sexta-feira, 22 de abril de 2016

Jesus, a Páscoa e o momento de ódio em que estamos mergulhados


Não posso deixar passar essa Páscoa, sem uma reflexão sobre seu personagem principal, para quem se considera cristão. E nesse momento de grande tumulto no Brasil e no mundo, com tanta violência e tão denso nevoeiro, estou pensando nos cristãos… 
Esses cristãos que compõem a maioria da população brasileira, pelo menos no censo, divididos majoritariamente entre católicos, evangélicos e espíritas. 
Esses cristãos que, em sua maioria, não fazem conta dos ensinos de Jesus. Que talvez achem que são palavras poéticas, bonitas, mas preceitos inaplicáveis na vida prática. Ou ainda que são ensinos que só possam ser pensados em relações pessoais, mas nada podem acrescentar às relações sociais, à organização política, à produção econômica… Teorias bonitas, mas utópicas, que não são para esse mundo… E no entanto, há dois mil anos que essas belas palavras estão buscando nosso coração e nossa mente e estão sendo semeadas, muito além das relações de indivíduo a indivíduo, sendo justamente o fermento de avanços em todas as áreas, no Direito, na Educação, na Política, na Sociedade, na Economia. 
Só para citar três exemplos: um ateu, como André Comte-Sponville, ou um judeu, como Erich Fromm, ou um historiador da Educação, como Franco Cambi, reconhecem que a mensagem de Jesus – essa de fraternidade universal, de igualdade, de valorização dos excluídos – permeia toda a história da civilização ocidental, sendo a base de muitas de nossas conquistas sociais, inspiração de muitos direitos concretizados, vertente do humanismo mais universal que habita mesmo doutrinas, movimentos sociais e leis, que se consideram laicos, mas carregam dentro de si, as sementes cristãs. 
E, no entanto, ainda muitos cristãos não conseguem se deixar permear por essa onda refrescante de amor, liberdade, compaixão, humanismo… que sopra das palavras e dos exemplos de Jesus. Muitos cristãos que agem com o outro, que se portam socialmente, que trabalham em seus empregos e empreendimentos, que têm uma visão da lei e da justiça, da sociedade e do mundo, em completa oposição ao que ensinou, ao que demonstrou Jesus.  
Senão vejamos! 
Como pode um cristão ser racista, se a compreensão que lhe felicita é a da fraternidade universal? Se Jesus mostrou que seus discípulos viriam do Ocidente e do Oriente e que todos seriam bem-vindos ao banquete do Reino? 
Como pode um cristão discriminar alguém por sua conduta sexual, se Jesus acolheu aqueles que eram considerados “pecadores” e fez questão de, depois de morto, aparecer em primeiro lugar para Madalena, uma prostituta, que os judeus da época julgavam que deveria ser apedrejada? 
Como pode um cristão proferir uma frase do tipo: “bandido bom é bandido morto”, se Jesus disse “misericórdia quero e não sacrifício” e ele mesmo morreu entre dois ladrões, acolhendo-os em seu amor? 
Como pode um cristão acreditar, pregar e praticar qualquer tipo de violência, armada, física, psicológica, verbal e ainda achar que a violência se justifica, quando Jesus disse que deveríamos “perdoar setenta vezes sete”, que os “mansos herdariam a terra”, e que deveríamos amar os próprios inimigos? E se ele próprio não usou de violência, mas perdoou toda a violência recebida; se deu a outra face e morreu, pedindo que Deus perdoasse seus algozes? 
Como pode um cristão lutar pelo poder, trapacear, corromper-se, aviltar-se, para se sobrepor ao próximo, espezinhando quem a ele se interponha, se Jesus disse que “veio para servir e não para ser servido” e que “quem quisesse ser o maior, que fosse o servo de todos”? Se ele, que muitos cristãos consideram como o próprio Deus, e nós, espíritas, consideramos como um Espírito perfeito, veio ao mundo, como filho de um carpinteiro, viveu sem poderes e morreu perseguido pelos poderosos? 
Como pode um cristão se esfalfar, se atirar a uma luta insana, explorando outros seres humanos, seus irmãos, se corromper, vender seus valores, trair sua pátria, pisar em todos os princípios morais, para acumular dinheiro, para possuir o excesso, quando a muitos falta o necessário, se Jesus disse ao jovem rico que o procurou para segui-lo, que desse todos os seus bens aos pobres, acrescentando em seguida, que seria mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus? E se ele próprio, nascido na pobreza, dizia não ter uma pedra onde encostar a cabeça? 
Como pode um cristão desprezar uma criança, fechar o ouvido à sua voz, desvalorizando a infância, negligenciando-a e tantas vezes abusando e usando de vara e violência (como querem os que seguem mais o Velho Testamento do que Jesus), se o Mestre disse “vinde a mim as criancinhas, porque é delas o Reino dos Céus”? 
Como pode um cristão ser machista, desrespeitando a igualdade de direitos das mulheres, explorando-as, olhando-as como objeto, usando de violência física ou psicológica contra elas, se Jesus, num tempo em que um rabino (como até hoje entre os rabinos ortodoxos) nem sequer podia encostar numa mulher, deixou que Madalena lhe tocasse, honrou-lhe com a primeira aparição em Espírito, acolhia em seu círculo mulheres, consideradas de má vida, ou mulheres de família, incluindo-as em seus ensinos (como fez com Marta e Maria, as irmãs de Lázaro ou com a samaritana do poço de Jacó, aliás multiplamente discriminada, por ser mulher, por ser samaritana e por ter tido vários maridos…)? 
Enfim… como pode um cristão ser tão contrário a todos os ensinos de Jesus? 
E como podem nações inteiras, formadas sob a égide do cristianismo, explorarem outros povos, promoverem a guerra, atacarem os mais fracos, dominarem outras nações, exercerem a tortura e matança, ignorando a fome, a injustiça e a marginalidade em que vivem inúmeros povos em todos os Continentes? 
Como podem nações que têm suas leis inspiradas na igualdade e fraternidade, que beberam nas fontes do cristianismo, que assinaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que nada mais é do que uma carta laica com uma forte herança cristã, infringirem diariamente suas próprias leis e pisotearem a cada instante essa Declaração? 
E agora, como pode um povo como o brasileiro, cujas pesquisas revelam que 99% acredita na existência de Deus, de repente estar possuído dessa fúria selvagem, digladiando-se mutuamente, cuspindo ódio e contaminando até mesmo as crianças? 
Não posso me eximir de pensar tudo isso nessa Páscoa! 
Parece que a voz do Mestre nos conclama de novo à mansuetude, à compaixão (mesmo com aqueles que consideramos que erraram), ao “não julgueis para não serdes julgados”, ao perdão incondicional e ao amor, acima de tudo! 
Parece que a fera que dorme em nós ainda pode ser despertada por uma propaganda maciça, por uma hipnose coletiva, por uma histeria popular – como foi feito na Alemanha nazista ou na Itália fascista, apenas para citar duas situações históricas muito emblemáticas desse processo em que se acorda o monstro, escondido no inconsciente coletivo. 
Isso significa o quê? Que ainda não transcendemos as sombras que habitam em nós, que nossa adesão aos valores cristãos é superficial, é fraca, ainda não conseguiu transformar totalmente a fera em ser humano. 
Paremos um instante, respiremos fundo e analisemos a situação. Estamos mergulhados num comportamento de massa, irracional e muitos destilam ódio. Paremos antes que seja tarde e lembremos de Jesus! Pode parecer piegas falar assim: mas não é Jesus, que católicos, evangélicos e espíritas dizem seguir? E que mesmo ateus admiram?
Então, não há solução, nem política, nem social, nem econômica, sem os valores essenciais que Jesus ensinou e exemplificou e esses valores são justiça, igualdade, desapego, desprendimento, humildade, compaixão… enfim, o que todos sabemos já há muitos séculos, de cor e salteado, mas que a maioria ainda não teve coragem de colocar em prática.

Dora Incontri

terça-feira, 19 de abril de 2016

Cuide bem de seu Anjo


– Se o senhor me dá licença, eu agradeço!

Ouvi a frase, dita de forma agressiva. Afastei o carrinho de compras e o deixei passar. Era um rapaz forte que andava quase levando tudo pela frente. Logo atrás dele, uma moça, olhar muito meigo, grávida, passou me dizendo baixinho:

– Desculpe-me, senhor.

