terça-feira, 27 de abril de 2010

O pecado original tem a ver com a existência da reencarnação

Vamos relembrar alguns textos bíblicos, que nos mostram que nós mesmos é que pagamos os nossos pecados. "A alma que pecar, essa morrerá: o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre ele" (Ezequiel 18,20). "Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais: cada qual será morto por seu pecado"(Deuteronômio 24,16). "Naqueles dias já não dirão: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram. Cada um, porém, será morto pela sua iniquidade; de todo homem que comer uvas verdes os dentes se embotarão" (Jeremias 3, 29 e 30).
A pequena parcela católica dos carismáticos, percebendo que a lei de causa e efeito ou cármica é uma realidade, cai em erro semelhante ao da doutrina do pecado original. Segundo eles, nós temos alguns problemas, porque os nossos ancestrais cometeram certos pecados. Mas, nós vimos pelos textos bíblicos citados que somos nós mesmos, os autores dos pecados, que os pagamos. Aliás, seria um grave erro da lei e da justiça divinas um inocente pagar pecados de outro. Nem a lei e a justiça humanas imperfeitas aceitam tal coisa! Existe herança dos bens ou males materiais, mas não de moralidade.
Não confundamos, pois, as coisas materiais com as espirituais ou morais do reino de Deus. Ninguém pode ganhar o céu para outra pessoa e nem pagar pecado de outro. O que acontece, na verdade, é que o espírito do neto pode ser o mesmo espírito que animou o corpo de seu avô, do mesmo modo que o sangue que corre nas veias dum neto é o mesmo que corria nas veias do seu avô ou de um outro seu antepassado. Esse raciocínio lógico e também bíblico põe-nos frente a frente com o fenômeno da reencarnação. E um estudo racional da Bíblia, sem as peias ou viseiras de dogmas, mostra-nos que as gerações na Bíblia são, geralmente, reencarnações do espírito. Daí que Jó, falando de gerações passadas, afirma que nós somos de ontem e nada sabemos (Jó 8,9).
No tocante à história metafórica de Adão e Eva, nós só podemos herdar deles a espécie humana a que pertencemos, a qual é inteligente e dotada de livre-arbítrio, e que tem, pois, a capacidade de pecar também, mas nós não podemos herdar os próprios pecados deles, já que, como foi dito, pecados são de ordem moral ou espiritual, e só as coisas de ordem material podem ser herdadas.
E, se nós, descendentes de Adão e Eva, tivéssemos mesmo que pagar os pecados deles, por mais numerosos que eles fossem, eles já teriam sido pagos e repagos, há muito tempo. Ou será que o número de pecados de Adão e Eva é infinito?
E não dizem que o batismo apaga o pecado original? Então por que ainda já não foi pago o último centavo dessa dívida?
Seria porque os teólogos do passado viram no pecado original uma boa e inesgotável fonte de renda? Mas como Justiniano aboliu a reencarnação do cristianismo, no Concílio Ecumênico de Constantinopla (553), os teólogos passaram a ensinar que esse pecado advinha de Adão e Eva.
O pecado original é inato em nós, exatamente porque ele é o nosso carma com o qual nascemos, pois o trazemos de nossas vidas passadas!

José Reis Chaves
Teósofo e biblista - jreischaves@gmail.com

Matéria extraída do Jornal o Tempo - Imagem ilustrativa

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