A recente aprovação de transplantes mitocondriais pelo
parlamento inglês estabelece um novo divisor de águas para a humanidade,
especialmente para casais que aspiram gerar bebês saudáveis. Inicialmente
cumpre recordar que a técnica autorizada prevê a substituição – por meio de
fertilização in vitro – do DNA mitocondrial doente oriundo da mãe biológica por
outro saudável pertencente a uma doadora. É importante destacar que a técnica
proposta viabiliza a transferência genética entre as duas mulheres antes da
geração do zigoto, isto é, a célula com núcleo único produzida no ato da
fecundação do óvulo pelo espermatozoide.
Portanto, trata-se de um processo no qual a manipulação genética
se dá em células ainda não fecundadas, ou seja, sem o embrião da vida. Posto
isto, os embriões gerados por meio desse complexo processo estão sendo
denominados de “bebês de três pais”. No entanto, é forçoso reconhecer que o DNA
mitocondrial da doadora não fornece absolutamente nenhuma característica
genética ao feto. Na verdade, a herança genética, propriamente dita, é
atribuição do DNA nuclear. Este último, aliás, é responsável por 99,98% do
código genético humano.
Nessa condição, o DNA nuclear é, por assim dizer, o agente
determinante para o estabelecimento da cor dos nossos olhos, da nossa estatura,
da nossa eventual propensão para engordar ou de vir a sofrer determinadas
doenças ao longo da vida. Vale frisar que na implantação do transplante mitocondrial,
o DNA nuclear é integralmente preservado. Desse modo, os cientistas eliminam
qualquer possibilidade de que um óvulo, que tenha tido seu DNA mitocondrial
alterado, apresente qualquer semelhança com a doadora.
Assuntos como o ora discutido tendem a gerar intenso debate
e polêmica. Certos setores religiosos e da imprensa vislumbram em tais
descobertas e possibilidades o perigo do homem querer “brincar de Deus” ou de
criar uma raça supostamente perfeita, como foi outrora cogitado em relação à
ariana. Há, sem dúvida alguma, justificada preocupação com tudo o que diz
respeito à manipulação genética. Há também aí uma linha muito tênue entre o que
é eticamente aceitável e as experiências/iniciativas científicas abjetas.
Mas é, por outro lado, também perfeitamente compreensível
que pais se empenhem em gerar uma prole saudável e apta a se sobressair
positivamente no mundo. Afinal, pode-se indagar que tipos de pais, em sã
consciência, ficariam felizes pelo fato de procriar filhos potencialmente
portadores de certas moléstias? Convenhamos que tal hipótese chega a beirar o
absurdo. É igualmente aceitável que a ciência trabalhe para uma melhor
adaptação e/ou evolução da raça humana seja por meio da supressão da
manifestação de certas doenças e anomalias físicas, seja pela exploração de
alternativas que pelo menos mitiguem tais efeitos.
É, enfim, difícil não querer afastar – especialmente quando
os pais têm recursos para tal – a possibilidade de ter um filho com propensão a
nascer com algum tipo de doença incubada como o câncer de seio, ou doença de
Alzheimer, Mal de Parkinson ou outras anomalias genéticas. Posto isto, como
lidar com questões tão complexas de forma apropriada? É pertinente lembrar que
manipulação genética é algo que, segundo os especialistas em ufologia, vem
permeando a raça humana desde tempos imemoriais. Nesse sentido, os argumentos
por eles apresentados são no mínimo intrigantes.
Seja como for, o plano espiritual não poderia deixar, por
sua vez, de analisar tão complexa problemática. E o Espírito Joanna de Ângelis
tece interessantes considerações, na obra Dias Gloriosos (psicografia de
Divaldo Franco), sobre o assunto que valem a pena resgatar. A benfeitora
esclarece que “Ao lado dessa busca respeitável, sem dúvida, mas que foge ao
programa da reencarnação de muitos Espíritos endividados que, se liberados da
injunção aflitiva, incidirão em outros mecanismos depuradores...” (ênfase
nossa).
