segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Aborto é sinônimo de assassinato de um filho pela própria mãe


O aborto é um assunto polêmico, quando não deveria ser, pois é indiscutivelmente um verdadeiro assassinato.
Toda vida que é eliminada por uma ação violenta, seja ela de um vegetal, de um animal ou de um ser humano, dizemos que o ser vivo foi morto por alguém, por um animal ou por um acidente. E quando se trata da de uma pessoa, dizemos que ela foi assassinada. Por isso, me atrevo a dizer que, se alguém mata um embrião, um feto humano, ele comete um assassinato! 
Toda vida, pelas leis naturais, começa no instante da concepção. Assim, biologicamente, nós começamos a existir no preciso momento de nossa concepção ou fecundação. Assim como a criança tem uma fase bem caracterizada de sua existência, ocorrendo o mesmo com o adulto e com o da terceira idade, todos tiveram também as suas fases de embriões e de fetos, que são tão importantes que, sem essas fases, nós não existiríamos. É como no caso de uma jornada. O primeiro passo dela já é uma jornada. Também um grão de milho debaixo da terra quando brota, buscando a luz solar, ele não é mais um grão de milho, mas um pé de milho. Assim, igualmente, quando um espermatozoide se une a um óvulo, formando o embrião, esse embrião já é uma pessoa, tal qual o primeiro passo de uma jornada já é uma jornada, e o grão de milho brotado já é um pé de milho.
A diferença entre uma criança já nascida e a ainda embrião ou feto é que esta está numa fase ainda muito nova, enquanto que aquela já é uma criança numa segunda fase mais adiantada. Assim, pois, os dois seres, o uterino e o extrauterino, são crianças em fases ou momentos diferentes de suas vidas. Uma criança de apenas um ano está num momento diferente daquela que já está com dois anos. Assim também, pela lógica e o bom senso, tanto aquele que elimina a vida de uma criança extrauterina, ou já nascida, e aquele que elimina a vida de uma ainda na sua fase uterina cometem um assassinato.
Um líder religioso evangélico, fazendo uma interpretação forçada dum texto isolado do evangelho, quer dar a entender que Jesus aceita o aborto em alguns casos, quando se referiu Ele a Judas Iscariotes: “Melhor lhe fora não haver nascido” (Mateus 26:24). Uma foto minha aparece destacada em primeiro lugar na janela de “curtir” do site desse líder religioso, que respeito, mas do qual discordo sobre a sua interpretação do citado texto evangélico (http://bispomacedo.com.br/2010/09/03/jesus-fala-sobre-o-aborto).
Muitas mulheres de Espíritos mais evoluídos nem querem ouvir falar dessa palavra aborto. É que elas, como nós dissemos, consideram-na também como sendo sinônima de assassinato.
E essa questão de assassinato de fetos é muito séria para a mãe que faz aborto. Ela terá graves problemas psicológicos, traumáticos e de sentimentos de culpa pelo resto de sua vida, daí que ela até precisa de uma assistência psiquiátrica e psicológica.
Realmente dói muito a consciência de quem viola uma das leis naturais ou divinas, como o é a do aborto!
E não é para menos, pois é como se a mãe que faz aborto fosse uma juíza que proferisse uma sentença de morte para um ser humano totalmente inocente, indefeso, e que, além disso, é seu próprio filho, e que ela, até por instinto, deveria proteger!

José Reis Chaves
Belo Horizonte, MG (Brasil)


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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Porque não nos lembramos de encarnações passadas?


Árvores e frutos


“Ou fazei a árvore boa e seu fruto bom; ou fazei a árvore
má e seu fruto mau; pois pelo fruto é que a
árvore se conhece.” (Mateus, 12:33)


A árvore simboliza o homem.
Se bom, realiza ações nobres e edificantes, produz bons frutos.
Se mau, pratica atos indignos e prejudiciais, gera maus frutos.
A religião é o pomar cujas árvores e seus frutos indicarão sua natureza.
São, pois, os seus seguidores que farão uma religião voltada para o bem ou desviada para o mal.
Uma doutrina bem conduzida, regida pelos princípios cristãos, enseja ao homem desvencilhar-se do vício e do pecado, liberta seus adeptos da submissão a dogmas absurdos e escravizantes, desobriga seus fiéis da adoção de rituais e ídolos herdados de antigas seitas pagãs.
Assim é a Doutrina dos Espíritos.
Veio restabelecer a simplicidade e a pureza do cristianismo primitivo.
Seus bons frutos atestam a boa qualidade das árvores e a excelência do pomar cultivado pelos seguidores de Jesus, adubado com o amor fraterno inspirado pelo Evangelho, regado com  o suor dos tarefeiros do Cristo.

Felinto Elízio Duarte Campelo
Maceió, Alagoas (Brasil) 

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domingo, 30 de agosto de 2015

Além da morte


Os Espíritos não vacilam quando se referem às mudanças de um plano a outro, através da morte. Contudo, há os que ainda acreditam na transformação, nesse instante especial dos que passam para o outro lado, em figura angelical; em anjo, na verdade. 
Essa é a mudança esperada, a mudança que gostariam que acontecesse e que fica no coração daqueles que sentem a partida do ente querido, considerando-o, sempre, como figura benfazeja, bondosa, de sentimento generoso, merecedor do maior respeito. E é verdade! Se foram bons, continuarão bons e a desenvolver o que está latente na alma. Lá, serão recepcionados igualmente pelos bons; se perversos, é natural que os que se identifiquem com eles façam a recepção. A mudança de ambiente não promoverá as alterações imaginadas, da mesma maneira que a transferência de uma cidade ou de um país para outro não trará mudanças na personalidade do indivíduo. Haverá variação, sim, e muita, no aspecto ambiental. Mas, quanto ao comportamento, este sofrerá as alterações de acordo com o interesse demonstrado, da mesma maneira como aqui na Terra. Sem a presença da boa vontade, não mudaremos nada.

Através da psicografia de Chico Xavier, seu mentor Emmanuel ilustra o que representa a passagem deste lado para o outro:

“O reino da vida, além da morte, não é domicílio do milagre.

Passa o corpo, em trânsito para a natureza inferior que lhe atrai os componentes, entretanto, a alma continua na posição evolutiva em que se encontra.

Cada inteligência apenas consegue alcançar a periferia do círculo de valores e imagens dos quais se faz o centro gerador.

Ninguém pode viver em situação que ainda não concebe.

Dentro da nossa capacidade de reconhecimento, erguem-se os nossos limites.

Em suma, cada ser apenas atinge a vida, até onde possa chegar a onda do pensamento que lhe é próprio.

A mente primitivista de um primata, de um gorila, por exemplo, transposto o limiar da morte, continua presa aos interesses da furna que lhe consolidou os hábitos instintivos.

O índio desencarnado dificilmente ultrapassa o âmbito da floresta que lhe acariciou a existência.

Assim também, na vastíssima fauna social das nações, cada criatura dita civilizada, além do sepulcro, circunscreve-se ao círculo das concepções que, mentalmente, pode abranger.

A residência da alma permanece situada no manancial de seus próprios pensamentos.

Estamos naturalmente ligados às nossas criações.

Demoramo-nos onde supomos o centro de nossos interesses.

Facilmente explicável, assim, a continuidade dos nossos hábitos e tendências, além da morte.

A escravidão ou a liberdade residem no íntimo de nosso próprio ser.

Corre a fonte, sob a emanação de vapores da sua própria corrente.

Vive a árvore rodeada pelos fluidos sutis que ela mesma exterioriza, através das folhas e das resinas que lhe pendem dos galhos e do tronco.

Permanece o charco debaixo da atmosfera carregada de impurezas que ele mesmo alimenta, e brilha o jardim, sob as vagas do perfume que produz.

Assim também a Terra, com o seu corpo em constante transformação, arrasta consigo, na infinita paisagem cósmica, o ambiente espiritual de seus filhos”.

