Espiritismo é sinônimo de Cristianismo puro
“O homem está sempre
disposto a negar aquilo
que não conhece.” - Pascal.
Quando as pessoas descobrem que o Espiritismo e o Puro
Cristianismo são a mesma coisa, elas perguntam: “Qual a utilidade da doutrina
moral dos Espíritos, uma vez que não difere da do Cristo?".
Kardec responde[1]: “(...) Do ponto de vista moral, é fora
de dúvida que Deus outorgou ao homem um guia, dando-lhe a consciência, que lhe
diz: ‘Não faças a outrem o que não quererias te fizessem’. A moral natural está
positivamente inscrita no coração dos homens; porém, sabem todos lê-la nesse
livro?! Nunca lhe desprezaram os sábios preceitos? Que fizeram da moral do
Cristo? Como a praticam mesmo aqueles que a ensinam? Reprovareis que um pai
repita a seus filhos dez vezes, cem vezes as mesmas instruções, desde que eles
não as sigam? Por que haveria Deus de fazer menos do que um pai de família? Por
que não enviaria, de tempos a tempos, mensageiros especiais aos homens, para
lhes lembrar dos deveres e reconduzi-los ao bom caminho, quando deste se
afastam; para abrir os olhos da inteligência aos que os trazem fechados, assim
como os homens mais adiantados enviam missionários aos selvagens e aos
bárbaros?
A moral que os Espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão
de que não há outra melhor. Mas, então, de que serve o ensino deles, se apenas
repisam o que já sabemos? Outro tanto se
poderia dizer da moral do Cristo, que já Sócrates e Platão ensinaram quinhentos
anos antes e em termos quase idênticos. O mesmo se poderia dizer também das de
todos os moralistas, que nada mais fazem do que repetir a mesma coisa em todos
os tons e sob todas as formas.
O que o ensino dos Espíritos acrescenta à moral do Cristo é
o conhecimento dos princípios que regem as relações entre os mortos e os vivos,
princípios que completam as noções vagas que se tinham da alma, de seu passado
e de seu futuro, dando por sanção à doutrina cristã as próprias leis da
Natureza. Com o auxílio das novas luzes que o Espiritismo e os Espíritos
espargem, o homem se reconhece solidário com todos os seres e compreende essa
solidariedade; a caridade e a fraternidade se tornam uma necessidade social;
ele faz por convicção o que fazia unicamente por dever, e o faz melhor.
Somente quando praticarem a moral do Cristo poderão os
homens dizer que não mais precisam de moralistas encarnados ou desencarnados.
Mas, também, Deus, então, já não lhos enviará.
Os Espíritos são mais colaboradores seus do que reveladores,
no sentido usual do termo. Ele lhes submete os dizeres ao cadinho da lógica e
do bom senso: desta maneira se beneficia dos conhecimentos especiais de que os
Espíritos dispõem pela posição em que se acham, sem abdicar do uso da própria
razão”.
A conexão entre o mundo espiritual e o mundo material é
muito ostensiva e evidente, conforme podemos observar na resposta que os
Espíritos deram à questão de número 459 de “O Livro dos Espíritos”.
Continua Kardec1: “(...) Com os Espíritos – sejam de que
categorias forem – iniciamo-nos no que respeita ao verdadeiro caráter do mundo
espiritual, apresentando-se-nos este por todas as suas faces. Cabe-nos, porém,
visto que os Espíritos são mais ou menos esclarecidos, discernir o que há de
bom ou de mau no que nos digam e tirar, do ensino que nos deem, o proveito
possível. Ora, todos, quaisquer que sejam, nos podem ensinar ou revelar coisas
que ignoramos e que sem eles nunca saberíamos.
Os Espíritos não se manifestam para libertar do estudo e das
pesquisas o homem, nem para lhe transmitirem, inteiramente pronta, nenhuma
ciência. Com relação ao que o homem pode achar por si mesmo, eles o deixam
entregue às suas próprias forças. Isso o sabem hoje perfeitamente os espíritas.
Pedir o homem conselhos aos Espíritos não é entrar em
entendimento com potências sobrenaturais; é tratar com seus iguais, com aqueles
mesmos a quem ele se dirigiria neste mundo; a seus parentes, seus amigos, ou a
indivíduos mais esclarecidos do que ele. Disto é que importa se convençam todos
e é o que ignoram os que, não tendo estudado o Espiritismo, fazem ideia
completamente falsa da natureza do mundo dos Espíritos e das relações com o
além-túmulo.
As condições da nova existência em que se acham os Espíritos
lhes dilatam o círculo das percepções: eles veem o que na Terra não viam;
apreciam de um ponto de vista bem mais elevado e, portanto, a perspicácia de
que gozam abrange mais vasto horizonte; compreendem seus erros, retificam suas
ideias e se desembaraçam dos prejuízos humanos. É nisso que consiste a
superioridade dos Espíritos com relação à Humanidade corpórea.
A Humanidade Espiritual vem conversar com a Humanidade
Corporal e dizer-lhe: Nós existimos, logo o nada não existe; eis o que somos e
o que sereis; o futuro vos pertence, como a nós. Caminhais nas trevas, vimos
clarear-vos o caminho e traçar-vos o roteiro; andais ao acaso, vimos
apontar-vos a meta. A vida terrena era, para vós, tudo, porque nada víeis além
dela; vimos dizer-vos, mostrando a vida espiritual: a vida terrestre nada é. A
vossa visão se detinha no túmulo, nós vos desvendamos, para lá deste, um
esplêndido horizonte. Não sabíeis por que sofreis na Terra; agora, no
sofrimento, vedes a justiça de Deus. O bem nenhum fruto aparente produzia para
o futuro. Doravante, ele terá uma finalidade e constituirá uma necessidade; a
fraternidade, que não passava de bela teoria, assenta agora numa lei da
Natureza. Sob o domínio da crença de que
tudo acaba com a vida, a imensidade é o vazio, o egoísmo reina soberano entre
vós e a vossa palavra de ordem é: ‘Cada um por si’. Com a certeza do porvir, os
espaços infinitos se povoam ao infinito, em parte alguma há o vazio e a
solidão; a solidariedade liga todos os seres, aquém e além da tumba. E o reino
da caridade, sob a divisa: ‘Um por todos e todos por um’. Enfim, ao termo da
vida, dizíeis eterno adeus aos que vos são caros; agora, dir-lhes-eis: ‘Até
breve!’.
Tais, em resumo, os resultados da revelação nova, que veio
encher o vácuo que a incredulidade cavara, levantar os ânimos abatidos pela
dúvida ou pela perspectiva do nada e imprimir a todas as coisas uma razão de
ser. Carecerá de importância esse
resultado, apenas porque os Espíritos não vêm resolver os problemas da Ciência,
dar saber aos ignorantes, e aos preguiçosos os meios de se enriquecerem sem
trabalho? Nem só, entretanto, à vida futura dizem respeito os frutos que o
homem deve colher dela. Ele os saboreará na Terra, pela transformação que estas
novas crenças hão de necessariamente operar no seu caráter, nos seus gostos,
nas suas tendências e, por conseguinte, nos hábitos e nas relações sociais.
Pondo fim ao reino do egoísmo, do orgulho e da incredulidade, elas preparam o
do bem, que é o reino de Deus, anunciado pelo Cristo".
[1] -
KARDEC, Allan. A Gênese. 43. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. I,
itens 56 a 62.
Rogério Coelho
Muriaé, MG (Brasil)
Imagem ilustrativa
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