terça-feira, 30 de setembro de 2014
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Um minuto com Chico Xavier
Por intermédio da psicografia de Divaldo Franco, o Espírito
do célebre escritor francês Vitor Hugo escreveu emocionante história contada
pelo próprio Chico, sobre a presença do iluminado Espírito de São Luiz Gonzaga.
Esse caso está registrado no livro “Árdua Ascensão” (Editora Leal).
Narra Chico, que ali recebe o pseudônimo de Armindo: “Quatro
meses depois da desencarnação de José Xavier (irmão de Chico), o nosso mentor
(Emmanuel) convidou-me a assistir, em parcial desdobramento pelo sono, a visita
que São Luiz Gonzaga faz à Terra, no dia 21 de junho, data que lhe é
carinhosamente reservada pelo calendário católico. Pois bem, José (que recebe o
pseudônimo de Julião) disse-me que deveria estar presente ao ato, porquanto,
desde a desencarnação, ainda permanecia com dor de cabeça, que o afligia de
certo modo, sequela do derrame cerebral que o vitimara. Quando eu recobrei a
lucidez, além do corpo físico, fui conduzido a uma região de incomparável
beleza, onde se reunia expressivo número de Entidades em indisfarçável
expectativa, aguardando a passagem do venerável Benfeitor. José ali se
encontrava também. Não houve tempo, no entanto, para qualquer conversação,
porque uma incomparável melodia coral invadiu o ambiente que irradiava
indefiníveis claridades.
“– É o Benfeitor que se aproxima – informou-me o Guia,
levando-nos, a mim e ao José, a tomar posição numa das aleias floridas... A
emoção agitava-me interiormente e, à medida que o grupo se acercava, podíamos
distinguir um verdadeiro séquito de Espíritos Felizes que repartiam
consolações. As vozes prosseguiam cantando. Ele deslizava tal a leveza dos seus
passos e a harmonia do porte. Quando ia passando por nós, sem poder conter as
lágrimas que me chegavam do coração aos olhos, vi-o, fixando-me docemente, com
inesquecível expressão de bondade na face iluminada. José tremia, ao meu lado,
e pensou na dor de cabeça que o afligia. Sem nenhuma palavra, o venerando
apóstolo da fé tomou de um lírio e deu-lho. Instintivamente, meu irmão levou-o
ao rosto e aspirou-lhe o perfume. A flor, porém, diluiu-se, absorvida naquele
hausto e a cabeça de José iluminou-se, desaparecendo a dor. Ao desejarmos dizer
algo, ele já se havia distanciado, repartindo bênçãos pelo caminho. Fui trazido
de volta e, desde então, o amigo permanece recuperado, feliz.”
José Antônio Vieira de Paula
Cambé, Paraná (Brasil)
Imagem ilustrativa
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
sábado, 20 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
O Cristianismo está dividido entre os dogmas e o evangelho
Com o assunto que
vamos tratar, não queremos desprestigiar, menos ainda ofender, nenhuma religião, pois sigo o espiritismo que respeita todas as crenças, não condenando
nenhuma. Mas relembro aqui que, frequentemente, muitas pessoas, por serem
orgulhosas e fanáticas com sua religião, elas se revoltam ao ouvirem ou ao
lerem alguma crítica contra seu modo de crer. Não estranho, pois, isso! Aliás,
às vezes, o que menos queremos saber são verdades ainda desconhecidas por
nós!
Há dois
cristianismos: um evangélico e outro que segue mais os dogmas. O evangélico,
que se baseia no evangelho e nas suas variações no Novo Testamento, é aceito
pela grande maioria dos cristãos, sem nenhum problema, embora, na prática, nem
sempre vivenciado. Já o dogmático é constituído de doutrinas polêmicas, pois se
apoia em interpretações forçadas da Bíblia, ora alegóricas, ora literais. E é
por isso que essas doutrinas viraram dogmas. E, no passado, ai de quem negasse
publicamente um deles! Os líderes religiosos, em tudo que falam, eles se
referem a um dos principais dogmas. Seria isso fanatismo, insegurança ou
lavagem cerebral nos fiéis?
Vamos ver uns
exemplos dos dogmas cristãos, com os quais se criou o da Santíssima Trindade. O
de que Jesus é Deus tal qual o Pai, e que surgiu com o Concílio Ecumênico de
Niceia (325). O do Espírito Santo, que diz que ele é também Deus, teve início
no citado concílio e se firmou mais no de Constantinopla (381) e outros
posteriores. Mais alguns outros dogmas: o da Comunhão dos Santos, que prega o
intercâmbio de colaboração recíproca entre os espíritos desencarnados e
encarnados, isto é, entre os seres do mundo espiritual e os do nosso mundo
físico. Ele se tornou polêmico para os cristãos apegados ainda ao Judaísmo, em
que Moisés (não Deus) proibiu o contato com os espíritos. (Deuteronômio
capítulo 18), tal como acontece, ainda hoje, com o espiritismo. O dogma da
Transubstanciação ou Eucaristia, que afirma que, depois de consagrados o vinho
e a hóstia se tornam o Corpo real de Jesus. Originou-se da interpretação
literal dos textos evangélicos: “Isto é meu corpo” e “isto é meu sangue.” Os
protestantes, os evangélicos e os espíritas os interpretam figuradamente.
Cremos que a Transubstanciação oficializada no Concílio Ecumênico de Trento
(1545 a 1563) ganhou muita força entre o clero católico, porque ela dá muito
prestígio para os padres e bispos, pois, segundo muitos deles, é só deles esse
poder de transformar a hóstia e o vinho no Corpo e sangue reais de Jesus! Já
ouvi padres dizerem que eles são superiores a Nossa Senhora e aos anjos, que
não possuem esse poder que eles têm! E termino essa relação de alguns dogmas
com o da Infalibilidade dos papas em assuntos de moral e de religião, criado no
Concílio Ecumênico Vaticano I (1870).
Uns líderes
religiosos estão dizendo que o espiritismo não é cristão, porque ele não aceita
alguns dogmas. Mas entre eles mesmos há os que recusam alguns. E Jesus disse
que seus discípulos serão conhecidos por se amarem uns aos outros, não, pois,
por crerem em certas doutrinas dogmáticas criadas por grupos de teólogos
imaturos do passado!
Na TV Mundo Maior,
canal aberto e a cabo em algumas regiões, por parabólica digital e
www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e
este colunista, às 20h das quintas, e às 23h dos domingos etc (ver a grade de
programação). Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br
José Reis Chaves
Escritor,
Professor de português pela PUC-Minas, Jornalista, Biblista, Teósofo,
Pesquisador de Parapsicologia e do Espiritismo na Bíblia, Radialista, Palestrante
no Brasil e exterior, estudou para padre Redentorista, tradutor de "O
Evangelho Segundo o Espiritismo", editado pela Editora Chico Xavier, e
colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte, às segundas-feiras.
www.otempo.com.br
Imagem ilustrativa
sábado, 13 de setembro de 2014
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Respeito à Pátria, compromisso inadiável!
A vida permitiu-nos renascer no Brasil, a querida Pátria que
nos acolhe. A história do país, na colonização, nos embates para a construção
da democracia e mesmo nos gigantescos desafios da atualidade – onde se incluem
a violência e o tráfico, o contraste entre os interesses de variadas ordens e a
corrupção, entre outros itens dispensáveis de serem citados –, também apresenta
os benefícios de um povo aberto, feliz, descontraído, ardente na fé e na
disposição.
