segunda-feira, 30 de junho de 2014

Seiva essencial

“Se vós estiverdes em mim e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.” – Jesus (João, 15:17.)

O homem vulgar passa grande parte da sua existência queixando-se ou sentindo-se em lugar impróprio às suas aspirações ou aptidões, e pensando, mesmo, que suas atividades não são importantes. Entretanto, mister se faz que nos lembremos de que as leis de Deus colocam cada um de nós nas condições em que melhor podemos produzir e aprender para não incorrermos nos mesmos antigos enganos. Em verdade, estamos sendo protegidos de nós mesmos. 

Desejando maiores responsabilidades – de preferência as que nos exponham à admiração pública - e imaginando que as criaturas colocadas nessas posições usufruem mando especial ante a Providência Divina, não nos damos conta de que cada criatura traz, ao nascer, uma tarefa particular e intransferível, que a coloca no lugar certo, na família ideal e no melhor trabalho para o seu progresso evolutivo. Não importa se sob as luzes da ribalta ou no mais obscuro lar, a tarefa de cada um de nós é de suprema importância na execução do plano universal de Deus. “A folha de papel que te sai das mãos pode ser aquela em que se grafarão palavras destinadas ao consolo de toda a comunidade, e o menino que te obriga a pesadas noites de insônia pode trazer consigo o trabalho de auxílio providencial a um povo inteiro.”¹  
Assim, também, o nosso trabalho junto à Natureza, através da plantação, da limpeza, da proteção a ela, pode transformar-se em manancial de alimentos a sustentar o planeta, porque todos os bens materiais que o Pai entregou ao homem, para seu progresso, podem, em suas mãos, transformar-se em instrumentos de benefício ou destruição, pois tudo e todos produzem alguma coisa. 
Emmanuel ilustra, de maneira bem interessante, essa colocação ao afirmar que pedras produzem asperezas; espinhos, dilacerações; e lama, sujidade. Como podemos ver, a Natureza produz sempre. O problema está na maneira como o homem se utiliza desses recursos. Se produzimos para o bem, esses recursos transformam-se em instrumentos valiosos; entretanto, cada criatura produzirá em conformidade com os agentes que a inspiram. Por exemplo: o delinquente produz o desequilíbrio; o preguiçoso produz a miséria e o pessimista produz o desânimo. Desse modo, onde estivermos, estaremos produzindo de acordo com as influências a que nos afeiçoamos, e servindo de exemplo àqueles que estejam sintonizados a nós.² 
Seguindo essa linha de pensamento, cabe perguntar: Como produzir frutos de paz e aperfeiçoamento, regeneração e progresso, luz e misericórdia? A resposta vem sem muito esforço: Seguindo os passos de Jesus, se nos dizemos Seus seguidores. Como produzir alguma coisa sem a seiva essencial? A resposta vem do próprio Jesus: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir frutos de si mesmo, se não permanecer na videira, assim nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim”.³  
Jesus está conosco em todas as posições da vida. Nossa obra, hoje, é o serviço que Deus nos deu para realizar. Façamos tão bem, quanto esteja em nossas possibilidades, a obra parcial confiada a nós, porque a maior parte é trabalho do Criador.

Bibliografia: 
1 – XAVIER, F. C. - Palavras de Vida Eterna – ditado pelo Espírito Emmanuel, 20. ed., CEC – UBERABA/MG - 1995, lição 82.
2 - Idem, lição 103.
3 – JOÃO, 15:4.
4 – XAVIER, F. C. - Fonte Viva – ditado pelo Espírito Emmanuel, 31ª. ed., Federação Espírita Brasileira, RIO DE JANEIRO/RJ – 2005, lição 146. 

Leda Maria Flaborea
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)  

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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Ação e Reação nos cinemas


No dia 3 de julho, quinta-feira, estreia nos cinemas o filme Causa e Efeito. O tema é pertinente aos diversos desafios atuais enfrentados pela sociedade humana, exatamente no que diz respeito às ações e reações ou consequências de atitudes, posturas e desdobramentos, nem sempre saudáveis, que se refletem no tempo.
Afinal, a pergunta que sempre fica: há um destino traçado? Como encarar os extremos que todos vivemos na área do intelecto, da moralidade, do equilíbrio ou desequilíbrio emocional e psicológico e mesmo da diversidade social tão gritante que emoldura a vida humana?
E os acidentes, as tragédias, as doenças terminais, as deficiências físicas e mentais, as limitações e carências que caracterizam a vida humana? De onde as causas de tantas diferenças? E a diversidade dos desdobramentos de cada atitude, fato ou circunstância?
O tema é empolgante e lembra uma realidade patente: há uma causa que se desdobra num efeito imediato ou remoto, com desdobramentos infinitos no tempo. E por outro lado há igualmente várias causas que se desdobram num único ou vários efeitos, envolvendo uma vida única ou entrelaçando outras vidas. Como entender a complexa questão?
A temática faz pensar, provoca reflexões de abundância e levanta questões que sempre estão presentes nos debates e perguntas que se multiplicam conforme avança a sociedade humana com seus complexos e desafiadores degraus da história humana.
E mais interessante porque cada caso é um caso. Não há dois idênticos e muitos deles se entrelaçam ou em muitos outros casos em nenhum ponto se encontram.
É a lei de causa e efeito. Agora todo o manancial teórico da velha questão foi transformado em filme, numa síntese para provocar reflexão expressiva naqueles que assistirem a produção. E não se pense que os efeitos ou desdobramentos são sempre desagradáveis ou desastrosos. Em absoluto. Muitas vezes os efeitos são saudáveis, construtivos ou de extraordinário benefícios individuais ou coletivos, a depender, é claro, da causa ou causas iniciais que motivaram o efeito no tempo. Claro! Afinal, o cuidado, a prudência, as boas ações e iniciativas com responsabilidade e bondade só podem mesmo gerar efeitos que trazem felicidade. No mesmo sentido, alcança-se o lado oposto. Negligência, vícios, perversidade, descuidos e leviandades só podem gerar más consequências.
Para motivar o leitor, apresento a sinopse: O policial Paulo levava uma vida bastante tranquila com sua família, sendo casado e tendo um filho. No entanto, em um determinado dia, sua família é atropelada por um motorista bêbado. O culpado pelo crime não foi preso, e Paulo decide fazer justiça com suas próprias mãos, acabando com todos aqueles que a quem considera criminosos. Eis que Paulo é contratado para assassinar uma jovem, porém, ele não consegue concluir a missão e resolve fugir com sua “vítima” para tentar protegê-la. Paulo se apaixona por ela e ambos decidem reajustar suas vidas. E aí procuram ajuda, o que traz o desdobramento da produção cinematográfica.
Não deixe de ver. E se possível peça a exibição do filme em sua cidade ou em Shopping próximo. Afinal, com os desafios pessoais e sociais intensos da atualidade, o filme traz um bom momento para pensar sobre as razões e finalidade de viver e construir o próprio equilíbrio.