Não resta dúvida alguma sobre a importância do nosso comportamento no curso da vida. Chico Xavier já lembrava, e com muita propriedade, que não havia necessidade alguma de se recorrer ao processo chamado "TVP" - Terapia de Vidas Passadas - ao qual não se dizia favorável, para conhecer os motivos determinantes que culminam no cumprimento da Grande Lei, trazendo para os dias atuais sofrimentos muitas vezes não compreendidos, como convém. Basta, isso sim, que olhemos para nosso próprio interior para avaliar os gostos que temos, pensamentos que nos ocupam, palavras ou frases que dizemos, pontos de vista que colocamos, reações e decisões dominantes e comportamento social rotineiro, especialmente no ambiente do lar. Por aí já se terá uma imagem, senão precisa, pelo menos delineada o suficiente para avaliar o que fomos e o que fizemos. 
O que não pode e nem deve ser esquecido é que sempre haverá um dia determinante para a nossa transformação. E como nada impede que esse importante marco divisor de nossas águas entre o ontem e o hoje seja o momento de agora, por que vacilar? 
Reflitamos, com Emmanuel: “A bendita renovação da alma pertence àqueles que ouviram os ensinamentos do Mestre Divino, exercitando-lhes a prática”; com André Luiz: “A morte física não significa renovação para quem não procurou renovar-se”, e com Miguel Couto: “A vida pede a nossa renovação permanente para chegarmos ao Sólio Divino, que lhe é meta fulgurante”. O que estamos esperando?

Vladimir Polízio
polizio@terra.com.br
Jundiaí, SP (Brasil)



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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A palavra “reencarnação” foi também criada por Allan Kardec?


Um leitor pergunta-nos se a palavra “reencarnação” foi também criada por Allan Kardec, tal como ocorreu com os vocábulos perispírito, espírita e Espiritismo. 
Não, a palavra reencarnação já existia quando Kardec deu início à tarefa de codificação dos ensinamentos espíritas. 
É bom lembrar que, conforme diz Gabriel Delanne em seu livro “A Reencarnação”, essa palavra é também chamada Palingenesia – termo formado por duas palavras gregas: palin, de novo; genesis, nascimento – e desde os albores da Civilização fora formulada na Índia. 
O livro dos Vedas (Bagavat Gitá) afirma textualmente: "Assim como se deixam as vestes gastas para usar vestes novas, também a alma deixa o corpo usado para revestir novos corpos". 
Ainda segundo Delanne, foi Pitágoras quem introduziu na Grécia a doutrina das vidas sucessivas, que ele aprendera no Egito e na Pérsia, ideia essa que teria sido adotada por Platão, autor de conhecida frase: “Aprender é recordar". 
Foi entre os séculos XVI e XVIII que surgiu, no Latim tardio, o termo erudito e acadêmico reincarnatio, reincarnationis, que, em seguida, passou para as línguas românicas e para o inglês. Em francês é "réincarnation". Essa informação pode ser conferida acessando-se o site http://www.latin-dictionary.net/definition/33192/reincarnatio-reincarnationis
Ora, a codificação do Espiritismo teve início em meados do século XIX, mais precisamente a partir de 1855, quando o professor Rivail teve o primeiro contato com os fenômenos espíritas e passou a estudá-los de forma metódica, do que resultou aquilo que chamamos de codificação da doutrina espírita.
A ideia de reencarnação e o termo que a expressava existiam, portanto, havia muito tempo, e antes mesmo de Kardec ter vindo ao mundo.

Astolfo O. de Oliveira Filho
Londrina, Paraná (Brasil)


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sábado, 22 de agosto de 2015

Quando foi que esquecemos?


Eis um texto que precisa ser lido em horário nobre na TV. Transcrevo na íntegra porque é algo que merece ser lido, precisa ser divulgado e mesmo comentado em família:

“Em entrevista, uma jovem contou que tinha uns sete anos quando foi com sua mãe ao mercadinho perto de casa. Enquanto a mãe fazia as compras, ela, menina, escondeu um doce de leite no bolso.
Na saída, sentindo-se a garota mais esperta do mundo, mostrou o doce e disse: Olha, peguei sem pagar.
O que ela recebeu de retorno foi um olhar severo. E, logo, a mãe a tomou pela mão, retornou ao mercado, fê-la devolver o que pegara e pedir desculpas.
A garota chorou demais. Sentiu-se morrer de vergonha. Entretanto, arrematou, concluindo: Isso me ensinou o valor da honestidade.

É possível que vários de nós tenhamos tido experiência semelhante. Por isso, indagamos: Quando foi que deletamos a mensagem materna? O que nos fez esquecer o ensino da infância?
A infância é o período em que o Espírito, reencarnado em nova roupagem corpórea, se apresenta maleável à reconstrução do seu eu.
É o período em que as falas dos pais têm peso porque, afinal, eles sabem tudo.
Mirar-se no exemplo dos pais é comum, considerando que, no processo de educação, os exemplos falam muito mais alto do que as palavras.
Por que, então, deixamos para trás as lições nobres? Quantos de nós, ainda, tivemos professores que iam muito além do dever e que insistiam para que fôssemos responsáveis, corretos?
Criaturas que se devotavam, ensinando com o próprio exemplo, as lições da gentileza no trato, a hombridade, o valor da palavra empenhada.
Se todos nós viemos de um lar, o que nos fez desprezar a honra, a honestidade e tantos de nós nos transformarmos em políticos corruptos, em maus profissionais, em seres que somente pensam em si mesmos?
Hora de evocar lembranças, de retornar aos anos do lar paterno e permitir-nos a reprise das lições.
Não pegue nada que não lhe pertença.
Se achar um objeto, procure o dono porque ele deve estar sentindo falta dele.
Respeite o seu semelhante, o seu espaço, a sua propriedade.
Os bens públicos são do povo e todos devem ser com eles beneficiados. A ninguém cabe tomar para si o que deve ser bem geral.
Digno é o trabalhador do seu salário.
Respeite a servidora doméstica, o carteiro, o lixeiro. São valorosos contribuintes das nossas vidas.
Lembre de agradecer com palavras e delicados mimos extemporâneos o trabalho diligente dessas mãos.
Cumprimente as pessoas. Sorria. Ceda seu lugar, no coletivo, ao idoso, ao portador de necessidades especiais, à grávida, a quem carrega pequenos nos braços.
Ceda a vez no trânsito, aguarde um segundo a mais o pedestre concluir a travessia, antes de arrancar com velocidade, somente porque o sinal abriu.
As leis são criadas para que, obedecendo-as, vivamos melhor em sociedade.
Mas gentileza não está normatizada.

Honestidade é virtude de quem respeita a si mesmo, ao outro, ao mundo.
Pensemos nisso. Façamos um retorno à infância, pelos dias dos bancos escolares, lembremos dos nossos pais, dos mestres, das suas exortações.
E refaçamos o passo. O mundo do amanhã aguarda nossa correta ação, agora, ainda hoje.”

Extraído na íntegra do site www.momento.com.br , com com citação de narrativa do artigo Como nossos pais, de Jaqueline Li, Jéssica Martineli, Rafaela Carvalho  e Rita Loiola, da revista Sorria, de outubro/novembro/2012, ed. MOL..

