segunda-feira, 13 de julho de 2015

O dia em que desencarnou Kardec


Sempre que iniciamos o mês de abril, nós, espíritas, somos lembrados de alguns eventos de suma importância ocorridos nesse período, como o lançamento de “O Livro dos Espíritos”, no dia dezoito; o nascimento de Chico Xavier no dia dois etc. Hoje citaremos um fato muito marcante: o dia do velório e enterro do corpo de Allan Kardec.
No dia 31 de março de 1984, quando se comemorava mais um aniversário da desencarnação do insigne codificador do Espiritismo, Allan Kardec, nosso querido Chico, em seu semanal encontro sob um abacateiro, na periferia de Uberaba, narrou uma história sobre o momento, que lhe foi contada pelo inesquecível Dr. Canuto Abreu.

Diz Chico:

Em 1869, no princípio do ano, ele (Allan Kardec), com os espíritas, imaginou fazer a primeira livraria espírita do mundo, que seria a livraria de Paris (hoje, pelas circunstâncias da vida francesa, ela não existe mais). A livraria se propunha a divulgar as obras espíritas. Ele e aquela turma já trabalhavam por três meses. Nos últimos dez dias de março, ele sentiu as chamadas dores pré-cordiais, que hoje são tratadas a tempo, mas no ano de 1869... Começou a sentir aquelas dores no peito, que precedem a determinados problemas difíceis na circulação, como sendo a fibrilação do músculo cardíaco...
A senhora dele, D. Gaby, faltando uns quatro dias para a morte do Codificador, ouviu-o dizer:

– Gaby, eu me sinto indisposto, com muita dor no peito, mas a inauguração da livraria espírita está prevista para o dia 1º de abril; faltam cinco dias para arranjar tudo para uma inauguração tão distinta quanto possível... Eu não me sinto bem, mas no dia 1º de abril eu tenho que inaugurar a livraria.
Ela, então, disse:

– Mas se você estiver com essa dor muito aumentada, podemos deixar para outra semana, daqui a uns quinze dias...

Nove anos mais velha do que ele, ela tinha por Kardec um desvelo também maternal... Naquela época, as viagens não eram tão fáceis. Os amigos que vinham ajudar, na inauguração, já estavam viajando para Paris, ou com todos os preparativos feitos... A viagem era feita a cavalo, e eles, em determinadas estações, tinham que ser mudados.

E os dois começaram a dialogar:

– Nós temos aí talvez mais de cinquenta companheiros, da França, da Bélgica... Eu não posso deixar, com dor ou sem dor, tenho que ir.
– Mas eu, como sua esposa, não acho que isto esteja certo.
– Mas eu não posso desconsiderar o dinheiro que os irmãos gastaram para vir até aqui.
– Apesar disso tudo, eu aconselharia você a adiar...
– Você me aconselha a adiar, mas, se eu estiver muito mal, no dia primeiro, ou que tenha até desencarnado, já que estamos numa Doutrina de caridade, o que é que você faria por mim, se eu estiver incapacitado para ir até o local da livraria, já que a inauguração está prevista para as dez horas... Não podemos fazer os outros esperarem, isto também é caridade.
– Já que a sua decisão é tão firme, no caso desse ato inauguratório, no caso de você piorar...
– E no caso de eu desencarnar?
– Mesmo assim, se você piorar ou desencarnar, eu irei no seu lugar.

E, no dia 31 de março, ele desencarnou, tudo indica por um aneurisma; foi repentino. Os amigos começaram a visitar a casa, já bem à noitinha... Então alguém aventou a hipótese de adiar a inauguração. Mas D. Gaby respondeu:

– Não, eu e meu marido conversamos sobre isto; ele está na urna; amanhã é o primeiro dia do velório, mas, às 10 horas eu irei cumprir o que a ele prometi; em nome da Doutrina de caridade, eu vou substituí-lo.

E, de manhã cedo, no dia 1º de abril, às 8 horas, D. Gaby despediu-se do corpo do esposo e falou com ele que ia cumprir a sua tarefa... Pediu-lhe desculpas por se ausentar de casa e foi para o local... Demorou umas duas horas, deu entrevistas, fez conferências e depois voltou para junto do corpo do marido... Os jornais da época comentaram muito sua coragem. Como percebemos, estamos numa Doutrina que nem a morte nos pode privar do dever a cumprir.

(Este caso está registrado no livro “Chico Xavier, à sombra do abacateiro”, de Carlos A. Bacelli, editora IDEAL.)

José Antônio V. de Oliveira
Cambé, PR (Brasil)

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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Frutos


Note o leitor como o texto abaixo é atualíssimo para a realidade do país e que especialmente pode ser aplicado à nossa realidade individual interior. Ele foi escrito em 1863 e retrata bem o descuido que vivemos com os autênticos valores que deveríamos preservar. A situação política do país é um reflexo direto desse descuido. Peço ao leitor ler atentamente com os olhos da pesquisa imparcial. O texto é todo construído com imagens simbólicas, de alto alcance filosófico e deve ser lido além das formas, além da moldura das palavras.

“(...) Os frutos da árvore da vida são os frutos de vida, de esperança e de fé. (...) A árvore é sempre boa, mas os jardineiros são maus. Eles quiseram conformá-la à sua ideia, quiseram modelá-la segundo as suas necessidades; eles a cortaram, diminuíram-na, mutilaram-na; seus ramos estéreis não produzem maus frutos, pois nada produzem. O viajor sedento que se detém sob sua sombra para procurar o fruto da esperança que lhe deve restituir a força e a coragem, não distingue senão ramos infecundos fazendo pressentir a tempestade. Em vão, ele procura o fruto da árvore de vida; as folhas caem secas; a mão do homem de tanto manejá-las, queimou-as. (...)”.

E prossegue com propriedade:

“(...) Aquele que a plantou vos convida a cuidá-la com amor, e a vereis produzir ainda, com abundância, seus frutos divinos. (...) não a mutileis; sua sombra intensa quer se estender sobre o Universo; não encurteis seus ramos. Seus frutos benfazejos caem em abundância para sustentar o viajor sedento que quer atingir o objetivo; não os colheis, esses frutos, para os guardar e os deixar apodrecer, a fim de que não sirvam a ninguém (...); a árvore que produz bons frutos deve distribuí-los para todos. Ide, pois, procurar aqueles que estão sedentos; conduzi-os sob os ramos da árvore e dividi com eles o abrigo que ela vos oferece. (...)”.

A linguagem simbólica indica claramente o egoísmo que ainda nos caracteriza a condição humana, preocupados que ainda estamos em acumular, esquecidos ou negligentes dos cuidados com os valores reais da vida e seus frutos, manipulando, moldando aos nossos interesses e adaptando-os às nossas ideias, nem sempre saudáveis, mutilando-os em seus reais objetivos. E tudo isso com prejuízos enormes à coletividade que busca, sedenta, seus frutos de vida, de esperança e fé. Seria o caso de pensarmos no alcance da expressão: frutos de vida, esperança e fé, além das palavras e em toda sua abrangência. 
O egoísmo é o grande responsável por esse quadro de interesses, dos quais estamos assumindo enorme responsabilidade perante a vida e seus nobres objetivos.

A transcrição parcial, porém, não é desanimadora. É antes, construtiva, convidando à fraternidade: “(...) segui aqueles que vos conduzem à sombra da árvore da vida (...)”.

Afinal, reconhece-se o cristão pelas suas obras, como indica o título do texto. E essas obras produzem a pura brisa da harmonia individual e social, pois que “A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e aniquila as misérias sociais”. 
A crise moral que se abate sobre o país é resultante do esquecimento de princípios básicos de amor e conduta reta e poderemos alterar tudo isso a qualquer tempo, fazendo as mudanças dentro de nós, que se refletirão inevitavelmente na vida social.

Extraídos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em transcrição parcial dos capítulos XI e XVIII, os textos oferecem reta orientação aos desafios da atualidade.