Orson Peter Carrara

sábado, 21 de junho de 2014

Aos fiéis a Allan Kardec


Sendo todo Espírito um livre-pensador, como designou Allan Kardec, é natural que existam diferentes vertentes de pensamento e entendimento dos seus ensinos, que cintilam em torno do que trouxeram os Espíritos responsáveis pela Codificação da Doutrina Espírita.
Encontramos, porém, alguns que, mesmo considerando-se espíritas, insistem equivocadamente em caminhar professando Espiritismo longe das bases em que ele foi edificado.
Quando aprendemos Espiritismo, cultivando as bases da racionalidade e do bom senso, geralmente somos impulsionados a nos colocar como opositores a todas as manifestações contrárias ou doutrinariamente distorcidas.
Aprendemos com Léon Denis, em sua magistral obra “No Invisível”, que “Saber é o supremo bem, e todos os males provêm da ignorância”. Assim, devemos respeitar essas diferenças e apenas aguardar que o amadurecimento natural das ideias, promovido pelo despertar da consciência, ocorra.
Combater esses conceitos equivocados causa mais ajuda para que eles prossigam, do que ignorá-los, pois combater é uma maneira de divulgar.
Para que um livro alcance grandes cifras de vendagem, basta correr o livre boato de que: “É bom não ler...”, que rapidamente todos se sentem impelidos a comprá-lo num impulso destituído de razão.
Diante dos que professam Espiritismo sem comprometimento, nos detenhamos a prosseguir com Kardec.
Aos que escrevem oferecendo informações que não podem ser defendidas pelo bom senso, divulguemos Kardec.
Em resposta às divulgações que multiplicam falsas novidades, iluminar com Kardec.
Claro que devemos oferecer esclarecimento aos que buscam orientação correta, porém, os divulgadores descomprometidos não querem respostas, mas sim, divulgar suas certezas fundadas na ficção do pouco estudo.
Verdadeiramente comprometidos com Kardec, são aqueles que não dispõem de tempo para atacar ou combater o que é frágil e será consumido inevitavelmente pela Lei do Progresso.
As trevas nunca consumiram as trevas, mas o poder luminoso das ideias edificantes se soma e absorve, ao invés de eliminar, a escuridão da ignorância.
Desavisados, muitas vezes, servimos aos interesses que desejamos combater e gastamos vitalidade e tempo na direção contrária aos objetivos esclarecedores.
Divulgar o mal é servi-lo, e trabalhar para o esclarecimento é acender a luz da solidez espírita, comprometidos com aquele que foi instrumento para trazê-la ao mundo e respeitar com silêncio os que caminham sem esse entendimento.

Roosevelt Andophato Tiago
www.roosevelt.net.br
Barra Bonita, SP (Brasil) 

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sábado, 14 de junho de 2014

Um minuto com Chico Xavier


Solicitado a narrar a irmãos de fala castelhana um dos inúmeros fatos mediúnicos que o sensibilizaram no correr das suas quatro décadas de tarefas ininterruptas de mediunidade com Jesus, Chico Xavier disse o seguinte:
– Das experiências de nossa tarefa mediúnica, citaremos uma delas, para nós, inesquecível. Nos arredores de Pedro Leopoldo, há anos passados, certa viúva viu o corpo de um filho assassinado, quando chegava repentinamente à casa. Desde então, chorava sem consolo.
O irmão homicida fugira, logo após o delito, e a sofredora senhora ignorava até mesmo porque o rapaz perdera tão desastradamente a vida. Agravando-se-lhe os padecimentos morais, uma nossa amiga, já desencarnada, D. Joaninha Gomes, convidou-nos a ir em sua companhia partilhar um ligeiro culto do Evangelho com a viúva enlutada.
A desditosa mãe acolheu-nos com bondade e, logo após, em círculo de cinco pessoas, entregamo-nos à oração.
Aberto em seguida "O Evangelho segundo o Espiritismo", ao acaso, caiu-nos sob os olhos o item 14 do capítulo X, intitulado "Perdão das Ofensas".
Ia, de minha parte, começar a leitura, quando alguém bateu à porta. Pausamos na atividade espiritual, enquanto a dona da casa foi atender. Tratava-se de um viajante maltrapilho, positivamente, um mendigo, alegando fome e cansaço. Pedia um prato de alimento e um cobertor.
A viúva fê-lo entrar com gentileza, a pedir-lhe alguns momentos de espera. O homem acomodou-se num banco e iniciamos a leitura. Imediatamente depois disso, comentamos a lição de modo geral. Um dos assistentes perguntou à dona da casa se ela havia desculpado o infeliz que lhe havia morto o filho querido, cujo nome passou, na conversação, a ser, por várias vezes, pronunciado.
A viúva asseverou que o Evangelho, pelo menos, lhe determinava perdoar. Foi então que o recém-chegado e desconhecido exclamou para a nossa anfitriã:
– Pois a senhora é mãe do morto?
E, trêmulo, acrescentou que ele mesmo era o assassino, passando a chorar e a pedir de joelhos.
A viúva, igualmente, em pranto, avançou maternalmente para ele e falou:
– Não me peça perdão, meu filho, que eu também sou uma pobre pecadora.. Roguemos a Deus para que nos perdoe!...
Em seguida, trouxe-lhe um prato bem feito e o agasalho de que o desconhecido necessitava. Ele, entretanto, transformado, saiu do Culto do Evangelho conosco e foi-se entregar à Justiça.
No dia imediato, Joaninha Gomes e eu voltamos ao lar da generosa senhora e ela nos contou, edificada, que durante a noite sonhara com o filho a dizer-lhe que ele mesmo, a vítima, trouxera o ofensor ao seu regaço de Mãe, para que ela o auxiliasse com bondade e socorro, entendimento e perdão.


José Antônio Vieira de Paula
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, Paraná (Brasil) 

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sábado, 7 de junho de 2014

Tempestades em família


Um antigo ditado diz que quando um não quer dois não brigam. Se é fácil entender o significado desse conselho, seu exercício na prática já não se mostra do mesmo modo. Temos observado explosões de cólera desfechadas por um ou ambos os cônjuges, a partir de situações verdadeiramente irrelevantes. Comprovamos, igualmente, a presença de entes invisíveis atiçando o fogo a manifestar-se em labaredas formidáveis, de difícil extinção. Indagamos, então: onde a felicidade conjugal?
Deparamos, noutro dia, com um aconselhamento tão simples quanto embasado em experiência de quem originou: “Se você for solteiro e deseja casar para ser feliz, não case, permaneça solteiro; se você for solteiro e pensa em casar parafazer alguém feliz, então case e você será feliz”.
Fácil deduzir, a partir dessa premissa, a importância da renúncia na obtenção da felicidade por parte de qualquer um, quando coloca o outro no centro de suas cogitações e não poupa esforços em proporcionar-lhe pequenas e constantes satisfações. Nesse clima, difícil a intromissão de seres indesejáveis.
Para o espírita, vale considerar outra questão: é na família que travamos as maiores batalhas: lá encontramos amigos e inimigos do passado, que ressurgem com simpatias e antipatias, proporcionando-nos paz ou desassossego, ensejando estes últimos a ativação de nosso potencial de amor e compreensão, tolerância e perdão, estreitando laços que serão outras tantas asas a nos elevar no espaço imensurável da própria alma.
Sabemos da dificuldade de alguém se revestir da blindagem necessária contra quem tem o hábito mórbido de remoer coisas desagradáveis do passado ou tocar com estilete algum ponto que machuca. O resultado é quase sempre a devolução virulenta à provocação. Costuma-se dizer que não se apaga fogo com gasolina. Quem fere, quem provoca, quem inicia uma discussão deve ser levado à conta de necessitado de paciência e tolerância. O silêncio, em tais casos, é antídoto comprovadamente eficaz.
Presenciou, certa vez, um médium vidente, duas sombras que se punham junto a cada cônjuge, estimulando a contenda. Lembrava jogo de pingue-pongue, onde as ofensas deslizavam céleres de parte a parte, para alegria de um cortejo de outras sombras, que exultavam pelo desfecho que esperavam.
O “orai e vigiai” ainda é a recomendação atualizada de nosso Mestre Jesus. A prece emite ondas de paz a espraiar-se no lar, partindo de quem mantém sintonia com as forças do Bem. 

