências sombrias de um Mundo Provacional, de grandes expiações. 
Há quem diga que alguns elementos são invulneráveis à Dor; estudos “comprovaram” que sociopatas, indivíduos egoístas, interesseiros e manipuladores, bem como homicidas frios e calculistas, são insensíveis a ela, estando isentos das cobranças de sua consciência que não lhes pedem um ajuste de contas, um acerto social. E, dir-se-ia: “felizardos, por imunes que são”. Entretanto, não acredito, de forma cabal, completa e absoluta, em tais “comprovações”, e, por isto: minhas aspas. 
Óbvio que alguns indivíduos de consciência rastejante, ou seja, de patamares evolutivos mui baixos e mui grosseiros, quiçá, até se sinta mais confortável, psicologicamente, do que resulte dos seus atos cruéis e violentos; mas chegar ao absurdo de que tais elementos não sintam pesar; de que tais não sentem a dor consciencial; de que tais indivíduos são imunes às cobranças de retificação de seus erros, vai uma distância enorme, pois que todos, do mais alto ao mais baixo nível de espiritualidade e de humanização, sentem algum grau perceptivo da dor, da cobrança consciencial, pois que, do contrário, a Lei de Deus, feita para todos, indistintamente, estaria, de certa forma, sendo derrogada por alguns poucos e aplicada à maioria deste Mundo infernal, feito de lágrimas e de dores, a que nos sujeitamos como filhos da Consciência Maior, que espera do criado a consciência reta, isenta de falhas, rumo à perfeição. 
Afirma-se, e não duvido de tal, que a dívida pode até ser transferida no tempo, mas terá de ser quitada sempre, pois que tal é o ditame da Soberana Lei. Entretanto, isto não quer dizer que nossa consciência não faça suas cobranças, que não nos recorde os crimes, que não nos mostre o abismo de nossa criação, pois na consciência se instala o Tribunal do Supremo que aguarda, com paciência, nosso arrependimento, mas também nos exige o condigno resultado da expiação. 
Creio, sim, que o Tribunal de Deus encontra-se instalado em nossa consciência: palingenésica, perene e imortal, havendo, pois, diversificados níveis da mesma, não excluindo, e, não exonerando, em tempo algum, quem quer que seja, pois que a Perfeita Lei não distribui privilégios ou favorecimentos, não promove conluios ou negociatas a benefício de uns e prejuízos de outros, pois que se firma na Ordem, na Justiça e no Merecimento, não se dobrando às dívidas do filho infrator. 

Fernando Rosemberg Patrocinio

Imagem de Francisco Otaviano de Almeida 

segunda-feira, 24 de março de 2014

O Inferno na verdade é um Purgatório, pois na Bíblia ele é temporário.


Tártaro, Geena, Sheol, Hades, Inferos e Limbo designam geralmente o inferno, que é de origem mitológica, quando seu chefe era Plutão e que, no cristianismo, passou a ser Satanás, Belzebu ou Lúcifér. E o inferno cristão tornou-se muito mais terrível do que o mitológico pagão, graças a Dante Alighiere (século 13), que o recriou na sua “Divina Comédia”.
Examinando 1 Coríntios 3: 15, os versículos em torno e outros textos da Bíblia, conclui-se que o inferno não é um lugar, que  ele e seu fogo são figurados e que ele é mesmo temporário. Aliás, a parábola do Filho Pródigo (Lucas capítulo 15); o desejo de Deus de que todos se salvem (Mateus 18: 14; 1 Timóteo 2: 4); a afirmação de Jesus de que há mais alegria nos céus quando um se converte do que pela alegria lá já reinante por 100 já convertidos; a busca da ovelha perdida até ser encontrada (Lucas 15: 4) e outras passagens bíblicas pulverizam as penas sempiternas dos teólogos medievais baseados na poesia do terror infernal de Dante.
“Manifesta se tornará a obra de cada um. O dia demonstrará a boa obra que se revela pelo fogo; e tal como com a obra de cada um, o próprio fogo a provará. Se ela permanecer edificada sobre o fundamento, seu autor receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, ele sofrerá dano; mas esse autor será salvo, como que através do fogo.” (1 Coríntios 3: 15).
Numa linguagem simples, vejamos esse texto até o versículo 17. As obras boas e más estão relacionadas com o fogo. A obra boa e fundamentada, como acontece com a de cada um, é revelada pelo fogo, e se ela permanece no fundamento, o seu autor receberá o galardão. Mas queimando-se a obra de alguém por ela não ser boa, ele sofrerá punição pelo fogo, pois sua obra será queimada, mas ele será salvo pelo próprio fogo destruidor da sua obra má. Se ele se salva, logo a pena é temporária. “Vós não sabeis que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Coríntios 3: 16). E Paulo termina com uma linguagem figurada profética (ameaçadora) aos suicidas: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” (1 Coríntios 3: 17).
 Kardec elogiou o Purgatório da Igreja, por ser temporário, de acordo, pois, com a justiça perfeita de Deus, que dá a cada um conforme suas obras.
 Nossas faltas são finitas. Puni-las, pois, com penas infinitas ou sempiternas seria um erro de justiça gravíssimo. Assim, atribuir a Deus a criação dessas penas sem fim é até uma blasfêmia!
 O Inferno na verdade é, pois, tal qual o Purgatório temporário da Igreja. O grande santo sábio e bispo da Igreja Primitiva, são Gregório de Nissa (4º século), um dos Padres da Igreja, notável pela sua lógica, já ensinava também que o inferno é temporário. Que os teólogos dogmáticos, pois, se cuidem!