Orson Peter Carrara

Fonte: http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/2015/08/quando-foi-que-esquecemos.html

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terça-feira, 18 de agosto de 2015

A reencarnação e o medo à liberdade


Recentemente, folheei um romance espírita, desses cujos dramas se ancoram no relato de épocas diferentes: a do passado, uma descrição detalhada de vidas aquinhoadas de beleza, fortuna e poder; e a atual, em situação oposta, com as personagens amargurando reveses sem conta. Esses romances certamente contribuem na difusão da ideia reencarnacionista, porém, frequentemente, induzem a crenças equivocadas, fortalecendo a noção de que Deus dela se utiliza como instrumento punitivo-corretivo. Embora existam estudos histórico-filosóficos e relatos de pesquisas sobre a reencarnação, não pude deixar de refletir sobre a necessidade de abordá-la, por exemplo, em uma perspectiva sociopsicológica. É essa visão que será considerada neste artigo.
Como definir a reencarnação? Simplificando, mas sem esquecer Kardec[1], podemos dizer que a reencarnação supõe um mecanismo de sucessivas existências do Espírito, ao longo dos séculos, até o alcance de condição espiritual que dispensaria o seu retorno, salvo em caráter de missão voluntária. A noção de reencarnação é bastante antiga em várias culturas. Por exemplo, vamos encontrá-la nos livros dos Vedas, no Hinduísmo, no Judaísmo, entre os egípcios e em muitos filósofos gregos, como Pitágoras, Sócrates e Platão[2] e, mais recentemente, em relatos de pesquisa[3].

As premissas da ideia reencarnacionista

A ideia da reencarnação se apoia em duas premissas: (a) que a alma é imortal e (b) que a alma progride continuamente. No Cristianismo, a noção de uma única vida também se baseia na imortalidade; contudo a condição evolutiva pessoal já vem definida desde o nascimento e para sempre. Ambos os dogmas, da reencarnação e da unicidade da existência, explicam a destinação final do Espírito, ou da alma. No primeiro caso, trata-se de um progresso contínuo, com diferentes experiências e aquisições. No segundo caso, a alma pode ser destinada às bem-aventuranças (céu), à situação de sofrimento relativo (purgatório) e à pena eterna (inferno). Por que o Cristianismo adotou a doutrina de uma única vida? Quais os conceitos subjacentes a essas doutrinas? São questões discutidas adiante. 
Iniciamos por refletir sobre a difusão dessas doutrinas no tempo. Se a ideia reencarnacionista já estava presente no mundo, muitos séculos bem antes do surgimento do movimento cristão e até prevalecesse em algumas culturas, é razoável pensar que ela tenha, de algum modo, feito parte do modo de entender o mundo pelos pensadores da Igreja nascente. Recordemos que o Cristianismo nasceu na cultura judaica, cuja população, em geral, tinha uma noção vaga sobre a reencarnação, o que, entretanto, não acontecia na esfera do rabinato[4], salvo exceções. 

O Judaísmo ante a influência externa

Além disso, o Judaísmo nunca foi um sistema verdadeiramente fechado e, em vários momentos históricos, foi bastante permeável à influência de outras culturas. Mesmo durante a fuga do Egito que, aparentemente, deveria fortalecer uma cultura judaica, havia a preocupação constante das lideranças em relação “aos desvios” religiosos do povo. E isto se deu, inclusive, algumas horas antes de Moisés aparecer com as “Pedras da Lei” (ver Êxodo, 32, 4-9). O mesmo ocorreu durante o período de dominação na Babilônia, de onde os judeus trouxeram o código de lei da reciprocidade entre crime-castigo (“olho por olho...”). Fato semelhante se repetiu durante a ocupação romana, quando o Sinédrio age com tolerância à pena de morte por crucificação. Considerando, por outro lado, que as lideranças do Caminho se esforçavam por manter uma relação amistosa com as autoridades do país, pode-se pensar que, durante algum tempo, o Cristianismo nascente conviveu com duas alternativas doutrinárias, a da existência única e a de múltiplas existências, reproduzindo, de certa maneira, a cultura judaica. 
Qualquer uma das duas poderia ter prevalecido? Supõe-se que houve aceitação, durante algum tempo, da doutrina reencarnacionista e que a imperatriz Teodora tenha influenciado o Imperador Justiniano (527-565 d.C.) para eliminar da Igreja essa crença. No entanto, a história não acontece por acidentes ou caprichos individuais, sem que haja uma ideologia subjacente a lhe dar sustentação. 

Justiniano e a divinização de Jesus

Nesse sentido, essa suposição sobre a influência da imperatriz pode ser apenas parte da verdade. Por um lado, Teodora[5] era movida pela ambição obsessiva de que Justiniano expandisse seu domínio sobre todo o Mediterrâneo oriental. Essa era sua maior preocupação. Por outro lado, o imperador sentia uma grande motivação por questões teológicas, o que não era do interesse de Teodora. Historicamente, foi Justiniano o principal articulador da divinização de Jesus pela Igreja. Adicionalmente, a noção de uma única vida iria favorecer o poder do clero sobre os fiéis e, consequentemente, a maior entrada de recursos. Na visão de Justiniano, tal estratégia aumentaria o seu controle sobre os bens da Igreja, facilitando o uso do pecúlio para as campanhas de conquistas. Seu lema “Um Estado, uma lei, uma igreja” representa a síntese dessa visão e explica seu empenho na convocação de concílios e ditames teológicos. Portanto, a noção da reencarnação foi excluída, menos por imposição de Teodora e mais por estratégia política. Justiniano faleceu no ano de 565 (d.C.) e, mesmo com o império em decadência, a Igreja continuou a aumentar sua riqueza e seu  poder. 
A perspectiva espiritualista no mundo é anterior à materialista. Ainda que já existissem ateístas desde a época anterior a Jesus, as ideias filosóficas materialistas ganharam destaque com os pré-socráticos, como Demócrito, Leucipo e Epicuro. Contudo, o materialismo, enquanto escola filosófica, ganhou adeptos e status a partir do século XVI, com Leibniz[6]. 

O Reino de Deus está dentro de cada um?

Não há dúvida de que, até o início da Idade Média, era mais fácil aceitar a noção de Deus e da imortalidade da alma, do que uma visão materialista oposta. E isso, por um lado, devido à dificuldade de entendimento dos processos de nascimento e morte e, por outro, pelo fato de as leis que regem o Universo serem ininteligíveis, mesmo para a grande maioria dos pensadores. Além disso, sob essas crenças vicejavam templos e organizações sacerdotais, cujo poder ultrapassava o âmbito da religiosidade. A intimidade com um Criador, que concedia aos sacerdotes a decisão sobre quem deveria ser salvo, fortalecia o poder religioso e criava uma cultura de submissão e medo. A ideia de Jesus de que o Reino de Deus está dentro de cada um, podendo ser implantado no mundo, e não alhures, foi reinterpretada na perspectiva de um julgamento futuro. O resultado favorável, em tal julgamento, dependia da fidelidade aos dogmas e da mediação clerical, o que exigia poucos esforços de todos, fiéis e sacerdotes. A reencarnação, como um processo, já não tinha a mínima condição de aceitação, e a doutrina da única existência estava, pois, consolidada de acordo com a noção de um Jesus “Salvador”. Como que referendando essa posição, disseminou-se, também, a doutrina da mediação pelos santos, ou por Maria, dubiamente alçada à posição de mãe do próprio Deus.

Salvacionismo versus Evolucionismo

Pode-se inferir, portanto, que as doutrinas de única existência e de pluralidade das existências têm como base dois paradigmas culturais diferenciados. O primeiro, mais antigo, pode ser denominado de Salvacionismo. O segundo, que se opõe à noção salvacionista, pode ser chamado de Evolucionismo. Paradigmas culturais são conjuntos de ideias e normas que orientam crenças, valores, sentimentos e comportamentos. Um paradigma só entra em declínio quando outro responde, com melhor propriedade, às dúvidas e questões presentes. Ao longo de sua jornada no planeta, o homem criou mitos e crenças que, de alguma maneira, lhe explicavam o Universo, acalmavam suas dúvidas sobre problemas de difícil compreensão e abrandavam seus medos e angústias. 
Várias emoções humanas atuam no sentido da sobrevivência e da evolução. Entretanto, o medo está relacionado à conservação, sendo o elemento base do paradigma salvacionista, onde o medo é acentuado e prevalece à busca da segurança, via proteção de um poder maior. A renúncia ao poder de pensar e decidir favorece a prática da submissão e da adulação aos mais fortes. A história da saga humana evidencia que o líder, para se fortalecer, incentiva a adulação a si e aos ídolos, que passam a representá-lo. Alguns dos ídolos primitivos foram idealizados como figuras bizarras, que despertavam temores inconscientes, mas uma vez subornados por rituais, se transformariam em protetores. Enfim, um poder com o qual o homem poderia contar, contra as forças destrutivas ignoradas. 