Everaldo Ferraro
everaldoferraro@gmail.com
Niterói, RJ (Brasil) 

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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Graça, mérito e outros assuntos afetos ao Amor Divino


Por conta da conclusão do ensino médio de pessoa próxima, compareci a um culto ecumênico, no qual, na fala de diversos segmentos religiosos representados, destacou-se uma que tratou da temática da graça, como caminho de salvação e de redenção da criatura humana, a despeito de sua conduta ou dos conceitos mais elementares de justiça.
Defendeu o companheiro, em um discurso conhecido de outras plenárias e atores, a visão de uma salvação que viria pela fé, independente das suas obras. Fé em um conceito difuso, que mistura um sentimento íntimo e de superação com uma crença específica em determinada entidade, no caso Jesus. Uma dita salvação dos filhos de Deus que nega aspectos geográficos e históricos, distribuindo bênçãos de forma segregadora e não universalizante.
De Lutero às indulgências da Idade Média, essas ideias e discussões são antigas, imbricadas nos velhos jogos entre a religião e o poder formal. Surgem às vezes travestidas com roupagens do novo, perambulando por aí, nos discursos, nas ideias sedutoras de sermos salvos por uma opção momentânea, ignorando a grandeza do que pensamos ser uma vida eterna. Causa-nos espanto, mas são posturas concretas e que se materializam em situações tragicômicas do bom ser tomado pelo mau, na desconsideração da sentença cristã que se reconhece a árvore pelos frutos.
Instigante discussão esta, que pode aplacar consciências ao justificar os atos mais reprováveis, dissociando, de forma lamentável, a ação, a intenção do Espírito encarnado e o seu destino futuro, subordinando essa vinculação a crenças determinadas, ao humor divino, em um movimento que fortalece os sectarismos, as lutas e as politicagens que pululam na história das religiões.
Dependeríamos, nessa ótica, da graça, como um bem imerecido, um dom gratuito que Deus concede à humanidade, motivado pela sua misericórdia, em situações que, apesar de parecerem sem lógica, são regidas por regras implícitas, como a fé ou a adoção de determinados ritos, que fariam esse Deus sorrir para nós.
Aí, surge o “pulo do gato” de Kardec e dos Espíritos da codificação. A proposta espírita é diferente! É uma proposta que conjuga a ideia de mérito e a de misericórdia. Alia justiça com amor...
Mérito na Lei de Ação e Reação, na necessidade de reparação do ato que prejudica o próximo pelo próprio autor, na colheita livre, mas que tem a semeadura obrigatória, na Lei de “causa e efeito”, na qual erramos e aprendemos. Segundo Emmanuel, “Jesus a ninguém prometeu direitos sem deveres(1)”. Ideias estampadas nas próprias obras espíritas, nos romances e narrativas do plano espiritual, e que elevam a ideia de justiça a outro patamar. 
O mérito é pedagógico, permite ao Espírito aprender e crescer, com erros e acertos, tornando factível o conceito da vida eterna. Não importa nesse sentido o punir e sim o crescimento, a luta, na justa interrogação de “O Livro dos Espíritos”: “Onde estaria o merecimento sem a luta?(2)”.
Entretanto, Deus é amor e assim também é a sua Lei... O que seria de nós sem a misericórdia divina? É necessário compreender a fragilidade da criatura humana, e a sua luta para superar seus desafios diariamente. A obra evangélica transmite essa compaixão em várias passagens, nas quais Jesus mostrou que conhece bem a natureza do Espírito encarnado, suas fraquezas e possibilidades.
A palavra misericórdia vem da fusão das palavras miserere (ter compaixão), e cordis (coração), ou seja, um novo olhar da realidade com amor no coração. “A misericórdia é o complemento da mansuetude (...). Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas(3).” Amor com equilíbrio, pois o perdão das ofensas não implica em abandonar o conceito de justiça e a ideia de que o Espírito necessita aprender para crescer.
O psicólogo Erich Fromm tratou bem da questão dessas duas grandezas, quando se referiu ao equilíbrio entre o princípio paternal e maternal, representado o segundo pelo amor incondicional, sem recompensas, e o primeiro pelo amor em razão dos próprios méritos(4). Deus tem os dois princípios em harmonia. Ama seus filhos incondicionalmente, mas exige deles compromissos com o seu crescimento espiritual, na medida de suas capacidades. Esses princípios permeiam toda a evolução da humanidade!
A graça, por esse prisma, seria fruto de um Deus carente, sequioso de servidores para adorá-lo, como eram os deuses da antiguidade que inspiraram alguns desses paradigmas. Voltamos aos deuses antropomórficos! Essa visão teológica tornaria valores, como respeito ao próximo, trabalho e justiça, sem sentido. O mundo seria um paraíso da inação, com todos à espera dessa graça, como ocorreu concretamente na Idade Média, em espetáculos de hipocrisia e de miséria moral.
 Não se trata só de uma questão de justiça, de punir, e sim uma questão de pedagogia, de evolução, de crescimento e aprimoramento, como necessidades intrínsecas do Espírito. Que graça teria sermos criados apenas para acolher um caminho que muitos não têm acesso, para sermos salvos de um pecado que não cometemos, por circunstâncias ao bel-prazer da divindade?
Assim, no paradigma espírita, para todos é possível crescer, nas diversas roupagens reencarnatórias, e esvaziam-se instrumentos de poder e caminhos exclusivistas, pois a justiça e o mérito se fazem para cada um, mas têm como fiel da sua balança o amor, a misericórdia divina que, com seus múltiplos acréscimos, nos conduz diante das provas duras da existência, para a cada dia recomeçar.
O Espiritismo, como se propõe a ser uma doutrina libertadora, de amadurecimento e evolução de Espíritos, nos aponta o crescimento espiritual pela construção de nosso caminho, com os outros, convivendo e vivendo, amando e sendo amado, errando e tentando acertar, mas sob o olhar de um Pai amoroso, que vela por nós, ajudado por outros Espíritos como nós.
 

[1] Caminho Espírita - Psicografia de Francisco Cândido Xavier. Espíritos Diversos.
[2] O Livro dos Espíritos, Pergunta 119.
[3] O Evangelho segundo o Espiritismo.
[4] A Arte de Amar. Erich Fromm. Editora Martins Fontes. 