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br - Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

Na TV Mundo Maior, também pelo www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos. Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br E, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, pela Ed. Chico  Xavier. www.editorachicoxavier.com.br (31) 3636-7147 - 0800-283-7147, com tradução deste colunista.
Recomendo “O Despertar da Consciência – do Átomo ao Anjo”, de Sebastião Camargo. www.sebastiaocamargo.com.br, www.odespertardaconsciencia.com.br e www.editorachicoxavier.com.br

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quinta-feira, 13 de março de 2014

A fraternidade esquecida


O ano é 1789. O mundo desperta diferente, com um brado regado a sangue que proclama liberté, égalité e fraternité pela Europa, ressoando em todo o mundo ocidental. O antigo regime, de reis e vassalos, cai pela força dos tempos novos. Burgueses, comerciantes proscritos de outras horas, viram senhores e trabalhadores viram vassalos, na primeira de muitas revoluções que mudariam o mundo de forma profunda. 
Passados mais de 150 anos da bastilha, um mundo dividido entre o Ocidente e Oriente, entre o azul e o vermelho, se digladia entre extremos, de liberdade e igualdade, na guerra que congela as almas, pelo medo de um holocausto nuclear, negado nas frases e filmes, mas presente nas ogivas.
A promessa de liberdade garante a utopia de podermos ser o que quisermos, de seguirmos o nosso caminho e que, pelo esforço individual, podemos vencer na vida, virar presidente, ser o Top of the Hill.
Em um mundo tão desigual, o discurso da igualdade ideologiza nações, na premissa de superarmos as injustiças, padronizando pessoas e vidas, como combustíveis para abastecer o poder.
De um lado, quem não trabalha não come. De outro, quem quer ser igual não pode ser livre. Em extremos, batizados de “ismos”, nos alistamos até hoje em combates ideológicos, em lutas que se replicam nos blogs, comentários, textos, notícias e posts.
Desse desejo de ser livre, desse clamor de ser tratado igual, algo ficou esquecido... A fraternidade que vê um irmão em cada um jaz ausente das discussões de todos os matizes. Afinal, ser livre ou ser igual é focado no “eu” e a fraternidade é focada no “nós”.
Na fraternidade se aliviam as tensões da liberdade e da igualdade, pois não podemos ser livres sem respeitar os outros e não podemos ser iguais sem respeitar a nós mesmos. Mas podemos ser fraternos no respeito ao outro e a nós mesmos.
A mensagem do Cristo, do Cordeiro de Deus, tão deturpada em jogadas religioso-comerciais, é uma síntese da fraternidade, quando deposita no amor ao próximo como a si mesmo a regra áurea do convívio humano, enxergando no outro a si mesmo.
Entretanto, é tão difícil sermos fraternos. É tão difícil enxergar o outro. Bradamos por direitos a iguais oportunidades, direitos de nos expressarmos, mas esquecemos da luta pelos que sofrem, na dor do desvalido, próximo tão próximo.
O ideal da modernidade, consubstanciado no lema da revolução francesa, anda capenga, com a fraternidade esquecida, relegada a ações piegas da responsabilidade social na venda de produtos ou da esmola degradante em bingos televisivos.
O filho do carpinteiro tratou a todos de forma igual, dentro das suas desigualdades. Respeitou as vontades, mas alertou a todos da interdependência da vida. Falou o Mestre da Lei de amor, mostrando que o sonho da liberdade plena pode se converter em puro egoísmo e que a igualdade absoluta pode se transformar em uma camisa de força coletiva.
Livres ou igualitários, respeitando os limites dessas posturas, lembremo-nos do visgo da fraternidade que nos une em uma rede de dependência, de união, de carinho, que nos torna melhores a cada dia. Enquanto a lição esquecida não for vivenciada, nos debateremos entre extremos de insensatez, em discursos estéreis e inúteis, tentando achar na vida um gabarito diferente do amor, palavra que estamos bem distantes de saber o seu real significado.  

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)  


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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A resiliência barata


Antigo conto infantil, a Dona Baratinha, narra a história de um personagem que se posta humildemente, todos os dias, na sua janela, com um laço de fita na cabeça e uma moeda no bolso, cantando “Quem quer casar com a senhora Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha (...)”.
Após recusar vários pretendentes, a exigente baratinha aceita se casar com Dom Ratão e, marcado o casório, o noivo vem a falecer no caminho da igreja, precipitando-se na panela de feijoada que esquentava na cozinha da Dona Baratinha, como quitute principal das bodas.
Apesar de desconsolada, a Dona Baratinha, após um momento de choro, coloca novamente a sua moeda em uma caixa, prende a fita na cabeça e volta à sua janela, para cantar a sua cantiga: “(...) Quem quer casar...”.
Essa singela historieta infantil, narrada entre outras obras, no livro “Lembranças amorosas”, de Francisco Gregório Filho (2000, Editora Global, SP), tem como tema central a resiliência, uma importação de conceitos da física para a psicologia, na adaptação do indivíduo com sucesso a experiências de vida difíceis ou desafiadoras, ou seja, a capacidade de superar as mazelas humanas e retornar à “vida que segue”, como faz a corajosa baratinha da história.
A virtude da resiliência é cara, uma rara ferramenta para o enfrentamento dos múltiplos e naturais desafios da vida encarnada que, ainda que sejam planejados ou fruto de resgates, trazem traumas à criatura. Por vezes, nós nos “congelamos” diante dos problemas pontuais e inesperados e ficamos em estado letárgico diante desses fatos momentosos, sem conseguir retornar ao nosso “estado natural”. 