Com o salvacionismo o poder do clero aumentou

A sedução e a adulação permanecem até hoje, e também o homem moderno se esforça por seduzir seus deuses ou aqueles que os representam, por exemplo, o dinheiro, a beleza, a força... Tal jogo não se restringe mais ao campo da religiosidade: é generalizado para as figuras midiáticas, a política, os negócios e as armas. E assim continuará enquanto houver prevalência do paradigma salvacionista em nossa cultura religiosa. 
Com o salvacionismo, o poder do clero sobre as consciências aumentou consideravelmente. Daí, a proibição do intercâmbio com o mundo espiritual era uma providência calculada e necessária para evitar questionamento à autoridade sacerdotal. Além de tudo, a aceitação da comunicação com os mortos poderia colocar em dúvida alguns dos dogmas estabelecidos pelos teólogos, por exemplo, o das penas eternas. 
Aproximadamente no ano 300 (d.C.) o clero já estava bastante organizado, tendo o bispado fortalecido seu poder na hierarquia da Igreja. Em consequência, o uso de privilégios principescos por parte dos bispos era aceito quase sem oposição. A subserviência interna dos frades e párocos e os conchavos e alianças do clero, em geral, com reis e imperadores se transformaram em prática comum. Portanto, a aceitação da doutrina de uma única existência, e a consequente rejeição da noção de reencarnação, não ocorreu devido ao capricho de uma imperatriz, nem foi resultante de uma opção filosófico-teológica, mas, sim, uma estratégia política, fortalecendo a ordem e o poder estabelecidos. Já no século IV, além da introdução do dogma do pecado original, se deu a conversão do Império Romano ao catolicismo. Estava, pois, estabelecida a supremacia de uma Igreja, a católica, sobre as demais e a sua cumplicidade com o poder temporal[7].

Do paradigma evolucionista advém o medo

A doutrina de uma única existência, ainda que deixasse a noção de um Criador em situação delicada, pois é indefensável em termos de lógica sobre alguns de seus atributos, favorece, e muito, o poder dos clérigos. Ao subordinar o futuro da alma ao seu controle, a Igreja desenvolveu duas ações que se complementam: o fortalecimento de sua autoridade e a compra/venda da salvação. É pouco provável que isso pudesse ter acontecido, caso a pluralidade das existências fosse aceita, como pode ser verificado, por exemplo, no Budismo. Na perspectiva evolucionista, Jesus seria aceito como um modelo evoluído, com missão educativa em relação à humanidade. Tal missão Lhe foi outorgada por Deus, seu pai e nosso pai. Ter alguém que auxilia o homem em sua caminhada evolutiva é muito diferente de ter um salvador. Do paradigma evolucionista decorre uma liberdade difícil de ser aceita, pois exige outra maneira de encarar a vida. Ela produz medo, pois o homem se vê responsável pelo seu destino presente e futuro. Quando, nesse processo, o indivíduo começa a intuir que deve se avaliar e superar sua condição espiritual presente, seu medo pode aumentar a ponto de gerar conflito entre uma ou outra posição. Entretanto, há uma fase de seu desenvolvimento da qual não consegue mais retornar aos bons tempos da crença em um Salvador. Nesse caso, ele deve enfrentar também os seus receios e precisa compreender que essa é uma experiência solitária, mas que, no entorno, ele pode contar com a solidariedade de muitos Espíritos (nos dois planos) que vivem ou viveram condição semelhante e esperam uma oportunidade para ajudá-lo.

  
[1]   Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. IDE: Araras (SP), 2002.

[2]   Wikipedia. Acesso em 7 de junho de 2015

[3]   Ver Stevenson, I. Vinte casos sugestivos de reencarnação. Editora Vida & Consciência. São Paulo

[4]   DovBer Pinson. Reencarnação e Judaísmo. São Paulo (SP): Maayanoti, 2015.

[5]   Wikipedia. Acesso em 21 de junho de 2015

[6]   Wikipedia.Acesso em 28 de junho de 2015.

[7]   Emmanuel, Francisco Cândido Xavier(1939). A Caminho da Luz. Brasília (DF): FEB.


Almir Del Prette
São Carlos, SP (Brasil)


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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A ilusão da família perfeita