É nosso querido Brasil, gigantesco em proporções geográficas
e na diversidade que se apresenta em todos os aspectos! Bendita pátria!
Por outro lado, o país acolheu a Doutrina Espírita como
nenhum o fez. Das sementes germinadas em solo francês, foi aqui que a grande
árvore do conhecimento se fez gigante como o próprio país continental. E nós
temos a felicidade de conhecer essa Doutrina maravilhosa que inspira ações de
caridade – em toda a extensão da palavra –, convivência fraterna e amiga por
toda parte. Apesar das dificuldades e limitações humanas que são nossas,
individuais e coletivas, ele, o Espiritismo, espalhou e espalha seus frutos
pelas mentes e corações que o buscam ou são beneficiados por sua imensa luz.
Estamos no mesmo país que recebeu o cognome de Coração do
Mundo, Pátria do Evangelho, justa e coerente adjetivação para um povo ameno,
solidário, apesar das lutas próprias de nossa condição humana. É aqui que as
variadas expressões religiosas se manifestam para conduzir mentes e corações; é
também nessa terra querida que nasceram ou renasceram almas que conhecemos sob
os abençoados nomes de Irmã Dulce, Zilda Arns, Chico Xavier, Divaldo Franco,
Dr. March, Dr. Bezerra de Menezes, entre tantos outros ilustres filhos que lhe
dignificam o nome, sendo impossível citar todos e mesmo especificá-los por
área, tamanha a variedade e quantidade de benfeitores que aqui vieram e ainda
aqui vivem.
Setembro lembramos a Pátria, desde os tempos escolares.
Setembro também normalmente estamos às vésperas das eleições, como ocorre agora
em 2014. Isso lembra responsabilidade, comprometimento, ética. Afinal, temos um
compromisso com o país, com a coletividade brasileira. Qualquer cidadão está
comprometido com a segurança, com os valores do país, com a obrigação moral da
retidão e da gratidão, que se estendem por ações em favor do bem comum. É o
dever! Não apenas um dever cívico, mas o dever moral para conosco mesmo e para
com o próximo, como indica o Espírito Lázaro em O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Aliás, lembrando a Codificação Espírita, há que se ater às Leis
Divinas, didaticamente apresentadas pelo Codificador em O Livro dos Espíritos.
Leis que baseiam-se no amor, diga-se de passagem, mas igualmente são justas e
misericordiosas.
Por tudo isso, a reflexão sobre nosso papel de brasileiros
perante a Pátria Brasileira inclui-se igualmente no dever, ainda que apenas por
gratidão pelo país que nos acolhe, garantindo-nos a paz desse foco irradiador
de trabalho e fé que é o Brasil. Tamanho compromisso dispensa corrupção,
egoísmo e tolas vaidades. Pede-nos, isso sim, trabalho e dignidade, exatamente
pelo alto compromisso que todos temos com a vida e seu significado. O que
significa, em termos de eleições para outubro próximo, o compromisso com a
decência e a escolha consciente sem outros interesses que não os da
coletividade.
Repare o leitor atento que, quando ouvimos o Hino Nacional,
a emoção nos envolve completamente. É o sentimento de compromisso com a missão
da Pátria que integramos. O renascimento no país não é obra do acaso. Indica
comprometimento e programação sabiamente elaborada. Saibamos respeitar e
cumprir o que antes prometemos.
O Brasil tem grande papel a exercer junto à Humanidade.
Filhos dignos, espíritos preparados e nobres estão sempre presentes como
autênticos faróis a conduzir a coletividade. Sejamos daqueles que honram nossa
condição humana e brasileira! Exemplos não faltam.
Por gratidão, ao menos, ao querido e grandioso Brasil!
Lembremo-nos: o planeta construído por Jesus teve na mente e planejamento do
Mestre da Humanidade a inclusão desse país incomparável, onde germinam as doces
brisas do Evangelho.
Orson Peter Carrara
sábado, 6 de setembro de 2014
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
A primeira pedra
Emblemática no evangelho de Jesus a passagem do
apedrejamento da mulher adúltera, situação na qual o Cristo diz que “quem não
tiver pecados, que atire a primeira pedra” (João, Capítulo 8). Tal afirmativa,
que calou os populares que se arvoravam de algozes pela dilapidação, ainda
ecoa, pela sua lógica, aplacando os nossos ódios e os nossos instintos mais
violentos, diante das situações presenciadas no cotidiano.
Jesus, que em outras situações defendeu a justiça, no “dai a
César o que é de César” e no “a cada um segundo as suas obras”, não menos
famosos que o enunciado sobre a primeira pedra, diante daquela mulher condenada
pela legislação vigente, traria agora uma mensagem de leniência e de
impunidade, em uma apologia ao crime?
Uma resposta afirmativa seria uma visão superficial e
contraditória da situação em tela. Ao nosso ver, Jesus condena sim o julgamento
precipitado, apaixonado e desmedido, que não sopesa o contexto e a
subjetividade de cada situação, chamando a reflexão pelo “quem não tiver
pecados”, inibindo uma pseudo justiça feita com as próprias mãos, mas que
desconsidera princípios basilares de proporcionalidade, contraditório,
razoabilidade e outros afetos ao direito penal, que muito evoluiu desde a época
do Cristo e que compõe o arcabouço jurídico de qualquer Estado moderno.
Mais gravosa que a pena de morte, a dita justiça com as
próprias mãos, estampada nos linchamentos, presentes em nossa sociedade e
acentuados mais recentemente, é uma explosão de ódio, derivada de uma gama de
injustiças menores percebidas e que se materializa em uma injustiça ainda
maior, na condenação a uma morte cruel e desumana, que independente de ser um
inocente ou um motivo comezinho, traduz-se na barbárie que aplaca vinganças e
produz mais dor onde esta já campeava.
A chamada a reflexão de Jesus nos convida a assumir o lugar
da vítima e a refletir em qual é a melhor maneira de atuarmos frente a esta
situação, o que necessitaríamos se fôssemos nós mesmos ali no banco dos réus da
rua, dado que as pelas falhas cometidas, no espectro das reencarnações, ser réu
é apenas uma questão temporal.
Ataques de ódio com a promoção de linchamentos e a apologia
a práticas dessa natureza, ao meu ver, afrontam diametralmente a conduta
espírita na defesa da vida, argumentação ilustrada por autores fundamentais da
doutrina, como na pergunta 761 de “O livro dos espíritos”, que assevera: “Há
outros meios de ele se preservar do perigo, que não matando. Demais, é preciso
abrir e não fechar ao criminoso a porta do arrependimento. ”
Ou ainda na pena de Joana de Angelis no seu “Após a
Tempestade”, quando diz: “A tarefa que compete às leis é a de eliminar o crime,
as causas que o fomentam, não o equivocado criminoso. A morte do delinquente
não devolve a vida da vítima. Ao invés da preocupação de matar, encontrar
recursos para estimular a vida. Educar, reeducar, são impositivos inadiáveis;
matar, não. Tenhamos tento! Não há, no Evangelho, um só versículo que apoie a
pena de morte. ”
A pena de Humberto de Campos, na psicografia de Chico
Xavier, no seu “Boa nova”, não se furta dessa antiga questão, quando se refere
a mulher adúltera: “ – Ninguém pode contestar que ela tenha pecado; quem estará
irrepreensível na face da Terra? Há sacerdotes da lei, magistrados e filósofos,
que prostituíram suas almas por mais baixo preço; contudo, ainda não lhes vi os
acusadores. A hipocrisia costuma campear impune, enquanto se atiram pedras ao
sofrimento. João, o mundo está cheio de túmulos caiados. ”
Como se vê, a problemática do crime, da violência urbana e
da intolerância com isso tudo é antiga e complexa, demandando soluções de igual
natureza, dado que a soma de linchamentos ocorridos até hoje não parece ter
surtido efeito na redução de índices de violência nas comunidades que dele
fizeram uso.