A caixa – Após uma situação traumática, muitas vezes entramos em uma caixa mental, absortos que ficamos naqueles problemas, sem enxergar uma solução, uma fresta de luz que nos guie à superfície, à maneira de uma pessoa presa em um caixa. Nesse processo, os problemas se tornam maiores do que são e as soluções se apresentam cada vez mais distantes e impossíveis.
Esse processo de internalização no problema ocorrido leva o indivíduo à depressão, ao insulamento e até ao suicídio. Afogado nos problemas, se entrega aos vícios, reduz a sua autoestima e vive da piedade própria. A falta de aceitação do que houve, a negação e a reclamação inconteste fazem com que o indivíduo se esqueça de si e do mundo, preso em um castelo de ilusão, construído no alicerce da dor sofrida.
É preciso sair da caixa!

Tocando em frente – Nas diversas lutas da vida, é preciso seguir em frente, superar, contornar, enfrentar... Sacudir a poeira e dar a volta por cima. Mas, em que pese a simplicidade desse discurso motivacional, o desafio é bem mais complexo no plano real.
O primeiro passo para “sair da caixa” é enxergar o nosso problema com o devido afastamento, dando a ele o tamanho que merece. Conta-se uma história de Buda em que este, ao ser abordado por uma mulher que perdeu seu filho, entregou a ela sementes de mostarda, pedindo que as entregasse em uma casa na qual ninguém tivesse perdido algum ente querido, exemplificando a necessidade de olhar a dor de nosso irmão, para ver como a nossa é pequena.
Outro ponto é a presença de nossos amigos. Como amigos de fé, irmãos camaradas, devemos estar atentos para perceber no cotidiano aqueles que pela força dos problemas começam a entrar na caixa e não conseguem seguir o caminho da resiliência, retomando a vida. Nessa hora, a palavra amiga, o ouvido companheiro e o ombro reconfortante operam milagres.
Por fim, diante dos problemas, o cultivo da fé que sustenta é fundamental para o reerguimento dos que sofrem. A crença na vida futura, na justiça divina e na bondade de Deus é essencial ao bem sofrer, que permite sentir, mas também se libertar.
A resiliência não é uma virtude barata e revela a maturidade dos Espíritos e uma profunda confiança em Deus. Como a baratinha, passado o luto, é necessário voltar à luta diária, à esperança que nos impulsiona a seguir em frente.
Entretanto, a Lei é de amor e, nos momentos de bonança, devemos nos recordar daqueles que sofrem aprisionados nas caixas mentais. Eles necessitam de uma mão externa, que os auxilie a romper esse desafio, na visão de que a nossa evolução se dá no coletivo.
As dores são inevitáveis e as sentimos de formas variadas, reagindo de diversas formas, como os galhos de uma frondosa árvore diante do vento. É preciso, no entanto, voltar à nossa posição original, como galhos fortes e amadurecidos por mais uma prova vencida na longa estrada da evolução, à espera de outras ventanias, naturais, de chuvas de verão.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil) 

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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Murmúrio de Memórias


O acúmulo das experiências dos anos não evita o saudosismo, ou aquele “murmúrio de memórias” que relata o tempo que passou. Uma certa sensação de que faltou algo por fazer e até mesmo uma decepção com a crescente decrepitude das forças físicas; uma saudade indefinível dos que se foram antes, uma inquietude interior.Isto pode ser a velhice, mas não é regra. Há velhos e velhos. E peço ao leitor não considerar a expressão como pejorativa, apenas indica uma das fases da existência humana. Conheci idosos otimistas, alegres, sempre dispostos, longe do saudosismo ou da ausência do algo por fazer. Preencheram os dias com a dedicação a nobres causas, fazendo-se mais felizes e felicitando terceiros. O conhecido compositor Taiguara tem uma bela música: O Velho e o Moço, que inspirou-me este pequeno artigo. Transcrevo a letra na íntegra para reflexão do leitor: Deixa o velho em paz com as suas histórias de um tempo bom. Quanto bem lhe faz murmurar memórias num mesmo tom. A sua cantiga revive a vida que já se esvai. Uma velha amiga, outra velha amiga e um dia a mais vão nascendo as rugas. Morrendo as fugas e as ilusões, tateando as pregas, se deixa entregue às recordações em seu dorso farto. Carrega o fardo de caracol, mas espera atento que o céu cinzento lhe traga o sol. Ele sabe o mundo, o saber profundo de quem se vai. O que não faria pudesse um dia voltar atrás. Range o velho barco o lamento amargo do que não fez. E o futuro espelha. Esse mesmo velho que são vocês. 
Leitor amigo, volte a ler a letra da música. Leia, por favor, com bastante atenção. Todos nos situaremos nestas sábias linhas, à medida que formos meditando sobre elas.
Por outro lado, sábias frases de um texto conhecido por Ser Idoso ou Ser Velho, de autoria desconhecida, bem definem a situação de quem se deixa abater pela vida ou de quem determina a própria harmonia interior. Em três trechos que destacamos aos leitores, poderemos ter uma ideia do que estamos tentando dizer:

a) Idosa é pessoa que tem muita idade; velha é a pessoa que perdeu a jovialidade;
b) Nem todo idoso é velho, e há velho que nem chega a ser idoso;
c) Você é velho quando só sente ciúmes e desejo de posse. 