Feitas as compras, entrei na fila e vi que, lá em frente, no caixa, alguém falava alto e gesticulava. Era ele. Reclamava da caixa por uma compra feita outro dia. O gerente prometera trocar a mercadoria e não o fez. Xingava a funcionária, que nada dizia. Até porque não era assunto dela. O rapaz afastou-se levando as compras e, novamente, pude ver que a moça ficou para trás para pedir desculpas à caixa. 
Normalmente, pensamos em anjos da guarda como seres celestiais invisíveis que nos protegem. Tolerantes com nossas faltas, não nos abandonam, por toda a vida. Mas há anjos que decidem fazer mais por nós: reencarnam conosco, acompanham-nos espiritual e materialmente durante a existência. Assumem perante os outros nossas faltas, dando-nos exemplos diários de resignação, solidariedade, persistência e amor. 
Anjos são Espíritos, tanto quanto nós. Não há seres privilegiados na criação. Todos temos a mesma origem e, juntos, caminhamos no rumo da evolução. Nossos anjos, por melhores que sejam, também são humanos. E nem sempre suportam a carga. Às vezes, desistem. Partem para outra. Tanto quanto nós, são livres para dar o rumo que quiserem às suas vidas. 

Por isso, cuide muito bem de seu anjo. Ele é gente. Um dia pode cansar.

Milton R. Medran Moreira
Porto Alegre, RS (Brasil)

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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Melindre, radicalismo e consequências morais


Muito se tem falado sobre o melindre e o quanto provoca danos quando se manifesta. Apesar de muitos terem conhecimento a respeito dessa chaga moral, poucos realmente procuram trabalhar a si mesmos para que o mal do constrangimento não faça parte de suas personalidades e por isso, o melindre continua fazendo vitimas, destruindo laços de amizade e pondo em derrocada trabalhos que poderiam dar bons frutos, tanto dentro quanto fora da casa espírita.
O melindre aparece em qualquer circunstância, em todo e qualquer ambiente seja nas instituições de cunho filosófico ou religioso, no lar, no trabalho, entre vizinhos, entre novos e velhos amigos enfim, onde está o homem lá se encontra o melindre, em estado latente, e ao despertar de sua suposta hibernação provoca danos arrasadores.
Essa propensão para nos ofendermos facilmente e para fazermos de pequenos contratempos violentas tempestades, dorme no íntimo de todos e tende a estar em processo de ebulição naqueles que se julgam superiores e que, portanto supõem-se não estar no mesmo nível dos reles mortais, logo, seus desejos não podem ser contrariados, por achar que a razão é um instrumento pessoal seu.
O melindre nunca se manifesta só, traz consigo amigos também cruéis e nefastos: o orgulho, a falta de humildade e o radicalismo.
O fato de um pedido ser negado por um companheiro de jornada já é motivo mais do que suficiente para que o radicalismo melindroso se faça presente tornando o individuo rancoroso por achar que aquele que lhe negou a rogativa não é suficientemente bom para ser seu amigo e que precisa afastar-se dele.
O que o melindroso não percebe é que além de tudo ele é também egocêntrico, pois, visando apenas à realização de seus intentos, não pergunta ao outro se por acaso ele teria condições de ajudá-lo, não procura colocar-se no lugar do outro para perceber as suas limitações e dificuldades. Deveria refletir: se eu estivesse no lugar de “fulano”, com as responsabilidades que tem, teria condições de satisfazer os desejos de alguém? Até onde me seria possível ir? Quais as minhas limitações?
Precisamos nos conscientizar que nem tudo o que queremos poderá ser realizado, ainda mais quando esta realização irá depender de outros para que se efetive. Por mais amigos que tenhamos nem sempre eles poderão nos auxiliar e o Espírita, principalmente por ter acesso a informações que lhe mostram de forma clara a realidade da vida espiritual e material, deveria ter pleno conhecimento de que nem todos tem condições para tomar determinadas decisões. Quando queremos impor nossas vontades estamos sendo tão maniqueístas quanto os que criticamos por terem posições impositivas e manipuladoras. Não alimentemos o melindre, pois ele tem consequências morais devastadoras em nossas vidas, nos envereda por uma rede de negatividade e de ignorância que se tornam entraves à educação do espírito, logo à evolução, além de ser uma porta aberta para a obsessão.
Cobramos dos outros atitudes firmes, criticamos o que se  constrange entretanto agimos da mesma forma quando não somos o centro das atenções. Quais crianças, fazemos birra, porém, na criança a birra pela contrariedade sofrida logo passa, no adulto ela permanece e cria raízes malignas: ódio, solidão... Amigos deixam de se falar ao invés de procurar uma solução para o problema surgido; pais e filhos dão as costas uns aos outros e ficam assim por anos, chegando mesmo a desencarnar sem que a situação seja resolvida; irmãos deixam de se falar. O ego ferido, de acordo com Emmanuel é como um verme que destrói uma semente.
É importante nos darmos importância? Sim, precisamos cuidar de nós mesmos, porém tendo o cuidado de não ultrapassarmos limites achando que somos melhores que os outros. Essa falsa idéia de ser melhor é extremamente perigosa, pois nos deixa cheios de vaidades inúteis e não me toques que afetam a alma e o corpo físico levando-nos por vezes a quadros depressivos e ampliando o juízo de valor que nos incute que somos vitimas de injustiças e ingratidões.
Não devemos confundir favor com obrigação, ninguém tem a obrigação de nos prestar um favor, principalmente sem ter condições efetivas para isso, Respeitemos os limites do outro, suas dores, aflições e dificuldades. A tolerância, quando bem entendida é uma benção que nos faz agir com responsabilidade e com menos apego a nós mesmos. Tracemos um plano de varrer o melindre de nossas vidas, vigiando para que não se instale e procurando desfazer situações desconfortáveis que tem ele como pano de fundo.
Insegurança e baixa autoestima são estigmas provocados pelos melindres e pelo radicalismo de não querermos reconhecer quando erramos e permitirmos que a mágoa seja nosso guia. Quando criticamos e nos afastamos das pessoas por julgar que fomos desrespeitados e não procuramos entender as situações, que por vezes são criadas por nossas atitudes impensadas e desestruturadas, demonstramos que também não fomos amigo o suficiente do outro, pois se o fôssemos, entenderíamos sua posição.
Intrigas, mal entendido que parece irreversível e desânimos podem ser revertidos desde que o individuo procure conhecer a si mesmo e reconhecer seus erros. Mas para isso é preciso fortalecer-se espiritualmente, entender que a ofensa só existe porque ele permitiu que ela habitasse o seu íntimo.
Levemos em consideração, para todos os âmbitos de nossas vidas, seja na convivência no grupo espírita, na vida profissional, em família ou com amigos as recomendações que Kardec nos dá em O Livro dos Médiuns, no capítulo 24, para granjearmos a simpatia dos bons espíritos: que procuremos trabalhar em nós os vieses de consequências ruins transformando-os em condições morais favoráveis ao progresso espiritual.
Precisamos cultivar a perfeita comunhão de sentimentos, a cordialidade recíproca, a ausência de sentimentos contrários à verdadeira caridade cristã, entendendo caridade no sentido de utilidade e ter em vista um único desejo, instruir-se e melhorar-se conforme nos ensinou os espíritos superiores através de Allan Kardec.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Esperança