A visão do dito justiçamento é uma percepção segmentada do
problema, descompensada e que tomada pelo calor dos acontecimentos, ignora as
medidas sociais necessárias, para além de saúde e educação, mas também nas
políticas de segurança de qualidade que coíbam e apurem os crimes, remetendo o
réu ao Juízo, que tem grande importância nesse processo, no contexto do chamado
Estado democrático de Direito.
O ódio é uma força de características irracionais, de forma
parcial. Ou seja, ela se volta para uma causa, ainda que a sua percepção seja
nebulosa, e a ela associa a necessidade de descarregar a sua energia represada,
muitas vezes fomentada pela indignação, pela dor, pelas injustiças cotidianas e
ainda, por outras vozes, no ambiente das chamadas redes sociais.
O cidadão comum, nesses ambientes de exaltação, como uma
greve, um jogo de futebol, se vê tomado desses ímpetos marcantes e por vezes,
se vê envolvido em processos de justiçamento, esquecendo aquela voz que lembra
a ele a sua condição de espírito imortal.
Casos emblemáticos como a Escola Base (SP) e o linchamento
da jovem confundida com uma fotografia na internet ocorrida em 2014 no Guarujá
(SP) se agregam a outros, ocultos em outras tipologias penais, atingindo
culpados e inocentes, como formas bárbaras de promover uma vingança contra a
nossa própria imperfeição como seres humanas batizada de justiçamento.
Como espíritas e cristãos, lutemos pela justiça, defendamos
a vida, com uma visão ampla e racional dessa questão, não se deixando seduzir
pelo canto das soluções fáceis em arranjos complexos, na defesa de atos que
servem apenas para aplacar ódios momentâneos, gerando, em termos práticos, mais
violência e sofrimento, para vítimas e algozes.
A exemplificação do bem, a postura cristã, não é privilégio
dos mártires das letras evangélicas. A cada dia, cada um pode e deve, no seu
campo de luta, exemplificar o que o Cristo espera de nós, em um desafio
pessoal, como fez em maio de 2014 no Rio de Janeiro a jovem estudante de
arquitetura Mikhaila Copello, que se pôs à frente de linchadores na defesa de
um assaltante que já fora imobilizado, se valendo, como em uma parábola
moderna, de palavras, do seu corpo e da sua coragem no testemunho de sua forma
de ver a vida, impedindo que aqueles espíritos algozes complicassem a sua
encarnação, convidando-os a reflexão da “primeira pedra”.
Ainda há esperança! Nós, espíritos encarnados, podemos fazer
melhor do que isso! A caminhada do bem é dolorosa, e apesar do crime, que a
todos causa indignação, temos o dever de fazer ecoar as palavras do Cristo, que
nos trouxeram a reflexão quando empunhávamos pedras, passados mais de 2000
anos, nos indicando na ocasião em que local da turba Jesus se posicionou, antes
e depois do momento da dilapidação.
Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Residindo atualmente na cidade do Rio de Janeiro, espírita
desde 1990, atua no movimento espírita na evangelização infantil, sendo também
expositor. Vinculado a Casa Espírita Amazonas Hércules (www.ceah.org.br). É
colaborador assíduo do jornal Correio Espírita (RJ) e da revista eletrônica O Consolador
(Paraná). É autor do livro Alegria de Servir (2001), publicado pela Federação
Espírita Brasileira (FEB) e do Livro "Você sabe quem viu Jesus
nascer" (2013), editado pela Editora Virtual O Consolador.
Imagem ilustrativa
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Um Pai de Família
Nicolas Cage é o ator principal do filme Um pai de família,
lançado em dezembro de 2000 nos principais cinemas do país. O filme mostra a
experiência de um bem sucedido executivo de grande banco americano. Com todo o
poder nas mãos, podendo adquirir tudo que desejasse e ao mesmo tempo contando
com bom número de servidores e subordinados, controlava o grande Banco com mãos
de ferro. Conhecido pela grande inteligência e muita habilidade nas questões
econômicas, dedicava sua vida em proporcionar lucros crescentes à empresa, que
o valorizava com altos salários e invejadas mordomias. Na Noite de Natal,
viu-se, entretanto, sozinho e talvez um tanto melancólico recordava-se da
antiga namorada deixada há 13 anos, quando resolveu seguir a bem sucedida
carreira executiva.
A sequência do filme deixa entender que o telefonema da
ex-namorada, durante o dia no escritório, fê-lo buscar recordações, embora
tenha recusado atender o telefone. E nesse estado de espírito, dormiu. Dormiu e
sonhou que acordava em outra vida, agora casado com aquela que fora sua
namorada e pai de dois filhos. Assustado com a rotina de uma vida familiar,
tentou voltar ao Banco onde não foi reconhecido. Desesperado, teve que se
contentar com as dificuldades da vida conjugal, de pai de família... Embora
mantendo a memória de ser o famoso executivo, não conseguia retomar a própria
realidade.
O filme desenrola-se quase por inteiro no cotidiano de uma
família de classe média, culminando com o despertar de nosso personagem em sua
vida real de destacado diretor do famoso Banco. O despertar, entretanto,
provocou o cancelamento de inadiável reunião marcada para aquela manhã e a
busca da antiga namorada, a quem relatou todo o sonho - inclusive citando nome
e idade dos filhos, seus sonhos e detalhes da vida em comum. OThe end deixa que
o público tire suas próprias conclusões, sugerindo um reatar de namoro para
transformar em realidade o sonho vivido com tanta intensidade. E há uma frase
no filme que é a marca da fita cinematográfica ora comentada: Não importa nosso
endereço, o importante é que estejamos juntos. A frase, muito além do aspecto
romântico entre casais, indica a importância da família e da convivência entre
seres afins, normalmente reunidos no contexto familiar visando o progresso,
como bem definem as Leis Divinas. Fica a sugestão ao leitor para apreciação do
bem elaborado trabalho.
Podemos fazer um estudo dos tres parágrafos acima à luz da
Doutrina Espírita. Podemos assistir o filme e enxergá-lo sob a ótica espírita.
Vários itens podem ser enquadrados. Para efeito didático do artigo, podemos
analisar a questão dos laços de família e da missão da paternidade
(respectivamente questões 773 a 775 e 582 de O Livro dos Espíritos, que
sugerimos para consulta do leitor). Sugerimos porque desejamos analisar o tema
com mais abrangência sob outro aspecto: a dos sonhos. Embora se trate de um
filme, com suas fantasias, podemos classificar o sonho de que forma?