Orson Peter Carrara

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domingo, 5 de julho de 2015

O necessário e o supérfluo, mas sem passar batido


O jornalista espírita André Trigueiro, meu amigo-irmão, é especialista na área ambiental. Tem livros publicados e também faz inúmeras palestras sobre o assunto, tanto em centros espíritas como em universidades, igrejas católicas e em todo local onde houver um grupo religioso, estudantil ou entidade de classe interessada em meio ambiente, assunto de suma importância para melhor nos situarmos no mundo atual, às voltas com mudanças climáticas, consumismo e afins. 
Certa vez, em Petrópolis, durante o seminário “Ecologia e Paz”, o André, ressaltando que a Doutrina Espírita aborda várias vezes a questão ecológica, disse que precisamos deixar de passar batido pelo item “O necessário e o supérfluo”, de “O Livro dos Espíritos” (terceira parte, capítulo cinco, questões 715 a 717). 
Confesso que não lia essas questões há um tempo. Passei batido também, como advertiu o André. E fiquei surpreso ao ver que são apenas três questões que, de fato, devem passar despercebidas para muitos. É como se as três formassem um item de menor importância, perdido na parte que estuda as Leis Morais. Como nada nas obras de Kardec é mais ou menos importante (tudo tem o mesmo e importantíssimo peso) e eu também sou um entusiasta da questão ambiental, resolvi me debruçar sobre as três. Que Santo André Trigueiro, padroeiro das causas ecológicas, me ajude! 
Na questão 715, Kardec pergunta “Como pode o homem conhecer o limite do necessário?”. A resposta diz que o homem ponderado conhece tal limite por intuição. Muita gente, no entanto, só irá conhecê-lo à própria custa, ou seja, batendo cabeça. 
Quando reli essa questão, lembrei-me de uma senhora com quem dividi algumas sessões de fisioterapia quando torci o tornozelo há alguns anos. Conversa vai, conversa vem, ela contou que ela e o marido moravam numa casa com cinco suítes. Uma para o casal. As demais, para os quatro filhos homens. Só que os filhos já haviam saído de casa por terem casado ou ido trabalhar em outra cidade. Ficaram ela e o marido morando numa residência cheia de suítes, que ela mantinha fechadas e nas quais não entrava havia meses. Contou, também, que por ser uma casa grande, havia demorado a ficar pronta. Por isso, os filhos aproveitaram pouco das suítes. Perguntei se ela pensava em vender a casa, quem sabe para alguém interessado em transformá-la numa pousada. A casa, disse a senhora, estava à venda, mas ainda não havia aparecido comprador. 
É claro que se tenho dinheiro e sou pai de quatro filhos, não vou morar com minha família numa casa apertada. Mas se ajo com ponderação, como ressalta “O Livro dos Espíritos”, perceberei que, em breve, eu e minha esposa corremos o risco de ficar sozinhos numa casa imensa. Creio que se os proprietários tivessem construído uma casa com dois quartos para os filhos (dois filhos por quarto) e dois banheiros sociais, fora a suíte de marido e mulher, a casa estaria num bom tamanho. Todos teriam aproveitado mais não só a casa, mas também a companhia uns dos outros. 
Na Região Serrana do RJ, onde vivo, há casas cinematográficas em profusão. Todas com inúmeras suítes (com closet), churrasqueira, forno a lenha, salão de jogos, casa de hóspedes, piscina, sauna seca e a vapor e por aí vai. Muitas delas à venda há meses. Não aparece comprador. Hoje em dia, muita gente não dispõe de tempo e dinheiro para manter uma mansão. 
Quando “O Livro dos Espíritos” diz que muitos vão conhecer o limite do necessário pela própria – e muitas vezes sofrida – experiência é porque não sabemos lidar com a matéria de forma equilibrada. Geralmente, pensamos que ser materialista é não acreditar em Deus ou na existência de algo além da morte. Mas materialismo também é não parar para pensar na hora de construir um imóvel que, mais adiante, se transformará num elefante branco. Não só pelo tamanho do mesmo, mas pela quantidade de tempo e dinheiro que a casa mega linda requer para permanecer de pé e arrumada. Estou falando de impostos altos, número de empregados, material de limpeza... Tudo para dar conta do número exagerado de quartos, salas e banheiros que a gente inventou. Haja material de construção! E cimento, barro, madeira e Cia. Ltda. vêm de onde? Da Natureza, que já demonstra sinais de saturação por causa de tanta extravagância. 
A resposta à pergunta 716 diz que a Natureza deu ao homem uma organização que lhe traça os limites da necessidade. O homem, porém, tudo alterou por causa de vícios que o fizeram criar necessidades nada reais. 
Hoje em dia, é farta a oferta de confeitarias, restaurantes de comida a quilo, lanchonetes de comida rápida... Comida saborosa, farta e acessível. Mas será que temos necessidade de, todo santo dia, tomar refrigerante, comer brigadeiro, se entupir de batata frita? 
Em 16 de dezembro de 2013, o pediatra carioca Fábio Becker deu entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura. Ele abordou a questão da comida pronta de hoje em dia. Nos Estados Unidos, paraíso do alimento industrializado, a comida é feita com sabor, crocância e consistência ideais para que a criança rejeite o alimento natural quando o provar. Dessa forma, diz ele, corremos o risco de ter crianças que só aceitam comida fabricada e rechaçam a couve, o chuchu, a beterraba... Vícios que alteram nossa constituição e criam necessidades irreais, conforme observa o sempre atual “O Livro dos Espíritos”. 
O André Trigueiro é inimigo do closet. Em suas palestras, ele sempre fala da desnecessidade de fazermos um cômodo estilo sala de troféus para exibir a coleção de sapatos, gravatas, lingerie, camisas, toalhas felpudas e sabe lá Deus o quê. E esse cômodo supérfluo tem, ainda por cima, iluminação especial, feita por um “light designer”. Haja energia elétrica! 
Se o André elegeu combater o closet, eu escolhi a varanda gourmet como inimiga. Tenho visto, em recentes lançamentos imobiliários no RJ e SP, apartamentos com as tais varandas, que vêm equipadas com churrasqueiras. Será que precisamos de churrasqueiras em varandas de apartamentos? Fico imaginando o fumacê se todo mundo resolver fazer churrasco no mesmo dia. Sabemos que uma das grandes causas de desmatamento na Amazônia é a criação de pastos para o gado. Portanto, a fumaça do exagero churrascal é a mesma das queimadas na Amazônia. Será que precisamos consumir tanto churrasco assim? Será que virou um item de primeira necessidade, a ponto de novos apartamentos já virem com a tal da varanda gourmet? Além disso, a área de serviço teve o espaço bastante reduzido para dar lugar à dita cuja gourmet. Há lugar para tanque, máquina de lavar e um pequeno armário. Nada mais. Será que só eu lavo e seco roupa em casa? 
Todos nós sabemos que o dia a dia doméstico não é varanda gourmet. É, entre outros itens, um local para secar a roupa que foi lavada. Digo isso porque já vi apartamentos de condomínios luxuosos cheios de varais de chão na varanda gourmet. Ou seja, não há local para secar a roupa. E quando chove, os varais de chão repletos de panos de pratos, meias e afins molhados ficam na sala. Eu particularmente prefiro uma boa área de serviço a uma varanda gourmet. Abaixo a varanda gourmet! 
Por fim, a questão 717, que diz que os homens que se apropriam dos bens da Terra para ter o supérfluo enquanto muitos não possuem o necessário terão de responder pelas privações que causam. Estas palavras me fazem lembrar Madre Teresa de Calcutá. Uma vez, ao desembarcar nos Estados Unidos para uma conferência, ela ficou horrorizada ao ver a quantidade de comida que estava sendo jogada fora no aeroporto. Comida industrializada, cheia de gordura. Mas ainda assim, comida. Comida feita de trigo, carne, leite, milho, batata e outros itens, que foram tirados na Natureza (Olha ela aí novamente!), para alimentar um bando de gente que come em excesso e joga fora toneladas de alimentos todos os dias. Até quando? 
No livro “Mundo Sustentável”, o André Trigueiro, referindo-se ao desenho animado “Mogli, o Menino Lobo”, cita a música cantada pelo Urso Balu, amigo do personagem-título: - Necessário, somente o necessário. O extraordinário é demais. 
Sei que às vezes é difícil estabelecer o limite entre o necessário e o supérfluo. Mas como diz o André Trigueiro, um bom indício é evitarmos fazer coleção. Todos sabem quantos sapatos, celulares, automóveis, toalhas e peças de roupa devem ter. É questão de foro íntimo. Mas se alguém começa, por exemplo, a fazer coleção de sapatos, é melhor acender o sinal de alerta. Afinal, como diz o adendo à questão 717, “Tudo é relativo, cabendo à razão regrar as coisas”.