Era uma vez Aloísio e Vera, um casal muito simpático; ambos de família espírita e atuantes no movimento. Desde o namoro, todos viam que seria um casamento que daria certo. E deu. Aloísio e Vera, com amor, companheirismo e tolerância, souberam construir uma relação saudável em todos os sentidos. 
Aloísio era advogado; Vera, professora. Ambos muito bem-sucedidos e estimados. E, como dedicados trabalhadores da seara espírita, sempre estiveram à frente em vários setores, não só do centro espírita, mas também do movimento espírita municipal e estadual. Enfim, Aloísio e Vera seguiram a tradição familiar e abraçaram o movimento espírita com determinação, trabalhando com afinco por ele e para ele. 
A união e a estabilidade de Aloísio e Vera, aliadas à dedicação de ambos à causa espírita, faziam com que o casal estivesse sempre cercado de admiração por todos. Era referência no movimento espírita. 
Dentre as várias atividades, o casal estivera, por um bom tempo, à frente da mocidade. Como evangelizadores, falavam para os jovens sobre felicidade conjugal, fidelidade, importância do namoro, formação familiar, divórcio... Tudo sempre visando a que os jovens, futuramente, encontrassem parceiro ideal e formassem um casal feliz como eles. 
Aloísio e Vera tinham três filhos: Douglas, Vítor e Luciana. E também tinham irmãos, cunhados, sobrinhos... 
Toda vez que um casal do movimento espírita local se separava, Aloísio e Vera, construtivamente, criticavam. Não entendiam aonde havia ido parar o amor que um prometera ao outro; diziam que as pessoas estavam brincando de casar; reprovavam o fim da união... Quando era na família de um deles, também. Irmãos e sobrinhos costumavam ser alvos de crítica caso se separassem, namorassem sem casar, ou “ficassem”, algo muito comum hoje em dia. Na visão deles, um espírita não poderia se separar ou fazer sexo sem se casar. E o casamento deveria ser de papel passado. 
Os filhos do casal ainda eram pequenos, e Aloísio e Vera olhavam os três com olhos alvissareiros. Na visão de ambos, os filhos não passariam por tempestades conjugais ou afetivas. Afinal, eram espíritas de berço, cresceram dentro do centro espírita. Começaram na evangelização infantil e, em seguida, iriam para a mocidade. Mais adiante, já adultos e plenamente integrados ao movimento espírita, teriam tarefas variadas no centro e, quiçá, no movimento espírita da cidade ou do Estado. Ato contínuo, eles se casariam com pessoas do próprio movimento espírita e teriam uniões conjugais perfeitas. Se não fossem espíritas, os escolhidos dos filhos decerto adeririam à causa, pois ninguém resiste ao Consolador Prometido. 
Filhos, noras e genros espíritas, netos espíritas, casamentos perfeitos e felizes! Aloísio e Vera vislumbravam a possibilidade de envelhecerem cercados por descendentes e agregados espíritas, diferentemente dos familiares e amigos, sempre às voltas com separações. 
Tudo ia bem na vida e nas esperanças do nosso feliz casal até que, um dia, Douglas, Vítor e Luciana entraram na vida adulta. 
Douglas, o mais velho, dentista, casou-se como manda o figurino. E com uma moça espírita, ainda por cima, para felicidade e contentamento dos pais.  Dois anos depois, o casamento acabava. Douglas e a esposa haviam chegado à conclusão que não se amavam tanto a ponto de quererem a companhia um do outro por anos a fio. Vera, a mãe, ficou muito chocada. Aloísio, o pai, chorou convulsivamente. Aquele deve ter sido o dia mais triste da vida dele. O casal espírita que havia idealizado filhos perfeitos com casamentos da mesma forma experimentava o gosto amargo da separação do mais velho. 
Depois da separação, Douglas não quis voltar para a casa dos pais. Foi morar sozinho. Livre como nunca pensara. De vez em quando, aparecia no centro para tomar um passe. Mas não se interessava em, digamos, seguir carreira no movimento espírita. 
Mais adiante, Douglas conheceu Talita, uma jovem com quem prontamente se afinou. Talita era mãe solteira de Carolina, menina que adorou Douglas assim que o conheceu (e ele, a ela). Foram morar juntos. Passado um tempinho, Douglas e Talita já eram pais de Carolina. O tão sonhado neto – no caso, uma neta – de Aloísio e Vera chegara, mas não da forma como haviam sonhado. Foi uma alegria mesclada com uma pitada de descontentamento. Afinal, a nora era mãe solteira. 
Vítor, o filho do meio, chef de cozinha, também se casou. Dono de um restaurante, conheceu Elaine, a esposa, especialista em vinhos, durante um evento. O casamento de Vítor deu certo. Ele encontrou de fato uma mulher que o completava, só que, ambos, devido aos vários eventos e viagens proporcionados na área em que atuavam, resolveram não ter filhos. Além disso, Vítor, que até então, por orientação dos pais, não dera importância a bebidas alcoólicas, passou, por influência da esposa e da profissão, a ser um apreciador dos bons vinhos. Ele não se tornou um bebedor contumaz, deixo claro. Mas gostava de harmonizar, ou seja, escolher que tipo de vinho ia melhor com carne bovina, peixe, cordeiro e por aí vai. Como espírita que era, gostava de estar no centro. Sempre que podia, ajudava nos eventos gastronômicos. Já preparara incríveis almoços beneficentes. Não dava expediente em outras atividades por causa do restaurante e das viagens e eventos gastronômicos em que, com prazer, estava sempre envolvido. 
Aloísio e Vera esperavam mais da união feliz de Vítor. Era um casamento que tinha tudo para lhes dar netos, mas Vítor e a esposa tiveram outros planos. E quando nosso casal de espíritas perfeito soube que o filho gostava de harmonizar os pratos por ele preparados com vinhos de uva tipo merlot,cabernet sauvignon etc., ficou muito triste. Exagero! Vítor não é nenhum alcoólatra! Graças à formação religiosa que teve, sabe muito bem o que faz! 
Por fim, Luciana, a caçula, profissional da área de turismo, aos 22 anos, conheceu Carlos, um executivo de 45, separado, e pai de três filhos. Ambos se gostaram e foram morar juntos, para decepção dos pais, que sonhavam um casamento de princesa para a única filha mulher. Não houve papel passado, nem bolo, nem doces. Luciana comunicou a decisão aos pais e, dias depois, fez as malas e se mudou para a casa do amado, com quem vive muito feliz até hoje. 
Ela e Carlos também não quiseram filhos. Ele já tinha três, e ela era nova; queria terminar os estudos e curtir o charmoso quarentão por quem se apaixonara. E como se entrosou muito bem com os enteados, praticamente da mesma idade dela, Luciana nunca teve muita vontade de ser mãe; deu-se por satisfeita como jovem madrasta de três adolescentes. 
Como boa espírita, Luciana frequentava um centro. Era evangelizadora de mocidade já que sempre gostou de lidar com jovens. Tanto que os enteados gostavam muito dela. 
Foi difícil para os pais aceitarem a decisão de Luciana. Até evitavam conversar sobre ela. Quando alguém perguntava, diziam que ela estava estudando no exterior. Embora não admitissem, Aloísio e Vera estavam com vergonha da filha. Acharam que sua atitude não condizia com a de uma moça de família. Ainda mais família espírita! Depois, felizmente, a poeira assentou. 
Tempos depois, Magda, prima de Vera, trouxe o casal à realidade. Após ouvir os dois tecerem um tapete de lamentações e decepções para com a prole, disse aos dois: – Sinto muito. Mas foi a melhor coisa que aconteceu a vocês. 
– Como assim? –retrucou Vera, atônita. 
–Vocês– disse Magda–sempre se acharam melhores do que os demais familiares e o pessoal do centro espírita. Sempre se acharam um modelo de família. Tinham a ilusão de que os filhos seriam iguais a vocês. Não contavam que eles cresceriam e fariam suas próprias escolhas. Vocês sempre acharam que as pessoas que não são espíritas, tal como vocês, não seriam tão bons espíritas como vocês. As escolhas dos meninos fizeram vocês colocarem os pés no chão. 
Magda quis dizer que o fato de Douglas, Vítor e Luciana serem espíritas não os isentava de serem cidadãos do mundo de hoje, em que o livre-arbítrio é mais dilatado. Um mundo no qual as mulheres são livres para administrarem a vida afetiva, sexual e profissional. Um mundo no qual o casamento de papel passado deixou de ser a única porta de entrada para a vida adulta. Um mundo no qual uma pessoa separada não carrega mais o estigma de décadas atrás. E quis dizer também que Aloísio e Vera não haviam falhado como pais. Pelo contrário, haviam dado aos três, desde a mais tenra idade, amor à luz da imortalidade da alma. Um amor capaz de torná-los seguros para fazer as próprias escolhas sem culpa e com maturidade. E quis dizer também que pais espíritas não devem achar que falharam porque os filhos não quiseram abraçar tarefas no centro espírita. Se quiserem, ótimo! Sempre há trabalho esperando. Mas o que importava é que os três eram boas pessoas, cidadãos do bem, éticos, íntegros, queridos, honestos e com sólida formação cristã e moral para seguirem suas vidas; espíritas, quer estivessem ou não integrados ao movimento espírita. E, acima de tudo, eram três irmãos que se adoravam e gostavam muito dos pais. 
A partir da advertência de Magda, Aloísio e Vera passaram a perceber que, de fato, os filhos estavam felizes com as próprias escolhas. Os três eram adultos. Portanto, competia a eles viver suas vidas e arcarem com as consequências de seus erros e acertos. Mesmo porque, Talita, Elaine e Carlos eram boa gente. Aloísio e Vera deixaram de lado o pé atrás e facilitaram a aproximação dos três. Com isso, perceberam que a filha mais velha de Talita e os três filhos de Carlos também gostavam muito deles. Por que não aceitá-los como netos também? Aceitaram. Essa abertura gerou um grande bem-estar para todo mundo. 
Daí por diante, nosso casal passou a cuidar mais um do outro, a viajar mais vezes. Iniciaram até atividades físicas. Enfim, foram viver sua vida de casal feliz, aceitaram as escolhas dos filhos e recuperaram a harmonia. 
A ilusão da família perfeita nos moldes por eles estabelecidos terminara. Aloísio e Vera haviam se humanizado. Tornaram-se, inclusive, não só melhores pessoas, como melhores espíritas. Menos bitolados, menos rigorosos... Mais tolerantes, flexíveis, arejados, modernos e compreensivos!

Marcelo Teixeira
Petrópolis, RJ (Brasil)


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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Quem é o idoso?