No mesmo O Livro dos Espíritos, as questões 400 a 421 tratam
do assunto, de onde trazemos as informações seguintes dadas pelos espíritos: O
Espírito jamais fica inativo durante o sono do corpo; podemos avaliar a
liberdade do espírito durante o sono pelos sonhos; dispondo de mais faculdades
que no estado de vigília, durante o sono - enquanto o corpo repousa - o
espírito tem a lembrança do passado e às vezes a previsão do futuro; o espírito
vê em sonho aquilo que deseja, porque vai procurá-lo; pessoas que se conhecem
ou não podem visitar-se durante o sono do corpo, se visitarem e conversarem.
Já na Revista Espírita (julho de 1865 - vol. 7 - edição
Edicel), com o título Teoria dos Sonhos, Allan Kardec desenvolve considerações
importantes sobre a questão. Destaca uma classificação sobre os sonhos e
apresenta o princípio básico dos sonhos. Usando palavras do próprio
Codificador, referindo-se ao Espiritismo: Demonstra que o sonho, o
sonambulismo, o êxtase, a dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro,
a penetração do pensamento não passam de variantes e graus de um mesmo
princípio: a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria.
Esta incessante atividade do Espírito durante o sono do
corpo indica que muitas providências, decisões de interesse da alma são tomadas
durante o desprendimento pelo sono. Apenas o corpo dorme, pois na vigília ou
durante o sono o comandante do corpo é o espírito, senhor absoluto de decisões
que o livre arbítrio lhe confere. Decisões que vão interferir na felicidade ou
infelicidade, saúde ou enfermidade que o corpo vai experimentar, por
constituir-se ele em instrumento dirigido pelo Espírito nele encarnado, como
ensina a notável Doutrina Espírita. Na verdade, vivemos uma única realidade e
quando na vigília estamos parcialmente bloqueados pelo corpo físico. Quando
desprendidos pelo sono, desfrutamos da liberdade plena, cujas imagens e
experiências o sonho registra, muitas vezes é claro de forma confusa pois o
corpo não participou e o registro pelo cérebro carnal fica confuso. Entre os
sonhos, e aqui usando palavras do Codificador ainda na Revista Espírita acima
citada, uns há que que tem um caráter de tal modo positivo que, racionalmente,
não poderiam ser atribuídos a simples jogo de imaginação; tais são aqueles nos
quais, ao despertar, adquire-se a prova da realidade do que se viu, e em que
absolutamente não se pensava.
Não se confunda aqui os sonhos provenientes de pesadelos por
alimentação inadequada ou provocados por imaginação excitada e até aqueles
oriundos de exageradas preocupações materiais. Vamos enquadrar os casos de
origem espiritual, de ativa participação do espírito.
No caso do filme citado, excluindo-se os exageros da
imaginação e da fantasia, poderá notar o leitor que tiver oportunidade de
assistir, que tudo foi um sonho, mas a decisão final coube ao personagem da
trama vivida, para mudar ou transformar em realidade aquilo que verdadeiramente
buscava. E abrimos horizontes para outra questão básica: o livre-arbítrio, que
para não alongar o artigo deixo ao leitor pesquisar nas questões 843 a 850 de O
Livro dos Espíritos. Porém, a mensagem do filme fica: não importa o endereço,
importante é que estejamos sempre juntos.
Orson Peter Carrara
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
De Saulo a Paulo
E eis que no meio da estrada repentina luz se faz, mais luminosa que o sol, quase ofuscando o rapaz.
Tremendo de comoção, Saulo tomba do camelo.
No céu se rasga um caminho e desce alguém para vê-lo.
Voz suave, olhar profundo, rosto belíssimo, santo, pergunta esse Alguém a Saulo:
— Por que me persegues tanto?
Responde Saulo espantado:
— Mas quem sois vós, meu Senhor?
— Sou Jesus, a quem persegues, com tanta raiva e rancor!
Há exatos 40 anos, quando tinha apenas 11 anos de idade, li
pela primeira vez Paulo e Estêvão, romance de Emmanuel, psicografado por Chico
Xavier. Ou melhor, minha mãe leu em voz alta para mim, porque descobriu que eu
estava lendo escondido no banheiro. Ela achava que o livro era muito pesado
para minha idade e não queria que eu lesse. Mas acabou ela mesma fazendo a
leitura, não sei se censurando alguma coisa. Morávamos então em Berlim. E no
inverno sombrio daquela cidade, na época ainda com o muro, que tanto nos
deprimia, fiquei apaixonada pela figura de Paulo, pela história de sua vida.
Depois dessa primeira vez, li mais que 50 vezes esse livro.
E isso não é hipérbole. Parei de contar quando cheguei à 50ª leitura. E passei
a estudar vorazmente todas as versões da vida do apóstolo. A que está nos Atos,
suas Epístolas, li narrativas católicas, protestantes, ateias e a que mais me
encantou foi a escrita na primeira metade do século XX, por um judeu, Sholem
Ash, intitulada O Apóstolo. Nos últimos 15 anos, com o intenso envolvimento com
a Pedagogia Espírita e questões educacionais, não me dediquei mais a esse tema.
Agora estou lançando o livro de Saulo a Paulo, a história
recontada inteiramente em versos para crianças e que faz parte da série Grandes
Pessoas. Na verdade, muito antes de imaginar lançar essa série, quando ainda
nem tinha fundado a Editora Comenius e minha mãe ainda estava encarnada,
escrevi esse texto, constituído de 70 estrofes. Talvez uns 18 ou 19 anos atrás.
Por conta desse lançamento, reli de cabo a rabo Paulo e
Estêvão e decidi fazer esse balanço público da minha relação com Paulo de
Tarso. Essa releitura me fez muito bem, porque me levou às motivações profundas
que enraizaram os ideais dessa minha presente vida e aos sentimentos mais
viscerais que ainda nutrem a minha personalidade.
Primeiro, devo dizer, que o romance de Emmanuel resistiu ao
tempo, em sua estrutura literária, belissimamente escrito, em sua mensagem que
revitaliza o espírito e acende ideais. Apesar, é claro, de hoje minha visão a
respeito desse livro ser muito diversa de anos atrás. Dediquei-me ao estudo dos
primeiros 300 anos de Cristianismo, com autores como Bart Ehrman, Richard
Rubenstein ou Paul Johnson, afora todas as novidades de manuscritos descobertos
no século XX, que lançaram novas luzes sobre os Evangelhos. Com esse
conhecimento, fica claro que o romance de Emmanuel é um romance. Tem uma
validade histórica relativa. Por exemplo, sabemos hoje que os conflitos entre
Paulo e Tiago não foram tão amistosos como parecem ter sido nos relatos de
Emmanuel, com uma reconciliação final tão fraterna e cristã. Mais: Paulo
certamente conservou traços de autoritarismo de sua personalidade depois de sua
conversão. E não se tornou aquele modelo de humildade que Emmanuel retrata.
Outra coisa que me chamou atenção nessa leitura de agora: na narrativa de
Emmanuel, a leitura e a cópia de um manuscrito de Levi ocupam lugar central da
história. Todos os apóstolos liam, copiavam etc. Hoje se sabe que eram todos
analfabetos. Com exceção do próprio Paulo, que era doutor da Lei e talvez de
Mateus (ou Levi), que era cobrador de impostos. A escrita e a leitura não
ocupavam essa centralidade entre os primeiros cristãos, mas sim o ensino oral,
pois a maioria da população não sabia nem ler nem escrever.