Marcelo Teixeira

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sábado, 27 de junho de 2015

Terrorismo de natureza mediúnica


Sutilmente vai-se popularizando uma forma lamentável de revelação mediúnica, valorizando as questões perturbadoras que devem receber tratamento especial, ao invés de divulgação popularesca de caráter apocalíptico. 
Existe um atavismo no comportamento humano em torno do Deus temor que Jesus desmistificou, demonstrando que o Pai é todo Amor, e que o Espiritismo confirma através das suas excelentes propostas filosóficas e ético-morais, o qual deve ser examinado com imparcialidade. 
Doutrina fundamentada em fatos, estudada pela razão e lógica, não admite em suas formulações esclarecedoras quaisquer tipos de superstições, que lhe tisnariam a limpidez dos conteúdos relevantes, muito menos ameaças que a imponham pelo temor, como é habitual em outros segmentos religiosos. 
Durante alguns milênios o medo fez parte da divulgação do Bem, impondo vinganças celestes e desgraças a todos aqueles que discrepassem dos seus postulados, castrando a liberdade de pensamento e submetendo ao tacão da ignorância e do primitivismo cultural as mentes mais lúcidas e avançadas… 
O Espiritismo é ciência que investiga e somente considera aquilo que pode ser confirmado em laboratório, que tenha caráter de revelação universal, portanto, sempre livre para a aceitação ou não por aqueles que buscam conhecer-lhe os ensinamentos. Igualmente é filosofia que esclarece e jamais apavora, explicando, através da Lei de Causa e Efeito, quem somos, de onde viemos, para onde vamos, porque sofremos, quais são as razões das penas e das amarguras humanas… De igual maneira, a sua ética-moral é totalmente fundamentada nos ensinamentos de Jesus, conforme Ele os enunciou e os viveu, proporcionando a religiosidade que integra a criatura na ternura do seu Criador, sendo de simples e fácil formulação. 
Jamais se utiliza das tradições míticas greco-romanas, quais das Parcas, sempre tecendo tragédias para os seres humanos, ou de outras quaisquer remanescentes das religiões ortodoxas decadentes, algumas das quais hoje estão reformuladas na apresentação, mantendo, porém, os mesmos conteúdos ameaçadores. 
De maneira sistemática e contínua, vêm-se tornando comuns algumas pseudorrevelações alarmantes, substituindo as figuras mitológicas de Satanás, do Diabo, do Inferno, do Purgatório, por Dragões, Organizações demoníacas, regiões punitivas atemorizantes, em detrimento do amor e da misericórdia de Deus que vigem em toda parte. 
Certamente existem personificações do Mal além das fronteiras físicas, que se comprazem em afligir as criaturas descuidadas, assim como lugares de purificação depois das fronteiras de cinza do corpo somático, todos, no entanto, transitórios, como ensaios para a aprendizagem do Bem e sua fixação nos painéis da mente e do comportamento. 
O Espiritismo ressuscita a esperança e amplia os horizontes do conhecimento exatamente para facultar ao ser humano o entendimento a respeito da vida e de como comportar-se dignamente ante as situações dolorosas. 
As suas revelações objetivam esclarecer as mentes, retirando a névoa da ignorância que ainda permanece impedindo o discernimento de muitas pessoas em torno dos objetivos essenciais da existência carnal. 
Da mesma forma como não se deve enganar os candidatos ao estudo espírita, a respeito das regiões celestes que os aguardam, desbordando em fantasias infantis, não é correto derrapar nas ameaças em torno de fetiches, magias e soluções miraculosas para os problemas humanos, recorrendo-se ao animismo africanista, de diversos povos e às suas superstições. No passado, em pleno período medieval, as crenças em torno dos fenômenos mediúnicos revestiam-se de místicas e de cerimônias cabalísticas, propondo a libertação dos incautos e perversos das situações perniciosas em que transitavam. 
O Espiritismo, iluminando as trevas que permanecem dominando incontáveis mentes, desvela o futuro que a todos aguarda, rico de bênçãos e de oportunidades de crescimento intelecto-moral, oferecendo os instrumentos hábeis para o êxito em todos os cometimentos. 
A sua psicologia é fértil de lições libertadoras dos conflitos que remanescem das existências passadas, de terapêuticas especiais para o enfrentamento com os adversários espirituais que procedem do ontem perturbador, de recursos simples e de fácil aplicação. 
A simples mudança mental pra melhor proporciona ao indivíduo a conquista do equilíbrio perdido, facultando-lhe a adoção de comportamentos saudáveis que se encontram exarados em O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, verdadeiro tratado de eficiente psicoterapia ao alcance de todos que se interessem pela conquista da saúde integral e da alegria de viver. 
Após a façanha de haver matado a morte, o conhecimento do Espiritismo faculta a perfeita integração da criatura com a sociedade, vivendo de maneira harmônica em todo momento, onde quer que se encontre, liberada de receios injustificáveis e sintonizada com as bênçãos que defluem da misericórdia divina. 
A mediunidade, desse modo, a serviço de Jesus, é veículo de luz, de seriedade, dignificando o seu instrumento e enriquecendo de esperança e de felicidade todos aqueles que se lhe acercam. 
Jamais a mediunidade séria estará a serviço dos Espíritos zombeteiros, levianos, críticos, contumazes de tudo e de todos que não anuem com as suas informações vulgares, devendo tornar-se instrumento de conforto moral e de instrução grave, trabalhando a construção de mulheres e de homens sérios que se fascinem com o Espiritismo e tornem as suas existências úteis e enobrecidas. 
Esses Espíritos burlões e pseudossábios devem ser esclarecidos e orientados à mudança de comportamento, depois de demonstrado que não lhes obedecemos, nem lhes aceitamos as sugestões doentias, mentirosas e apavorantes com as histórias infantis sobre as catástrofes que sempre existiram, com as informações sobre o fim do mundo, com as tramas intérminas a que se entregam para seduzir e conduzir os ingênuos que se lhes submetem facilmente… 
O conhecimento real do Espiritismo é o antídoto para essa onda de revelações atemorizantes, que se espalha como um bafio pestilencial, tentando mesclar-se aos paradigmas espíritas que demonstraram desde o seu surgimento a legitimidade de que são portadores, confirmando o Consolador que Jesus prometeu aos seus discípulos e se materializou na incomparável Doutrina. 
Ante informações mediúnicas desastrosas ou sublimes, um método eficaz existe para a avaliação correta em torno da sua legitimidade, que é a universalidade do ensino, conforme estabeleceu o preclaro Codificador. 
Desse modo, utilizando-se da caridade como guia, da oração como instrumento de iluminação e do conhecimento como recurso de libertação, os adeptos sinceros do Espiritismo não se devem deixar influenciar pelo moderno terrorismo de natureza mediúnica, encarregado de amedrontar, quando o objetivo máximo da Doutrina é libertar os seus adeptos, a fim de os tornar felizes.

Vianna de Carvalho 
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 7 de dezembro de 2009, durante o XVII Congresso Espírita Nacional, em Calpe, Espanha. Em 09.04.2012. 
Fonte: http://www.divaldofranco.com.br 

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terça-feira, 23 de junho de 2015