Pois é bem isso mesmo. Conheço vários idosos que nunca chegaram à velhice. Se levarmos o assunto para outro âmbito de análise, encontraremos infindáveis considerações, entre outras tantas respostas como estas:

a) A idade mais avançada significa, entre outras experiências, uma fase de reavaliação do que se fez ou se viveu, visando uma auto aceitação e reflexão sobre a própria vida, o próprio comportamento;
b) O desgaste é apenas do corpo físico. O espírito conservará sua própria característica de idoso ou velho no corpo, lembrando a sabedoria das frases acima selecionadas;

c) A idade física avançada apenas indica a proximidade da constatação da própria imortalidade ou de um breve retorno para nova existência, em corpo novo, sobre a face do planeta... Por isso, nada de temores, pois a vida continua, apesar das diferentes existências.


Orson Peter Carrara

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domingo, 9 de fevereiro de 2014

A dádiva maior de todas


Toda vez que se fala em caridade é importante lembrar que seu ingrediente fundamental é o amor, assunto a que nos reportamos no texto intitulado “A caridade e seu ingrediente fundamental”, publicado na edição 111 desta revista. Eis o link: http://www.oconsolador.com.br/ano3/111/editorial.html

Como sabemos, costuma-se em nosso meio dividir a caridade em dois grupos – a caridade moral e a caridade material.
A paciência, a indulgência, o tratamento afetuoso seriam expressões da caridade moral.
A assistência a quem passa por privações, a manutenção financeira de uma atividade filantrópica, a ajuda material a quem precisa, eis expressões da caridade material.
Nada temos contra essa divisão, com a única ressalva de que seja num caso, seja no outro, não pode faltar ao ato o sentimento do amor, sem o que poderemos dar-lhe qualquer nome, menos o de caridade.
Reportando-se ao tema, Emmanuel destaca um outro aspecto pertinente à chamada caridade material. Quando damos algo a alguém, diz Emmanuel, é preciso saber se damos o que temos ou se damos o que detemos.
Eis as considerações feitas pelo conhecido instrutor acerca de uma proposta de Jesus registrada no cap. 11, versículo 41, do Evangelho de Lucas:

“Dar o que temos é diferente de dar o que detemos. A caridade é sublime em todos os aspectos sob os quais se nos revele, e em circunstância alguma devemos esquecer a abnegação admirável daqueles que distribuem pão  e agasalho, remédio  e socorro para o corpo, aprendendo a solidariedade e ensinando-a.
É justo, porém, salientar que a fortuna ou a autoridade são bens que detemos provisoriamente na marcha comum e que, nos fundamentos substanciais da vida, não nos pertencem.
O dono de todo o poder e de toda a riqueza no Universo é Deus, nosso Criador e Pai, que empresta recursos aos homens, segundo os méritos ou as necessidades de cada um.
Não olvidemos, assim, as doações de nossa esfera íntima e perguntemos a nós mesmos:

Que temos de nós próprios para dar?
Que espécie de emoção estamos comunicando aos outros?
Que reações provocamos no próximo?
Que distribuímos com os nossos companheiros de luta diária?
Qual é o estoque de nossos sentimentos?
Que tipo de vibrações espalhamos?”(Fonte Viva, cap. 60, psicografia de Chico Xavier.)

Na sequência do texto ora reproduzido, Emmanuel lembra-nos que é fundamental amealhar em nosso espírito as reservas da boa compreensão, da amizade e do entendimento no serviço do bem de todos quantos nos rodeiam, perto ou longe.

E acrescenta:

“É sempre reduzida a caridade que alimenta o estômago, mas que não esquece a ofensa, que não se dispõe a servir diretamente ou que não acende luz para a ignorância.

O aviso do Instrutor Divino nas anotações de Lucas significa: - Dai esmola de vossa vida íntima, ajudai por vós mesmos, espalhai alegria e bom ânimo, oportunidade de crescimento e elevação com os vossos semelhantes, sede irmãos dedicados ao próximo, porque, em verdade, o amor que se irradia em bênçãos de felicidade e trabalho, paz e confiança, é sempre a dádiva maior de todas.” (Obra citada.)

Extraído da Revista Eletrônica: O Consolador
http://www.oconsolador.com.br/ano7/336/editorial.html

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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Para os Cristãos, Ele é um encanto, mas o que é mesmo o Espírito Santo?