Neste novo livro, escrito por mim e por minha companheira Jô Andrade, estudamos a respeito da Esperança, estabelecendo reflexões que nos inspire a um determinado objetivo: construí-la em nós!
Analisando que algumas pessoas possuem a esperança e outras não e mesmo entre as que possuem, umas são pálidas e frágeis e outras sólidas e inabaláveis, suportando as mais difíceis provas e as mais angustiosas expiações – porque tantas diferenças?
Partindo do princípio inquestionável de que todo efeito possui uma causa que lhe dá a origem, no caso da esperança, também deve existir uma causa que a produza. Concluímos, desta forma, que a esperança é o resultado de conceitos e crenças de vários segmentos diferentes e que resultam na maior ou menor capacidade de acreditar, com maior ou menor convicção.
É neste ponto que o Espiritismo oferece grande contribuição para a construção de uma esperança sólida e racional – afinal, se a fé deve ser raciocinada, a esperança também!
Encontramos em O Livro dos Espíritos, em Da Encarnação dos Espíritos, um texto que auxilia nossa compreensão: “O Espiritismo é, pois, o mais potente auxiliar da religião. Se ele aí está, é porque Deus o permite e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se revigorem e para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro”.
A construção da esperança está entre as finalidades do Espiritismo, onde destacamos do texto acima a expressão “para que as nossas vacilantes esperanças se revigorem...”, ou seja, as informações que adquirimos no estudo do Espiritismo, auxiliam a construção dela.
Porém, na base de toda sólida esperança, encontramos (também extraído do texto acima) a necessidade de ter: “... perspectiva do futuro”.
O Espiritismo bem estudado, apresenta ao homem uma visão ampla do seu destino, como resultado das próprias ações e não como uma fatalidade determinante.
Apenas o progresso, o bem e a perfeição relativa, constituem a destinação da alma humana.
Desta forma, a esperança pode ser construída em qualquer um, desde que se observe o conhecimento de algumas questões que devem preceder a essa conquista.
A confiança no futuro, somado a certeza da soberania das leis de Deus e o auxílio espiritual constante com que todos contamos, serão os catalizadores da nossa maior ou menor esperança.
Tudo isso, para que, amadurecendo e crescendo, um dia nossa esperança atinja seu grau mais alto: a certeza sobre a justiça que existe em tudo o que nos envolve!

Roosevelt Andolphato Tiago

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Minha nada mole encarnação - Inimigas

A eficácia do tratamento através de passes

Muito apropriado

A Influência e o Exemplo

Poderia ser mais uma brincadeira de mau gosto, mas veja o que acontece quando a influência ao lado é positiva!Mensagem de Gordon B. Hinckley

Publicado por MundoemCores.com em Quarta, 10 de fevereiro de 2016

sábado, 2 de abril de 2016

02 de abril de 1910


Ele nasceu na data que dá título à presente abordagem. Sim, Pedro Leopoldo (MG) foi seu berço natal no distante 1910.  De infância pobre e sofrida, órfão de mãe em tenra idade, sua vida foi de lutas, mas deixou um legado inestimável para a cultura e a evolução humanas. 
Como é de conhecimento geral, a produção psicográfica de Chico Xavier foi intensa. Centenas de livros publicados por diferentes editoras, milhares de páginas recebidas de centenas de espíritos. Muitos desses livros foram traduzidos para outros idiomas, muitos textos compactos em mensagens objetivas e práticas, rápidas de ler, se transformaram nesses volantes avulsos impressos e distribuídos gratuitamente por todo o país e exterior. A vida de Chico, seus exemplos e casos de intensa sensibilidade e ensinos para a mente popular, se transformou em peças de teatro, foi motivo de filmes para o cinema, com grande sucesso. Mas não é só. 
Várias pessoas se debruçaram sobre seus dados biográficos, sobre os casos que viveu com os exemplos de humildade e solidariedade estendida a qualquer pessoa que o procurava, e transformaram esses casos e exemplos em motivação para outras obras que trazem a experiência da convivência com o médium. Muitas pessoas que conviveram com Chico publicaram livros sobre essa personalidade incomparável. 
O que não dizer das cartas psicografadas, também muitas delas transformadas em obras de conforto para entes queridos separados pelo fenômeno biológico da morte física? 
Mas a obra de Chico não se restringe, porém, a apenas obras de conforto e consolo. Há que se destacar também a produção literária de caráter científico produzidas pela mediunidade exemplar de Chico Xavier. Cite-se algumas obras específicas do Espírito Emmanuel e praticamente toda a obra produzida pelo Espírito André Luiz.  E isso sem contar com o perfil da recepção de versos e poesias de personalidades marcantes da cultura brasileira e portuguesa. O que não impediu também a recepção de textos em outros idiomas, muitas vezes com as duas mãos, simultaneamente, e em algumas ocasiões com a mão esquerda escrevendo de trás para frente. 
É realmente uma vida fenomenal, diferente, marcante! Uma vida que influenciou muitas outras vidas. Mais pelo exemplo que pelo fenômeno, ressalte-se. Seu perfil moral enquadra-se perfeitamente nas qualidades elencadas por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo com o subtítulo O Homem de Bem, constante do capítulo XVII, item 3, que indicamos ao leitor a título de reflexão para comparação sobre a conduta de Chico e as qualidades ali elencadas pelo Codificador do Espiritismo. 
Mas ainda não é só. Chico foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz, foi eleito O Maior Brasileiro de todos os tempos, em promoção pela rede de TV SBT, em 2012. Foi protagonista do famoso programa de TV, Pinga Fogo, da extinta TV TUPI, na década de 70, com grandes picos de audiência que o tornaram ainda mais conhecido e respeitado. 
Vários foram os programas de TV que exibiram reportagens sobre sua vida, seu legado, suas lutas e seus exemplos, muitos deles entrevistando-o diretamente, com enorme repercussão na mídia. Chico também recebeu vários títulos de Cidadania, de mais de uma centena de cidades brasileiras. Um Memorial foi construído em Uberaba (MG) para preservar sua memória e muitos eventos pelo país todo homenageiam seu nome querido. 
Soma-se a tudo isso, ainda, o título de Maior Brasileiro da História, em votação popular pela revista Época, em 2006, e eleito também o Mineiro do Século XX, em votação promovida pela TV Globo Minas, em 2000. Além da Comenda Paz, outorgada pelo Governo de Minas Gerais, em 1999. Isso sem dizer das inúmeras personalidades famosas que igualmente o procuravam, de artistas a políticos e cientistas internacionais. 
E ele, muitas vezes centro das atenções e de disputas – inclusive jurídicas, permaneceu intocável na moralidade e na humildade. Perfilou sua vida com exemplos de simplicidade e modéstia, deixando um legado exemplar de conduta moral inquestionável. Seja pelo desprendimento – tudo que lhe chegava às mãos como manifestação de gratidão ele repassava para os necessitados que o buscavam – ou pela humildade que o caracterizou durante toda a vida. 
Sua fidelidade ao Cristo emociona, sensibiliza, toca o coração!
Não há como não se emocionar diante de sua figura simples, frágil, mas saturada de bondade e compreensão. É o que mais lhe marca a personalidade. Apesar de sua sabedoria e grandeza, não demonstra isso em nenhum gesto ou atitude. Vive simplesmente o amor. 
Não é por acaso que foi chamado o Homem Amor. Nossa homenagem, pois, de gratidão, à sua data natalícia: 02 de abril...

Orson Peter Carrara

terça-feira, 29 de março de 2016

Mediunidade sempre existiu. Espiritismo só a partir de Kardec


O fenômeno mediúnico sempre existiu, pois é uma habilidade inata que todos os homens possuem, em maior ou menor grau. Sua utilização, entretanto, nem sempre foi bem orientada.
Nos primórdios da humanidade, era praticada apenas pelos chamados “iniciados”, ou seja, homens ou mulheres especialmente treinados e que, muitas vezes, a exerciam com fim egoísta e material. Essa é a razão pela qual Moisés chegou a proibir o intercâmbio mediúnico (Deuteronômio, Cap. 18, vs. 9-12), embora Moisés também fosse médium, o que bem demonstra que a sua intenção não era condenar a mediunidade, mas coibir os abusos então existentes. 
Mais tarde, a passagem de Jesus entre nós marcou a “liberação” do uso da mediunidade, já que Ele, em muitas passagens, afirma, ensina e exemplifica a prática mediúnica. É interessante observar que, no Novo Testamento, não há uma única passagem em que a proibição de Moisés seja mencionada. O próprio Mestre estimulou as faculdades mediúnicas nos discípulos (“conferiu-lhes o poder”), ordenando que trabalhassem com elas (“curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”) (Mt. 10, vs. 1 e 8.) 
Alguns séculos depois, ignorando a postura de Jesus, as religiões dominantes tentaram novamente proibir a mediunidade. Não lhes interessavam as revelações dos Espíritos tais como a lei de que a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória, nesta ou numa próxima reencarnação, ou ainda que Jesus não se sacrificou para “pagar” pelos pecados de toda a humanidade, mas sim para nos mostrar o verdadeiro caminho da salvação. E assim por diante, ou seja, nada das lendas que interessavam ao poder religioso a fim de manter o domínio das mentes.
Como sói acontecer em tais situações, passaram então a inventar mentiras, do tipo “a mediunidade é obra do demônio”. E perseguiram de forma implacável os que a praticavam, sob a acusação de serem feiticeiros.
Entretanto, não se pode proibir aquilo que faz parte das leis naturais, da mesma forma que não se pode insistir que o Sol gira ao redor da Terra, quando a ciência prova o contrário...
Como toda semente só germina em terra fértil e na época certa, os desígnios superiores aguardaram o passar dos séculos, até que as luzes intelectuais e científicas permitissem uma discussão menos fanática sobre o tema.
E foi aí que surgiu o Espiritismo, com a publicação de O Livro dos Espíritos, organizado por Allan Kardec, em 18 de abril de 1857, marco da nova fase da evolução humana.
Primeira pergunta de Kardec aos Espíritos, contida nessa obra: que é Deus? (Atenção ao detalhe, que e não quem). E a resposta: “Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”.
E segue com perguntas e respostas cada vez mais oportunas e inteligentes sobre a justiça e o perfeito equilíbrio das leis divinas.