Marcus Vinicius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

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sexta-feira, 23 de maio de 2014

As ressurreições são dos Espíritos e não dos Corpos


A crença tradicional da ressurreição do corpo ou da carne entusiasma as pessoas simples e de baixa escolaridade, mas enfraquece a das de melhor instrução.
É necessário que os líderes religiosos valorizem mais os seus rebanhos de fiéis, pois eles não são rebanhos de quadrúpedes! Enganam-se esses líderes religiosos, às vezes, não muito sinceros, pois o povo, hoje, está cada vez mais sabedor das coisas. Daí que muitas igrejas ou templos estão bem vazios e com saídas constantes de fiéis buscando outras “verdades” em outras igrejas.
Muitos cristãos creem pouco nas suas doutrinas, que ficam fracas para manterem-nos no caminho do bem. É o que acontece no Brasil, a maior nação católica do mundo, mas que é um país de muita corrupção política, com muitos roubos e assassinatos. É mesmo um país sem lei! Falta aqui o verdadeiro cristianismo, que está nos evangelhos e não nas doutrinas, às vezes, fantasiosas, criadas pelos teólogos antigos e sustentadas pelos que vieram depois deles e até pelos de hoje. É triste dizer isso, mas o digo justamente porque é verdade!  
A ressurreição do próprio corpo físico dá um impacto muito grande, no sentido de que é um fato miraculoso ou sobrenatural. E isso é um prato cheio para a confirmação da existência do milagre, que tradicionalmente é tido como sendo causado pela interferência direta de Deus, o que não é bem verdade. E as próprias igrejas cristãs definem o milagre como sendo um fato para o qual a Ciência não tem explicação. Então, se pensarmos bem, o milagre é fruto da ignorância, pois só existe enquanto não haja uma explicação para ele. Acontece que a Ciência, cada vez mais avançada, vai explicando as causas desses fenômenos tidos como miraculosos. E nisso, a Ciência Espírita é pioneira, pois ela é uma religião científica. Assim, por exemplo, o fenômeno tido como milagroso e chamado pela Igreja de bilocação (presença de um indivíduo em dois locais diferentes ao mesmo tempo), hoje, é explicado pela Parapsicologia e pela Doutrina Espírita como sendo causado pelo dom espiritual ou mediúnico da pessoa, que pode ser até ateia. E seu novo nome dado por Kardec e a Parapsicologia é desdobramento.  E assim, um fato que, por superstição, no passado era tido como sobrenatural, na verdade é um fato natural.
Do que acabamos de ver, podemos até concluir que os ateus não creem em milagres, mas creem nos fenômenos mediúnicos. Que reviravolta! 
Existe uma doutrina de que Jesus ressuscitou ou subiu aos céus pelo seu próprio poder e que, com isso, Ele é também Deus. Duas inverdades juntas, pois vejamos o que ensina o apóstolo Paulo: “Deus ressuscitou ao Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu poder.” (1 Coríntios 6: 14).“Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual.” (1 Coríntios 15: 44). “Carne e sangue não podem herdar o reino dos céus.” (1 Coríntios 15: 50). Por acaso os santos da Igreja e os espíritos angélicos puros dos espíritas vão ter corpos lá no mundo espiritual?
Realmente, as ressurreições, inclusive a de Jesus, são dos espíritos e não dos corpos. Aliás, no mundo espiritual não há lugar para a matéria densa do nosso mundo físico, caso contrário, ele não seria espiritual!

José Reis Chaves
Escritor, prof. de português pela PUC-Minas, jornalista, biblista,  teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo na Bíblia,  radialista, palestrante no Brasil e exterior, estudou para padre  Redentorista.
Tel/Fax  (31) 3373-6870. 

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br - Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

Na TV Mundo Maior, também pelo www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos. Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br E, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, pela Ed. Chico Xavier. www.editorachicoxavier.com.br (31) 3636-7147 - 0800-283-7147, com tradução deste colunista.
Recomendo “O Despertar da Consciência – do Átomo ao Anjo”, de Sebastião Camargo. www.sebastiaocamargo.com.br, www.odespertardaconsciencia.com.br e www.editorachicoxavier.com.br

Seicho-No-Ie, “Seminário da Luz”, em 8-6-2014. Orientadora: Preletora da Sede Internacional, Marie Murakami. Local: Chevrolet Hall, Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, das 10h00 às 16h30. Contato: (31) 3411-7411.
    
Notícias do Movimento Espírita: : http://ismaelgobbo.blogspot.com.

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domingo, 18 de maio de 2014

Culpa e perdão a si mesmo


Entrevistei a psicóloga clínica Cláudia Gelernter, de Vinhedo-SP, sobre a severidade do remorso, uma das causas das angústias humanas. A entrevista, na íntegra, ainda está inédita, mas seleciono trechos de duas das respostas:  

7 - Que caso marcante gostaria de transmitir aos leitores?

Certa vez, uma avó me procurou, sofrendo a perda de sua netinha, que desencarnou na piscina de sua casa, então com dois anos de idade. O caso já era grave por si só, mas ainda mais complexo porque foi ela quem esqueceu o portão da grade de proteção da área da piscina aberto. Como aliviar aquela dor? Palavras raramente fazem algum sentido nestes casos, então foi preciso permitir que a dor viesse com toda a sua intensidade a fim de aliviar o represamento da angustia daquela pobre senhora. Depois, sentindo-se amparada, acolhida, pôde falar sobre o seu remorso, sobre a vontade de se auto punir, pelo erro cometido. Já não conseguia mais dormir, não queria se alimentar e pensava em suicídio, constantemente. Fizemos diversos testes de realidade, a fim de demonstrarmos, em conjunto, que o ato não fora intencional, mas que aconteceu por esquecimento. Outro teste servia para resgatarmos a questão de sua vontade, pois autopunir-se não traria a neta de volta ao convívio familiar. Depois de alguns meses, já melhor em seus sintomas, surgiu um presente que jamais esquecerei. Uma daquelas dádivas que Deus nos permite experimentar, a fim de mostrar sua Misericórdia infinita para conosco. Ela conseguiu receber uma mensagem psicografada em Uberaba, com 47 páginas, na qual a menina contava que ela não tivera culpa alguma neste caso, pois estava previsto o desencarne e que a neta nada sentira ao cair na água, pois sua alma “saltou” para o colo de Maria Dolores, enquanto que o corpo se jogara na piscina, já sem vida. Recordo-me que a carta continha dados confiáveis, que só ela e poucos parentes conheciam, como, por exemplo, o nome de uma tia que desencarnou muitos anos antes e que estava ajudando a cuidar dela, no Mundo Espiritual. Surgiu, então, uma nova vida para aquela senhora, com um novo sol a brilhar, mais forte e iluminado ainda: estava provado para ela tanto a questão da imortalidade da alma como a possibilidade de um reencontro, no tempo certo.

8 - Como podemos ajudar alguém em gradativo processo de autopunição por remorsos ou sentimento de culpa?

Escutando a dor do nosso próximo, amorosamente, sem julgamentos nem distrações. Doando nosso tempo, nossa alma, nossas preces em seu favor. E, acima de tudo, demonstrando que estar no mundo engloba erros e acertos, dores e alegrias, tropeços e reerguimentos. Se desejamos mudar o que fizemos, é imperioso saber que não o conseguiremos pelas vias do remorso, mas através do amor que passarmos a irradiar no mundo.
Agora, nem sempre as pessoas possuem as ferramentas necessárias para darem conta desta difícil demanda. Recordemos que muitos pais encucam em seus filhos o remorso como estratégia [equivocada] de educação. Entendamos as diferenças entre todos e sigamos apoiando os que sofrem, em qualquer situação, inclusive aqueles que se encontram presos nas difíceis redes da autopunição. (...).