Tudo isso apenas para dizer que os romances mediúnicos (os
bons romances que hoje nem existem mais) não têm a intenção de nos dar
informações históricas, porque cabe a nós, encarnados, pesquisar a História. A
intenção dos Espíritos é de nos edificar com uma mensagem estimulante, uma
inspiração positiva – como aliás, fez comigo.
Mas voltemos à figura de Paulo. Passado esse arrebatamento
juvenil pelo apóstolo, tive que me defrontar com as numerosas críticas que
existem em torno de sua doutrina e atuação. Muitos historiadores do
cristianismo, entre eles Charles Guignebert (que li por conselho de Herculano
Pires) ou Paul Johnson, consideram que Paulo é o verdadeiro fundador da Igreja,
tendo lançado a base dos dogmas que ainda empanam a pureza da mensagem de
Jesus. Exemplo disso é a ideia do pecado original, que não aparece nas palavras
de Cristo, sempre otimista em relação ao ser humano: “vós sois deuses”, “sede
perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”.
Outra acusação séria e verdadeira, feita a Paulo, é que se
encontram em suas epístolas, traços do machismo que promoveu a exclusão da
mulher como participante ativa nas práticas cristãs. E ainda há seu
conservadorismo político, manifesto por exemplo na Epístola aos Romanos, que
pode ter fundamentado a teoria do “direito divino” na Idade Média, ideia
segundo a qual temos de respeitar a autoridade constituída, porque ela foi
posta por Deus.
É verdade que Paulo, como ex-doutor da Lei judaica, como
filho de seu tempo, numa cultura greco-romana e judaica (as três extremamente
patriarcais), inserido num contexto pessoal de culpa (tinha matado Estêvão,
promovido vasta e sangrenta perseguição aos cristãos), impregnado dos conceitos
bíblicos do pecado, não poderia se furtar a carregar tudo isso para sua
interpretação da mensagem de Jesus! Não é possível julgarmos um homem de dois
mil anos atrás, com nossos conceitos de hoje. Ele compreendeu e traduziu Jesus,
como um ex-doutor da Lei daquele contexto histórico e com aquela história
pessoal poderia compreender!
Mas o que pode ainda nos inspirar Paulo, sua luta, sua
vida?…Muitas coisas. Tanto que ao reler sua história agora, aos 51 anos de
idade, consegui sentir em mim as mesmas emoções motivadoras, que me tocaram aos
11 anos de idade.
Embora carregando para a sua tarefa de difusão do
cristianismo nascente, as marcas de sua herança cultural, só Paulo podia fazer
o que fez: arrancar a mensagem de Jesus do exclusivismo judaico e espalhá-la
aos quatro cantos do Império Romano. Não foi à toa que Jesus o chamou para
isso. O que me fascina em Paulo, ainda hoje, é seu espírito desbravador e
universalista, fiel até o sacrifício e a morte a uma incumbência recebida. É
daquelas almas que quando possuídas de um ideal, quando encarregadas de uma
missão, não medem esforços, não se detém diante de nenhum obstáculo, percorrem
estradas, atravessam mares, se defrontam com inimigos e vão até o fim. Devoção
sem limites, ímpeto sem descanso, coragem sem esmorecimento.
Exatamente dessas virtudes precisava o homem que fosse
desentranhar a mensagem de Jesus do seu horizonte apenas judaico, para lançá-la
ao mundo e semeá-la na história e fazer com que ainda hoje a tivéssemos em
mãos. E isso, apesar de suas licenças históricas, o romance de Emmanuel retrata
muito bem.
E exatamente dessas virtudes que precisa qualquer pessoa
ainda hoje que queira levar adiante uma causa nobre, que queira participar do
bom combate pela mensagem do Reino, qualquer pessoa que tenha recebido alguma
incumbência existencial que implique em mexer com mentalidades cristalizadas,
com corações adormecidos, para acordar consciências!
Mudanças significativas, desbravamento de novas ideias,
semeaduras de paradigmas transformadores não se fazem com pessoas mornas,
pacatas e sossegadas no seu canto. É preciso garra e paixão, ímpeto e
capacidade de sacrifício para empreendimentos assim. Isso não significa santidade
e perfeição, como Paulo não era santo, nem perfeito. Apenas a pessoa certa para
a tarefa em vista.
A personalidade de Paulo também me atrai pela sua
sinceridade absoluta, com seu ódio à hipocrisia, pela sua incapacidade de fazer
compromissos com princípios e ideias (o que para muitos pode parecer
agressividade e inflexibilidade).
É fácil entender por que Paulo tanto me encantou. Minha
tarefa existencial – que não é maior ou melhor do que outras tarefas – também
requer essa coragem, esse espírito desbravador e essa sinceridade de
princípios.
Às vezes, isso não agrada a muitos. Mas, espero estar
cumprindo com a fidelidade paulinamente teimosa a incumbência recebida. A
releitura de Paulo me realimentou, passados 40 anos, os mesmos sentimentos
apaixonados de agir pela mensagem do Reino, nesse mundo que ainda é um grande
Império Romano. E não posso deixar de mencionar que o meu grande inspirador na
infância e adolescência, J. Herculano Pires, assinou durante décadas uma coluna
no Diário de São Paulo, com o pseudônimo de Irmão Saulo. Coincidência de
inspirações?
Para finalizar, uma consideração a respeito das Epístolas de
Paulo, que hoje são consideradas pelos pesquisadores das escrituras como
efetivamente os documentos mais antigos que temos do cristianismo primitivo
(todos os evangelhos foram escritos depois das epístolas): apesar das heranças
judaicas, apesar de algumas ressonâncias da cultura da época, esses textos de
Paulo contém pérolas espirituais muito valiosas. Por exemplo, apesar da ideia
de pecado original, há frases profundamente otimistas em relação ao ser humano,
como “somos herdeiros de Deus e co-herdeiros do Cristo”. E apesar de muitas
vezes se acusar Paulo de ser um espírito duro e autoritário, ele escreveu umas
das mais belas páginas de todos os tempos sobre o amor:
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e
não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda
que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a
ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os
montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha
fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é paciente, é
benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se
ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se
irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. (Cor. I, 13)
Dora Incontri
terça-feira, 26 de agosto de 2014
sábado, 23 de agosto de 2014
O susto da ajuda espiritual
Popularmente, se diz que “Deus escreve certo por linhas
tortas”, e essa realidade se apresenta com certa constância em nossa vida.
Presenciei uma cena especial, estava sentado observando o quintal, quando
percebi um pequeno pássaro, um filhote que não voava e certamente seria presa
fácil aos cães e possíveis felinos que apareceriam pelo canto escandaloso do filhote.
Tocado por um senso instintivo de auxílio ao mais fraco, resolvi ajudar o
pequeno pássaro a sair da provável zona de risco, levando-o a um lugar seguro.