“O corpo gera o corpo, porém o Espírito não é gerado pelo Espírito, porque já existia antes da gestação do corpo. Não foram os pais que geraram o Espírito de seu filho, eles apenas forneceram-lhe um corpo carnal.” – Está escrito n’O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIV, item 8.
Quando encarnamos recebemos uma carga de fluido vital (fluido de vida). A quantidade de fluido vital não é a mesma para todos os seres; isso depende da necessidade reencarnatória de cada um.
André Luiz, em livro psicografado por Chico Xavier, explica que poucos são os completistas, ou seja, nascemos com uma estimativa de vida estabelecida pela quantidade de fluido vital recebido e, com os abusos que cometemos, podemos desencarnar antes do previsto, não completando o tempo estipulado.
Se viemos para acertar as pendências biológicas por mau uso do nosso corpo, como o suicídio direto ou indireto, vamos ficar aqui pouco tempo, somente o necessário para cobrir o tempo que desperdiçamos com os abusos numa vida anterior. Uma pessoa pode ter sua estimativa de vida programada para viver 80 anos e, em consequência de abusos químicos, por exemplo, desencarnar aos 65 anos, ficará devendo 15 anos. Na próxima encarnação, viverá somente 15 anos. 
Outros indivíduos vêm para uma tarefa prisional. Ao conviver com gerações que não são a sua, o indivíduo vai se sentindo isolado, um estranho no ninho. Os jovens o olham como se fosse uma peça de museu; com os companheiros da sua idade já não consegue se entender, pois lhe faltam estímulos visuais, auditivos ou lucidez. Torna-se pessoa dependente dos parentes, dos descendentes, para levá-lo aqui e acolá, para cuidar-se e tratar-se. Alguns idosos apanham, outros são explorados em seus bens materiais, outros são colocados em asilos onde nunca recebem visitas. Apesar do descaso dos filhos, dos familiares e da sociedade, que também terão de resgatar suas posturas equivocadas, esta é uma oportunidade de resgate dos abusos cometidos em outras vidas para, quem sabe, dobrar seu orgulho ou sua vaidade.
Em compensação, outros indivíduos vêm, cuidam da família, educam os filhos, se preocupam com o entorno, com a natureza. Ao findar a carga de fluido vital, voltam para o plano espiritual com a missão cumprida.
A escritora espírita, Dora Incontri, afirma que quem envelhece de modo apropriado é capaz de entender o conjunto da vida, que é uma preparação para o encontro com Deus. Quando o indivíduo estiver consciente deste destino eterno e tiver acumulado experiências proveitosas e puder repartir com os mais jovens o testemunho de uma vida exemplar, o declínio físico pouco importará. 
É necessário, portanto, a compreensão de que "o jovem de hoje, pelas determinações biológicas do Planeta, será o velho de amanhã; e o ancião de agora, pela lei sublime da reencarnação, será o moço do futuro". (André Luiz, do livro "Correio Fraterno", Francisco Cândido Xavier.)

Maria Angela Miranda
Londrina, PR (Brasil)

Fonte:http://www.oconsolador.com.br/ano9/425/maria_miranda.html

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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Você pode me explicar o que significa intelecto-moral?


Em carta publicada na seção de Cartas desta mesma edição ( Revista O Consolador ) o leitor João Zamoner pergunta-nos: Você pode me explicar o que significa intelecto-moral? 
A palavra composta “intelecto-moral”, que tem valor de adjetivo, é utilizada quando queremos dizer que determinado fato ou coisa dá relevância, ao mesmo tempo, à inteligência e à moralidade. 
Allan Kardec a utilizou quando escreveu sobre as Aristocracias, em um dos capítulos que compõem a 1ª parte do livro Obras Póstumas. Nesse texto, Kardec faz uma previsão acerca do advento futuro em nosso mundo do que ele chamou de aristocracia intelecto-moral. 
A palavra aristocracia vem do grego Aristos, o melhor, e Kratus, poder. Aristocracia significa, assim, o poder dos melhores, conquanto saibamos que o sentido primitivo da palavra foi por várias vezes deturpado. 
De acordo com o texto escrito por Kardec, verificaram-se na história da Humanidade terrena cinco espécies de aristocracia:

1 - Aristocracia dos patriarcas

Nas sociedades primitivas, quando surgiu, em decorrência da formação dos grupos sociais, a necessidade de uma autoridade, esta foi conferida aos chefes de família, aos anciãos e aos patriarcas. Surgia assim a primeira de todas as aristocracias, um fenômeno que ainda se vê em pleno século 21 em algumas comunidades indígenas.

2 - Aristocracia da força

Com o surgimento dos conflitos e das guerras, a autoridade foi sendo transferida aos poucos para os indivíduos fortes e vigorosos, ocorrendo então o advento dos chefes militares. Surgia com isso o segundo modelo de aristocracia.

3 - Aristocracia do nascimento

Os detentores do poder foram, com o tempo, transferindo seus privilégios e sua autoridade aos descendentes. Nascia então o terceiro modelo de aristocracia, geralmente fundamentada em leis outorgadas por quem estava no poder e nisso tinha interesse. Na organização política atual, como por exemplo no Brasil, senadores e deputados costumam inserir seus filhos e netos na política, transferindo-lhes o seu prestígio e seus votos, o que constitui um resquício do terceiro modelo de aristocracia surgida no mundo.

4 - Aristocracia do dinheiro

Com o surgimento das grandes fortunas, elevou-se na Terra um novo poder, o do ouro, visto que com o ouro pode-se dispor de homens e coisas. O que não se concedia mais aos títulos, concedeu-se à fortuna e esta, como ainda é bastante comum em nossos dias, passou a ser detentora do poder. Foi esse o quarto modelo de aristocracia verificada no planeta.

5 - Aristocracia da inteligência

Este modelo é o que vai se insinuando no mundo, em que técnicos e especialistas nas mais diferentes áreas é que ditam as regras que governam os povos. Ocorre que a inteligência, por si só, não é garantia de que todos os seres humanos de igual forma serão contemplados pelos detentores do poder. O desenvolvimento intelectual sem o guia dos princípios morais pode, como sabemos, ter consequências desastrosas para a sociedade.

Kardec prevê então, no texto que mencionamos, o surgimento de uma sexta forma de aristocracia no mundo, como decorrência da própria evolução da Humanidade, a aristocracia intelecto-moral, em que, por definição, a inteligência e a moralidade estarão presentes na autoridade, a que todos podem submeter-se, confiados em suas luzes e em sua justiça.  
Algo semelhante já se vê em algumas comunidades espirituais, como a colônia Nosso Lar, descrita por André Luiz no livro de mesmo nome. O governador de Nosso Lar reuniria as duas condições que o Codificador do Espiritismo assinala como características da aristocracia intelecto-moral.

Astolfo O. de Oliveira Filho
Londrina, Paraná (Brasil)


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domingo, 2 de agosto de 2015