Existem almas gêmeas? Sim e não


Um dos pontos polêmicos que existem nas obras espíritas é a questão das almas gêmeas. Kardec nega terminantemente a sua existência. Léon Denis e Emmanuel falam que as há. Sempre tive uma postura estritamente kardecista de negar também. Mas ultimamente tenho meditado no assunto e cheguei a algumas conclusões um pouco mais matizadas, que não podem se encerrar apenas no sim ou no não.
Explico-me. Não, não pode haver almas gêmeas no sentido de metades, de seres que se complementam. Isso fere um dos princípios básicos da filosofia espírita, que enxerga com muita ênfase a individualidade (não individualismo) do espírito. Aliás, esse e outros aspectos da visão espírita têm um diálogo surpreendente e fecundo com as ideias de Erich Fromm. Ele também aponta como uma necessidade evolutiva da espécie, e de cada ser humano em particular, o processo de individuação. As relações saudáveis e plenas, portanto, seriam para ele, aquelas em que duas pessoas inteiras, se amam, sem complementaridade, nem submissão, nem perda da identidade de nenhuma das duas. Nesse sentido, portanto, e talvez seja esse o que Kardec entende, não há almas gêmeas - duas metades que se procuram na eternidade e que se encontram e não podem estar uma sem a outra. Isso significaria que há uma falta a ser preenchida, uma lacuna no ser, que não pode ser inteiro, sem outro ser. De fato, essa ideia revela um aspecto de romantismo exarcebado e místico e que se distancia da racionalidade (que vem desde a Grécia e perpassa a cultura judaico-cristã - raízes em que o espiritismo se mantém). A razão anda junto com o princípio da identidade. A razão define, individua, afirma a identidade dos seres. Sócrates e Platão, que têm ideias reencarnacionistas e visão de mundo bastante espiritualista, foram os primeiros a definir o conceito do ser, aliás como alma independente do corpo. As teorias panteístas, por exemplo, são bem menos racionais e quebram com a lógica da identidade, lógica que é socrática, platônica e artistotélica. Que é cristã e que é espírita. Quando Fromm segue por essa linha, também se ancora nessa tradição. Aliás, ele revive os clássicos da filosofia. A psicologia ocidental, com todas as suas práticas terapêuticas, está igualmente radicada no princípio da singularidade de cada um.
Então, em que sentido poderíamos entender, se é que há esse sentido, a existência de almas gêmeas? Eu diria que num sentido a posteriori e não a priori. Ou seja, não há almas que foram criadas pela metade e estão à procura de sua outra metade. Mas há almas que seguiram tanto tempo juntas, em milênios de convivência, cumplicidade, amor (mesmo passando por momentos de distanciamento e conflito naturais em seres imperfeitos), que se identificam mais plenamente uma com a outra do que com outros seres amados. Intimidade, construção conjunta e até quedas e desvios e retornos em sintonia, que proporcionam uma sintonia fina, maior e mais profunda do que com outros seres também afins.
E agora outra questão: essas almas "gêmeas" no sentido amplo da palavra, tiveram relacionamentos sexuais, no sentido terreno? Podem ter tido, mas não só. Aliás, uma constante que tenho observado em reuniões mediúnicas, em que se manifesta junto a espíritos renitentes, aquela alma que é capaz de os tocar, e que geralmente foram espíritos, que já passaram por diversas condições de relacionamento nos séculos. Já foram esposos, irmãos, pai, mãe, filho, filha… de modo que o amor parece assumir todas as dimensões possíveis e ao mesmo tempo transcender o amor carnal, porque esse nível de sintonia está além do exercício da sexualidade terrena.
Outra pergunta ainda: casais que vemos no mundo são almas gêmeas? Rarissimamente, acredito. Porque se forem, têm uma sintonia muito grande. Alguém pode ser casado com alguém, com amor e compromisso, com as dificuldades naturais de uma convivência mútua e com felicidade relativa, mas a alma mais afim pode vir na forma de um filho, por exemplo, ou nem estar encarnada. 
Pode ser ainda que nem todos tenham almas gêmeas, mesmo nesse sentido amplo, porque pode ser construção de alguns espíritos, resultado de algumas experiências específicas. O universo é livre e as almas vão evoluindo no amor, através de múltiplas vivências. 
Na sociedade contemporânea, a descartabilidade das relações, a ênfase no prazer carnal e a rara busca de identificações mais profundas de alma para alma, acaba por deixar as pessoas mais solitárias e mais sedentas de um amor verdadeiro. Isso pode muitas vezes obstruir o fluxo do amor num sentido mais profundo, pode impedir que vejamos nossas almas gêmeas (aquelas que mais se identificam essencialmente conosco, porque se estamos vivendo na superfície, estamos longe de nós mesmos também) ou pode também bloquear a comunicação mental e emocional com possíveis almas gêmeas nossas que estejam em outros pontos do universo e que mandam vibratoriamente seu amor por nós.
Quanto mais vivermos com lucidez espiritual, autoconhecimento, em sintonia com nossa essência divina, mais saberemos distinguir (e portanto não querer) relações de superfície, apenas baseadas em paixões e impulsos primários, e mais saberemos encontrar a pérola de nossas almas. E se ela não estiver por aqui, poderemos ter relacionamentos também amorosos, verdadeiros e responsáveis, mas sempre teremos uma nostalgia oculta da falta de alguém.

Dora Incontri 
http://wp.me/p1Bz2Z-8M

sábado, 20 de junho de 2015

Artigo importante, vale refletir.


Uma falsa noção de humildade


Trago aos leitores página preciosa do estudioso Deolindo Amorim (1906 – 1984), que foi jornalista, sociólogo, publicitário e escritor, nascido na Bahia. Pelo oportunismo do texto, bem adequado aos dias que vivemos, onde muitos nos escondemos em diferentes máscaras e diante da crise moral que se abate sobre o país, sempre é bom refletir sobre essas questões. Peço ao leitor atenta leitura, embora a transcrição abaixo seja parcial:

 “(...) Muita gente pensa que ser humilde é não ter personalidade. O próprio Cristo, que foi o Cristo, o bom, o justo por excelência, não abriu mão de Suas ideias, não recuou diante das dificuldades... Se Ele não tivesse personalidade, naturalmente ficaria acomodado à situação e não teria suportado o que suportou em defesa do ideal que O iluminava. No entender de muitas pessoas, o que, aliás, está muito errado, ser humilde é dizer amém a tudo, é ficar bem com todos, ainda que tenha de sacrificar as mais fortes razões da consciência. Não foi isto o que o Cristo ensinou. Nem foi isto o que Ele praticou.
Veja-se bem que o Evangelho reprova o procedimento dos que, calculadamente, ocultam os seus pensamentos, isto é, não dizem o que pensam nem o que sentem, porque preferem agir na sombra! Tanto é certo que o Cristo valorizava a personalidade, que ele mesmo disse, e de modo direto, que a criatura deve ser quente ou fria; ninguém deve ser morno. Que significa isto? Significa ter personalidade, no mais alto sentido humano e espiritual. Ficar morno é ficar indeciso, de caso pensado, é não se definir de propósito, para tirar algum partido próximo ou remoto. Isto, porém, não é procedimento compatível com a ética cristã. Não tenho receio das pessoas que tomam atitudes francas, para um lado ou para outro; mas tenho muito cuidado com os que ficam mornos, pois foi para estes que o Cristo chamou a atenção de Seus seguidores.  
Se o Cristo disse que o nosso falar deve ser sim-sim-não-não, é claro que, com isto, reconheceu que o homem deve ter personalidade. Vejo e ouço, constantemente, citar-se o Evangelho, mas também noto que muita gente ainda não compreendeu o sentido de certas máximas fundamentais do Evangelho. Vou dar um exemplo disto: quando alguém toma atitude, porque tem personalidade, e não está conformado com isto ou aquilo, logo se diz que é um antifraternista, que é um demolidor, etc. Pouco falta para se chamar o companheiro de um herético ou pecador público, simplesmente porque é sincero, é idealista, e diz o que pensa.
É preciso que se compreenda a situação de cada um de nós, em face da responsabilidade própria. Tomar uma atitude contra qualquer coisa venha de onde vier, não quer dizer que se pretenda destruir seja o que for. É agir sinceramente, de acordo com a consciência. Já é tempo de se acabar com a suposição ou com o sofisma de que, para praticar a humildade, é necessário curvar-se a tudo ou abdicar do direito de pensar e falar abertamente. Há, entre nós, uma noção muito falsa de humildade, para encobrir muita coisa ruim.”. 

Coincidência ou não, o texto foi publicado em 1964 e parece-nos precisa ser republicado novamente, face à excessiva valorização de valores transitórios, com desprezo aos valores reais e morais, aqueles que permanecem.

Orson Peter Carrara
orsonpeter92@gmail.com
http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Resignação: uma virtude valiosa