Pedro Fagundes Azevedo
Ex-presidente da Legião Espírita de Porto Alegre, é jornalista.
tvp-sul-az@uol.com.br
Porto Alegre, RS (Brasil)

Imagem ilustrativa

sexta-feira, 25 de março de 2016

Um minuto com Chico Xavier


O Chico é um ser emocionante, eis a expressão que melhor traduz a sua personalidade. Situa-se ele para muito além da dimensão que possa conceber.
Muito haverá que se falar de Chico, no futuro, além do que agora se fala. Casos sobre ele e relacionados com ele multiplicar-se-ão quase ao infinito. Muitos há ignotos e, desses muitos, alguns vêm à tona de quando em vez.
O narrado em frente é um deles. E, dada a pureza e simplicidade de linguagem da principal protagonista, Maria Helena Falcão dos Santos, advogada e esposa de meu prezado colega magistrado, Clodoaldo Moreira dos Santos, ora na inatividade, transcrevo-o "ipisis litteris":

"Há dezesseis anos, mais precisamente no dia 13/04/1975, sofri o maior golpe da minha vida.
Tinha verdadeira adoração por minha mãe. Nossa afinidade era muito grande. Na manhã daquele dia fatídico, estava eu fazendo a mamadeira para o meu filho caçula, quando o neto mais velho de minha inesquecível mãe e que com ela morava chegou em minha casa gritando: ‘Tia, a vovó está morrendo!’
Sem acreditar, pois à tarde do dia anterior ela tinha passado comigo e estava bem, corri até a sua casa, que era perto da minha, e a encontrei já sem fala, deitada em sua cama. Peguei-a nos braços e, chegando ao alpendre da casa, pedi a um vizinho, que ia passando de carro, que, pelo amor de Deus, nos levasse ao Hospital Santa Helena.
No banco de trás do carro eu sentia que todo o mundo desabava sobre mim. Minha santa mãe, com seus lindos olhos azuis, me fitava com todo o carinho que lhe era peculiar.
Eu, em desespero, passava a mão em sua cabeça e rezava. De repente, ela estremeceu e aquela luz tão forte, que emanava de seus lindos olhos azul, desapareceu. Os olhos ficaram opacos, sem vida.
Minha adorada mãe tinha acabado de desencarnar em meus braços. Entrei em desespero e nada mais fiz conscientemente disseram-me, depois, que, na hora do sepultamento, tiveram que me tirar a força de cima do caixão.
Sofri demais. Não conseguia tirar da minha mente seus olhos opacos, sem brilho que tanto os embelezava.
Com o passar dos anos, lendo muitas obras espíritas e cuidando de meu amado pai que, depois de três anos de sofrimento no leito, também retornou ao Além, pude ter outra visão do mundo, das pessoas, da morte. Porém, persistia em mim a lembrança sofrida dos olhos sem vida de minha mãe.
Acalentava o sonho de um dia ver o médium Chico Xavier. Há seis anos, dez depois do desenlace de minha adorada mãe, fui surpreendida com o telefonema de uma amiga, dizendo que o Chico estava em Goiânia e que estaria na Colônia Santa Marta, às 13 horas. Fiquei muito feliz e pensei: hoje vou realizar o meu sonho de vê-lo! Pelo menos de longe!...
Troquei rapidamente de roupa e, ao sair de casa, senti um desejo incontrolável de pegar uma florzinha do pé de manacá que minha mãe adorava e havia plantado para mim. Peguei a florzinha e, fechando-a na mão, dirigi-me para a Colônia.
Ao ver Chico Xavier passar por mim, fui invadida por forte emoção e senti um desejo muito grande de falar com ele. Vi que ele se sentou em uma cadeira e as pessoas, que eram muitas, formavam fila para cumprimentá-lo. Entrei na fila. Sentia a florzinha na minha mão, que eu conservava fechada, e algo me dizia que continuasse assim. O Chico estendia a mão e cumprimentava um a um.
Quando chegou a minha vez, para meu espanto, ele, cabisbaixo, estendeu a mão para mim, só que com a palma virada para cima, como à espera que fosse colocado algo. Eu, imediatamente, sem saber por que, coloquei em sua mão a florzinha de manacá, que só eu sabia estar fechada em minha mão. Ele, ainda com a cabeça baixa, abriu o paletó e guardou-a no bolso interno do mesmo. Só aí levantou a cabeça e me encarou. Sentia eu uma grande emoção. Meu rosto estava banhado pelas lágrimas. Queria dizer alguma coisa, mas não conseguia.
Ele, então, me disse:

– ‘Minha filha, os olhos dela brilham mais que a água marinha mais pura que possa existir neste planeta’.

E olhava para o meu lado, como se visse alguém. Eu, que já estava totalmente embargada pela emoção, entendi que ele estava vendo minha adorada mãe, ali, ao meu lado, mais viva do que nunca e que os olhos opacos e sem vida, cuja lembrança tanto me doía e fazia sofrer, não existiam.
Dominada por intensa emoção, afastei-me daquele santo homem, sem dizer uma palavra, mas com a certeza de que minha mãe estava muito bem e que seus belos olhos azuis brilhavam ainda mais que antes.”

Depoimento de Weimar M. de Oliveira, em artigo publicado na Folha Espírita de maio/2002.

José Antônio Vieira de Paula
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, Paraná (Brasil)

segunda-feira, 21 de março de 2016

Vinha de Luz


Em carta publicada nesta mesma edição, Rosane Machado Xavier da Silva, de Alvorada (RS), solicita-nos esclarecimentos sobre a correta interpretação da mensagem intitulada “Facciosismo”, constante do cap. 36 de Vinha de Luz, obra mediúnica escrita por Emmanuel por intermédio de Francisco Cândido Xavier.

A mensagem citada reproduz, em seguida ao título, o seguinte versículo:

"Mas se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis nem mintais contra a verdade." (Tiago, 3:14.)

Eis o teor integral do texto escrito por Emmanuel:

“Toda escola religiosa apresenta valores inconfundíveis ao homem de boa vontade. Não obstante os abusos do sacerdócio, a exploração inferior do elemento humano e as fantasias do culto exterior, o coração sincero beneficiar-se-á amplamente, na fonte da fé, iluminando-se para encontrar a Consciência Divina em si mesmo. 
Mas, em todo instituto religioso, propriamente humano, há que evitar um perigo – o sentimento faccioso, que adia, indefinidamente, as mais sublimes edificações espirituais. 
Católicos, protestantes, espiritistas, todos eles se movimentam, ameaçados pelo monstro da separação, como se o pensamento religioso traduzisse fermento da discórdia. 
Infelizmente, é muito grande o número de orientadores encarnados que se deixam dominar por suas garras perturbadoras. Espessos obstáculos impedem a visão da maioria. 
Querem todos que Deus lhes pertença, mas não cogitam de pertencer a Deus. 
Que todo aprendiz do Cristo esteja preparado a resistir ao mal; é imprescindível, porém, que compreenda a paternidade divina por sagrada herança de todas as criaturas, reconhecendo que, na Casa do Pai, a única diferença entre os homens é a que se mede pelo esforço nobre de cada um.” (Vinha de Luz, cap. 36.) 