No processo de execução do meu plano de auxílio, levantei e segui em direção ao
filhote, que começou a correr em voos mínimos que mal saiam do chão e gritava
crendo que eu o mataria. No momento parei, tocado pelo desespero do filhote,
que deveria me ver como um gigante avassalador, mas segui na intenção de
salvá-lo. Os gritos dele aumentavam significativamente e finalmente entre
minhas mãos, acreditei que ele estouraria pelos gritos que emitia sem sessar,
com as pequenas asas desarrumadas pelo constante debatimento. Conduzi o filhote
vencido entre as mãos, imaginando que ele estaria esperando ser devorado, até
que o coloquei lentamente num canto protegido por folhagens e me afastei. Sai
pensando o que ficou na cabeça do pássaro (se é que ele pensa), não deve ter
entendido nada, primeiro eu saio atrás dele até pegá-lo e depois solto, creio
que ele nunca saberá que a angustia que ele sentiu era justamente a ajuda.
Conosco acontece o mesmo, muitas vezes passamos por angustias injustificáveis e
por mais que tentemos não entendemos o porque de tantas dificuldades e mal
sabemos que muitas vezes, trata-se justamente da ajuda que precisamos. Nem
sempre para sanar nossas necessidades imediatistas, mas sempre atendendo as
nossas necessidades como espíritos imortais. Na questão 501 de “O Livro dos
Espíritos” encontramos a seguinte pergunta:
- Por que é oculta a ação dos
Espíritos sobre a nossa existência e por que, quando nos protegem, não o fazem
de modo ostensivo?
E a resposta é merecedora de profunda reflexão: “Se vos
fosse dado contar sempre com a ação deles, não obraríeis por vós mesmos e o
vosso Espírito não progrediria. Para que este possa adiantar-se, precisa de
experiência, adquirindo-a frequentemente à sua custa. É necessário que exercite
suas forças, sem o que, seria como a criança a quem não consentem que ande
sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira
que não vos tolha o livre-arbítrio, porquanto, se não tivésseis
responsabilidade, não avançaríeis na senda que vos há de conduzir a Deus.
Roosevelt
Andophato Tiago
Barra Bonita, SP (Brasil)
Imagem ilustrativa
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
A hipótese insuperável de Kardec
Terminei esta semana a leitura do livro “Kardec, a
biografia”, de Marcel Souto Maior. Gostei do Livro, com os senões (e vantagens)
de uma obra escrita por alguém que está de fora das fileiras espíritas, pelo
menos no discurso, mas que soube retratar de forma leve os eventos históricos
que conduziram a chamada codificação da doutrina espírita e que hoje nos alenta
e nos inspira, nas lutas cotidianas.
Bem redigido, de forma clara e didática, antecipando o
roteiro da película a ser produzida, o livro mostra um Kardec homem, com
dificuldades, inserido em um contexto político e filosófico, para assim ser o
baluarte do espiritualismo moderno, que entre mesas girantes e cadernos
manuscritos, produziu um manancial de conhecimento a influenciar o mundo até
hoje, passados mais de 150 anos.
A leitura do livro mostrou-me um homem de ciência, sagaz e
bem-intencionado que, diante de fenômenos populares envolvendo mesas girantes,
busca identificar a sua gênese e com o apoio das informações fornecidas pelos
próprios causadores dos fenômenos, os Espíritos, elabora assim uma tese que deu
conta daquela casuística, abrangendo um sistema filosófico amplo, sobre a
natureza e o destino do ser humano no universo.
Essa tese,
fundamentada na imortalidade da alma, na comunicabilidade dos Espíritos e nas
múltiplas existências, inédita na sua integração, jaz insuperável,
influenciando um sem-número de produções culturais, que trazem nesse paradigma
seu espelho, no qual, apesar da baixa difusão percentual do Espiritismo como
movimento religioso, esta doutrina tem, por meio de seus princípios basilares,
conquistado seu espaço nesses mais de 150 anos, ao sol das ilações sobre a vida
futura.
A imortalidade da alma, hipótese comum à maioria das
religiões, tem mais recentemente ganhado corpo nas pesquisas sobre EQM-Estado
de Quase Morte do Dr. Raymond Moody Júnior e Sam Parnia, na análise de pessoas
que em estado de coma retornam à vida e narram situações similares. A despeito
das hipóteses formuladas sobre a ação do subconsciente, os estudos continuam,
amparados na hipótese básica.
As múltiplas existências tiveram também seus baluartes, nas
pesquisas e produções de Hemendras Banerjee, Brian Weiss, Albert de Rochas e
Ian Stevenson, com destaque para os estudos da Profa. Hellen Wambach, que
comparou dados das regressões com informações históricas sobre as sociedades.
Recentemente a Terapia de Vidas Passadas se vulgarizou entre os profissionais,
e tem-se estudado relatos de vidas passadas e a sua associação a marcas de
nascença. Tem-se ainda, aí bem recentemente, os estudos na Universidade do
Prof. Jim Tucker, que vira e mexe aparece nos programas televisivos com
intrigantes casos de lembranças de vidas passadas.
No campo da comunicação com o Além, os médiuns brasileiros
forneceram grande material de estudo, nas mediunidades de Chico Xavier e os
diversos estudos correlatos, em especial na questão da grafoscopia. Os casos
mediúnicos de Divaldo Franco, Arigó, Peixotinho e do Médium de cura João de
Deus têm sido objeto de estudos que ratificam e fortalecem as ideias postas por
Kardec.
O ceticismo ainda campeia, por comodismo, por interesse ou
por decepção. Ainda que surjam explicações isoladas de céticos, de forma
integrada esses fenômenos encontram guarida nas formulações kardequianas à luz
dos depoimentos dos Espíritos, o que vem sendo reforçado pela ação dos
estudiosos citados e outros desconhecidos, que labutam de forma incansável,
enfrentando o preconceito da academia e a pressão de ideologias religiosas,
como enfrentou Allan Kardec no seu tempo, conforme bem descrito pela sua
presente biografia.
Para além de uma revelação, Kardec apresentou um sistema
lógico coerente como resposta ao fenômeno posto, construído a partir do material
coletado das comunicações com os Espíritos. Uma hipótese que ele mesmo
apresentou e refutou as contradições, ao estudar os sistemas no Capítulo IV de
“O Livro dos Médiuns”. Ali, Kardec já se posiciona sobre as demais hipóteses em
relação ao fenômeno mediúnico e expõe, por argumentos, por que a tese espírita
se apresenta insuperável para dar conta da situação. E, até hoje, a explicação
ainda é válida.
Os pilares, a visão de que o fenômeno derivava de
inteligências que, chamadas de Espíritos, nada mais eram dos que os homens sem
a roupagem carnal, que se sucediam em existências no mundo de cá e de lá,
permanecem robustos e convergentes aos estudos que se seguiram, pelas
regressões, comunicações e lembranças. Dizer que Kardec é atual não é tomá-lo
pela letra idêntica de um suposto livro sagrado e sim pela força do paradigma
por ele proposto na explicação da fenomenologia espírita e de todo o contexto
com base nesses pressupostos.
O aspecto filosófico da hipótese espírita, abraçando Deus e
o problema do ser, do destino e da dor, traz a essa uma grande força,
impulsionando vidas à modificação de disposições, à reforma íntima e à prática
da caridade, tornando nosso mundo melhor. Outras hipóteses, além de não
atenderem a completude dos fenômenos, baseiam-se em pressupostos teológicos
estranhos à razão, com deuses seletivos e injustos, atendendo a injunções e
poderes estranhos à visão do bem. O Espiritismo se apresenta como uma verdade
ratificada pela razão e pelos fenômenos, na cantiga de esperança que embala a humanidade,
mas que se faz incômoda.