Há virtudes difíceis de serem adquiridas ao longo da vida, e cujo exercício é pouco compreendido entre os homens; a resignação é uma delas. As criaturas levianas nem a veem como algo apreciável. Presas em suas ilusões, consideram a resignação apenas falta de força ou de coragem. Entendem que o homem sempre deve reagir violentamente contra qualquer circunstância que contrarie seus desejos.
A resignação geralmente se refere a experimentar uma situação sem a intenção de mudá-la. Já a aceitação não exige que a mudança seja possível ou mesmo concebível, nem necessita que a situação seja desejada ou aprovada por aqueles que a aceitam. De fato, a resignação é frequentemente aconselhada quando uma situação é tanto ruim quanto imutável, ou quando a mudança só é possível a um grande preço ou risco. Em O Evangelho segundo o Espiritismo lemos que “quando sofremos uma aflição, se procurarmos a sua causa, encontraremos sempre a nossa própria imprudência, a nossa imprevidência, ou alguma ação anterior”. Nesses casos, como se vê, temos de atribuí-la a nós mesmos, pois se a causa de uma infelicidade não depende absolutamente de nenhuma das nossas ações, trata-se de uma prova para a existência atual, ou de uma expiação de falta cometida em existência anterior.
Vemos em geral apenas o mal presente, e não as consequências vindouras e favoráveis que ele possa ter. O bem é frequentemente a consequência de um mal passageiro, como a cura de um doente resulta dos meios dolorosos que se empregam para obtê-la. Independentemente dos casos, devemos submeter-nos à vontade de Deus, suportar corajosamente as atribuições da vida, se quisermos que elas nos sejam creditadas em nossa jornada espiritual. Muitas vezes, nossos sonhos mais pretendidos não se concretizam, ou, então, nossa tranquilidade, tão duramente conquistada, é atingida por um infortúnio. Há dificuldades ou contrariedades que podemos vencer, mas algumas vezes a vida responde a nossos apelos com sombra e dor e nessas circunstâncias alguns encontram em seu íntimo forças para se resignarem.
Jesus, em sua curta passagem pela Terra, alimentou ainda mais as esperanças dos homens ao dizer: “Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados”, indicando aí o prelúdio da cura aos que sofrem com resignação. Essas palavras, segundo o Evangelho, devem ser entendidas de uma forma simples, em que nós, homens, devemos considerar-nos felizes por sofrer, porque nossas dores neste mundo decorrem de dívidas de nossas faltas passadas, e essas dores, suportadas pacientemente na Terra, nos poupam séculos de sofrimento na vida futura. Devemos, portanto, estar felizes por Deus reduzir nossa dívida, permitindo-nos quitá-la no presente, assegurando-nos a tranquilidade para o futuro.
Em face de situações constrangedoras e dolorosas, a resignação é uma atitude que apenas os bravos conseguem adotar. O resignado não é um covarde, mas alguém que compreende a finalidade da existência terrena. O homem nasce na Terra para evoluir, para vencer a si mesmo e acumular virtudes, pois a vida é uma escola, na qual passamos da ignorância e da barbárie à angelitude, e justamente por isso as dificuldades se apresentam em seu caminho.
O progresso, diz Santo Agostinho, é lei da natureza, em que todos os seres da Criação, animados e inanimados, foram submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que aos homens parece o termo final de todas as coisas, é apenas um meio de se chegar, pela transformação, a um estado mais perfeito, visto que tudo morre para renascer e nada sofre o aniquilamento. Já nascemos inúmeras vezes e renascemos outras tantas. Somente na vida futura podem efetivar-se as compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra. Se a vida nos reclama serenidade em face da dor, concordemos. A rebeldia de nada nos adiantará, pois a criatura rebelde perante as Leis Divinas apenas torna seu aprendizado mais lento e doloroso. Resignar-se não significa desistir da luta, porém implica reconhecer que a luta interiorizou-se. A resignação é uma conquista do Espírito que vence suas paixões e atinge a maturidade, mantendo a alegria e o otimismo, mesmo em condições adversas.
Joanna de Ângelis, no livro “Convites da Vida”, diz que “se estiveres sob o jugo de dores e padecimentos, ingratidões e perseguições injustos, serão injustos somente na aparência, pois que procedem do teu ontem, em regime de cobrança, para melhor estabilidade do teu amanhã. Submete-te, portanto, paciente, resignadamente, às situações atuais e, insistindo nos bons propósitos, construirás o porvir de bênçãos que agora ainda não podes fruir”.
Devemos, pois, ser conscientes de nosso papel de aprendizes e dedicar-nos a fazer a lição do momento. Vivemos em um mundo de provas e expiações. Nele a dor reina soberana, em virtude de o mal ainda sobrepujar o bem. Embora conscientes dessa inegável condição, é nosso dever lutar contra a adversidade, pois sofrer sem reagir aos males da vida seria uma covardia. Léon Denis diz, no livro “Depois da Morte”, que a adversidade é uma grande escola, um campo fértil em transformações. A ignorância das leis universais é que nos faz ter aversão aos nossos males. Se compreendêssemos quanto esses males são necessários ao nosso adiantamento, eles não mais nos pareceriam um fardo.
Em nossa cegueira, estamos quase sempre prontos a amaldiçoar as nossas vidas. Mas, quando formos capazes de discernir o verdadeiro motivo de nossas existências, compreenderemos que todas elas são preciosas. A dor é capaz de abrandar o nosso coração, avivando os fogos da nossa alma. É o cinzel que lhe dá proporções harmônicas, que lhe apura os contornos e a faz resplandecer em sua perfeita beleza. Quem se resigna enobrece lentamente seu íntimo, ao desenvolver novos propósitos de vida. 

Marcel Bataglia
Balneário Camboriú, SC (Brasil)

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quinta-feira, 21 de maio de 2015

A semente do homem de bem


Certa feita, em uma reunião de início de ano de um trabalho assistencial que contava com quase trinta anos, determinado dirigente, que labuta desde o início naquela seara, comentou em tom avaliativo que o trabalho de evangelização infantil rendera frutos naquele longo período, pois entre outros sinais, verificava-se que os meninos que frequentavam aquela casa espírita, incrustada em uma comunidade carente, repleto de tensões e pressões, não tinham bandeando para o caminho da criminalidade. 
Difícil avaliarmos os frutos dos trabalhos espíritas nas plagas assistenciais, com pessoas que se abeiram ali muitas vezes à busca apenas da cesta básica que será pega em outra denominação no dia seguinte... Difícil, pois temos carência de material didático voltado a pessoas de baixa escolaridade e de produção literária que nos ampare a lidar com famílias em condições de vulnerabilidade, às vezes refletidas em desagregações familiares com o alcoolismo e outros problemas comuns a comunidades carentes, em especial na cidade do Rio de Janeiro, e suas mazelas já conhecidas. 
Ainda que muito frequente na prática, os trabalhos assistenciais não gozam de uma discussão robusta e de produção que os permitam avançar sobre os paradigmas vigentes, com raras e valorosas colaborações que surgem por aí... Essa falta de discussão, por vezes, nos leva ao desânimo e à valorização do “bem quantitativo”, refletido na soma de benefícios distribuídos, de forma descontextualizada, social e espiritualmente. 
A evangelização infantil, comum em trabalhos de natureza assistencial, necessita de uma discussão profunda sobre currículo, pressupostos, abordagens e visões pedagógicas que percebam ali, em sala de aula, Espíritos, em verdade imersos em um ambiente de carência material, mas Espíritos sequiosos de conhecimento que os console, liberte e ampare. 
Nesse contexto, temos, sim, objetivos programáticos de melhoria a um longuíssimo prazo daquele grupo humano, ainda que nos vejamos, ocasionalmente, frustrados pelas forças presentes na capacidade de perpetuação de hábitos tristes, como a gravidez precoce, constantes a cada geração, em um ciclo de difícil rompimento. Mas a feliz fala desse amigo dirigente nos aponta para interessantes indicadores de nossos trabalhos espíritas no campo da infância, na percepção da importância de plantarmos as sementes do homem de bem, em qualquer espaço, seja ele carente ou não no campo material. E o homem de bem se fará percebido no futuro! 
Jesus na parábola do semeador fala que um homem saiu a semear, a espalhar sementes por diversos terrenos, que, diante das diversidades, buscavam crescer. Todas falharam, mas a que “caiu em boa terra, deu boa colheita, a cem, sessenta e trinta por um”, indicando-nos uma profunda reflexão que pode nos servir ao direcionamento das finalidades de nossos trabalhos assistenciais. Uma reflexão do nosso papel de semeadores e do crescimento no ato de semear. 
Amparamos aquelas famílias materialmente pela bolsa, pelo material escolar, pelas roupas... Buscamos instrumentalizá-las a caminhar sozinhas pelas oficinas, que possam com dignidade permitir a elas ganhar algum dinheirinho... Apoiamos as suas iniciativas no campo escolar, pretendendo que a nova geração transcenda a miséria material da anterior. As abordagens assistenciais clássicas aqui estampadas cuidam do emergencial, da impossibilidade de se falar de Jesus para quem tem fome, mas necessitam de um complemento, de um pão mais sublime, que emancipe espiritualmente aquelas pessoas, na reflexão de sua condição de Espíritos encarnados, na chamada resignação produtiva, que converte dor em amor. 
Insta desenvolver, com igual força, as nossas atividades doutrinárias nos trabalhos assistenciais, a evangelização, a palestra, o estudo, que para além de um caráter proselitista e catequizador, visem, por meio dessa interação, diria “filosófica", trabalhar valores morais, pela ótica da imortalidade da alma e da reencarnação, levando aos chamados, erroneamente a meu ver de assistidos, uma reflexão que os permitam adotar disposições renovadas, diante das provas da carência material e dos desafios morais da vida encarnada. 
A atividade de discussão, de interação intelectual-moral na área assistencial, tem um caráter emancipador, que liberta aqueles Espíritos de armadilhas morais, indicando o caminho do estudo, do trabalho e do esforço na superação de suas dificuldades e apontando que a dor é uma mola para despertar o nosso amor. E nessa construção, nós, ditos trabalhadores, amadurecemos, pois a falação bonita e vazia não encontra eco diante dessas dores, nos fazendo amadurecer na vivência do Cristo. 
A parte boa do trabalho atinge a todos os atores, como oportunidade bendita de amadurecimento e reflexão, representando muito mais do que ir lá ensinar o evangelho para as pessoas pobres. O pão material que dá o peixe, a oficina que dá a vara e ensina a pescar são polos fundamentais da equação da assistência... Entretanto, a discussão doutrinária, o fortalecimento filosófico, lastreado pelos pilares da doutrina espírita, traz a reflexão que faz a pessoa entender o peixe, a vara, o rio e os seus braços, convertendo todos em pescadores de almas, como disse Jesus. Não queremos fazer daquelas pessoas espíritas no sentido de que elas leiam avidamente as obras básicas e tenham um conhecimento formal. Necessitamos de uma abordagem pedagógica que mostre esse conhecimento espírita na prática, no mundo concreto, sentido, como forma de espalhar as sementes em cada coração, tornando-os sim, eles e nós, pessoas melhores, fim maior. 
Essa abordagem robustece a bolsa e a oficina, contribuindo para um caráter consolador, diante da dor, é verdade, mas também de superação, fazendo que a pessoa venha à busca do alimento e saia com a sua alma revigorada, com novos horizontes. Para isso, precisamos nos adaptar... Nossas palestras, nossos estudos, nossos currículos, para que vejam nesse contexto a melhor forma de passar o Espiritismo e todo seu valor transformador de atitudes, em sua expressão mais simples, nesses trabalhos, em especial na infância. 
A reencarnação liberta, pois mostra a nossa situação como transitória e que pode mudar pelo esforço cotidiano, na busca de construir o homem de bem naquele espírito imortal que hoje enverga uma roupagem de carência. O livre-arbítrio, a prática de bem são valores espíritas que possibilitam construir uma vida melhor, em um sentido amplo. Tesouros morais que podem e devem colaborar na superação de situações de carência material, fortalecendo aqueles Espíritos na sua prova, buscando a senda do bem. 
Fica a reflexão para os que trabalham na seara espírita na evangelização de crianças que padecem de miséria material e que por esta são influenciadas, sim, no aspecto moral, podendo essa dor servir de trampolim que as impulsione ou de buraco que as afunde. Para além do peixe que mata a fome, demandamos ouvir o convite de Jesus no chamado milagre dos peixes, para falar de pães e peixes que se multiplicam e aplacam a fome do espírito. 