O Espírito Santo tem várias interpretações. Para uns, ele é também o Espírito de Verdade, o Consolador, o Paracleto, a  Terceira Pessoa trinitária e Deus. Essa visão é de acordo com o dogma trinitário, e é também parcialmente bíblica.
Pode-se tomá-lo também como o próprio Espírito de Deus, o que é igualmente bíblico. “Deus é o Pai dos Espíritos”, ou o Espírito chefe. (Hebreus 12: 9). Mas para teólogos, ele é o amor entre o Pai e o Filho. Então, ele seria apenas uma metáfora para eles? E por que eles não ensinam assim para os seus fiéis?
E, ainda, outros o veem como uma espécie de coletivo dos espíritos, significando, pois, o conjunto de todos eles. Essa visão é geralmente aceita pelos espíritas, e tem forte fundamento bíblico. “Eu farei levantar-se entre vós um homem de um Espírito Santo chamado Daniel.” (Daniel 13: 45 da Bíblia Católica, pois a Protestante só tem 12 capítulos). “Nosso corpo é santuário de um Espírito Santo” (1 Coríntios 6: 19). E, quando na Bíblia se diz que o espírito de Deus se manifestou a alguém, não é o próprio Espírito de Deus, mas um espírito humano de Deus, do bem. “Para que Deus vos conceda espírito de sabedoria” (Efésios 1: 17).
No início do cristianismo, falava-se em “um” espírito e em espíritos, e não em “o Espírito Santo”, desconhecido de são Paulo. E, depois que os teólogos criaram o dogma da Santíssima Trindade, eles substituíram a expressão bíblica “um espírito” pela de “o Espírito Santo”, com as iniciais maiúsculas, dando a entender que se tratava apenas do Deus da Terceira Pessoa trinitária. E, para eles, todos os demais espíritos manifestantes na Bíblia e fora dela seriam maus ou deuses pagãos, e jamais  espíritos humanos.
Erraram grandemente os teólogos, pois todos os espíritos manifestantes são humanos: os bons (anjos, santos), os mais ou menos (a maioria) e os maus ou ainda impuros. (1 João 4:1). Realmente, são todos eles, nos originais gregos, “daimones”, cujo significado verdadeiro é de almas ou espíritos humanos.
A expressão: “O pecado contra o Espírito Santo (contra a voz da consciência) não tem perdão nesta vida nem em outra”, quer dizer, a falta tem mesmo que ser paga. Para alguns autores, trata-se de mais uma interpolação (acréscimo) feita na Bíblia, para dar mais crédito à criação do dogma do Espírito Santo trinitário. Mas para os próprios teólogos, ele é o amor entre o Pai e o Filho. Então, ele, seria apenas uma metáfora? E por que, então, eles não ensinam isso para os fiéis? (Mais detalhes em meu livro: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM, SP).
Deus nunca se manifestou diretamente na Bíblia. “Quem vir Deus, não continua vivo” (Êxodo 33: 20). “Ninguém jamais viu a Deus, a não ser aquele que lá de cima desceu.” (João 1: 18).
Como vimos, biblicamente, podemos dizer – sem querer fazer ironia, e com o devido respeito –, que o Espírito Santo é o conjunto dos demônios!

Obs.: Demônios ( Nos originais gregos, “daimones”, cujo significado verdadeiro é de almas ou espíritos humanos).

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) –  www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.
Na TV Mundo Maior, por parabólica e www.tvmundomaior.com.br, o programa “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos. Perguntas: presenca@tvmundomaior.com.br  E recomendo, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, pela Ed. Chico Xavier. www.editorachicoxavier.com.br (31) 3636-7147 - 0800-283-7147, com tradução deste colunista.
Recomendo o filme contra o aborto, elogiado por Divaldo Franco: “Blood Money – Aborto Legalizado”, em estreia no Brasil.

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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Teu campo de luta


É preciso na vida identificar os nossos campos de luta! Esta é uma certeza que me persegue a cada dia... Dentre as diversas frentes que demandam nossos esforços, é necessário enxergar as prioridades, onde somos mais necessários, mas também onde necessitamos trabalhar, isso tudo em uma ótica, digamos assim, espiritual.
Desde a juventude somos convidados a amadurecer esse discernimento. Nossas forças vitais, nosso tempo, nossa inteligência, à feição dos talentos da parábola evangélica, necessitam ser aplicados e bem aplicados, para se reproduzirem em bênçãos sem-fim. Em um dizer empresarial, precisamos identificar nosso “business”, para sobre ele atuar.
Como um investidor atento, a vida nos pede bom senso, para sabermos o melhor local para alocar os nossos tesouros. No dizer de Kardec n’O Evangelho segundo o Espiritismo, temos que “A inteligência é rica em méritos para o futuro, mas com a condição de ser bem empregada”, destacando a necessidade pétrea de dar uso ao nosso potencial. Mas isso demanda opções...
Melhorar o mundo ou aumentar o nosso consumo? Casar ou estudar? Música ou engenharia? Nossas escolhas dizem muito sobre nós! Temos que fugir do “tanto faz” diante dessas possibilidades, construídas pela nossa caminhada evolutiva, para identificar as múltiplas micromissões que nos cabem no latifúndio da encarnação, e sobre elas nos debruçarmos.
Por vezes passamos os dias enfurnados na casa espírita, fazendo desta nosso primeiro lar, fugidios das questões da família, do trabalho, da comunidade. Como sacerdotes modernos, na nossa clausura enxergamos a religiosidade como único campo de luta possível, esquecidos de que a religiosidade deve sim se espraiar sobre as outras dimensões de nossa vida, na necessidade de sermos bons pais, bons cidadãos e bons profissionais, atuando no mundo sem ser do mundo, mas em uma visão holística da existência.
Faz-se necessário lermos os sinais, sentindo onde nossos braços se fazem necessários, ainda que esse não seja, por vezes, o caminho mais fácil ou, ainda, mais popular. Às vezes, essa senda não é clara, mas Deus nos guia, se soubermos ouvir as suas palavras entre os gritos da luta. Entender isso nos faz ver um pouco de ideal nas pequenas coisas e a grandeza de muitas coisas que realizamos.
Ao final da jornada, finda mais uma existência, nós teremos que, mais cedo ou mais tarde, fazer um balanço da nossa existência pregressa. Do que dispúnhamos, o que fizemos e o quanto avançamos. Pouco será perguntado pelas posses que amealhamos e muito nos cobraremos do nosso crescimento, construído no convívio com os nossos irmãos.
A estrada da vida é feita de escolhas, que não são imutáveis e que dizem muito de nosso passado e nosso futuro. Como Espíritos eternos, devemos olhar a aplicação de nossas energias, e, mais ainda, se nessas tarefas agimos de maneira vibrante ou se caímos no reino do “morno”, no dizer de Paulo de Tarso.
Fazendo uso da obra de ficção científica “Uma princesa de Marte”, de Edgar Rice Burroughs, publicada em 1917, na qual um capitão da guerra da secessão estadunidense, sem um rumo na vida, encontra um sentido para a sua existência no longínquo planeta vermelho, podemos aproveitá-la na conclusão desse breve artigo.
A versão filmada desse livro, lançada pelos estúdios Disney em 2012, “John Carter-Entre dois mundos”, traz na sua cena final o Capitão Carter, que antes de seu regresso para a morte, dizia ao seu sobrinho: “Adeus, Ned! Ned? Você deveria adotar uma causa, apaixonar-se, escrever um livro talvez”. Salutar conselho de quem encontrou um norte para a sua vida.
É preciso encontrar uma causa, uma frente de batalha, do “bom combate” por um mundo melhor. A religião nos fornece esse sentido para a vida, essa “razão nobre”, mas ela só tem razão de ser em uma vida sentida em sua diversidade de dimensões. Isolamentos do mundo nos afastam de nossos campos de luta, tão caros ao nosso progresso e dos que nos cercam. Cabe-nos pensar sempre o porquê de termos nascido e o que motivou a bagagem que levamos às costas.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil) 