Incômoda, pois rompe os grilhões filosóficos do mundo
antigo, da idade de trevas e das visões escravizantes de vida futura, que
Kardec não se furtou a tratar no livro “O Céu e o Inferno”. Ideias que ainda
pululam por aí, acompanhadas dos mesmos fenômenos de outrora, à busca de
soluções razoáveis, que já surgiram no século retrasado pelas mãos do mestre
Lionês.
Assim como ocorreu na biografia de Chico Xavier, acredito
que o livro do escritor Marcel Souto Maior despertará o interesse pela obra
Kardequiana no público em geral, obra essa que se apresenta insuperável, pelo
método e pela consistência, na resposta aos fenômenos mediúnicos. O estudo
sistematizado das obras nos permite entender a essência do Espiritismo e de como
chegamos a compreender que mesas que giravam nos forneciam uma resposta
filosófica para a existência.
As ideias de Kardec influenciaram o mundo. Ainda que
carentes de autoria específica do Espírito A ou B, talvez como um bom caminho
para evitar a captura e a exposição, essas ideias seguem por aí em filmes e
livros, distantes da estranheza de outras épocas. Ideias de um Deus justo, de
vidas que não terminam, de mortos que não se calam, de falhas que são
reparadas. Uma visão de mundo libertador que, pelo esforço de um homem, das
pessoas à sua volta e das gerações que se seguiram, do mundo de cá e de lá,
continua a nos brindar com o consolo que ampara, mas também com a sagacidade
que liberta.
Marcus Vinícius de Azevedo Braga
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Imagem do livro e seu autor
domingo, 17 de agosto de 2014
Até quando viveremos assim?
No mundo corpóreo as influências dominam as relações humanas. Isso pode ser bom
ou ruim para as pessoas, dependendo do caráter dessas influências. Um bom
exemplo tem força de transformação a ponto de melhorar hábitos e renovar
ideias. O contrário é ainda mais verdadeiro: por conta das suas imperfeições
morais, o ser humano assimila o mau comportamento com grande facilidade.
Há, entre nós, a tendência em seguir modelos. Gostamos de imitar os
outros. Fazemos isso automaticamente. Sem raciocinar, muitas vezes nos
surpreendemos falando, pensando ou agindo igual àquele que nos impressionou com
seu modo de ser.
A comparação é outro processo de influência entre
os homens. Queremos nos comparar aos outros para medir nossa posição social,
nosso desempenho, nossa inteligência etc. Normalmente nos comparamos a quem julgamos nos
ser superior, jamais a quem está abaixo de nós. Tolo orgulho.
Curioso é que imitamos e nos comparamos, quase sempre, ao
que é ruim, e acabamos “incorporando” em nossa vida vícios e erros que nos atraem.
Identificamos, nos outros, aquilo que temos dentro de nós e isso estabelece uma
ligação que não percebemos. Esse motivo existe neles, forte a ponto de nos
influenciar; e em nós, a ponto de querer parecer com eles. Passamos a escravos
da conduta alheia, deixamos de ser nós mesmos. Esquecemos nossa identidade
própria e adotamos um estereótipo. Vivemos uma vida de aceitação passiva, sem
nenhuma avaliação crítica, guiados pela moda, conformados com o estabelecido, o
que nos acarretará frustrações e desenganos, cedo ou tarde.
Até quando viveremos assim, seguindo os outros, com prejuízo
do nosso livre-arbítrio? Até quando agiremos pela cabeça de terceiros, sem
pensar que isso possa estar nos desviando dos compromissos que nos compete
realizar?
Precisamos reagir e pensar sério num bom projeto de vida
para nós; ganhar experiência, construir nossa personalidade sob valores de
qualidade, aprimorar as características pessoais e fazer escolhas com mais
cuidado. Importante ajuizar se os modelos que copiamos não estão atrasando nossa
vida; se as pessoas em quem nos espelhamos e cujas atitudes parecem o máximo,
não estão equivocadas. O nível de exigência em relação a nós precisa aumentar.
O que é bom para os outros pode não servir para nós. Precisamos exercer nossa
vontade, independentemente da opinião em voga, sem desprezar as referências
éticas.
Essas medidas garantirão nosso processo de crescimento
interior, sem ilusões. Construtores do nosso destino, nós desenvolveremos um
modelo próprio, segundo as características que nos identificam como seres
individuais. As influências, naturais no convívio humano, nos afetarão de modo
menos impactante, já que passaremos a filtrá-las segundo padrões assertivos. De
tudo o que é lícito, acataremos só o que nos convier, conforme o ensino de
Paulo de Tarso (I Coríntios, 6,12).
Está na hora de reagir, portanto, e seguir com mais
fidelidade a nossa própria vocação, dando ouvidos à consciência, escolhendo o
modelo de vida que mais tem a ver conosco e que nos porá no caminho de grandes realizações.
Cláudio Bueno da Silva
Osasco, SP (Brasil)
Imagem ilustrativa
sábado, 9 de agosto de 2014
A religião em nós
Dessa forma, como observadores e observados, nos apoiamos,
reconstruímos nossos valores e nossas crenças.
Somos seres sociais. Precisamos um do outro para o exercício
do autoconhecimento. No outro, admiramos o belo, reconhecemos o feio,
aprendemos sobre o erro, aplaudimos o acerto, identificamos fraquezas,
reconhecemos a força. Ao contrário do dito popular, são os iguais que se atraem
e não os opostos.
Toda religião merece nosso respeito. Toda religião pretende
a mesma coisa: a evolução espiritual, através da prática do bem; e condena a
mesma coisa: o exercício do mal. Afirma que somos irmãos por termos a mesma
Filiação Divina, que somos iguais e devemos nos amar e nos ajudar. Então, se
todas as religiões possuem os mesmos princípios, por que são tão diferentes
entre si?
Não existe diferença substancial no pensamento religioso,
mas sim no entendimento, no posicionamento a partir da maturidade espiritual. O
bem é sempre o bem, o mal é sempre o mal. Em todos os livros sagrados da
humanidade encontramos diretrizes e normas que não se alteram na essência. O
que se altera são as expressões e o entendimento dos homens.
A religião tem como função aproximar aqueles que possuem as
mesmas necessidades evolutivas. Cada ser acompanha o pensamento religioso de
acordo com a sua maturidade espiritual. Assim, em grupo, ao identificarmos no
outro uma fraqueza semelhante a que temos e observarmos sua luta para
superá-la, nos fortalecemos e criamos coragem para lutar nossas próprias
batalhas. Dessa forma, como observadores e observados, nos apoiamos,
reconstruímos nossos valores e nossas crenças.
Todo agrupamento pela religião, seja ela qual for, não está
reunido ao acaso, mas pelas necessidades de aprendizado. Em Mateus, 6:33,
encontramos: “Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça, e tudo o mais vos
será dado por acréscimo”. O verdadeiro religioso deve crer que, se houver sinceridade
em seus atos, Deus fará sua parte. E, então, deverá trabalhar para seu sustento
material, mas trabalhará com a certeza de que nada lhe faltará para uma vida
tranquila. Isso porque estará disponibilizando, com sinceridade, uma parte de
seu tempo para aprender e praticar o que Jesus nos deixou: o conhecimento e o
exemplo através da caridade.