Orson Peter Carrara 

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sábado, 17 de maio de 2014

Acalma-te - Mensagem de Emmanuel psicografada por Chico Xavier


quinta-feira, 8 de maio de 2014

O remédio imprevisto


O pequeno príncipe Julião andava doente e abatido. Não brincava, não estudava, não comia. Perdera o gosto de colher os pêssegos saborosos do pomar. Esquecera a peteca e o cavalo. Vivia tristonho e calado no quarto, esparramado numa espreguiçadeira.
Enquanto a mãezinha, aflita, se desvelava junto dele, o rei experimentava muitos médicos.
Os facultativos, porém, chegavam e saíam, sem resultados satisfatórios. O menino sentia grande mal-estar. Quando se lhe aliviava a dor de cabeça, vinha-lhe a dor nos braços. Quando os braços melhoravam, as pernas se punham a doer.
O soberano, preocupado, fez convite público aos cientistas do País. Recompensaria nababescamente a quem lhe curasse o filho.
Depois de muitos médicos famosos ensaiarem, embalde, apareceu um velhinho humilde que propôs ao monarca diferente medicação. Não exigia pagamento. Reclamava tão somente plena autoridade sobre o doentinho. Julião deveria fazer o que lhe fosse determinado.
O pai aceitou as condições e, no dia imediato, o menino foi entregue ao ancião.
O sábio anônimo conduziu-o a pequeno trato de terra e recomendou-lhe arrancasse a erva daninha que ameaçava um tomateiro.
— Não posso! estou doente! — gritou o menino.
O velhinho, contudo, convenceu-o, sem impaciência, de que o esforço era viável e, em minutos breves, ambos libertavam as plantas da erva invasora.
Veio o Sol, passou o vento; as nuvens, no alto, rondavam a terra, como a reparar onde estava o campo mais necessitado de chuva...
Um pouco antes do meio-dia, Julião disse ao velho que sentia fome, O sábio humilde sorriu, contente, enxugou-lhe o suor copioso e levou-o a almoçar.
O jovem devorou a sopa e as frutas, gostosamente. Após ligeiro descanso, voltaram a trabalhar.
No dia seguinte, o ancião levou o príncipe a servir na construção de pequena parede. Julião aprendeu a manejar os instrumentos menores de um pedreiro e alimentou-se ainda melhor.
Finda a primeira semana, o orientador traçou-lhe novo programa. Levantava-se de manhã para o banho frio, obrigava-se a cavar a terra com uma enxada, almoçava e repousava. Logo após, antes do entardecer, tomava livros e cadernos para estudar e, à noitinha, terminada a última refeição, brincava e passeava, em companhia de outros jovens da mesma idade.
Transcorridos dois meses, Julião era restituído à autoridade paternal, rosado, robusto e feliz. Ardia, agora, em desejos de ser útil, ansioso por fazer algo de bom. Descobrira, enfim, que o serviço para o bem é a mais rica fonte de saúde.
O rei, muito satisfeito, tentou recompensar o velhinho. Todavia, o ancião esquivou-se, acrescentando:
— Grande soberano, o maior salário de um homem reside na execução da Vontade de Deus, através do trabalho digno. Ensina a glória do serviço aos teus filhos e tutelados e o teu reino será abençoado, forte e feliz.
Dito isto, desapareceu na multidão e ninguém mais o viu.

Do cap. 38 do livro Alvorada Cristã, obra de Neio Lúcio, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Matéria extraída da Revista Espírita: O Consolador

Imagem da capa do livro

domingo, 4 de maio de 2014

A árvore generosa


Ontem, em nossa oficina de educação para a vida e para a morte, com o tema A Criança diante da Morte, com Franklin Santana Santos e eu, no Espaço Pampédia, houve uma discussão fecunda sobre um livro famoso e belo: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein (Editora Cosac Naify). Bons livros infantis são assim: têm múltiplos alcances, significados, atingem de 8 a 80 anos, porque falam de coisas essenciais e profundas. Houve intensa discordância quanto à mensagem dessa história, sobre a qual já queria escrever há muito.
Para situar o leitor que não leu (mas recomendo ler), repasso aqui a sinopse do livro:
“’A árvore generosa’ traz o clássico de 1964 que conta a história do amor entre uma árvore e um menino. A árvore é a amiga amorosa que dá tudo ao menino, suas folhas, seus frutos, sua sombra. O menino também ama a árvore, a grande companheira de todos os dias; sobe em seu tronco, se pendura nos galhos, brinca de esconde-esconde. Até que vai crescendo, se torna adolescente, depois adulto. E, pouco a pouco, deixa a amiga de lado. ‘Estou grande demais para brincar’, diz o menino, que então precisa de dinheiro para comprar ‘muitas coisas’. A árvore fornece suas maçãs, para o jovem vender. Depois seus galhos, para o homem construir sua casa. E a história acompanha o passar do tempo até a velhice do homem – que até o fim, já bem velho e cansado, é chamado de menino pela árvore.”
A história retrata uma relação de amor que, de início, quando o personagem é menino, é recíproca, mas depois, quando cresce, vai se tornando uma doação unilateral, pois a árvore dá, se dá, se doa, fica feliz de se oferecer e se sacrificar pelo seu menino, mas o menino, adulto, maduro, só tira, só recebe, sem lhe dar nada em troca. Mas sempre volta para sua árvore e lhe pede mais. Quando ela não tem mais nada para dar e se tornou apenas um toco e ele está velho e cansado, ainda ela lhe serve para ele se sentar e se confortar. E ela se sente sempre feliz em se doar para o seu menino.
O que ressalta à primeira vista na leitura é a oferta irrestrita da árvore (generosa) e o egoísmo depredatório e indiferente do menino, que cresceu, mas continua menino para sua árvore. Aliás, é sintomático que ele continue até o fim do livro, sendo chamado de menino, porque embora velho, ainda se comporta como um menino mimado, incapaz de assumir uma responsabilidade de amor com quem tanto lhe deu. Ela cuida e ele se descuida. Ela se oferece e ele vai embora. Ele volta e ela exulta, mas ele volta apenas para pedir mais. Ela quer vê-lo feliz e não mede sacrifícios para isso, ele se comporta de forma indiferente à dor que ela sente, ao vê-lo partir.
Claro que o comportamento do menino é revoltante, mas a atitude da árvore é divina. Uma atitude de amor pleno, de entrega total, de esquecimento de si, pelo ser que ama. Uma atitude aliás muito mal vista e mal compreendida no mundo atual, onde amor não pode incluir sacrifício e renúncia, mas apenas troca calculada e medida.
Existe, é verdade, um único tipo de amor que não comporta a entrega plena sem reciprocidade nenhuma: é o amor entre um casal. Nesse campo, é preciso haver um equilíbrio, embora possa um dos dois, que tiver maior maturidade espiritual, exercer uma doação maior. Mas se houver um descompasso muito grande, dá-se a anulação e a exploração, a desvalorização do outro. A reciprocidade do amor num casamento, numa relação a dois, é uma necessidade para a sua sobrevivência. Fora isso, o amor pode se libertar de qualquer espera de retorno, pode projetar a reciprocidade plena para a eternidade – o amor fraterno, o amor de amizade, o amor pedagógico e, sobretudo, o maior amor de todos, o materno (que não é exclusivo de uma mãe para com o filho, podemos experimentar o amor materno com qualquer outro ser humano), são amores que podem se soltar das amarras de cobrança e procurarem um status de divindade.
Não foi esse, por acaso, o amor de Jesus? Não é isso que propõe o cristianismo? Mais amar do que ser amado? Jesus, na cruz, dizendo: perdoai-lhes Pai, porque não sabem o que fazem não é igual à árvore entregando seus galhos para o menino egoísta? Qual o sentido desse amor? O amor que se sacrifica, que se devota, que se entrega plenamente é o amor que toca o outro, é o amor que fará um dia o menino crescer e amadurecer, sentir o quanto foi amado e aprender também a se devotar assim.
Essa árvore, ao contrário do que alguns podem pensar, não era masoquista, sobretudo porque a árvore ficava feliz em amar e se doar. Ela era sábia e sabia que seu menino ainda era mesmo um menino e teria muito o que aprender. Mas para ensiná-lo, não se nega, não recua, não repreende, não põe limites ao seu amor. Simplesmente exemplifica o que é de fato amar. Só se aprende o que é o amor pleno, recebendo esse amor de alguém. Por isso, as leis divinas fizeram as mães (embora muitas delas ainda não desenvolveram esse amor completo, e algumas até o renegam, mas ele está imanente até mesmo nos animais, porque é emanação de Deus): sem a entrega total de alguém que nos cuide e vele por nós nos primeiros anos de vida, não sobreviveríamos… Essa necessidade absoluta com que viemos ao mundo revela um momento na vida (poderá haver outros, em crises, doença, velhice e morte) em que precisamos exatamente de uma árvore generosa, que não meça sacrifícios por nós.
Mas o mundo contemporâneo tem grande dificuldade de entender e aceitar isso. Muitos, ao lerem essa história, se revoltam mais com a árvore, considerada tola, mole, masoquista, do que com o menino, egoísta e indiferente – vale dizer, imaturo. Porque nem mais as mães querem hoje ser árvores generosas! Estamos num mundo que despreza a entrega de si mesmo e prega que todos devemos exercitar o “pensar primeiro em si”. Ou seja, todo mundo tem é que se comportar como o menino. Mas se não houvesse árvores generosas, pessoas que se entregam ao próximo, que se sacrificam pelo bem e amam incondicionalmente, o mundo estaria ainda mais ressecado e vazio do que está.
Podemos ainda dizer que a árvore mais generosa do universo é Deus – amor infinito, irrestrito, pleno, o amor que cobre a multidão de pecados. Quando passarmos a entender e sentir mais Deus como amor pleno e não como um juiz punitivo, justiceiro, melhor compreenderemos e vivenciaremos esse amor divino em nós. Quem se comporta como a árvore generosa está aprendendo a ser mais perto de Deus. E os meninos mimados e egoístas crescerão. E só o amor das árvores generosas poderá curá-los e educá-los.