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Respeitemos o pecado original, mas ele nada tem de teologal


Segundo a doutrina do pecado original, da metáfora de Adão e Eva, toda a humanidade o herdou. 
Mas o que existe é a lei inexorável de causa e efeito ou cármica, presente nas escrituras sagradas de todas as religiões. Ela é chamada também de lei da colheita da semeadura, semeadura essa que é fruto do livre-arbítrio ou da nossa vontade, e cuja colheita é obrigatória. Semeando-se o bem, colhe-se o bem. Semeando-se o mal, colhe-se o mal. “Na mesma medida com que medirdes, sereis medidos.” (Mateus 7: 2). “Quem com a espada mata, pela espada seja morto.” (Apocalipse 13: 10).
A doutrina do pecado original é contrária à Bíblia. Aliás, é por isso que ela virou dogma. E, na Idade Média, quem negasse um dogma, morria na fogueira.
 E vamos a mais dois exemplos bíblicos que deixam mais claro  esse assunto. “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai, a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este.” (Ezequiel 18: 20). “Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais: cada qual será morto por seu pecado.” (Deuteronômio 24: 16).
Mas o batismo de água instituído por João Batista era de arrependimento, e não para lavar o pecado original!  Ademais, por que quem é batizado sofre? E o próprio Batista desfez-se desse batismo com água (Mateus 3: 11). Também Paulo disse que Cristo não o enviou para batizar. (1 Coríntios 1: 17).  O batismo importante, segundo o Batista, é o de fogo (prova de fogo) ou do Espírito, com a conversão (“metanoia”), ou mudança total de vida. (Mateus 3: 11).
É estranho, pois, que os teólogos cristãos antigos criaram a doutrina do pecado original, e mais estranho ainda é que os de hoje a apoiam, já que ela, como vimos, é totalmente contrária à Bíblia, à lógica e ao bom senso! Provavelmente, foi para incentivar a prática rendosa do batismo das crianças, pois dizem que ele lava o pecado original. 
Pelo estudo teologal, ficamos conhecendo a perfeição infinita de Deus. Como, pois, os teólogos podem atribuir a Ele esse erro de justiça divina e universal de causa e efeito? E, se Adão e Eva são uma metáfora, como se poderia tirar dela uma doutrina verdadeira? Se o fosse realmente, ela nos daria a impressão de que a justiça de Deus seria mais imperfeita do que a dos homens!
Mas na verdade, o pecado original, com o qual nascemos, são as nossas faltas cometidas em reencarnações passadas, ainda não resgatadas, e que têm que o ser, pois ninguém deixará de pagar tudo até o último centavo. (Mateus 5: 26).
 De fato, se a causa do sofrimento fosse mesmo o tal pecado original, ele deveria ser igual para todos, mas uns sofrem mais, e é exatamente porque eles têm mais carma de sofrimento!

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) –  www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.
Na TV Mundo Maior, por parabólica e www.tvmundomaior.com.br, o programa “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos. Perguntas: presenca@tvmundomaior.com.br  E recomendo, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, pela Ed. Chico Xavier. www.editorachicoxavier.com.br (31) 3636-7147 - 0800-283-7147, com tradução deste colunista.
Recomendo o filme contra o aborto, elogiado por Divaldo Franco: “Blood Money – Aborto Legalizado”, em estreia no Brasil.

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Por que sou tão infeliz?