Intuição salvadora


Uma jovem senhora, mãe de duas meninas, nos apresentou seu filho mais novo, um lindo menino de cerca de 50 dias de idade e já com cinco quilos. Contou-nos ela uma história emocionante, que nos faz, uma vez mais, atestar o socorro incessante que nos é proporcionado pelo amor divino. Disse ela que estava tudo certo para que tivesse um parto normal. Acompanhava tudo corretamente com seu obstetra no pré-natal. Quando estava com 39 semanas de gravidez, faltando poucos dias para o parto normal, numa sexta-feira, acordou sentindo uma impressão angustiante. Não podia esperar o parto normal. Tinha que fazer uma cesariana naquele dia mesmo. Começou a chorar sem parar, não conseguia parar de chorar. Ligou para o médico, desesperada, que tinha que fazer cesariana naquele dia mesmo e chorando sem parar. O médico aquiesceu e conseguiu um centro cirúrgico para aquele dia mesmo. O marido assistiu à cirurgia e ouviu o médico comentar várias vezes, surpreso: - Eu nunca vi isso antes!
Eventualmente ouve-se comentar sobre o circular de cordão, quando o cordão umbilical enrola no pescoço do bebê e é um risco para a vida da criança ou para o cérebro, se apertar. Isso pode ser previsto hoje em dia com aparelhos e salvar o bebê. Nessa gravidez, os exames pré-natais estavam perfeitos, não havia suspeita de nada errado. O médico surpreendeu-se ao ver que o cordão umbilical tinha virado sobre si mesmo, estava fazendo um nó em si mesmo e, se apertasse, o bebê podia morrer no útero ou no parto normal. A atitude da mãe salvou-lhe o filho. Ali estava ele, lindo, sem sequela alguma.
Perguntamos à mãe se ela havia sonhado com algo que lhe pudesse ter sugerido aquela atitude. Ela disse que não, que só estava com aquela impressão horrível e que tinha que fazer uma cesariana urgente. Ainda bem que o médico a ouviu. Na questão 459 de “O Livro dos Espíritos”, Kardec pergunta se os Espíritos influem sobre nossos pensamentos e nossas ações e a resposta é que nesse sentido a sua influência é maior do que supomos e que, muito frequentemente, são eles que nos dirigem. Essa jovem mãe, com certeza, foi amparada pelos benfeitores amorosos, para que tomasse a atitude referida, que salvou a vida de seu filho.
Na questão 471, Kardec pergunta se quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível, ou de satisfação interior sem causa conhecida, isso decorreria unicamente de uma disposição física. Os Espíritos respondem que isso é quase sempre um efeito das comunicações que, sem o saber, tivemos com os Espíritos durante o sono.
A mãe não lembrava e, na grande maioria, as pessoas não se lembram dos sonhos. Léon Denis explica isso em seu magistral livro “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”. O Espírito, em se desprendendo do corpo durante o sono, permanece ligado a ele por um laço fluídico, que transmite ao corpo as impressões do mundo espiritual. Ora, o corpo é matéria densa, que vibra em estado desacelerado, enquanto o Espírito, em estado de vibração acelerada, fora da matéria, está vivenciando uma situação energética rápida. Quanto mais longe o Espírito for, em camadas mais elevadas, menos material será sua lembrança, pois maior será o estado de energia e menor o da matéria densa. Menos nitidez de lembrança, devido à densidade da matéria física, impressiona menos o corpo material, a menos que o Espírito vivamente o deseje, com toda a força de sua vontade. Como, espiritualmente falando, nem sempre o Espírito deseja ou tem condições, esquecerá ao acordar, embora em sua memória espiritual a lembrança se mantenha, fora de seu cérebro físico. Há também os casos em que os mentores apaguem a memória, permitindo somente a lembrança do necessário, para que o encarnado, em lembrando a alegria e a beleza do mundo espiritual, não perca a vontade de viver aqui na Terra. Vemos isso expresso nas obras de André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier.
A mãe do bebê deve ter sido visitada em sonhos e alertada. Ao acordar, não tinha a lembrança, mas uma impressão, um mal-estar, a certeza de que tinha que intervir no mesmo dia e não aguardar o parto normal, que é o que desejava.
Bendito é o amor de Deus que sempre socorre! Nunca estamos sozinhos. Sempre amparados. Quantas vezes teremos sido socorridos, sem o saber? Como diz Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, psicografado por Chico Xavier, na mensagem Capacete da Esperança, resguardemos, pois, o nosso pensamento com o capacete da esperança fiel e prossigamos para a vitória suprema do bem. Tenhamos fé no amparo e socorro de Deus. Prossigamos na grande batalha com nós mesmos, para o nosso aprimoramento, na certeza de que estamos sob a proteção dos que nos amam, no mundo espiritual.

Jane Martins Vilela
Cambé, PR (Brasil)

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quarta-feira, 29 de julho de 2015

João Pedro


Esse novo amigo tem apenas 5 anos. Um garoto inteligente, afetuoso, que corre a me abraçar onde me vê. Tocou-me o coração. Foi conosco, acompanhado pelos pais, a Guaxupé (MG), num evento de grande porte – onde havia 700 pessoas –, participando ativamente das atividades dedicadas às crianças. Foi num fim de semana, fomos no sábado e voltamos no domingo.            
Minha participação no evento foi proferir palestra no encerramento. O tema era dedicado ao afeto, ao cuidado que devemos ter uns com os outros, na vivência do respeito e no esforço da fraternidade, onde se inclui naturalmente o amor e o carinho às crianças, para que se sintam amadas, respeitadas e acolhidas. Aliás, já se sabe, que a maioria dos casos de desequilíbrios sociais na vida adulta é resultante de uma infância desprezada ou vivida sem amor dos pais ou responsáveis adultos pela criança. Isso é normalmente constatado em terapias, onde traumas, medos e angústias tem sua origem na infância, repetindo, na maioria dos casos.              
Antes da minha vez de assumir a tribuna para iniciar a palestra, tive um insight e pedi autorização aos pais, sem nada combinar com o garoto e pedi aos pais nada dissessem a ele.              
Iniciei a abordagem, desenvolvi a temática durante uns 25 minutos e, ao final, após todas as considerações, que julguei viáveis e oportunas pertinentes ao tema, citei que um novo amigo já estava entre nós e chamei-o pelo nome: João Pedro, venha ao palco!              
Agachei-me, abri os braços chamando-o para o abraço de dois velhos amigos. Ele veio correndo pelo palco, na presença do imenso público, e lançou-se aos meus braços, com a espontaneidade e alegria que é própria das crianças, que é característica peculiar da pureza de coração.              
Levantei-o nos braços, levei-o até o microfone, colocando-o de pé sobre a cadeira para alcançar o pedestal e fiz rápidas perguntas que ele respondeu com graça, fazendo a emoção do público. Que cena comovente! A espontaneidade de uma criança, onde o coração ainda não se impregnou da malícia, do melindre, da desconfiança ou do preconceito.              
Abraçamo-nos com alegria. Encerrei a fala para dizer que na pureza infantil está, sem dúvida, a chave da felicidade humana, o segredo para sairmos de nossas neuroses e vencermos os quadros deprimentes da vida adulta perturbada pelas neuroses que vamos acumulando.              
Não é por outra razão que afirmou o Mestre da Humanidade: deixai vir a mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus.              
Sim, é o reino da humildade interior, da alegria espontânea, do comportamento puro de quem confia e não se deixa contaminar por preconceitos ou pensamentos e posturas pré-concebidas que tantas vezes nos permitimos adotar.              
É que o afeto é capaz de construir a felicidade, dentro e fora de casa, em qualquer lugar. Tratemos de valorizar essa grande virtude de nos tratarmos com docilidade, com respeito, com fraternidade. Maridos e esposa, tratemos nosso cônjuge com carinho e atenção, são eles os companheiros que a vida nos deu para essa caminhada de aprendizado.              
Abracemos os filhos, abramos o coração aos amigos, sejamos mais afáveis uns com os outros, construamos a fraternidade.              
Sejamos como João Pedro: espontâneos, puros de coração. Ele é uma criança, mas todos nós podemos nos esforçar para esse comportamento.    

Parabéns aos pais! Meu abraço ao menino querido.

Orson Peter Carrara

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Violência e Paz


O mundo está perigoso, diz-se à boca cheia. Cada vez há mais violência, não só entre povos como também entre grupos de interesses e familiares. Haverá solução para este drama social que nos consome?

1 - Um estudo revela que, de 162 países, apenas 11 não estão em guerra no mundo hoje. Não em guerra aberta declarada, mas envoltos nas guerras regionais e locais, de um modo ou de outro.

2 - Este ano, em Portugal (país pacífico), já foram mortas 27 mulheres (até 28 de Novembro de 2014), vítimas de violência doméstica.

3 - Curiosamente não se consegue encontrar um número definido de organizações que estão empenhadas na paz do mundo. Impossível conseguir contabilizar os atos de paz levados a cabo, diariamente, no mundo inteiro.

Figuremos dois pescadores, na pesca a linha, numa praia. Um diz que o mar é perigoso, pois tem peixes-aranha, tubarões, tsunâmis; as pessoas morrem afogadas, há naufrágios. O outro refuta os argumentos, dizendo por sua vez que o mar serve para pescar, fazer caça submarina, surf, bodyboard, andar de barco, nadar etc.

Qual dos dois tem razão, sendo o mar neutro?