Ser religioso não se resume em dizer-se espírita, católico,
budista, umbandista, protestante etc. Significa, sim, agir com sinceridade, que
nada mais é do que fazer ao próximo o que se deseja para si mesmo. Todo
equívoco nos dá a oportunidade de aprendizado, de transformação. Deus não
castiga. Ele nos premia. O castigo é uma invenção humana. Ele é a justiça
suprema.
Ir à casa religiosa, participar de todos os seus eventos,
chamar Jesus de Mestre, proclamando-nos crentes em Deus e possuidores de muita
fé não nos torna verdadeiros religiosos. Os atos exteriores, se não refletirem
nossa modificação íntima e a conscientização de nossos deveres, de nada
servirão para nos ajudar ou ajudar a quem precisa. Deus reconhece o que temos
dentro de nosso espírito, independentemente do que dizemos ser.
Há falsos religiosos, que enganam a boa fé dos que os
escutam. Falam de Deus, pregam sobre Jesus através dos Evangelhos, enchem casas
religiosas prometendo milagres para quem se dispuser a lhes dar o pagamento da
enganação, mas seus corações só buscam o prazer material, proporcionado pela
ingenuidade de quem os segue.
“Basta a cada dia o seu mal”, lembra o Mestre. Cuidemos de
nosso presente, dando a devida importância para a verdadeira religião e a vida
nos sorrirá com mais frequência. Não haverá por que praticarmos religião por
conveniência, pois sua busca com consciência e responsabilidade nos tornará
homens melhores, e sentiremos esta mudança em nossas vidas.
Sejamos como o bom samaritano que, independentemente da raça
e da religião, era um verdadeiro homem de bem, um sincero religioso.
“Como crês? Ninguém sabe... O mundo apenas
Sabe que és luz nas aflições terrenas,
Pela consolação que te abençoa.
Seja qual for o templo que te exprime,
Deus te proteja o coração sublime
Alma querida e bela, humilde e boa.”
(Alma Querida, Auta de Souza, psicografia de Francisco Cândido Xavier)
Maria Angela Miranda
Londrina, PR (Brasil)
Imagem ilustrativa
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Aproveitar o tempo
Lúcio, de dez anos, estava sempre a reclamar não ter tempo
para nada. Quando a mãe lhe perguntava se tinha tarefas da escola para fazer,
ele respondia:
— Sim, mas agora não tenho tempo. Estou brincando.
Mais tarde a mãe voltava a perguntar:
— Meu filho, você já fez os deveres da escola?
— Não, mamãe. Depois eu faço; agora estou vendo televisão!
E assim ele deixava para depois tudo que era realmente importante.
Certo dia, a professora Meire mandou um recado para a casa dele, pedindo que a
mãe de Lúcio comparecesse à tarde. Surpresa, a mãe agradeceu, confirmando.
Quando Lúcio chegou, a mãe quis saber como fora a manhã
dele. O menino olhou para ela e respondeu:
— Tudo bem!
Depois do almoço, a
mãe deu uma desculpa e foi à escola.
Meire, que a esperava, levou-a até a sala dos professores e,
após se acomodarem, a professora perguntou:
— Alzira, o que está acontecendo com Lúcio? Ele não tem
feito os deveres de casa e não estuda para as provas, alegando não ter tempo.
Gostaria de saber se isso é verdade, pois é grave a situação. As notas dele
estão muito baixas!
A mãe, que ouvia de olhos arregalados, respondeu:
— Não sabia que ele estava mal assim! Quando pergunto sobre
as provas, Lúcio diz que a professora ainda não deu as notas, nem entregou o
boletim.
— Não é verdade. Procure conversar com seu filho e saber o
que está acontecendo. Estou preocupada,
Alzira!
— Diante do que me disse, eu também! Obrigada, Meire. Vou
falar com ele.
A mãe retornou a casa e encontrou o filho no computador,
distraindo-se com um jogo. Pediu que ele desligasse para poderem conversar.
— Agora não posso, mãe. Estou ocupado, não vê? Não tenho
tempo!
A mãe levou a mão na tomada e desligou o computador,
afirmando:
— Agora nós vamos conversar, meu filho.
Levou-o para a sala e sentou-se com ele. Depois quis saber:
— Lúcio, você sabe o que significa “tempo”?
— Claro que eu sei, mãe! O tempo representa nossa vida. 60
segundos formam um minuto; 60 minutos, uma hora, e 24 horas representam um dia,
e assim o mês e o ano... É isso que quer saber?
— Sim, mas vai muito além, meu filho. Perguntei de “tempo”,
como oportunidade que Deus nos concede de vivermos e podermos aprender, não
apenas na escola, mas com a própria vida; realizar coisas que nos agradem,
crescer e evoluir. Mais tarde, escolher uma profissão para ajudar a nós mesmos
e a outras pessoas. Entendeu?
— Sim, mãe, mas qual é o problema? Aonde quer chegar?
— Como você gasta seu tempo, Lúcio? — ela respondeu com
outra pergunta.
O garoto baixou a cabeça e não disse nada. Então, a mãe
considerou:
— O problema, meu filho, é que você gasta seu tempo
inutilmente! Nada faz de bom ou de instrutivo, e, por isso, tem problemas. Não
valoriza os estudos, especialmente.
— Ah, mãe, é que eu gosto de brincar, jogar, ver televisão!
— o garoto murmurou, sem levantar a cabeça.
— Eu sei, você é criança ainda! Mas não pode fazer “apenas”
isso! Tem que estudar também, filho. Teremos que prestar contas a Deus pelo
tempo que desperdiçamos. Programando seu dia com cuidado, você pode fazer de
tudo, sem se descuidar de nada.
O garoto concordou, e contou à mãe, abrindo-lhe o coração:
— É verdade, mãe. Minhas notas estão péssimas! Eu sei que
preciso estudar mais!
Depois, respirou fundo e sorriu aliviado:
— Mamãe, eu estava preocupado. Reconhecer essa verdade e
contar para você deixou-me bem melhor. Preciso mesmo programar meu dia!
Ajude-me!
— Eu o ajudo, meu filho. Pode contar comigo, mas procure
colocar tudo no papel.
Lúcio pegou uma folha, colocou seus horários dividindo as
horas. Com exceção da manhã — que era horário escolar —, e deixou um espaço
para descanso logo após o almoço; depois, o horário de tarefas e estudo. E viu
que ainda sobraria tempo, antes de escurecer, para brincar com os amigos!
Feliz, ele mostrou a folha para a mãe, que aprovou.
— Muito bem, meu filho! Agora você só precisa obedecer a
essa programação.
— Pode ter certeza, mamãe. Não quero que o Pai do Céu me
cobre pelo tempo que desperdicei aqui na Terra. Vou fazer preces pedindo a
Jesus que me ajude a ser mais organizado. Tenho certeza de que vou conseguir!
Alguns meses depois, as notas de Lúcio estavam bem melhores
e mostrou o boletim para a mãe, com satisfação.
— Você está indo bem e, certamente, tem tido muita ajuda de
Jesus! Parabéns, meu filho! Estou orgulhosa de você. Mostrou que tem vontade:
decidiu mudar e manteve sua decisão.
— E sobra tempo para tudo, mamãe!
Meimei
(Recebida por Célia X. de Camargo, em 9/06/2014.)
Enviado por: Célia Xavier de Camargo
cxcamargo@uol.com.br
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