O fim de ano acentua a tristeza e a melancolia em muitas pessoas, nas recordações de perdas variadas coincidentes com o período em outras épocas ou com a saudade dolorida de um ser querido que já partiu. Ou mesmo nas frustrações e decepções que se acumulam sob variadas formas. 
À costumeira pergunta que explode no coração deprimido, que se desencantou ou busca razões para entender a própria vida, permito-me transcrever pequeno trecho, ainda que parcial, em treze itens:

1 – “(...) a felicidade se encontra onde cada qual coloca o coração (...)”;
2 – “(...) se você situa as aspirações no prazer fugidiço, no ouro mentiroso e nas paixões que ardem e se apagam breve, a sua ausência produz a desdita (...)”;
3 – “(...) se pensa em paz de consciência, retidão moral e dever corretamente cumprido, como metas de dignidade e honradez, a ventura se estabelecerá no coração tranquilo (...)”;
4 – “(...) Quem deseja usufruir sem merecer, receber sem dar, colher sem haver semeado é obrigado a furtar e converter-se em indigno beneficiário da vida, que lhe impõe recomeços difíceis (...)”;
5 – “(...) Todos podemos conseguir a felicidade se soubermos e quisermos bem conduzir nossas aspirações (...)”;
6 – “(...) Muitos desejariam um pomar referto, um jardim de messes. Por não consegui-los, desalentam-se, esquecidos de que também poderiam tornar-se um arbusto verde ao caminho pedregoso, adornando a estrada adusta (...)”;
7 – “(...) Felicidade é o bem que fazemos, não o gozo que fruímos (...)”;
8 – “(...) A felicidade não resulta do que se tem e do que se frui, mas do que se é e do que se faz (...)”;
9 – “(...) Não nos queixemos! A reclamação reflete insatisfação pelo que temos, a traduzir a revolta de que nos consideramos defraudados e, em consequência, injustiçados por Deus (...)”;
10 – “(...) Cada um recebe, não como julga merecer, (...), mas de acordo com o que nos seja melhor para o bem estar real (...)”;
11 – “(...) Não se lamente mais e saia do egoísmo vexatório, insatisfeito, fator de sua inquietação, aprendendo a descortinar belezas e esperanças (...)”;
12 – “(...) se fecharmos a janela, campeiam as sombras neste recinto. Se as abrirmos, reinará a claridade (...)”;
13 – “(...) A forma como se encontrarem as janelas das nossas intenções espirituais, morais e mentais, dirá do que preferimos: luz ou sombra, alegria ou dissabor (...)”.

Os itens transcritos estão no capítulo 19 do livro Tramas do Destino, de Manoel Philomeno de Miranda, por Divaldo Pereira Franco. Eles fazem parte da longa e notável resposta à pergunta de um dos personagens da bela história. Abstenho-me de resumir a história para não tornar longa a presente abordagem, indicando o excelente livro ao leitor. O leitor encontrará com facilidade referida obra, que foi lançada em 1981 e possivelmente deve estar disponível na net, pois não cheguei a pesquisar esse detalhe.
Notará o leitor que cada item é material de farta reflexão. Pensando nos abatidos pela melancolia e agora, diante do ano novo, sempre é tempo de renovar os pensamentos e alterar os modelos de comportamento. Se algo não vai bem, isso indica necessidade de mudança. O extraordinário capítulo é fonte de ampla orientação e motivação extensa para a alegria de viver, com gratidão e disposição para agir corretamente. Esforcemo-nos, pois, pelas mudanças que se fazem essenciais.

Orson Peter Carrara

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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Planos cognitivos da Natureza