Dora Incontri

quinta-feira, 1 de maio de 2014

História educativa.


Um jovem foi se candidatar a um alto cargo em uma grande empresa . Passou na entrevista inicial e estava indo ao encontro do diretor para a entrevista final. O diretor viu seu CV, era excelente. E perguntou-lhe: 
- Você recebeu alguma bolsa na escola? - o jovem respondeu - Não.
- Foi o seu pai que pagou pela sua educação?
- Sim - respondeu ele.
- Onde é que seu pai trabalha?
- Meu pai faz trabalhos de serralheria.
O diretor pediu ao jovem para mostrar suas mãos.
O jovem mostrou um par de mãos suaves e perfeitas.
- Você já ajudou seu pai no seu trabalho?
- Nunca, meus pais sempre quiseram que eu estudasse e lesse mais livros. Além disso, ele pode fazer essas tarefas melhor do que eu.
O Diretor lhe disse:
- Eu tenho um pedido: quando você for para casa hoje, vá e lave as mãos de seu pai. E venha me ver amanhã de manhã.
O jovem sentiu que a sua chance de conseguir o trabalho era alta!
Quando voltou para casa, ele pediu a seu pai para deixá-lo lavar suas mãos.
Seu pai se sentiu estranho, feliz, mas com uma mistura de sentimentos e mostrou as mãos para o filho. O rapaz lavou as mãos de seu pai lentamente. Foi a primeira vez que ele percebeu que as mãos de seu pai estavam enrugadas e tinham muitas cicatrizes. Algumas contusões eram tão dolorosas que sua pele se arrepiou quando ele a tocou.
Esta foi a primeira vez que o rapaz se deu conta do significado deste par de mãos trabalhando todos os dias para pagar seus estudos. As contusões nas mãos eram o preço que seu pai teve que pagar por sua educação, suas atividades escolares e seu futuro.
Depois de limpar as mãos de seu pai, o jovem ficou em silêncio organizando e limpando a oficina do pai. Naquela noite, pai e filho conversaram por um longo tempo.
Na manhã seguinte, o jovem foi encontra-se com o Diretor.
O diretor percebeu as lágrimas nos olhos do moço quando ele perguntou:
- Você pode me dizer o que você fez e aprendeu ontem em sua casa?
O rapaz respondeu: 
- Lavei as mãos de meu pai e também terminei de limpar e organizar sua oficina. Agora eu sei o que é valorizar, reconhecer. Sem meus pais, eu não seria quem eu sou hoje... Por ajudar o meu pai agora eu percebo o quão difícil e duro é para conseguir fazer algo sozinho. Aprendi a apreciar a importância e o valor de ajudar a família.
O diretor disse: 
- Isso é o que eu procuro no meu pessoal. Quero contratar uma pessoa que possa apreciar a ajuda dos outros, uma pessoa que conhece os sofrimentos dos outros para fazer as coisas, e que não coloca o dinheiro como seu único objetivo na vida. Você está contratado.
Uma criança que tenha sido protegida e habitualmente dado a ela o que quer, desenvolve uma mentalidade de "Tenho direito" e sempre se coloca em primeiro lugar. Ignora os esforços de seus pais.
Se somos esse tipo de pais protetores, estamos realmente demonstrando amor ou estamos destruindo nossos filhos?
Você pode dar ao seu filho uma casa grande, boa comida, educação de ponta, uma televisão de tela grande... Mas quando você está lavando o chão ou pintando uma parede, por favor, o faça experimentar isso também . Depois de comer, que lave os pratos com seus irmãos e irmãs. Não é porque você não tem dinheiro para contratar alguém que faça isso; é porque você quer amar do jeito certo. Não importa o quão rico você é, você quer entender. Um dia, você vai ter cabelos brancos como a mãe ou o pai deste jovem.
O mais importante é que a criança aprenda a apreciar o esforço e ter a experiência da dificuldade, aprendendo a capacidade de trabalhar com os outros para fazer as coisas.

