sexta-feira, 30 de abril de 2010

Psicologia do Evangelho


Livro de:
Adenauer Novaes 

Interpretar a mensagem contida no Evangelho é tarefa destinada aos estudiosos e eruditos gabaritados, que vêm a esse mister dedicando-se anos a fio e que, certamente, dispõem de conhecimentos intelectuais profundos. Não é tarefa para qualquer um ou para amadores. A maioria daqueles estudiosos é conhecedora de línguas antigas, dispondo de livros raros e preciosos que os capacitam a melhor entender o conteúdo dos escritos deixados pelos primeiros cristãos. Não possuindo esses e outros requisitos, não me arrisco a  dizer-me intérprete, mas apenas um apreciador das entrelinhas do Evangelho.
Quando pensei em escrever sobre assuntos em torno do Evangelho, isto é, sobre o contido nas entrelinhas das parábolas, logo vi que não teria a competência necessária para interpretar a Boa Nova, haja vista a necessidade de conhecer a cultura judaica antiga. Decidi então, ao invés de interpretar, colocar meus sentimentos sobre a mensagem, de acordo com uma percepção pessoal, sem a pretensão de me contrapor às interpretações clássicas, sabidamente enriquecedoras e coerentes, nem tampouco acrescentar algo novo. Trata-se de uma exposição de meus sentimentos sobre o que hoje as parábolas me despertam, dirigidas ao meu mundo interior, isto é, o sentido interior que elas têm quando internalizadas. Não busquei fazer comparações com a psicologia clássica, nem extrapolar a percepção direta da mensagem em mim mesmo. Sem a pretensão de dar novo sentido à mensagem contida nos livros que abordam o tema, decidi por trazer uma visão aplicável ao mundo interior, subjetiva, psicológica e, portanto, segundo pressupostos teóricos não só pessoais como sistêmicos, buscados nas psicologias que tratam do inconsciente, principalmente nos conceitos da psicologia analítica de C. G. Jung (1875-1961) e nas ponderações de Allan Kardec (1804-1869), em O Evangelho Segundo o Espiritismo. As citações bíblicas não foram extraídas das existentes neste último livro em função de considerar que os equívocos de tradução ou de editores, porventura existentes na que escolhi, não ferem substancialmente a mensagem.
A partir de minha prática clínica, da interação com os diversos tipos humanos e das escolas teóricas que admitem uma psicologia do inconsciente, busquei observar nas entrelinhas do Evangelho, uma mensagem dirigida ao mundo interior do ser humano, ou seja, uma possibilidade de sua aplicabilidade ao indivíduo consigo mesmo. Ele, com seu diálogo interno, com seu guia espiritual, com seu mentor, com seu arquétipo do velho sábio, com seu Self¹, com seu Eu Superior, com sua alma eterna, ou com qualquer que seja o nome que atribua à parte mais profunda de sua personalidade. Seria o diálogo da vida consciente com a inconsciente, do coletivo com a singularidade, do ego² com o Espírito.

1 Self, centro ordenador da vida psíquica. Função psíquica inconsciente do Espírito, que o representa.
2 Ego, entendido como uma outra função psíquica do Espírito, é o centro da consciência, que, às vezes e por circunstâncias especiais, goza de certa autonomia.

Pode ser óbvio dizer isto, e realmente o é, porém temos visto que a mensagem é geralmente interpretada e divulgada para o ser humano enquanto ser social, isto é, na sua atuação externa no mundo. As interpretações geralmente buscam equilibrar o ser humano com as forças externas, sociais, nas suas relações com o mundo. Parece ser mais importante que ele esteja bem com o mundo externo. Por causa disso ele se obriga a agir educadamente, a ser cortês, a ser polido, a se ajustar socialmente enquanto interagindo com o coletivo. Muitas vezes, quando sozinho ou mesmo junto aos familiares mais próximos, age sem conseguir esconder seu mundo de sombras, conflitos e dificuldades íntimas. Claro que viver bem socialmente representa uma grande conquista. Estar de bem com o mundo é saber viver em sociedade, mesmo que isso custe a repressão da própria natureza individual. O Cristianismo é tomado, muitas vezes, como sendo apenas uma doutrina para as massas. Porém, isso não é tudo. Veremos adiante.
Essa atitude externa deve ser conseqüência da existência de algo impregnado na personalidade, que internamente a predisponha a um modo de ação sobre o mundo. É esse modo que o faz estar de bem com o mundo e com a Vida. Atuar no mundo, baseando-se nos princípios cristãos, deve ser conseqüência de sua internalização. A ação externa deve se assemelhar a um estado consciente interno.
As idéias aqui expressas visam, de forma específica, levar o leitor a uma reflexão interior, a espécie de auto-análise e percepção de si mesmo no seu processo de desenvolvimento pessoal. Dirigem-se àqueles que desejam viver em paz consigo mesmo e com seus processos de descoberta e realização pessoal.
É possível identificar nas entrelinhas do Evangelho, que sua mensagem se destina a elevar o ser humano qualitativamente a fim de fazê-lo melhor perceber o sentido da Vida e dar-lhe uma visão adequada do Criador.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, por ser uma obra de importância singular no processo de consolidação dos princípios espíritas, serviu-me como opção para análise das entrelinhas da mensagem do Cristo. Escolhi as parábolas ali comentadas para tentar trazer aquela visão subjetiva.
As palavras do Cristo, mesmo passadas pelos apóstolos, ou transcritas e traduzidas em várias épocas, conservam um sentido transcendente. Contêm um sentido universal, assim como outras palavras constantes nos livros sagrados das religiões antigas. Elas têm um sentido arquetípico³ que pode nos levar a interpretações distintas, sem que isso lhes diminua o valor. Elas servem a gregos e troianos. Servem para o mundo externo tanto quanto para o interno. Optei por tentar mostrar essa última direção.
Não se trata de nova interpretação ao que foi escrito por Allan Kardec e pelos Espíritos Codificadores, mas
apenas uma visão subjetiva pessoal, portanto factível de equívocos, pelos quais peço desculpas ao leitor. Considero que mais importante que escrever uma visão pessoal da mensagem do Cristo é tentar vivenciar qualquer interpretação que aponte ao ser humano o caminho do amor a Deus e ao próximo como a si mesmo.

3 Deriva de arquétipo, isto é, tendência a um comportamento típico, coletivo.

Disponibilizo todo o livro para download: Psicologia do Evangelho

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