O homem moderno, sobretudo da parte dos mais soberbos, se gaba de sua inteligência, achando que nada pode superá-la, ironizando os que creem e pensam diferente deles, dos que declaram que o homem muito pouco sabe de si mesmo, da Natureza e das coisas que lhe servem de morada temporária neste mundo terreno, bem como do universo, este grande enigma de todos nós. 
Com o advento do Espiritismo no mundo, a partir de 1857, vislumbrara-se uma nova realidade do homem no mundo, de todos os seres animados e inanimados, pelas provas evidentes de uma nova e mais completa realidade a se destacar por força mesma das coisas, pois, de fato, é isto o que o Espiritismo em si mesmo representa: uma potência incontestável da natureza, que, mesmo em sua invisibilidade, representa uma eterna e ordenada virtude de expressar-se e materializar-se no mundo das formas físicas e materiais; potência sábia e benevolente, conquanto inabalável por quaisquer outros decretos, e, da qual, portanto, nada pode escapar, fugir ou negar, pois que é lei e força de todos os tempos, de todas as eras, vivificando seres e coisas e atuando de modo ininterrupto nas suas composições e recomposições transmigratórias, sendo o Espírito o seu motor principal, nas idas e vindas constantes por sua imorredoura existencialidade. 
Assim, com o Espiritismo, e sua notável contribuição filosófica da verdade, o homem enfim compreendera que não está só no universo, repleto de vida, de inteligência, de progresso das mais diversas coisas, dos mais diversos seres que só desaparecem para o reaparecer e progredir sempre, até que a casca grosseira e rude de suas formas se sutilize por força imperiosa da evolução, do progresso irrefreável que lhe sublima a vida, a consciência, o ser principal. 
Com o Espiritismo, pois, compreendeu-se e compreende-se que o universo é feito de inteligência diversificada na forma; que todos os seres e todas as coisas só existem e se mostram na forma física de suas vestes passageiras graças a um desenho prévio anterior, de uma matriz invisível que lhe organiza e compactua a matéria disforme, concedendo-lhe força e higidez, estrutura e plasticidade, consoante normas processuais e evolutivas de um psiquismo interno, diretor da forma, seu comandante decisivo e crucial. 
Para o homem comum, soberbo e culto, viciado e intransigente, só existia no mundo sua inteligência e sua cultura, sendo tudo o mais, da natureza e das coisas que lhe cercam os passos, forças instintivas em ação, operando aqui e trabalhando ali, cegas e mecânicas, sem motivações outras que não o acaso de sua existência, sua vida desprovida de objetivos, finalidades outras, tudo sem qualquer motivo, sem razão de ser. 
Entretanto, com o Espiritismo, uma nova visão de mundo se lhe apresenta, onde tudo tem sua razão de ser, uma causa, uma finalidade, destino certo e determinado para todos os seres e todas as coisas, da pedra ao homem, da matéria à consciência, tendo como mola propulsora de tudo o progresso, esta mudança para algo mais e melhor, para a compreensão superior da vida, de tudo e de nós mesmos, como seres inteligentes e imortais. 
Assim, abaixo do homem, temos os nossos irmãos menores, instintivos, mas também sensibilizados, dotados de uma inteligência mecânica, não raciocinada, mas encaminhando-se para a racionalização; e, ao lado do homem, na invisibilidade do espaço extracorpóreo e fora do alcance dos seus olhos carnais, destacam-se individualidades semelhantes, compondo vasta humanidade espiritual; e pairando acima de nós todos e, paradoxalmente imanente a tudo e a todos nós, outra e mais destacada Inteligência, a de Deus-Pai, Amorável Criador. 
Assim temos, nas alíneas (a), (b), (c) e (d), os seguintes parâmetros compondo uma complexa unidade cognitiva, do átomo ao homem, e, do homem a Deus: 
a) – Plano Cognitivo de Coisas e Seres da Natureza: providos de variada forma de instintos, de inteligência fragmentária, que, num crescendo ininterrupto, do átomo aos animais, passando pelos vegetais, vão se aperfeiçoando a caminho da inteligência contínua, do plano superior que se lhe segue naturalmente; 
b) – Plano Cognitivo da Humanidade; de inteligência contínua, raciocinada, que se prolonga ainda almejando formas conscienciais mais elevadas e, portanto, muito acima do homo sapiens, nós mesmos desta comunidade terrena;  
c) – Plano Cognitivo da Humanidade Espiritual: dos nossos irmãos extracorpóreos mais ou menos inteligentes, como nós mesmos, estando apenas desenfaixados das formas físicas do mundo pela desencarnação, e também consolidando progressos diversificados; e 
d) – Plano Cognitivo Imanente a Tudo: presente em todos e em cada um, destacando-se do mesmo a Inteligência Suprema, nosso Pai e Criador estando a velar por cada qual de suas criaturas, componentes dos planos anteriormente citados, estando bem próximo de nós por Si mesmo, ou, pela presença amiga dos protetores espirituais constantes da alínea anterior; sendo este, pois, o Plano Dominante, que, incorporando (d) e (c), não só abrange como também dirige evolutivamente todos os demais, pois que é infinito em Sua Existencialidade, Espírito Supremo irradiando Bondade, seu eterno Amor. 
Com efeito, o Espiritismo modifica e amplia a concepção dos instintos e da inteligência no mundo, consoantes alíneas (a) e (b), mostrando-nos as possibilidades doutras formas cognitivas inclusas nas demais e sucessivas alíneas (c) e (d).  
E, mais ainda, conceituando, como de fato assim o é, que o universo é feito de inteligência diversificada na forma, seja ela material, vegetal, animal ou hominal, como também nas formas não físicas do ser que se transmudara do corpóreo para o extracorpóreo, para, então, mudar de novo, tal qual lagarta que abandona o casulo de sua obscuridade e alça voos de borboleta livre e desembaraçada da imobilidade anterior; sendo tais voos, entrementes, de curta duração e só se verificam tal como pausa necessária para, então, encarcerar-se de novo na carruagem física do mundo, mola e instrumento de sua evolução.  
Assim, os processos cognitivos da natureza se patenteiam como sendo bem mais amplos e bem mais complexos que o paradigma materialista do mundo, forma acanhada e entristecida dos que pensam por metades, filosofando o ceticismo, a angustiosa existencialidade dos Nietsche, dos Sartre contemporâneos e suas fórmulas ridículas e bisonhas. 
Ora, Kardec, com os Códigos Imortais do Espiritismo, e como verdade iniludível da natureza, já invertera a ordem das coisas: a substância fundamental do universo é o Espírito, o princípio inteligente de todas as coisas, e não a matéria desprovida de quase tudo, de movimento, de vida e de ação. 
Invertendo-se a ordem das coisas, e substituindo-se a matéria pelo Espírito, função de um cognitivo imortal, não só se conhece como também se dignifica a substância arquitetônica de seres e coisas que, no homem, atinge formas conscienciais mais elevadas, conquanto suscetível, ainda, de novas e mais complexas formas mentais, crescendo, ininterruptamente, para a compreensão do Deus-Pai, Inteligência Abrangente do Cosmos Universal.


Fernando Rosemberg Patrocínio
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Uberaba, MG (Brasil)

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