(Tradução da postagem de Adri Gehlen Korb)

Fonte: Mensagem Espírita

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terça-feira, 29 de abril de 2014

Na distinção entre Alma e Espírito o discurso teológico está sem crédito


Alma e espírito são coisas diferentes? 
Os teólogos do cristianismo tradicional não gostam desse assunto.
“Ruah” (em hebraico) e “pneuma” (em grego koiné, popular) significam sopro ou espírito. E “nefesh” (em hebraico) e “psiché” (em grego) significam alma. Sopro tem também a ideia de espírito ou alma, porque o espírito é que dá a vida, o que lembra o Gênesis 2: 7: Deus criou o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas um sopro de vida, transformando-o num ser vivente. E lembra também Jesus (João 6: 63): A carne para nada aproveita, o que importa é o espírito que dá a vida.
Para os teólogos do cristianismo tradicional, haveria uma diferença entre “ruah” e pneuma: espíritos, e “nefesh” e “psiché”: almas. Mas eles não o explicam. É que eles têm medo de se envolverem com o espiritismo, pois o estudo dos espíritos leva inevitavelmente a ele, principalmente depois da esclarecedora Codificação Espírita de Kardec.
O latim registra “spiritus” e “ânima” tanto para o espírito como para a alma. “Anima” vem do verbo latino “animare” (animar). E os dicionários de outras línguas trazem também espírito e alma como sinônimos, inclusive em sânscrito: “atma”. E elas têm também a ideia de vapor e sopro, símbolos do espírito que deixa o corpo que morre. E “psiché” é também borboleta, que voa de flor em flor, simbolizando o espírito, de corpo em corpo, nas suas encarnações e desencarnações.
Em parte, os teólogos acertaram. Segundo eles, o espírito é a Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo, que, pela Bíblia, não pelo dogma trinitário, é uma espécie de coletivo de todos os espíritos humanos. Diz Paulo que nosso corpo é santuário dum Espírito Santo. (1 Coríntios 6:19). E o espírito Emmanuel, que tanta luz trouxe para uma melhor compreensão dos evangelhos, através do famoso médium Chico Xavier, ensina que o Espírito Santo é uma plêiade de espíritos iluminados, como os da Codificação Espírita de Kardec. E como todos nós, um dia, vamos ser também espíritos iluminados, angélicos, de algum modo, espiritamente falando, em germe, ou em forma de semente, ou em estado de potencialidade, já fazemos também parte do Espírito Santo.
E os demônios (“daimones”), que, pela Bíblia, são também todos os espíritos humanos bons, ou mais ou menos ou maus, por consequência, são igualmente o Espírito Santo.
Como vimos, para os teólogos cristãos tradicionais, espírito e alma são meio confusos. Ou seria o medo de dizer a verdade?  Mas o conceito geral de espírito e alma, inclusive dos dicionários de outras línguas, espírito e alma são a mesma coisa.
E o espiritismo, a religião que mais estuda espíritos, ensina o que recebeu e recebe dos próprios espíritos: A alma é o espírito encarnado, e o espírito é a alma desencarnada, ou seja, a mesma coisa.
O que os diferencia, pois, são apenas seus momentos diferentes de quando encarnados e de quando desencarnados! 

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br - Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

Na TV Mundo Maior, também pelo www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos. Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br E, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec, pela Ed. Chico  Xavier. www.editorachicoxavier.com.br (31) 3636-7147 - 0800-283-7147, com tradução deste colunista.
Recomendo “O Despertar da Consciência – do Átomo ao Anjo”, de Sebastião Camargo. www.sebastiaocamargo.com.br, www.odespertardaconsciencia.com.br e www.editorachicoxavier.com.br

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sábado, 19 de abril de 2014

Ponderações em torno da Fé


“O Espiritismo estabelece como princípio que, antes de crer, é preciso compreender.” – Allan Kardec[1] 

A FÉ DO PONTO DE VISTA KARDEQUIANO - Do ponto de vista kardequiano, a fé pode ser compreendida como a confiança que o ser humano tem em suas próprias forças para a realização de determinada coisa, superando os obstáculos das dificuldades, da má vontade e das resistências.
Com fé em seus objetivos nobres e no próprio potencial, o indivíduo faz-se capaz de mover “montanhas” como os “preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas”[2] que, ainda, procuram interpor-se ao progresso da humanidade.
A fé, segundo o estudo proposto pelo mestre Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, igualmente tem por significado a confiança que se tem na realização de algo, de tal modo que, pelo pensamento, se pode conceber antecipadamente a sua efetivação e os meios para tanto. Nesse caso, essa fé-confiança dá ao indivíduo tranquilidade na realização de seu tentame e favorece o êxito.
Todavia, Kardec não deixa de caracterizar a concepção de fé, à qual ele se refere como calma e geradora de paciência porque se apoia “na inteligência e na compreensão das coisas”[3], bem diferente do que ele chama de fé vacilante, aquela que se ressente de sua própria fragilidade e, motivada pelo interesse, torna-se violenta em uma tentativa irracional de suprir a força que lhe falta.  
FÉ E VIOLÊNCIA - Aliás, isso de alguma forma explica os fenômenos contemporâneos de terrorismo religioso onde, em nome de uma interpretação muito particular da doutrina do Islã, infelizes irmãos integrantes do Talibã se autorizam a explodir escolas no Paquistão[4]. Trata-se de manifesta declaração da insustentabilidade de suas convicções, mediante uma postura fundamentalista frente ao raciocínio e uma resposta obscurantista à liberdade de pensar, corolário do fim da escravidão humana de outros tempos.
Para Kardec, a fé não combina com a presunção e nem com a violência. A fé deve ser humilde porque, sendo raciocinada, compreende os seus limites e reconhece a sua fortaleza na vontade de Deus, “a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”[5]
A fé presunçosa denota orgulho, imperfeição humana que produz a cegueira intelectual e moral. O orgulhoso fecha-se em si mesmo e crê-se com mais luzes que os outros. Ele cerra os ouvidos ao diálogo e às opiniões contraditórias às suas crenças, desvalorizando a oportunidade de aprender com a leitura do outro sobre as suas convicções pessoais e, quem sabe, robustecer serenamente a própria fé. 
FÉ RACIOCINADA VERSUS FÉ CEGA - Do ponto de vista teológico, segundo Kardec, a fé costuma ser concebida como a crença em dogmas especiais que constituem, desse modo, as mais diferentes religiões no mundo.
Dessa perspectiva, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega consiste naquela em que o crente não se ocupa de verificar pela lógica o objeto de sua crença que, muitas vezes, choca-se com as evidências que os fatos lhe apresentam, tanto quanto colide frontalmente com o uso da razão.
A fé cega tende a produzir fanatismo, onde cada crente teria a pretensão de que a sua religião deteria todo o conteúdo das verdades espirituais da vida. O fanatismo, por sua vez, como erro de percepção do cosmo e das Divinas Leis, tende a degenerar em intolerância e violência, como no exemplo assinalado anteriormente.
Por outro lado, a fé raciocinada mantém a liberdade de pensar como premissa de sua efetividade, ela se fortalece no raciocínio sem preconceitos e no livre-exame proporcionado pela dúvida que investiga. Nesse sentido, a fé racional não teme o progresso intelectual da coletividade, muito pelo contrário, a sua capacidade de “encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”[6] é condição que a mantém inabalável, como ensinou o insigne codificador do Espiritismo.        
FÉ NÃO SE PRESCREVE - É de bom alvitre que recordemos que a fé não pode ser prescrita ou imposta a um indivíduo. No que tange aos valores espirituais básicos é uma aquisição pessoal amadurecida a cada reencarnação do Espírito, atualizada sob a influência de questões socioculturais, contudo, é uma questão de foro íntimo.
Por fim, entendamos que a fé, para ser raciocinada, demanda que o seu ponto de apoio se estabeleça na compreensão clara e prefeita daquilo em que se crê, ou seja, em um método de raciocínio que se sustente em um sentido lúcido e profundo para a crença, no exame rigoroso dos fatos inerentes aos princípios filosóficos da escola de fé abraçada, sem deixar margem a nenhum mistério ou superstição.
Em matéria de crença aceitemos somente o que é inteligível à razão e, caso alguém queira nos impor uma fé cega, lembremo-nos da recomendação do Mestre Jesus a dizer-nos em seu Evangelho “Deixai-os; são condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.”[7]


[1] Revista Espírita de Fevereiro de 1867, Livre pensamento e livre consciência.
[2]  O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 2.
[3] O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 3.
[5] O Livro dos Espíritos, questão 1.
[6] O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 7.
[7]Mateus, 15:14.