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil) 

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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Grandes lutas e um refrigério


“Na época atual da Terra, quando crises morais agitam a sociedade, tentando a extinção do respeito a Deus e, portanto, a extinção do sentimento mais elevado que poderá enaltecer o coração humano, será bom que o espírita zele por suas crianças, preparando possibilidades futuras para a sua salvaguarda moral-espiritual. (...) 
 Concedendo permissão para que livros educativos do coração e do caráter sejam ditados do Além aos médiuns, visando à orientação à criança, Jesus, certamente, inspira-nos o raciocínio de que as verdades celestes deverão se acatadas seriamente pelo pequenino de hoje, a fim de que o adulto que ele será amanhã compreenda a responsabilidade que o aprendizado da Doutrina Espírita e do Evangelho cristão encerra. (...) 
Os Espíritos celestes, prepostos do Senhor para futuras realizações no planeta, contam com a criança de hoje, cidadão futuro, reencarnado com tarefas definidas na comunidade espírita. Que, pois, nós outros, responsáveis pelas crianças, cuidemos delas com inteligência e vigilância para que nós mesmos não caíamos no demérito de haver negligenciado a seu respeito, dando-lhes o ensino sublime da verdade por entre as inconsequências das nossas próprias incorreções e ideias pessoais.” 
O texto acima, em transcrição parcial, está datado de 03 de outubro de 1967, foi psicografado por Yvonne do Amaral Pereira e está assinado pelo Espírito Adolfo Bezerra de Menezes. Consta do livro As Três Revelações, lançamento da FEB Editora, e está como Introdução da citada obra. 
A conhecida médium (1900 – 1984), de reconhecido conteúdo doutrinário – onde se inclui, além do conhecimento, a fidelidade aos princípios da Doutrina Espírita –, tendo deixado importante legado de contribuição doutrinária para a vivência espírita, tinha ainda livros inéditos a serem lançados e esse no qual buscamos o trecho acima, é um dos lançamentos recentes da FEB. 
Apresentado na forma de um diálogo entre o avô e três netos, mas recheado de ensinos e esclarecimentos, a obra é muito rica em orientações, incluindo primorosa seleção de trechos da Codificação e mesmo das anotações do evangelistas. 
Com a transcrição parcial da Introdução, quisemos motivar o leitor e mesmo o movimento espírita – entre os pais e educadores que atuam nas instituições – ao conhecimento da obra, de reconhecida didática facilitadora na transmissão dos ensinos vivos do Espiritismo aos nossos pequenos. 
O nome Yvonne do Amaral Pereira já é, por si só, uma referência de valor expressivo e o conteúdo da obra falará por si. É um autêntico refrigério nesses momentos de grandes lutas e crise moral em que se debate a humanidade.
Nosso maior compromisso atual é, pois, com a educação. De nós mesmos, especialmente, para que sejamos autênticos transmissores das virtudes cristãs às crianças, futuros cidadãos do planeta, capazes sim de alterar o panorama difícil de corrupção e violência – oriundo, sem dúvida, de uma falha na educação nos adultos atuais. O carinho, a atenção e os cuidados com a educação são os elementos vitais para adultos equilibrados amanhã.

Orson Peter Carrara
orsonpeter92@gmail.com
http://orsonpetercarrara.blogspot.com.br/2015/05/grandes-lutas-e-um-refrigerio.html 

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segunda-feira, 11 de maio de 2015

“A melhor coisa que não me aconteceu.”


Não. O articulista não está passando mal. A frase do título acima não é de minha autoria. Segundo consta, ela foi dita por Clive Owen quando não conseguiu o papel para representar no cinema o famoso James Bond. Por ter perdido a representação desse herói famoso por seus “milagres” nos filmes, acabou conquistando coisas melhores.
Com você já se passou o mesmo? Ou seja, você não conseguiu realizar determinado sonho e, tempos depois, concluiu que foi melhor que tivesse sido dessa maneira? Por exemplo, não conseguimos realizar uma viagem planejada e acalentada por muito tempo. Entristecemos-nos no momento do acontecimento. Mas, depois, com o rolar do calendário dos homens paramos e dizemos a frase: “Foi até melhor não ter viajado mesmo!”. Ou, então, um carro ou um imóvel que não adquirimos. Na ocasião nos sentimos frustrados, tristes mesmos. Mas, depois, um dia lá na frente concluímos que não ter entrado na posse desse ou daquele bem material foi até melhor. É difícil aceitarmos esse raciocínio, não é verdade? Mas que acontece, acontece. E se é difícil aceitar tais acontecimentos em relação aos bens materiais, quando se trata dos valores espirituais é um “Deus nos acuda”! No livro Encontros e Desencontros, de Richard Simonetti, tem uma história intitulada O Bem Maior, que relata o drama de uma senhora que demorou muito para engravidar. Após os devidos cuidados, finalmente teve sucesso na realização do seu sonho! Iria ser mãe. Agradeceu profundamente aos Espíritos amigos pela intercessão na solução do seu problema de esterilidade. Quando a gravidez ia pelo quinto mês de gestação, ela recebe um recado através de uma pessoa do Centro Espírita que frequentava: a espiritualidade amiga iria visitá-la em uma determinada noite para o devido trabalho de assistência que a gravidez necessitava. Ela ficou imensamente feliz! Tinha certeza de que os Espíritos continuavam zelando para que ela realizasse o desejo imenso de ser mãe. Em uma determinada noite acordou com muita cólica no baixo ventre. A bolsa amniótica que protegia o feto havia se rompido e ela entrara em trabalho de parto prematuro. Ficou extremamente infeliz e, como sempre acontece, interrogou mentalmente os Espíritos que precisam ter ombros largos para receber a culpa dos problemas que nos afligem: “Afinal - pensava ela -, os amigos espirituais não iriam visitá-la em uma determinada noite para auxiliá-la?” “Pois, então! - continuava protestando intimamente – “como podia ter a bolsa se rompido e colocado em risco a vida do filho que era o seu sonho maior? Que espécie de ajuda vieram os Espíritos prestar, afinal de contas?”. Ao chegar ao hospital recebeu os socorros necessários e o parto acabou realmente se concretizando. Perdera o filho que tanto desejava. Entretanto, o médico, após o exame do produto daquela gestação precocemente expulso do útero, deu-lhe a notícia de que o filho já estava morto há muitos dias dentro do seu ventre e necessitava dali ser retirado. Pôde ela entender (o que já é uma vitória!) que os Espíritos tinham vindo intervir favoravelmente em uma situação irremediável. 
Tenho a mais absoluta certeza de que, ao retornarmos ao mundo dos Espíritos, olhando para trás, principalmente contemplando a última reencarnação à semelhança de alguém que alcançou o pico de um monte e olha para o vale, teremos que agradecer a Providência Divina pelas coisas que julgávamos melhores e que jamais nos aconteceram. Por exemplo, milhares de criaturas ou até mesmo milhões delas, adentram as casas de loteria em geral com o sonho dourado de ser um feliz ganhador. Você duvida que algumas delas, ou muitas, suplicam a ajuda dos desencarnados para adivinhar qual o bilhete que vai ser premiado ou quais os números que irão anunciar um novo milionário? Já pensou no que faríamos com a tentação de milhões ganhos de maneira tão fácil? Quantas portas para o desequilíbrio que esse dinheiro poderia abrir dependendo, é claro, da opção particular de cada um? Na questão de número 1001 de O Livro Dos Espíritos, encontramos a seguinte afirmativa em um determinado trecho da resposta: Deus, submetendo-o à prova da fortuna, tão difícil e tão perigosa para o seu futuro, quis lhe dar por compensação a felicidade da generosidade da qual ele pode gozar desde este mundo. Aí está de maneira bastante clara que o dinheiro é uma prova difícil e perigosa. Então, a melhor coisa que pode ocorrer para a imensa maioria dos que buscam a fortuna através desse tipo de jogos é exatamente não acontecer de ganharem. Perdem os bens materiais, mas não se comprometem moralmente como poderia ocorrer com o dinheiro farto nas mãos. 
Da mesma maneira poderíamos ir construindo raciocínio semelhante com os títulos de importância do mundo, com a beleza física, com a grande cultura da pessoa, com a posição social importante e tudo o mais que a imaginação de cada um pode considerar. Com os ensinamentos da Doutrina Espírita temos a oportunidade, desde já, de chegar à conclusão de que a Providência Divina agiu em nosso favor quando a melhor coisa que não nos aconteceu foi exatamente aquela que não se deu segundo a nossa vontade, mas de acordo com a determinação Dele. Aliás, não é isso que um número imenso de pessoas repete todos os dias na oração do Pai Nosso, sem se dar conta?