Antes de qualquer comentário, é importante lembrar o significado da palavra facciosismo, substantivo comum derivado do adjetivo faccioso acrescido do sufixo “ismo”. 
Facciosismo significa: qualidade de faccioso, parcialidade; sectarismo, paixão partidária. É o mesmo que faciosismo ou facciosidade. 
Emmanuel afirma que tal sentimento é altamente pernicioso porque adia, indefinidamente, as mais sublimes edificações espirituais. 
A fé religiosa, seja ela qual for, não poderia jamais ser motivo de discórdia, de ódio, de separação entre as pessoas, fato que, infelizmente, como a História registra, tem sido uma constante nas relações entre católicos e protestantes, entre muçulmanos e cristãos, entre evangélicos e espíritas, como se Deus não fosse o Pai de todos nós, mas tão somente daqueles que rezam pela mesma cartilha. 
Enquanto o sectarismo, a paixão partidária, a parcialidade comandarem as ações humanas, dificilmente a fraternidade se tornará na Terra um sentimento comum a todos os povos, independentemente de suas convicções religiosas ou políticas. 
Somos todos irmãos e filhos do mesmo Deus. 
Não existem, pois, motivos reais para que sejamos facciosos. 
É esse o ponto central da mensagem de Emmanuel. 
Como ele nos propõe, é absolutamente imprescindível que compreendamos a paternidade divina por sagrada herança de todas as criaturas e reconheçamos que, na Casa do Pai, a única diferença entre os homens é a que se mede pelo esforço nobre de cada um, e não pela cor de nossa pele, pelos nossos saldos bancários ou pela crença que orienta os nossos passos. 

Sem fraternidade, – escreveu certa vez Allan Kardec, ao comentar o conhecido lema da Revolução Francesa –, não haverá liberdade real nem igualdade no mundo em que vivemos.

Astolfo O. de Oliveira Filho
Londrina, Paraná (Brasil)

Imagem do livro

quarta-feira, 2 de março de 2016

Tensão ou harmonia nos grupos espíritas


Da preciosa coleção da Revista Espírita (editada por Kardec no período de 1858 a 1869), extraímos para o leitor pequeno trecho do texto Organização do Espiritismo – publicado na edição de dezembro de 1861 –, cuja atualidade impressiona face aos desafios sempre encontrados pelas instituições e grupos no que se refere aos relacionamentos entre seus integrantes.
A velha questão dos melindres de suscetibilidades, dos conflitos de opinião e daí os desdobramentos próprios da desorganização das ideias diferentes, leva muitas iniciativas ao fracasso, interrompe bênçãos de trabalho, afasta valorosos cooperadores, com prejuízos evidentes à proposta espírita.
Como o fim do Espiritismo é essencialmente moral, espera-se que busquemos nesse esforço do auto aprimoramento as bases de nossa atuação individual e coletiva, para não ocorrência dos prejuízos bem próprios de nossa condição humana.
Acompanhemos o pequeno trecho selecionado, que se refere aos grupos:

“(...) Se eles forem formados de bons elementos, serão tantas boas raízes que darão bons rebentos. Se, ao contrário, são formados de elementos heterogêneos e antipáticos, de espíritas duvidosos, se ocupando mais da forma que do fundo, considerando a moral como a parte acessória e secundária, é preciso se prever polêmicas irritantes e sem desfecho, melindres de suscetibilidades, seguido de conflitos precursores da desorganização. Entre verdadeiros espíritas, tais como os havemos definido, vendo o propósito essencial do Espiritismo na moral, que é a mesma para todos, haverá sempre abnegação da personalidade, condescendência e benevolência, e, por consequência, certeza e estabilidade nos relacionamentos. Eis porque insistimos tanto nas qualidades fundamentais. (...)”

A sempre constante questão dos conflitos ou da harmonia está no comportamento individual que se reflete diretamente nos grupos. Exatamente aquele comportamento de boa vontade que busca superar o egoísmo e a vaidade para o bem coletivo. Quando nos fechamos em pontos de vistas, quando nos achamos melhores que os demais, quando pensamos que nossa opinião é a melhor, quando não valorizamos o esforço alheio ou quando optamos pelos tristes caminhos do orgulho, serão nossos acompanhantes a irritação, a intolerância e seus desdobramentos próprios.
Quando, todavia, optamos pelo caráter solidário dos relacionamentos, quando desejamos sinceramente o bem de todos ou direcionamos nossas ações para a permanência da harmonia, os frutos de nossas realizações conjuntas serão doces e sempre com benefícios gerais que extrapolam os limites do próprio grupo, pois que se irradiam de si mesmo em favor de muitos.
É que o afeto é capaz desses prodígios. O afeto há que ser construído, valorizado, conquistado, estimulado, vivido e cultivado.
Será de muito oportunismo uma releitura do texto Organização do Espiritismo, especificamente voltado à formação ou manutenção de grupos espíritas.

Orson Peter Carrara 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Eutanásia e aborto: novo Nazismo?


Certamente todos nos lembramos das práticas horríveis do nazismo, na II Guerra Mundial, onde a loucura de um homem pretendia criar uma raça pura e forte.
Parece coisa primitiva, mas... foi ontem, há 70 anos atrás!!!
Em pleno século XXI, o Homem vive as maravilhas da tecnologia, que muito tem contribuído para o seu bem-estar, e melhores condições de vida no planeta Terra.
Este mês (Fevereiro de 2016), em Portugal, um jornal semanário dava destaque a uma petição a favor da eutanásia, assinada por cerca de 100 pessoas, consideradas "ilustres" na sociedade.
Apelam ao direito de morrer com dignidade, como se morrer, fosse indigno.
Apela-se ao fim do sofrimento, como se o sofrimento não fosse uma presença contínua, na vida de todos nós.
Porque matar os idosos que sofrem, e não os jovens ou os adultos saudáveis, com vários tipos de sofrimento?
Entende-se este ponto de vista, quando o Homem, tendo perdido o Norte de Deus, e vivendo dentro do paradigma materialista (o materialismo foi morto pela Física, ao declarar que não existe matéria, mas sim energia em vários estados), pense que a eutanásia é a saída limpa do sofrimento.
Tola ilusão...
Em meados do século XIX, apareceu a Doutrina dos Espíritos (Espiritismo ou Doutrina Espírita) que veio demonstrar, à saciedade, que somos seres imortais, que a vida continua além da morte do corpo de carne, e explicar o porquê da dissemelhança de oportunidades nesta vida, tendo em conta a Lei da Reencarnação, e a consequente Lei de Causa e Efeito.
Hoje em dia, não é possível alegar desconhecimento, pois, este abunda ao som de um clique, no teclado de um computador.
Investigadores e cientistas de todo o mundo, não espíritas na sua maioria, têm vindo desde meados do século XIX até aos dia de hoje, a comprovar as teses espíritas.
Não sendo o Homem senhor da Vida, não tem o direito de decidir pela morte deste ou daquele. A legislação humana, retrata, de certo modo, o seu estado evolutivo, espiritualmente falando.

O estudo sério e sistemático da Doutrina Espírita, dá ao Homem
uma compreensão holística da Vida, fazendo-o entender do porquê da vida, suas dissemelhanças e as consequências dos nossos actos nesta vida,a repercutirem-se em vidas posteriores.