Diante do quadro atual, é pouco provável que a comunidade
científica – que, de modo geral, tem pouca afinidade com as coisas da religião,
embora esteja havendo algum progresso no estabelecimento de tal ligação – venha
deliberadamente a frear tais esforços. Eventuais aberrações científicas,
conforme aventa a benfeitora, como o trabalho para alterar, por exemplo, “... o
sexo do zigoto, ou mais tarde do feto, mesmo que se encontre em processo de
formação física”, devem ser veementemente condenadas. Tais experimentos são
absolutamente cruéis e desumanos. Cientistas que se envolvem em tão nefasta
linha de pesquisa desrespeitam sagrados limites éticos e morais, e certamente
pagarão muito caro perante as leis divinas por tamanha hediondez.
Joanna de Ângelis alerta, aliás, nesse particular, que “...
ao abuso do conhecimento em qualquer área sempre correspondem danos
equivalentes” (novamente, ênfase nossa). De modo a esclarecer ainda mais certos
pontos capitais, a nobre mentora enfatiza que “Parece a esses investigadores
dos emaranhados segredos da existência planetária, que lhes é facultado brincar
de Deus, alterando os códigos genéticos e criando aberrações para atendimento
do seu luxo criativo [...]”.
No entanto, como a maioria não envereda pelas sábias veredas
estribadas na epistemologia espiritual tem-se a configuração de um quadro no
qual “O desconhecimento causal ou proposital do Espírito, por esses
investigadores, e o seu alto índice de presunção intelectual fazem que,
desatentos às causalidades divinas, se arvorem em criadores de outros homens
que deixariam de acompanhar o processo da Natureza, exclusivamente direcionados
pelas suas paixões...”.
Por isso tudo, adverte a sábia mentora que “Cabe, porém, ao
cientista, curvar-se ante a grandeza do Cosmo e interrogar-se até onde têm
lugar os direitos que se atribui, especialmente no que diz respeito ao que
pretende corrigir no conjunto ou em parte, a Lei natural”. E aqui é imperioso
que o(a) candidato(a) a descobridor do conhecimento se empenhe em conquistar um
patrimônio moral e espiritual considerável em paralelo ao técnico-científico,
de tal maneira que as suas contribuições e trabalho estejam sempre alinhados
com o bem.
Joanna de Ângelis pondera que “A engenharia genética será,
naturalmente, um instrumento para dignificação do ser humano e entendimento da
vida nas suas mais profundas expressões, jamais recurso para submetê-lo às
paixões e desmandos de outros que dela planejam utilizar-se para tais nefandos
fins”.
E, por fim, lembra também Joanna de Ângelis que “O corpo,
sob qualquer condição que se expresse, é resultado da conduta anterior do
Espírito, que programa as suas necessidades na forma, a fim de crescer e
evoluir, transformando conflitos em paz, débitos em créditos, mazelas em
esperanças”.
Diante do exposto, podemos concluir que o Espírito é e será
sempre caudatário do seu passado. Se na trajetória milenar prevaleceram
experiências perturbadoras ou dissociadas dos ideais divinos, é da lei
universal que o infrator por meio de apropriados determinismos se reajuste. A
encarnação, em consequência, lhe facultará de uma forma ou de outra os
elementos indispensáveis à reparação. Quanto a esse mecanismo universal de
acerto nada poderá a ciência fazer. As inteligências brilhantes podem e devem
fazer todo o possível para tornar a experiência humana nesse mundo menos
áspera. O seu conhecimento e conquistas nessa direção sublime são certamente
esperados pelos maiorais da espiritualidade. Nesse sentido, elas sempre
ocorrerão sob os beneplácitos do Criador.
Anselmo Ferreira Vasconcelos
São Paulo, SP (Brasil)
Imagem ilustrativa
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