Ricardo Orestes Forni
Tupã, SP (Brasil)

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sábado, 2 de maio de 2015

A recompensa pelo esforço


“Quem desejar a bênção divina, trabalhe para merecê-la. O aprendiz ausente da aula não pode reclamar benefícios decorrentes da lição.” (Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, item 100, psicografia de Francisco C. Xavier.)

Acostumado a privilégios e a favorecimentos na Terra, quase sempre sem merecimentos, segue o homem pela vida acreditando que pode também negociar com Deus, dentro da lei do menor esforço, ou ainda, escorado na ideia de levar vantagem em tudo. Sem declinar reflexões para com as coisas nobres, sublimes e realmente belas, ilusoriamente pensa que o mundo lhe dará o que anseia, gratuitamente.
Deseja ardentemente as benesses dos “céus”, sem movimentar qualquer esforço pessoal no sentido de dar a sua cota de participação saudável, no contexto social em que vive. Busca encontrar benefícios para si e, quando muito, para os seus familiares e amigos, sem ideia de universalidade, não vendo irmãos além dos afetos que acalenta.
Cultuando o egoísmo, carrega consigo a vontade forte de ser feliz, desconhecendo que a felicidade somente será possível, em nosso âmago, quando a plantarmos no coração do próximo. 
E, quando percebe que seus sonhos e metas não são atingidos, pois que em oportunidades variadas busca pelo impossível ou pelo irrealizável, desespera-se, caindo em profundas prostrações que se incumbem de aniquilar-lhe os melhores propósitos, propiciando o aparecimento de processos depressivos ou de inatividade, geradores de incomensuráveis quadros de sofrimentos. 
Informa-nos a sabedoria do Espírito Emmanuel que se pretendemos ter a justiça divina do nosso lado, que lutemos por merecê-la, e isso, obviamente, não chegará sem que saiamos a procurá-la, uma vez que foi Jesus quem noticiou: “ajuda-te e o céu te ajudará”. 
Dessa forma, importante será que vislumbremos em nossa intimidade, buscando conhecer os recursos que temos, e dentro da lição divina dos “talentos”, conforme ensina a parábola do Cristo, tenhamos pressa em encontrar quais talentos possuímos e, não perdendo tempo, saiamos a multiplicá-los em favor do próximo, pois quem trabalha em favor do irmão do caminho, na verdade atua em prol de si mesmo, isso porque é “dando que se recebe”. 
Assim se dermos amor, logo encontraremos quem nos decline tais sentimentos, se distribuirmos caridade, não muito longe alguém estará tendo piedade pelas aflições que passamos e nos ajudará também, se oferecermos gentilezas e fraternidade, em breve a afabilidade dos outros estará nos beneficiando com a solidariedade e ternura, se ministrarmos a educação por onde passarmos, os bons tratos e as boas maneiras nos servirão por mãos amigas. Então, não resta dúvida, se desejamos a justiça divina, se pretendemos estar de posse da tranquilidade, da paz e da felicidade, primeiramente temos que implantá-las nos corações alheios. 
E, pela mesma lei, receberemos de volta também todo o mal que aos outros fizermos ou mesmo a indiferença, pois pela lei de causa e efeito, a vida nos retornará tudo aquilo que endereçarmos aos nossos irmãos, no contexto social que em vivemos. 
As sábias leis de Deus não apresentam segredos ou mistérios, tudo caminha dentro do princípio da compensação; o que fizermos no mundo, na mesma proporção receberemos do mundo.

Waldenir Aparecido Cuin
Votuporanga, SP (Brasil)

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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Aprendendo com o vento


Era um tormento que se repetia a cada dia na hora de fazer os deveres de casa: era as continhas, a leitura de um livro, as tabuadas.
Carla detestava tudo isso e era sempre com má vontade que se sentava à mesa para fazer as tarefas.

A mãezinha procurava orientá-la:

— Carla, minha filha, tudo o que fazemos de boa vontade nos pesa menos. Aproveite a ocasião para aprender e aceite o que deve ser feito, com disposição e bom ânimo.

Mas ela respondia mal-humorada:

— Não gosto de fazer tabuadas, nem continhas. Nada. Detesto estudar.
— Mas é preciso, minha filha. Há coisas das quais não podemos fugir, e quanto mais cedo as aceitarmos, melhor.

No entanto, a dificuldade persistia. Certa ocasião, Carla estava muito irritada porque teria que ler um livro de história, como dever escolar daquele dia.

Com o livro nas mãos, a menina chorou, esperneou, e não conseguiu ler. 
A mãe, que a observava de longe e viu que naquelas condições a filha não conseguiria fazer a tarefa, disse:

— Está bem, Carla. Se não quer fazer a tarefa agora, vá fazer outra coisa. Depois você termina de ler o livro. Vá varrer o quintal para mim.

— Que bom, mamãe! Ufa! Que coisa mais desagradável é ter que ler história. Prefiro varrer o quintal.

Em seguida, toda satisfeita, Carla pegou uma vassoura e foi para o quintal que se encontrava cheio de folhas secas. 
Estava ventando muito naquele dia e a alegria de Carla logo terminou. Por mais que ela se esforçasse, não conseguia terminar o serviço. O vento esparramava as folhas novamente. Tentou, tentou, e não conseguiu.

Afinal, muito descontente, entrou em casa reclamando:

— Que droga! O vento não me deixa limpar o quintal! Desisto.

Sua mãe, mais experiente, ponderou:
 
— É só uma questão de saber lidar com os problemas, filha. Temos que aceitar os obstáculos que a vida nos impõe e aprender a superá-los com boa vontade e disposição. Quer ver? Venha, vou lhe mostrar.               
Levou a menina até o quintal e mostrou-lhe que, já que não poderia vencer o vento, deveria usá-lo em seu benefício.

— Como? – perguntou a garota, surpresa.

— É simples. Em vez de varrer contra o vento, varra a favor do vento – explicou a mãe.

E assim Carla fez. Logo ela percebeu que a tarefa tornou-se fácil, agradável e rapidamente foi concluída. Juntando as folhas num canto, a menina recolheu-as com uma pá apropriada. 
Dando por terminado o serviço, a menina limpou as mãos, exclamando satisfeita:

— Puxa! Mamãe, nem acredito! Como foi fácil. Você é um gênio!

A mãe sorriu contente, completando:

— Nem tanto, minha filha. Apenas sou uma pessoa mais experiente e que já aprendeu que não adianta irmos contra os problemas da vida. Temos que enfrentá-los com coragem e determinação. Fugir das situações difíceis não nos ajudará a resolvê-las. Se tivermos boa vontade, resolveremos qualquer problema em nossa vida.

Fez uma pausa e concluiu:

— Grande parte das vezes, as coisas não são tão ruins quanto nos parecem. Depende muito da nossa maneira de enxergá-las.

Carla lembrou-se da tarefa que não tinha conseguido realizar e achou que sua mãe tinha razão. Com um pouco de boa vontade ela conseguiria. 
Calada, pegou novamente o livro de história e sentou-se para ler. Aos poucos foi se interessando pelo assunto e, não demorou muito, já tinha terminado.