Estudando a doutrina espírita (que não é mais uma seita nem mais uma religião) verificamos que a dor, diversificada, aparece como factor auto-correctivo para o ser humano, propiciando-lhe assim, nesses momentos, longos e fecundos momentos de meditação, sobre os valores reais da Vida, e qual o objectivo da mesma.
A pessoa que, de livre vontade, se mata pelo processo da eutanásia, entra no mundo espiritual na grave condição do suicida, e os médicos que o matam, mesmo que "legalmente", de acordo com as leis dos homens, assumem o ónus de homicidas, ónus esse do qual não se furtam, pois que radicam na sua consciência. Uns e outros, voltarão noutra reencarnação, com dolorosos processos de culpa, quando não marcados por dolorosas limitações físicas, como acontece com a maioria dos suicidas.
Quando se tenta liberalizar o aborto, como condenar Hitler?
Quando os médicos aconselham mães a abortar porque foi detectada uma anomalia num determinado gene do bebé, como condenar Hitler?
Quando se pretende "legalizar" a matança de doentes terminais, sob a pretensa dignidade de morrer (como se a dignidade dependesse do estado exterior do corpo carnal), como condenar Hitler?
Conta-se, que certo dia uma mãe adentrou o consultório do seu ginecologista. Desempregada, com um filho de 5 anos, estava grávida e, tendo em conta a vida difícil do ponto de vista monetário, queria abortar, pois dizia não conseguir criar sozinha dois filhos. O ginecologista fez então a seguinte proposta: se abortasse, corria risco de vida, quer a mãe, quer o bebé. Assim sendo, seria mais lógico matar o filho de 5 anos e deixar nascer o bebé. A mãe saiu furiosa, porta fora...
Afinal... onda estava a diferença?
Seria útil que os nossos legisladores, médicos, políticos, governantes, estudassem espiritismo, como já acontece em muitos países, a fim de melhor entenderem quem somos, de onde viemos, o que estamos na Terra a fazer, e para onde vamos após o decesso físico.

Matar?
Jamais,... seja qual for o pretexto...

José Lucas

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Exilados de Capela

EXILADOS DE CAPELA(belísimo video)

Publicado por Margarida Oliveira em Terça, 19 de janeiro de 2016

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Ponderação de lucidez


O que se vai ler abaixo é trecho de um pronunciamento de Allan Kardec, em 6 de outubro de 1865, na reabertura das sessões da Sociedade Parisiense de Estudos Espiritas, e que contém atualíssima e feliz ponderação do Codificador – dirigida aos espíritas de sua época e perfeitamente cabível nos dias atuais do movimento espírita e mesmo para nossa condição de cidadão –, publicada na íntegra na edição de novembro de sua Revista Espírita, do mesmo ano, que recomendamos aos leitores. Aqui destacamos um único parágrafo, valioso por si mesmo.

 Vejam:

R. E. novembro de 1865: «Deus me guarde de ter a presunção de me crer o único capaz, ou mais capaz do que um outro, ou o único encarregado de cumprir os desígnios da Providência; não, este pensamento está longe de mim. Neste grande movimento renovador tenho a minha parte de atuação; não falo senão daquilo que me concerne; mas o que posso afirmar sem vã fanfarrice, é que, no que me incumbe, nem a coragem, nem a perseverança, me faltarão. Nisso jamais falhei, mas hoje que vejo o caminho se aclarar de uma maravilhosa claridade, sinto minhas forças crescerem, não tenho mais dúvida e graças às novas luzes que praza a Deus me dar, estou certo, e digo a todos os meus irmãos, com toda a certeza que jamais tive: coragem e perseverança, porque um esplendoroso sucesso coroará vossos esforços.”.

A seleção parcial está dentro de um contexto geral, cuja íntegra do texto trará ao leitor esclarecimentos valiosos de atuação espírita. Destacamos, todavia, esse parágrafo específico pela evidência da humildade de Kardec, ao lado de intensa força pessoal construída sobre virtudes que todos podemos valorizar nesses tempos de imensa dificuldade social: coragem e perseverança.
Embora seu extraordinário trabalho de organização do corpo doutrinário do Espiritismo com as instruções colhidas dos espíritos, ele não se coloca em posição superior a ninguém, reconhece que todos tem sua parte de ação no programa geral de expansão do pensamento espírita.
Esse reconhecimento da parte de trabalho que cabe a cada um de nós no concerto geral de evolução do planeta, onde se inclui naturalmente o próprio esforço pessoal nesse objetivo, é o primeiro passo que vacina contra vaidades ou pretensões desconectadas com nossa condição de filhos de Deus destinados à felicidade.
Todos podemos oferecer nosso trabalho, nosso esforço. Se soubermos agir com lucidez, se nos respeitarmos mutuamente, usando as ferramentas da coragem e da perseverança – como destaca o Codificador – um esplendoroso sucesso coroará vossos esforços, usando as palavras do próprio Kardec em seu discurso.
E o que seria esse sucesso senão a vitória sobre nós mesmos, no domínio das paixões e imperfeições que ainda trazemos, no cumprimento do dever, do esforço pela conquista de virtudes, na luta pelo progresso. Exemplo claro trazido pela conduta do codificador do Espiritismo, que não se deixa vencer pela postura vaidosa ou orgulhosa, embora todo o trabalho que estava em suas mãos.

A Revista Espírita é riquíssima fonte desses ensinamentos. Recomendo-a com ênfase aos leitores.

Orson Peter Carrara

Imagem da revista

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Não há amor a Deus e nem Cristianismo sem amor ao próximo


Informo aos meus queridos leitores que, frequentemente, sou redundante e repetitivo, de propósito, porque me preocupo muito com a clareza do que escrevo. Ademais, os comentários sobre a coluna no Portal de O TEMPO (www.otempo.com.br), além dos dos leitores novos, repetem-se muito. E assim, sou obrigado a voltar novamente às questões já abordadas.
É que meus assuntos já são de natureza complexa e polêmica, uma vez que eles são bíblicos, filosóficos e teológicos.  E se eu não primar, pois, pela ênfase da clareza das ideias tratadas e com simplicidade literária, os assuntos ficam pouco inteligíveis para o grande público. Assim, tenho também por norma fazer meus leitores não só pensarem como eu penso quando escrevo, mas até que sintam igualmente o que sinto.
E eis um exemplo do porquê de minhas redundâncias. Tenho demonstrado à saciedade que as traduções de “aionios” em grego e “ôlam” em hebraico na Bíblia por eterno ou tempo sem fim estão erradas, pois esses adjetivos, nas citadas línguas bíblicas, têm o sentido de tempo indefinido e não sem fim ou para sempre. O mesmo significado têm também os substantivos correspondentes a esses adjetivos: “aêon”, em grego, e “aeternitas”, em latim, traduzidos erroneamente por eternidade ou tempo sem fim. Assim, também, a locução adverbial de tempo “de eternidade em eternidade” encontrada na Bíblia, várias vezes, demonstra-nos que, se a eternidade é mais de uma, é porque ela é mesmo um tempo que tem fim, pois só existe outra eternidade com o fim da anterior. A questão é de uma clareza meridiana, mas falta humildade aos religiosos fundamentalistas para a aceitarem. Então, nem sempre volto ao assunto para eles mesmos, mas para esclarecer os leitores das suas incoerências absurdas.
Não se pode confundir o sentido de uma expressão com a sua tradução literal ou “ipsis litteris”. Porém, para mais clareza do assunto, vamos até substituir a mencionada locução adverbial de tempo “de eternidade em eternidade” por “tempo indefinido”: “Mas a misericórdia de Deus é “de tempo indefinido” sobre os que o temem.” (Salmo 103: 17).   Esse tempo é indefinido, porque depende da quantidade das boas e más obras de cada indivíduo. E essa misericórdia divina, por ser infinita, jamais cessa.
Mas vamos, ao menos um pouco, ao assunto do título desta coluna.
A missão de Jesus aqui no nosso mundo foi de enviado de Deus para nos trazer o Evangelho, para nós o pormos em prática, a fim de que possamos acelerar a nossa difícil passagem pela porta estreita, símbolo ensinado por Jesus da nossa salvação.
Muitos cristãos ainda pensam que Jesus veio ao nosso mundo para ter seu sangue derramado na cruz, pecado este contraditório que faria Deus o Pai ficar tão contente e feliz, que Ele até daria por nulas as nossas obras más, dando-nos a salvação totalmente de graça. Para esses cristãos, parece que Deus seja um espírito vampiro dos muito atrasados mesmo e que, pois, se deleita muito com sangue humano! Esses cristãos têm que se libertar urgentemente dessa teologia doentia, que eu tenho chamado de teologia do sangue, a qual de tão absurda que é, tem até arrastado parte da civilização cristã para o ateísmo.
E atentemos para a verdadeira teologia cristã do apóstolo e evangelista João (1 João 4: 20), em que se baseia o título dessa matéria: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.”