Vinícius Lima Lousada
É educador, pesquisador e editor do blog: www.saberesdoespirito.blogspot.com 
Bento Gonçalves-RS. 

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Para Deus tudo é vida!


Talvez tenha sido uma das frases mais importantes que eu já tenha ouvido, não só pelo ensino que ela traz,
mas, também, pelo momento em que foi proferida.
Havia adentrado as fileiras do Espiritismo fazia pouco mais de cinco anos. Nosso querido Hugo Gonçalves, diretor do jornal O IMORTAL, passou a confiar-me entrevistas com pessoas importantes para o movimento espírita: Heloísa Pires, Raul Teixeira, nosso saudoso Renê Pessa e outros.
Certa vez, vivendo um momento muito delicado de minha vida, onde a fé ainda acordava em meu espírito e quando me apresentava diante de uma situação em que o medo da morte assombrava meus pensamentos, fui convocado a entrevistar nosso respeitado expositor e médium baiano Divaldo Pereira Franco.
Divaldo, que já possuía uma extensa ficha de serviço para o Cristo e para o Consolador Prometido, estava acompanhado de uma comitiva de trabalhadores que sempre se reuniam a ele quando vinha aqui para o Paraná; eu, um iniciante no aprendizado do Espiritismo – isso há aproximadamente 25 anos – em uma situação muito assustadora: alguém muito próximo a mim estava entre a vida e a morte... E eu só pensava na morte. De tempos em tempos um gelo percorria meu corpo como se algo ruim fosse acontecer a qualquer momento.
Ansioso e ao mesmo tempo preocupado com a entrevista, voltei-me para o orador e disse-lhe que tinha algumas perguntas para lhe propor. Ele acenou com a cabeça, positivamente... Iniciei a entrevista, gravando naqueles gravadores de fitas cassetes antigas.
Enquanto Divaldo respondia as questões propostas, vez por outra um frio percorria meu corpo anunciando que a morte estava por perto, fazendo-me pensar naquele parente próximo.
Havia preparado sete perguntas. Quando estava na terceira, Divaldo subitamente parou de responder às questões e, tocando-me levemente o ombro, disse-me: “Meu caro amigo, para Deus tudo é vida. A morte não existe. Onde quer que estejamos, estaremos sempre vivos...”.
Senti como se uma brisa suave envolvesse meu espírito e me acalmasse. Aquela frase não só pacificaria meus tormentos naquele momento, mas pacifica-me até hoje. Onde quer que eu esteja falando sobre temas da vida e da morte sempre tenho procurado usar a frase: A vida depois da vida, e não mais a vida depois da morte.

Então, quando nos perguntamos por que Deus permite tantas tragédias em nosso mundo, tantas mortes, me recordo da frase de Divaldo, que bem representa a luz da verdade que nossa doutrina nos apresenta: “Para Deus tudo é vida”. Então, não existe morte, mas provas e expiações... Além disso, tudo é vida. 

José Antônio Vieira de Paula
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, PR (Brasil) 

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segunda-feira, 14 de abril de 2014

O grande entrave da neutralidade


Entrevistei o amigo Alessandro Viana Vieira de Paula, Juiz de Direito na cidade de Itapetininga-SP, a propósito de vários temas ligados às dificuldades sociais da atualidade. Como se trata de entrevista bem extensa, selecionei duas das respostas para trazer à apreciação dos leitores, face à importância das considerações daquele amigo. São as questões 5 e 6, que transcrevo:

5 - De sua experiência profissional, como encarar o sistema prisional brasileiro e os ditames da Lei de Progresso no estágio atual do país?

O sistema prisional brasileiro ainda é precário, porque onde há superlotação, sedentarismo dos apenados, descaso com a saúde, atrasos na concessão dos direitos dos presos e, para agravar, a existência do crime organizado, de forma que raramente se consegue recuperar o preso. Quando o preso termina sua pena ou obtém a liberdade ele ainda sofre o preconceito social, porque é muito difícil alguém acreditar nele e lhe dar uma nova oportunidade. Mas a transição planetária está a todo vapor, portanto, numa sociedade mais cristã essas questões tendem a mudar. Cabe ao cristão acreditar na recuperação do indivíduo, fazendo a sua parte, por exemplo, visitas religiosas nas unidades prisionais, ofertar emprego aos egressos, ajudar suas famílias etc.

6 - Como venceremos, como nação, esses imensos desafios sociais da atualidade?

Esses desafios sociais atingem, na atualidade, o ápice porque estamos vivendo esse momento importante de transição planetária. Como sabemos, os que praticam o mal um dia despertarão para o bem, mas, o grande entrave para o progresso, se dá com os neutros. São aqueles que não fazem o bem e nem o mal, ficam acomodados. A dor e sofrimento atingem índices alarmantes para tocar esses neutros, a fim de que tomem uma decisão e possam optar pela ação efetiva no bem. Dessa forma, para vencer temos que assumir as nossas responsabilidades de cristãos, procurando ser útil para o próximo e para a sociedade, colaborando ativamente na construção da sociedade do porvir.

A motivação de trazer referidas respostas aos leitores veio sobre a abordagem que se refere aos neutros. Neutros são os omissos, os que ficam “em cima do muro”, muitas vezes apenas para criticar. Não movem braços, nem ações, e se deleitam na crítica a quem está trabalhando e se esforçando para algo colaborar nesse incêndio social que vivemos.
A neutralidade é cômoda, não exige nada. É realmente o grande entrave do progresso porque a posição é apenas de quem observa, acomodado, o incêndio e as tragédias que se repetem diariamente – fruto da miséria que gera a violência, que por sua vez traz a tensão permanente que envolve a vida humana –, deleitando-se na crítica ou, pior, na indiferença, na omissão. Sem buscar fazer o que lhe é possível, por mínimo que seja.
A outra expressão constante de uma das respostas é a que se refere às nossas responsabilidades cristãs. Nós, os cristãos, os adeptos do Evangelho – sem importar a denominação que utilizemos ou sigamos – estamos nos distraindo nessa imensa responsabilidade de apoiar o esforço do Cristo na regeneração do mundo. Ainda nos mantemos no egoísmo, na vaidade, na disputa, na arrogância.
Não temos outra alternativa para alcançar a felicidade e paz que se busca no mundo: ou melhoramos a nós mesmos ou melhoramos a nós mesmos.
A paz social que se busca está no mútuo estender das mãos, está na solidariedade e nos esforços individuais de melhora moral. Aprimorando-nos moralmente, influenciaremos nossos filhos que, por sua vez, se tornam cidadãos íntegros que mudam o panorama social.
É o caso de nos auto observarmos sobre a nossa neutralidade ou comprometimento com o bem geral que deve gerir nossas ações. Ou, em outras, palavras para nos questionarmos individualmente: como está o cumprimento de nosso dever?

Orson Peter Carrara

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