Obviamente, tudo se desdobra no campo do mero ponto de vista, na maneira como analisamos as situações. 
Os órgãos de comunicação social de hoje têm sede de escândalos, de “sangue” de notícias que firam a sensibilidade, pensando assim estarem a prestar um bom serviço à comunidade. Esta, por sua vez, intoxica-se mentalmente com o mal alheio, como se isso alimentasse a sua sede inconsciente de sobrevivência. 
Jesus de Nazaré aconselhava, sabiamente, “amai o próximo como a vós mesmos”, numa notável lei de sabedoria para uma convivência pacífica e evolutiva na sociedade. 
O problema é que não amamos o próximo (isto é, não fazemos ao próximo o que desejaríamos para nós) porque também não nos amamos (não temos sentimentos, pensamentos e atitudes que nos façam bem). 
Escolhemos o melhor peixe, a melhor carne para que o corpo físico não adoeça (corpo que irá morrer), e intoxicamo-nos com todo o lixo mental que encontramos (sendo o Espírito imortal). 
São os paradoxos do ser humano, numa sociedade que perdeu o Norte de Deus e que tem de reaprender a amar-se e a amar, para poder ser feliz. 
A violência e a paz são estados de alma, que cada um pode escolher amplificar e esparzir pelo mundo afora. 
A violência e a paz, mais do que atos exteriores, são estados de alma que cada um carrega de acordo com as suas escolhas íntimas. 
Há que alimentar as atitudes pacíficas e transmutar as tendências violentas. Para isso, urge nos educarmos, aprender e ensinar as nossas crianças, em busca de um dever melhor. 
“Fora da caridade não há salvação” é um lema da doutrina espírita que projecta para hoje essa paz que todos buscamos e que tão pouco fazemos para que se torne realidade. 
Fica o convite: a partir de hoje, treinarmos, diariamente, a nossa mente em busca da paz, questionando que sentimentos temos tido, que pensamentos alimentamos, que tipo de conversas tivemos, que filmes e programas televisivos vimos, que gênero de livros lemos, e o que fizemos pela paz em nós, na família, na comunidade e no mundo…

José Lucas
Óbidos, Portugal 

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terça-feira, 14 de julho de 2015

O debate a respeito da redução da maioridade penal


Um dos assuntos mais debatidos nos últimos anos no Brasil trata da polêmica redução da maioridade penal. Mas seguindo na contramão da racionalidade e da lógica ficamos - também nesse tema - gastando enorme tempo em discussões estéreis e absolutamente dissociadas da realidade. Vários argumentos e análises (frágeis em sua maioria) têm sido brandidos ao longo dos anos, mas que não ajudam na efetiva solução de tão grave problema social. Portanto, é mais do que hora de encarar o assunto com a seriedade e objetividade necessárias. 
Uma criança ou adolescente contemporâneo – isto é, pertencente à geração Z (nascidos entre 1990-2010) – tem conhecimentos, percepções e experiências muito mais significativas e abrangentes do que obtiveram, por exemplo, os seus pares da geração Baby boomers (nascidos entre 1946-1964). De fato, há praticamente um fosso entre essas gerações não apenas etário, mas também contextual. 
Crianças ou adolescentes da atualidade têm acessos a objetos e oportunidades que os seus avós nem sequer sonharam. Também é inegável que o salto tecnológico alcançado nas últimas décadas e a mudança radical de costumes moldou o mundo moderno de tal maneira que as crianças amadurecem bem mais cedo. Em decorrência disso, as crianças são inseridas na realidade da vida muito precocemente. Em contrapartida, elas não são tão facilmente manobráveis como outrora foram as das gerações pregressas. De fato, elas têm uma vontade inquebrantável, personalidade forte, comportamento irritadiço e, por conta desses traços, fazem valer as suas opiniões e desejos com frequência (não raro, indesejável). É muito difícil lhes impor qualquer coisa. Dominam a arte da negociação o que lhes dá vantagem quando a empregam com os pais. 
Além disso, são muito mais articuladas, astutas e antenadas, considerando a forte exposição à realidade cotidiana a que são submetidas. Ademais, em menor ou maior grau a violência e o bullying fazem parte do cotidiano delas, independentemente da classe social à qual pertençam. 
Por tudo isso, portanto, pode-se inferir que são seres humanos que entendem e captam as nuances da vida muito mais rapidamente do que as crianças e jovens de outras gerações. Por conseguinte, as noções do mal e do bem lhes são praticamente palpáveis considerando os acontecimentos e turbulências com as quais convivem nessa era pós-modernista e ainda profundamente desespiritualizada. 
No que concerne ao melhor procedimento punitivo a ser adotado, mais inteligente será se os nossos legisladores se inspirarem no que outros países mais avançados vêm fazendo, descartando-se de vez as ideias malsãs e as sugestões obtusas. Desse modo, as experiências bem-sucedidas e pragmáticas de países como França, Canadá, Suécia, Dinamarca e Finlândia – examinadas pela revista VEJA de 18 de abril e pelo jornalista Reinaldo Azevedo em matéria postada em seu blog em 31 de março – podem perfeitamente nos servir de referências saudáveis. 
Nesses países, aliás, um criminoso de 13/15 anos ou até mesmo sem qualquer restrição etária como no caso da Inglaterra, dependendo da gravidade do seu delito, poderá ser condenado como um adulto. No geral, a pura redução da maioridade de 18 para 16 anos para efeito de imputação penal não avança muito sobre a questão. Do ponto de vista espiritual, entretanto, alguns fatos precisam ser devidamente salientados de modo a alicerçar as decisões dos legisladores, bem como salvaguardar a sociedade da sanha de delinquentes perversos e desalmados. Nesse sentido, cumpre destacar que, como pondera o Espírito Joanna de Ângelis na obra Liberta-te do Mal (psicografia de Divaldo Franco), “A imensa caravana terrestre é constituída por Espíritos enfermos, ainda necessitados de amar, desdobrando os sentimentos nobres que se lhes encontram adormecidos...”. 
Posto isto, o primeiro aspecto a ser considerado é o fato de que um adolescente, salvo raras exceções, tem plena consciência dos seus atos. Em outras palavras, ele já está adequadamente familiarizado com a noção do que é certo ou errado. Seguir numa direção ou outra depende exclusivamente das suas próprias escolhas que, aliás, lhe são oportunizadas bem mais cedo simplesmente porque assim faculta a sociedade atual. Mas é preciso lembrar que elas também vêm acompanhadas das inerentes e intransferíveis responsabilidades. 
Em segundo lugar, habitando o corpo de um adolescente há, fundamentalmente, um Espírito milenar portando características éticas e morais desenvolvidas ou não, assim como aspirações d’alma e compromissos assumidos perante a espiritualidade. 
Por isso, um adolescente que pratica um crime hediondo está fazendo pleno uso do seu livre-arbítrio. Ao viver em sociedade não lhe é estranha a necessidade de respeitar determinados imperativos tais como não matar, não ferir e não furtar, entre outros. Mas ao enveredar por essas obscuras veredas, o infrator deve ser responsabilizado à altura do crime perpetrado, independentemente da sua idade. É, a propósito, o que a maior parte da sociedade anseia e igualmente o que os países mais avançados estão realizando nessa área. Reinventar a roda aqui soa como algo insipiente e desproposital. 
De modo geral, os criminosos precisam ser adequadamente isolados para refletir sobre as suas ações infelizes. Nesse processo de afastamento do convívio social, o ser desajustado tem de lidar com a justa expiação pelas suas faltas cometidas e assim obtém as condições ideais para o encontro com o arrependimento. A partir dessa apropriada correção aprende a valorizar a liberdade e a vida equilibrada em sociedade até que o Criador lhe conceda novas oportunidades de reajuste. Ao Estado cabe lhe proporcionar condições dignas e humanas para a reparação. 
      
Anselmo Ferreira Vasconcelos
São Paulo, SP (Brasil)

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