PS: Recomendo www.feeak.org.br

José Reis Chaves

Prof. de português e literatura aposentado formado na PUC Minas / Escritor e jornalista colunista do diário O TEMPO, de Belo Horizonte / Palestrante nacional e internacional espírita e de outras correntes espiritualistas / Apresentador do programa “Presença Espírita na Bíblia” da TV Mundo Maior / Participante do programa “O Consolador” da Rádio Boa Nova / Tradutor de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Kardec, para a Editora Chico Xavier. E autor dos livros, entre outros, "A Reencarnação na Bíblia e na Ciência" e "A Face Oculta das Religiões", Editora EBM, SP, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Podem-se ler também as matérias da coluna de José Reis Chaves em O TEMPO, de Belo Horizonte, no seu facebook e no site desse jornal: www.tempo.com.br / Procurar colunistas. No final das matérias, há um espaço para comentários dos leitores, espaço este que se tornou um verdadeiro fórum de religiões. E qualquer um pode deixar seu comentário lá. Se não quiser que seu nome apareça, use um pseudônimo. E seu e-mail nunca aparece lá.
Obs.: Se meus livros não são encontrados em sua cidade, eles podem ser adquiridos diretamente comigo por meu e-mail ou telefone. Telefone: (31) 3373-6870

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Voltando para casa

Um velho estava sentado num jardim descansando das atividades diurnas. Com satisfação, o ancião aspirava o perfume das flores quando viu aproximar-se um rapazinho dos seus catorze anos que se sentou num banco próximo.
Maltrapilho, o garoto mostrava-se triste e desanimado.

O que estaria fazendo o garoto na rua àquele horário? Estava anoitecendo e as pessoas passavam apressadas rumo aos seus lares.

Condoído, o bondoso velhinho acercou-se dele puxando conversa. Dentro em pouco ficou sabendo que o menino abandonara o lar desejando viver por sua conta. Então, perguntou ao garoto com voz serena:

— Você gosta de histórias?

A um sinal afirmativo do rapazinho, ele informou:

— Pois vou contar-lhe uma história que nos foi deixada por Jesus há quase dois mil anos.

E o velhinho principiou a contar, ante os olhos atentos do menino: 
               
— Um homem tinha dois filhos que eram toda a sua alegria. Certo dia o mais moço disse ao pai: Dá-me a parte da tua riqueza que me pertence. O pai, diante desse pedido, repartiu seus haveres, dando a cada um dos filhos o que lhe caberia por herança. Alguns dias depois, o filho caçula arrumou suas coisas e partiu para um país distante.

Vendo-se livre da autoridade paterna, o rapaz, que não era muito ajuizado, gastou tudo o que possuía com bebidas, mulheres e jogos. Quando percebeu, era tarde demais. Estava na mais absoluta miséria. Não tinha onde dormir ou o que comer.

Nessa época, uma grande seca assolou a região e a fome alastrou-se. Sem recursos, o rapaz pediu ajuda a um homem daquele país a quem contou suas desventuras e, condoído, ele o enviou para seus campos a fim de guardar porcos.

Os porcos se alimentavam de alfarrobas, isto é, os frutos de uma árvore chamada alfarrobeira, que são umas vagens de polpa doce e nutritiva usada para alimentar animais. No entanto, nem da comida dos porcos lhe davam, e ele passou muita fome. Lembrou-se, então, da sua casa e sentiu grande saudade do pai, que sempre fora muito bom. Arrependeu-se do que fizera e lembrou que na casa do seu pai todos eram bem tratados e viviam felizes. E ele, ali, não tinha o que comer! Então, o rapaz tomou uma decisão:

— Já sei o que farei. Voltarei para casa e direi ao meu pai: Pai, eu pequei contra o céu e diante do senhor; já não sou digno de ser chamado seu filho. Mas, se me aceitar, eu serei um simples empregado em sua casa.

               
Enchendo-se de esperança o rapaz assim fez. Regressou para seu país e para seu lar. A viagem foi difícil e cansativa, pois ele não possuía mais recursos para as despesas de viagem. Não desanimou, porém, e prosseguiu firme até chegar a casa. De longe o pai o avistou e condoeu-se do estado de miséria do filho. Cheio de compaixão correu ao seu encontro, abraçou-o e beijou-o com carinho.

E o filho disse a seu pai:

— Pai, eu pequei contra o céu e diante do senhor e não sou digno de ser chamado seu filho. Ficaria contente se me aceitasse como um empregado da sua casa.

O generoso pai, que nunca deixara de amar o filho, ordenou aos empregados:

— Tragam a melhor roupa para meu filho! Coloquem o anel em seu dedo e sandálias em seus pés. Façamos uma festa e alegremo-nos, porque este meu filho estava perdido e foi achado, estava morto e reviveu!

E assim foi feito. Quando o filho mais velho voltou do campo e ouviu som de música e de festa, perguntou a um dos servos o que estava acontecendo. O servo explicou: Seu irmão voltou são e salvo e seu pai mandou matar um boi novo e gordo para festejar a volta dele.

Indignado e cheio de ciúme, o filho mais velho não quis entrar em casa. O pai, avisado do que estava ocorrendo, foi encontrar-se com ele, e o filho mostrou sua revolta:

— Pai! Há muitos anos eu o sirvo fazendo todas as suas vontades e nunca ganhei nem um cabrito para festejar com meus amigos. No entanto, meu irmão, que gastou seu dinheiro em prazeres, é recebido com uma grande festa?!...

O bondoso pai, desejando incliná-lo à bondade e ao perdão, disse-lhe:

— Meu filho, você está sempre comigo e tudo o que é meu lhe pertence também. Mas é justo que nos alegremos com a volta do seu irmão, que estava perdido e foi achado, estava morto e reviveu para nosso convívio e alegria.

*

A noite caíra por completo e aos poucos as luzes da praça foram se acendendo.

O velho calou-se. O rapazinho, que permanecera pensativo, suspirou. Com ar profundamente compreensivo, virou-se para o velhinho, murmurando com voz comovida:

— Entendi a mensagem. O senhor conseguiu convencer-me. Retornarei para casa. Meus pais devem estar preocupados com minha ausência e sei que ficarão felizes ao me rever.

Levantou-se e, estendendo a mão para o velhinho, concluiu com lágrimas nos olhos:

— Obrigado. Afinal, não há melhor lugar do que a nossa casa, e não há problema que um pouco de compreensão e boa vontade não consiga resolver. 

Tia Célia

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Palestina, encanto e magia


A Palestina está situada na região denominada pelos europeus de Oriente Próximo. Sempre foi um país pequeno, com área equivalente ao País de Gales, à Bélgica e à Sicília juntos.
Jerônimo, um dos “pais da Igreja”, que viveu longo tempo perto de Belém e conhecia bem o país, calculou que sua extensão do Norte até o Sul não era maior que 160 milhas romanas, cerca de 145 milhas inglesas, ou seja, a distância, por exemplo, entre Florença e Roma.
As distâncias são mínimas. Reportando-nos ao tempo de Jesus, por exemplo, uma viagem de Nazaré a Jerusalém podia durar dois dias.
Os israelitas conheciam bem o seu país e o amavam profundamente. Livros inteiros do Antigo Testamento, como os Cantares de Salomão, estão repletos desse sentimento. Os habitantes da Palestina de há mais de dois mil anos (a maior parte da população) eram convencidos de que não se achavam ali por acaso; de que sua presença no país possuía um significado; de que Deus os estabelecera naquela terra.
No tempo de Salomão, estimava-se que não haveria ali um milhão de habitantes. No tempo de Jesus, se calcularmos um total de dois milhões, estaremos sendo generosos.
Milhares de judeus viviam fora da Palestina. Era sentida a falta deles nas grandes festividades. Simão, por exemplo, que ajudou Jesus a carregar a cruz, nascera em Cirene, Norte da África; nas escolas da Cidade Santa havia muitos estudantes procedentes de todas as comunidades dispersas.
Dentre esses alunos poderíamos citar Saulo, filho de um fabricante de tendas de Tarso, na Sicília, assistente assíduo das palestras do rabino Gamaliel e que se tornaria o apóstolo Paulo de Tarso.
Houve, incontestavelmente, naquela época, uma emigração judia. Em grego, o termo usado para denominá-la é diáspora, isto é, dispersão.
Onde quer que se encontrassem, as colônias judias mostravam as mesmas características. Mantinham-se unidas, de maneira estável, viviam perto uns dos outros, embora as autoridades gregas e romanas não fizessem essa exigência. Em Roma, viviam em distritos diferentes.
Essas comunidades possuíam organizações especiais. Eram democráticas e os assuntos materiais e espirituais misturavam-se. Uma reunião servia tanto como assembleia de oração como de discussão política.
O nome do local onde era eleito o conselho de anciãos e o chefe que deveria defender os interesses do grupo, o etnarca ou exarca, era o mesmo que o do local em que o povo cantava os salmos. A reunião de assembleia era denominada, em hebraico, kinneseth; em grego, sunagoge, do qual vem o termo sinagoga.