Fechou o livro e foi correndo contar para a mãe:

— Terminei de ler o livro, mamãe. Sabe que não foi tão difícil assim? Ao contrário, a história era até bem interessante! Você tinha razão, com má vontade nada conseguiremos realizar.

A mãe abraçou a filha, feliz, agradecendo a Deus por ver que ela havia aprendido a lição. 

Célia Xavier Camargo
http://www.oconsolador.com.br/ano8/395/espiritismoparacriancas.html

sábado, 25 de abril de 2015

O amor é uma decisão


Motivo de conversas de botequim, passando por músicas, poesias e reflexões dos grandes filósofos, o tema “Amor” sempre esteve em pauta desde que o mundo é mundo. 
E o tema, claro, não passou despercebido pelo codificador do Espiritismo, Allan Kardec, que fez várias referências ao amor. Entretanto, destaco esta que considero esclarecedora e consta na questão de 938 de O livro dos Espíritos:

Vejamos o que Kardec comenta:

“A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta”.

Belíssimo comentário. Temos, todos, a necessidade de amar e de ser amados. Uma via de mão dupla. A felicidade que gozamos está no dar e receber e não apenas no receber. 
Entretanto, todos querem, na maioria das vezes, receber o amor. Afinal, quem não quer ser amado? Seja amor de pai, mãe, irmãos, amigos, todos almejam ser amados. Por isso, nestas breves linhas abro uma brecha e pretendo convidá-los a refletir:

Queremos tanto ser amados, mas... será que amamos na mesma proporção em que somos amados? 
Eu amo! Dirão muitos. 
No entanto, será que amamos realmente?

Costumo indagar à plateia nas palestras: O que você faria se o amor de sua vida lhe dissesse “Descobri que o meu caminho não é mais com você. Peço, pois, licença para despedir-me e seguir minha vida de outra forma”? 
Será que diríamos: Se é esta sua decisão, embora triste eu a respeito e torcerei pela sua felicidade! Ou será que diríamos: Ingrato (a)! Depois de tantos anos me abandona. Ah, pagará caro! 
Será que o nosso amor é tão grande a ponto de respeitar a decisão do outro? 
Fácil? Claro que não, até porque poucos de nós têm o desprendimento necessário para amar desta forma. 
Outro dia em conversa com um amigo, ele me disse: O amor é uma decisão! E arrematou: O amor é o mais nobre dos sentimentos e quando eu decido amar alguém tenho que estar ciente de que esta pessoa poderá não me amar da forma como eu a amo. 
Confesso que de início não concordei. Sempre achei que não escolhemos amar, que o amor entra sem pedir licença. 
E fiquei a refletir por alguns dias até chegar à conclusão de que o amigo, um filósofo, estava certo: O amor é mesmo uma decisão! Eu escolho amar, respeitar, compreender. Descobri, então, que quem entra sem pedir licença é a paixão, avassaladora como sempre, mas o amor não. 
E amar equivale a, sobretudo, respeitar as decisões do outro, mesmo que estas nos excluam. O que fazer diante do ente que nos deixa? O que fazer em face do amor que se vai? Quem ama respeita o direito de escolha do outro, sempre. 
Eis porque amar nos faz exercitar o que temos de mais belo em nosso ser que são as virtudes de respeitar, compreender, renunciar, abdicar e tantas outras mais. 
Se é bom ser amado, se é nosso objetivo sermos amados, tenhamos a certeza de que amar é ainda melhor. 
Amar é uma decisão, uma sábia decisão e, como seres pensantes, podemos decidir amar a qualquer momento. Eis um exercício diário e constante para nosso aperfeiçoamento como seres humanos. 
O amor, ah!, o amor é sempre uma decisão – diria meu amigo filósofo!

Wellington Balbo

Bauru, SP (Brasil)

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terça-feira, 21 de abril de 2015

A magia da atitude


Diante do guichê do Departamento de Trânsito, a Professora Universitária, a frente de volumosa fila, chama pelo gerente aos berros, indagando-o se sabe o preposto ser ela uma famosa pesquisadora, com muitos livros escritos, e que não pode perder ali seu precioso tempo. 
Na delegacia, diante de um acidente com vítima não fatais, militar de alta patente clama por tratamento diferenciado frente a suas prerrogativas, no famoso “fiz por merecer”, em relação ao entregador de pizza envolvido na contenda. 
Alto funcionário público, diante do posto de devoluções de um supermercado, invoca o gerente no famoso “você sabe com quem está falando?” e a discussão por pouco não termina em uma voz de prisão. 
Abonado empresário, saindo de luxuoso shopping center, tromba em funcionário do estabelecimento e em fúria desmedida, ameaça buscar a supervisão para pedir a sua demissão, exalando sobre o funcionário impropérios. 
Exemplos fictícios, muitas vezes ocultos, mas que se materializam com diversos atores nas páginas de jornais e nos comentários de corredor. Revelam uma cultura de hierarquias, de privilégios, de exceções e de tantas outras práticas que esquecem a transitoriedade da vida, em uma verdade que a reencarnação vem trazer a nós espíritas, de forma límpida e inconteste. 
Invocamos exceções e submissões por conta de cargos e posses, movidos por sentimentos de insegurança e de orgulho, que nos fazem temer pela injustiça e pensar-nos com mais direitos que os outros, respectivamente, em uma lógica de grosserias, desrespeitos e opressão, esquecidas as muitas voltas na roda gigante da vida. O medo, nosso velho inimigo, nos faz reagir agressivamente…O orgulho, nosso companheiro de todas as horas, nos traz um sentimento de superioridade, a alimentar nossa insegurança. Aí está a raiz dessas atitudes. 
Seres interdependentes, gregários, sociais, dependemos de nosso próximo. E mais, pela ótica cristã, temos o dever de amá-lo como a nós mesmos. Para além de uma discussão democrática, de cidadania, falamos de uma discussão de amor, de cristandade, na percepção, humilde e realista, da nossa vida social, seus inúmeros percalços e de que devemos contribuir para uma vida com urbanidade e não atribular a existência dos que nos cercam. 
E isso vale para toda ordem de destaque e evidência, considerando, obviamente, que no movimento espírita não estamos livres dessas questões, diante do médium, do palestrante e do dirigente, transladando essa cultura patrimonialista, de personalismo, para a nossa prática religiosa, com hierarquias e endeusamentos. 
Os diversos papeis que desempenhamos na vida terrena são provas, experiências de aprendizado, nos quais importam as nossas entregas, e a maneira que fazemo-las. Não valemos pelo que somos…Somos o que nós fazemos, e como fazemos, e nos importa o que isso reverte para um mundo melhor, e consequentemente, um espírito melhor. Lembrando de Kardec, não nos basta sermos bons e sim, fazer o bem! 
André Luiz, na Obra Sinal Verde, falando das profissões, indica que “O essencial em seu êxito não é tanto aquilo que você distribui e sim a maneira pela qual você se decide a servir”, apontando a importância do que fazemos e do como isso se dá. Essa é a medida de Deus sobre nós…. 
Da mesma forma, o Livro dos Espíritos, na Pergunta 804, no estudo da Lei de Igualdade, aponta que “(…) O que um não faz, fá-lo outro. Assim é que cada qual tem seu papel útil a desempenhar(…)”, valorizando essa interdependência, na qual cada um tem a sua devida importância e merece respeito, na vida comum. 
A despeito de todo sacrifício, justo e merecido, para galgarmos uma posição profissional, a doutrina espírita nos lembra que ali estamos para produzir o melhor, com as ferramentas que aquela posição nos oferta e que, aquela oportunidade de hoje contou com a colaboração de inúmeras pessoas, encarnadas e desencarnadas. 
Faz-se necessário refletirmos essa nossa prática de alimentarmos modernas realezas individuais, entendendo que os cargos, as posses, as hierarquias, todos esses aspectos são ferramentas a viabilizar nossas entregas, no privilégio de ser útil, de servir ao próximo, fortalecendo a nossa melhoria como espíritos, na dinâmica da vida terrena, como espaço de aprendizado. Finda essa reencarnação, retornamos ao pó comum, como corpo, e a pátria espiritual, como espírito, carregando na nossa bagagem espiritual a grandeza de nossas atitudes.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Residindo atualmente na cidade do Rio de Janeiro, espírita desde 1990, atua no movimento espírita na evangelização infantil, sendo também expositor. Vinculado a Casa Espírita Amazonas Hércules (www.ceah.org.br). É colaborador assíduo do jornal Correio Espírita (RJ) e da revista eletrônica O Consolador (Paraná). É autor do livro Alegria de Servir (2001), publicado pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e do Livro "Você sabe quem viu Jesus nascer" (2013), editado pela Editora Virtual O Consolador.



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