Um país ocupado

A Palestina era um país ocupado. Os romanos dominavam inteiramente o país, diretamente ou através de seus servos. Ao mesmo tempo, seguiam seus costumes e permitiam que os povos conquistados continuassem sob o regime a que eram habituados.
Para o romano, como para o grego, o Estado representava o princípio governante essencial. A cidade-império ou o império reservava-se o direito de impor regras aos súditos,  segundo seus interesses.
Enquanto permanecessem como instrumentos do Estado, a religião e a adoração religiosa eram reconhecidas. Eram consideradas dever cívico, de acordo com a fórmula estabelecida pelo Estado. Era como se César “controlasse Deus”. Mas para os judeus, Deus é que controlava César. Por tudo isso, os judeus do tempo de Jesus enfrentavam situações em que não se sabiam quais os limites entre o reino de César e o Reino de Deus.
Compreende-se, dessa forma, o momento da cena em que os oponentes de Jesus lhe perguntaram sobre a legalidade de pagar impostos às autoridades romanas, ao que Jesus respondeu: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
Filhos eram bênçãos; o ensino, excelente 
Na família judia, o nascimento de um filho era o mais importante dos acontecimentos, celebrado com festas, para as quais eram convidados parentes, amigos e pessoas que morassem nas proximidades.
Caso o filho fosse do sexo masculino, os cumprimentos eram bastante calorosos. Em caso de primogênito, se fosse do sexo masculino, o entusiasmo chegava ao auge.
Toda criança do sexo masculino tinha, por lei, que ser circuncidada, oito dias após o nascimento. Judeu algum podia fugir a essa obrigação.
Na época de Jesus, a circuncisão era tida não só como uma marca da aliança, mas considerada como um ato de purificação ritual.
Durante a primeira semana, provavelmente no dia da circuncisão, a criança recebia um nome. O direito de escolher o nome do filho pertencia ao pai, o chefe da família. O nome escolhido correspondia ao nosso primeiro nome. Os judeus não tinham sobrenome. Não significava dizer que o sentimento familiar não era desenvolvido.
O filho recebia o nome do pai – “filho de fulano”, ben, em hebraico e bar, em aramaico. Exemplo: João ben Zacarias, Jônatas ben Hanan, Yesua ben José. O filho mais velho recebia geralmente o nome do avô, para continuar a tradição de nome e distingui-lo do pai.

Educação

A criança permanecia nos primeiros anos aos cuidados da mãe. As filhas ficavam com a mãe até o dia do casamento. Elas ajudavam nos trabalhos da casa, carregavam água, teciam e colaboravam também no trabalho rural.
O pai cuidava dos filhos e os iniciava na sua profissão o mais cedo possível, para que pudessem trabalhar com ele, inicialmente como aprendizes, depois como oficiais.
A educação ficava a cargo do pai. O ensino judeu era excelente. Os verdadeiros israelitas davam maior importância à educação moral do que a tudo o mais. Não significava dizer que, no caso, o ensino da escola fosse desprezado. Os rabinos diziam que ele era a base de tudo e absolutamente indispensável.
A escola era ligada à sinagoga. As crianças, ricas ou pobres, frequentavam-na desde os cinco anos de idade. A base do ensino era o aprendizado da Torá (ou Pentateuco, nome dado ao grupo dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento). Linguagem, gramática, história, geografia eram estudadas na Bíblia.
Esse uso exclusivo das Escrituras no ensino foi a aparente causa de muitos rabinos negarem às meninas o direito de aprendê-las. Mas nem todos os rabinos defendiam essa opinião. No Talmude (coleção de escritos dos judeus, contendo explicações e tradições referentes à Lei de Moisés; foi escrito entre o terceiro e o sexto século da era cristã) há um tratado que impede a entrada das meninas na escola, mas esse mesmo tratado diz: “Todo homem deve ensinar a Torá à sua filha”. A julgar por Maria, mãe de Jesus, compreende-se que muitas meninas judias conheciam tão bem as Escrituras quanto seus irmãos. 

O Emissário divino, no coração de Israel 

Jesus esteve integrado na comunidade judaica; seus pais obedeceram a todos os requisitos da Lei, com relação à pessoa dele. O seu nome, Yesua, ou Jesus, do qual Josué é uma outra forma, significava “Yavé é a solução”, ou “Yavé nos salva”. Era um nome judeu bastante antigo, muito encontrado na Bíblia.
Josué foi o nome do famoso juiz de Israel que, como consta, fez parar o Sol em seu curso (evidentemente, trata-se de uma alegoria). Segundo Lucas, 3.29, um dos ancestrais de Jesus também tivera esse nome.
Os pais de Jesus tinham nomes tipicamente judeus. O patriarca, administrador do Faraó que estabelecera Israel no Egito, chamava-se José; Maria era um nome dos mais comuns entre as mulheres judias na época.
Os nomes dos parentes de Jesus eram judeus. João (Yohanan) – o Batista – seu primo, os pais de João: Zacarias e Isabel; Ana e Joaquim, seus avós.
A casa em que Jesus viveu em Nazaré antes de iniciar a divulgação de seus ensinamentos era uma habitação humilde, em forma de cubo, como as habitações que os camponeses da Palestina continuaram construindo.
A aparência física dele era a de um judeu, como praticamente eram todos naqueles dias: cabelos longos, barba, que não era uma exigência necessária, cachos laterais (costeletas) – uma continuação dos cabelos nas têmporas e que a Lei tornou obrigatórios. Suas roupas eram as roupas usadas por todos. O Evangelho nos fala de sua “túnica sem costura”.

O Messias

De maneira geral, Israel não reconheceu Jesus como o Messias esperado. Apenas um pequeno grupo o seguia.
A mensagem do Cristo teve certa influência e foi geralmente conhecida na Galileia. No restante da Palestina suas repercussões devem ter sido bastante limitadas.
Os judeus da diáspora devem ter ouvido falar dele casualmente, pelos peregrinos que voltavam de Jerusalém. A maioria do povo judeu provavelmente ignorava as palavras de Jesus.
Certamente a opinião pública não se entusiasmou muito e grande parte daqueles que estavam a par dos acontecimentos não devem ter levado muito a sério a história de um Messias em Israel.
Na época os messias eram muito comuns. Entre o nascimento do Cristo e a queda de Jerusalém, houve pelo menos seis impostores que assim se proclamavam.
Os que estavam mais bem informados teriam considerado a passagem de Jesus na Terra como algo mais que um fato comum, um fait  divers, muito inferior a um acontecimento de importância nacional.
 
Empatia
 
Houve, no entanto, um sentimento de simpatia e entusiasmo por Ele, entre o povo comum. Lucas, 19.48, diz que “ao ouvi-lo, todo o povo ficava dominado por ele”. Lucas se referia, certamente, à multidão, à populaça, não à classe dominante.
Os chamados “milagres” que, segundo alguns, Cristo fez (sabemos que todas as suas curas são explicadas cientificamente) espantaram a muitos, e muitos tornaram-se crédulos depois. Mas aos olhos dos incrédulos da época não era sinal de que ele fosse o Messias, pois alguns dos profetas haviam feito maravilhas que eles denominavam de “milagres”, por não terem capacidade de as explicar.
No final de seu Evangelho, João diz: “Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem”.
O maior (e único) milagre que Jesus fez foi o de ter implantado em nosso coração de Espíritos duros, imperfeitos, recalcitrantes, a semente duradoura do seu Evangelho.
A passagem de Jesus pela Terra foi tão fulgurante que dividiu a História da  Humanidade em antes e depois dele.
   
Bibliografia:
“A vida diária nos tempos de Jesus”, de Henri Daniel Rops, 1961, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, SP.

Altamirando Carneiro
São Paulo, SP (Brasil)

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